terça-feira, 28 de setembro de 2010

Reflexão do dia – Sandra Cureau

Quando ele diz que eu sou "uma procuradora qualquer por aí", ele reduz a instituição Ministério Público Eleitoral a alguma coisa qualquer. Por isso, houve reação tão veemente por parte da OAB e das entidades de magistrado e de Ministério Público. A reação foi geral. Aliás, a própria manifestação de São Paulo é consequência do que se está vivendo nesta eleição.

É, e é complicado, porque a gente nunca teve esse tipo de problema antes. Não porque os presidentes não fizessem campanha para seus candidatos, mas eles faziam tendo presente que eram chefes da nação. Era de uma maneira mais republicana, ou mais democrática, não sei que palavra usar.

Eu acho que ele quer, a qualquer custo, fazer a sua sucessora. É por isso que, como dizem no manifesto, ele misturou o homem de partido com o presidente. Aquela coisa de não aceitar a possibilidade de não fazer a sucessora. A impressão que eu tenho é a de que ele faz mais campanha do que a própria candidata. Nunca vi isso, é quase como se fosse uma coisa de vida ou morte para ele.


(Sandra Cureau, Vice-Procuradora-Geral Eleitoral, na entrevista, Folha de S. Paulo, 27/9/2010)

Marina contra Dilma:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A possibilidade de haver um segundo turno nas eleições presidenciais depende fundamentalmente de quanto a candidata verde, Marina Silva, vai subir nas regiões Sul e Sudeste, onde vem alcançando índices expressivos em alguns estados, acima até dos do tucano José Serra, ou até que ponto este está realmente recuperando votos em São Paulo

A estratégia de Marina no debate da Record, de atacar tanto Dilma quanto Serra, tem lógica, já que para chegar ao segundo turno ela tem que tirar votos dos dois.

Não adianta tirar votos apenas de Serra, porque o que vale é a soma de todos os candidatos contra Dilma.

É provável que no último e mais importante debate, o de quinta-feira na TV Globo, a tática de Marina já esteja mais focada em tirar votos de Dilma se as próximas pesquisas confirmarem a redução da distância entre os concorrentes.

É que a assessoria de Marina acha que dificilmente o candidato José Serra cairá do patamar de 30% a 25%, restando a Marina, se quiser ir para o segundo turno, superar Serra tirando votos de Dilma.

Uma tarefa que parece bastante difícil, pois, pelos próprios levantamentos do Partido Verde, Marina está chegando a um patamar de 15% de votos, o que a coloca na situação de ter que crescer pelo menos mais dez pontos percentuais na última semana de campanha.

Já a campanha tucana considera que o crescimento de Serra no estado de São Paulo permitirá que ele chegue ao segundo turno em ascensão, embora ainda longe da candidata oficial.

Se ele passar dos cerca de 30% de apoio que tem até agora e Marina chegar a 15% tirando votos de Dilma, a decisão nos votos válidos pode ficar por conta da abstenção, dos votos brancos e nulos.

A abstenção tem sido muito variável nos últimos anos, sendo que a eleição de 1989 teve a menor taxa ( 11,9% ), e a de 1998, a maior (21,5%). A de 2006 ficou em 16,7%.

Os votos válidos, descontados a abstenção e os votos brancos e nulos, variaram de 81,2% em 1994 a 93,5% em 1989. A eleição de 2006 teve 91,6% de votos válidos, e mesmo assim Lula teve que disputar o segundo turno.

Por isso o receio do PT em relação à obrigatoriedade de o eleitor apresentar dois documentos, sendo que um com foto, para votar.

O partido teme que essa exigência legal, que foi adotada com o apoio de todos os partidos, faça aumentar a abstenção especialmente no Nordeste, onde a candidata Dilma Rousseff está garantindo sua eleição.

Um interessante estudo da Arko Advice de Brasília, do cientista político Murilo Aragão, divulgado pelo Blog do Noblat, com base nas últimas pesquisas do Ibope e do Datafolha, mostra que a possibilidade de vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno está baseada na vantagem que ela está tirando no Nordeste, que representa cerca de 29 % do eleitorado.

No Sudeste (42% do eleitorado) e no Sul (14%), a soma das intenções de voto de José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) é igual ou superior aos índices de Dilma, o que levaria a eleição para o segundo turno.

E, no Centro-Oeste, a candidata do presidente Lula tem uma vantagem de 2%, portanto, dentro da margem de erro das pesquisas.

Serra e Marina estariam crescendo no Sudeste, de acordo com as últimas pesquisas, enquanto Dilma perde terreno.

A diferença a favor de Dilma é de 15 pontos percentuais: Dilma tem 44,5%, Serra subiu para 30%, e Marina cresceu 5,5 pontos percentuais ( 9 % para 14,5%). A soma dos índices de Serra e Marina é igual a 44,5%, o mesmo índice de Dilma.

Esse desempate pode acontecer caso a previsão da campanha de Serra se confirme nas próximas pesquisas, e ele supere Dilma no estado.

Se isso acontecer, é provável que a eleição vá para o segundo turno, mesmo que a diferença a favor de Serra contra Dilma seja mínima em São Paulo.

Esse resultado é totalmente atípico, pois o candidato do PSDB costuma ganhar em São Paulo, sendo que Alckmin, em 2006, mesmo perdendo a eleição a nível nacional, venceu no estado por uma diferença de quase quatro milhões de votos.

Na Região Sul, a soma dos percentuais de Serra e Marina é igual a 46,5%, enquanto Dilma tem 44,5%.

No Nordeste é onde Dilma abre grande vantagem sobre a soma de seus opositores.

Dilma tem 63,5%, enquanto Serra, mesmo crescendo, chegou a 20%, e Marina passou de 7% para 8,5%. Hoje, a soma dos percentuais de Serra e Marina totaliza 28,5% contra 63,5% de Dilma.

No Norte/Centro-Oeste, a candidata do presidente Lula oscilou negativamente, de 47,5% para 47%, e Serra, de 29% para 30,5%.

Já Marina passou de 13% para 14,5%. Hoje, a soma de Serra e Marina é igual a 45%, contra 47% de Dilma.

Os estrategistas de Marina acreditam que ela tenha condições de melhorar a performance entre os eleitores de mais baixa renda, inclusive no Nordeste, e identificam nos últimos dias um trabalho bastante forte de pastores evangélicos a favor da sua candidatura, capaz de retirar votos de Dilma Rousseff mesmo entre o eleitorado mais pobres dos grandes centros urbanos.

Pelos números até o momento, se for confirmada a tendência de vitória da candidata oficial, Dilma Rousseff, no primeiro turno, ela se deverá à alta performance do governo no Nordeste e à baixa performance do candidato do PSDB José Serra no estado que governou até o início do ano.

Em marcha à ré :: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A justificativa do desembargador Liberato Póvoa para impor censura a 84 jornais, sites, emissoras de rádio e televisão expressa o pensamento dos defensores da tese de que liberdade de expressão é um conceito relativo.

Bem como a alegação do governador do Tocantins para pedir na Justiça o embargo da divulgação de notícias sobre a investigação de que é alvo por corrupção reproduz o raciocínio de que a imprensa serve aos propósitos da oposição, devendo, por isso, ser obrigada a calar.

O ato do governador acusado, e que disputa agora a reeleição, de mandar a Polícia Militar apreender a partida da revista Veja no aeroporto, antes da distribuição às bancas de Palmas, caracteriza, entre outros crimes, o de uso da máquina pública em proveito individual.

Dirão que é exagero, pois agora se instituiu a prática da defesa moderada da democracia, mas nesse caso escabroso estão presentes todos os elementos da guerra contra a liberdade de manifestação aberta pelo PT em geral e o presidente Luiz Inácio da Silva em particular.

Há o conceito do PT, aprovado no último congresso do partido, sobre a necessidade de se criar controles sobre o conteúdo do que se publica nos meios de comunicação; há o envolvimento do outro parceiro da aliança presidencial, o PMDB, como o partido do requerente da censura; há a argumentação presente nos discursos do presidente e há o uso eleitoral do patrimônio público.

A Justiça já havia feito parecido numa sentença que mantém o Estado há mais de um ano impedido de publicar notícias sobre a investigação que alcança o filho empresário do senador e presidente do Senado, José Sarney. A última providência judicial foi remeter o caso para a Justiça do Maranhão, onde está até hoje sem decisão enquanto o jornal e o leitor ficam interditados.

Agora a atitude de um desembargador cuja suspeição é total, porque teve a mulher indicada para cargo pelo governador favorecido pela censura, atingiu o Estado e outros 83 veículos.

A liminar foi dada na sexta-feira e suspensa ontem à tarde pelo plenário do TRE do Tocantins. A suspensão alivia, mas não resolve o problema.

A gravidade do episódio é que junto com outros dá sinais de que os arautos do atraso e do retrocesso estão se sentindo à vontade ultimamente.

Só isso explica uma decisão tão obviamente contrária aos ditames democráticos e que muito dificilmente esse desembargador teria tido coragem de proclamar caso não se sentisse em ambiente propício.

Muito já se falou sobre isso, mas é sempre bom repetir: o Brasil avançou em quase tudo da redemocratização para cá, menos na política, cujos métodos são exatamente os mesmos da primeira metade do século passado. E agora, no governo Lula, celebrados como evidência de habilidade.

Primeiro escolhemos não avançar, depois optamos por aprofundar relações com os velhos vícios e mais recentemente parece que resolvemos manifestar preferência pelo retrocesso.

Estamos voltando ao tempo em que era preciso organizar um abaixo-assinado, lançar um manifesto por dia. OAB, AMB, CNBB e similares toda semana estão no noticiário dizendo alguma coisa em defesa da democracia ou denunciando alguma agressão à Constituição.

Ora, o que precisa ser defendido com essa frequência, convenhamos, é porque vai mal.

Alguém já viu isso em país de democracia consolidada?

Pois aqui no Brasil voltou a se tornar uma questão em aberto. Governantes consideram que têm o condão de arbitrar o que seja correto ou incorreto divulgar, juízes prestam serviços particulares, militantes decretam o fim da moralidade que agora passa a se chamar "moralismo udenista" e os parvos ainda acham que os protestos exorbitam e enxergam fantasmas ao meio-dia.

Amanhã ou depois nada impede que o gesto do desembargador tocantinense se repita, até ampliado, caso não haja uma reação muito forte e desprovida de meios tons.

Defesa da democracia que o Brasil reconquistou ao custo de vidas, da liberdade e de anos perdidos não comporta moderação nem bom-mocismo de ocasião.

Mais indecisos e "marola verde" :: Fernando de Barros e Silva

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Aumentou muito a chance de que a eleição presidencial vá para o segundo turno. Há 15 dias, a vantagem de Dilma Rousseff sobre a soma dos demais adversários era de 12 pontos. Havia caído na semana passada para 7 pontos. Agora, conforme o Datafolha, ficou reduzida a dois pontos (46% a 44%).

Dilma tem hoje 51% dos votos válidos. Sua trajetória é descendente e a eventual vitória no domingo já está na margem de erro.

Há, a rigor, dois movimentos simultâneos e combinados igualmente relevantes nessa fase final da campanha. O mais visível deles na pesquisa realizada ontem é a erosão da candidatura petista. Dilma perdeu três pontos em relação à pesquisa anterior e cinco pontos percentuais em menos de 15 dias (recuou de 51% para 46%).

Nem todos esses votos que sumiram da mesa petista foram parar na cesta dos adversários. O número de eleitores indecisos aumentou -de 5% para 7%-, quando seria mais esperado agora que diminuísse.

Parece óbvio que o desgaste de Dilma está relacionado ao escândalo envolvendo Erenice Guerra na Casa Civil ou, ainda, ao acúmulo de notícias negativas que rondam sua campanha desde que veio à tona a violação dos sigilos na Receita. Ou seja, uma franja do eleitorado de Dilma quer agora "pensar melhor".

Outra parte, ao que parece, "marinou". A marolinha verde, em curso desde pelo menos a semana passada, é o segundo fenômeno importante dessa reta de chegada. Depois de permanecer estacionada por muito tempo, Marina Silva passou de 11% para 14% em menos de 15 dias. É ela -e não Serra, estável nos 28%- quem tira votos de Dilma.

Isso reforça a percepção de que, além do apelo ambiental, a candidatura Marina representa também uma espécie de reserva ética, capaz de atrair, mais do que o tucano, a insatisfação de setores da esquerda (não só deles) diante dos desmandos cometidos pelo PT ou pelo governo Lula. Há, na ondinha verde, alguma ressaca da maré vermelha.

Faroeste :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau foi chamada de "uma procuradora qualquer" pelo presidente da República, virou "a procuradora do DEM" na guerra da blogosfera e tem sido sistematicamente xingada. Tem razão para estar escandalizada com o nível de agressão e de desdém pela Justiça Eleitoral nesta campanha -que define como "inusitada".

Não satisfeita em ser da "elite branca", Cureau é mulher, loira e de olhos azuis. Por isso, pergunta se a carga contra ela não seria uma mistura explosiva de má-fé com machismo de ocasião e militância disfarçada e raivosa.

Como ela, uma pessoa das leis, se sente no meio desse vale-tudo?

Cureau: "É muito frustrante. A gente tem tradição de respeito às instituições no Brasil, mas, nestas eleições, não vejo isso. O pessoal não só acusa levianamente de partidarismo como ainda faz as maiores ofensas à honra da pessoa".

Na opinião da procuradora, que atuou em várias eleições, isso ocorre em parte pela entrada em cena da internet, que ainda está em estágio de faroeste: "Se, hoje, eu quiser processar alguém que tenha atingido a minha honra, não tenho nem como, porque nem sei quem é. A pessoa se esconde covardemente atrás de um nome fictício".

Como reação, ela lança uma proposta polêmica: "Infelizmente, para permitir a propaganda na internet, a gente vai ter que estabelecer também algum tipo de controle que permita saber quem são as pessoas. As pessoas têm de ser responsabilizadas pelo que fazem".

O presidente Lula fala o que lhe dá na telha, os presidentes do Supremo vivem falando sobre tudo, todo mundo fala o que quer. Por que não a procuradora?

Gostem ou não de Sandra Cureau, justiça seja feita: ela tem coragem e honestidade pessoal de fazer o trabalho dela, dizer o que pensa, defender ideias e instituições. Sem pseudônimos, sem desqualificar e sem agressões.

Sua arma são os princípios.

Sinais de fumaça e planos para segunda-feira:: Raymundo Costa

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Enquanto a campanha de Dilma Rousseff (PT) já dispõe de um roteiro para seguir a partir de segunda-feira, no PSDB a visão do dia seguinte às eleições oscila entre o racional e a fé. Analisando as pesquisas, os tucanos julgam ver sinais de que a decisão pode ficar para o segundo turno, hipótese em que alguns fatores poderiam se tornar mais favoráveis a José Serra que atualmente e quem sabe levá-lo a reverter, numa disputa polarizada, o atual favoritismo da candidata petista.

Ao contrário do que se costumava dizer em eleições passadas, o PSDB agora não acha que o segundo turno é uma nova eleição. Nada disso. É a continuação do primeiro. Seria, portanto, a comprovação do acerto da estratégia seguida até agora. Estratégia essa que é reprovada pelos políticos e sustentada pelo pessoal do marketing. O que mudaria para Serra seria a expectativa de arrecadação, que no momento justifica uma campanha acanhada e de pouca visibilidade nas ruas, e a possibilidade do debate direto com Dilma e tempos iguais na propaganda de rádio e televisão.

Os tucanos ficaram bem impressionados com o desempenho de José Serra no debate do último domingo, na TV Record. Se não houve um vencedor declarado, pelo menos desta vez, atacado pelos demais, ele teve a oportunidade de falar mais detalhadamente sobre sua biografia política, o que já fez e o que pretende fazer na vida pública. Isso reforçou no PSDB a crença da superioridade presumida de Serra sobre Dilma nos debates, como afirmavam os tucanos quando seu candidato ainda ocupava o primeiro lugar nas pesquisas.

O debate da Record, ainda entre os tucanos, também foi considerado positivo para Serra porque Dilma teve de falar sobre corrupção durante boa parte de suas intervenções. Respondendo a Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL). Serra não iria fazer perguntas a Dilma, mas devido as regras do debate teve de questionar obrigatoriamente a candidata do PT. Uma vez. A pergunta que tinha preparado era justamente sobre as denúncias de tráfico de influência na Casa Civil, mas o assunto já fora abordado antes e o tucano preferiu falar sobre outro de seus temas preferidos, as agências reguladoras.

Esses são alguns dos sinais que os tucanos veem indicando fogo ou querem ver nos astros, nem tão distraídos quanto posam. Mas também é fato que há fumaça nas pesquisas. Sondagens de candidatos feitas ontem em Salvador (BA), uma espécie de capital do lulismo do Nordeste, registraram que Marina pode alcançar os 25% dos votos da capital baiana, já bem à frente de Serra - mas a soma dos dois ainda não basta para superar Dilma. O significativo é o provável bom desempenho da candidata verde numa capital lulista por excelência.

Há sinais favoráveis ao PSDB e ao PV no Sul e no Norte, a petista continua bem na região Centro-Oeste e o Nordeste se mantém como a grande fortaleza petista, apesar do registro também de uma pequena oscilação negativa da candidata. Mas o mapa político que começa a ser desenhado é o de um Brasil mais multifacetado, diferente da divisão bicolor de 2006, quando o Sul e o Sudeste, na eleição presidencial, foram coloridos de azul e a outra banda do pais, de vermelho.

No campanha de Dilma e no Palácio do Planalto as oscilações são acompanhadas também com atenção. Ninguém esquece o que ocorreu na campanha da reeleição de Lula, em 2006 - as projeções, com base nas pesquisas, indicavam uma vitória de Lula, no primeiro turno, com uma diferença de praticamente 14 milhões de votos. Abertas as urnas, ela foi de cerca de 6,7 milhões de votos, mais ou menos a metade do que estava previsto. O presidente teve de disputar um segundo turno.

Ganhou fácil, assim como ganhou de José Serra na eleição de 2002. A rigor, a campanha de Dilma Rousseff avalia que a oscilação ocorre dentro da margem de erro, e que no segmento formado por eleitores que ganham até dois salários mínimos (o forte da candidata) não ocorreu mudança alguma. Todo o cuidado é para levar a campanha até domingo sem erros. O crescimento de Marina Silva é acompanhado, mas não é visto como um risco à vitória de Dilma Rousseff. Ela já poderia se considerar a primeira mulher presidente (ou presidenta, como diz a própria candidata) da República Federativa do Brasil.

Na realidade, até os próximos passos de Dilma, a partir do dia 3, já estão sendo planejados pelo comitê eleitoral da candidata. De saída, ela pretende descansar alguns dias. A reta final da campanha tem sido cansativa para a ex-ministra de Lula, como era visível no debate da Record, no domingo.

Descansada, a candidata deve participar do segundo turno das eleições nos Estados, para apoiar candidatos do PT e de partidos aliados que ainda estiverem na disputa. Uma lista a ser selecionada a dedo, depois de apurados os votos para governador.

Os petistas consideram que a transição de governo pode ser feita com mais calma, uma vez que se tratará da montagem de um governo de continuidade. Além disso, já existe um grupo trabalhando para a transição, independentemente de quem for o candidato vencedor no domingo. Ou seja, haveria mais tempo para Dilma pensar na escalação do ministério com menos atropelos do que o presidente Lula teve em 2002.

Na época, como se recorda, o PMDB chegou a ser convidado a participar do governo; ficou de fora à última hora. Hoje, o PMDB faz parte da chapa vencedora, tem o candidato a vice-presidente da República e terá peças importantes no próximo governo, se Dilma efetivamente for eleita. Talvez não tão importantes quanto imagina, porque antes mesmo de ganhar a eleição o PT já discute se os pemedebistas devem permanecer com os mesmos ministérios que detêm atualmente.


Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

Casuarina - Meu Drama

Dilma cai em todas as regiões e crescem as chances de 2º turno

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A candidata à Presidência Dilma Rousseff (PT) recuou de 54% a 51% dos votos válidos em cinco dias, mostra o Datafolha. Como a margem de erro é de dois pontos, ela pode ir de 49% -o que levaria ao segundo turno- a 53% -o que dispensaria nova votação. Com rejeição recorde (27%), Dilma perde votos ou oscila negativamente em todos os estratos da população.

Vantagem de Dilma sobre rivais cai para 2 pontos e aumenta chance de 2 turno

Candidata do PT oscila 3 pontos para baixo em 5 dias e agora tem 51% dos votos válidos, segundo instituto

Serra oscila para 32% de votos válidos, e Marina vai a 16% nesse quesito; petista registra queda em todos os segmentos

Fernando Canzian

DE SÃO PAULO - A seis dias da eleição, a candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, já não tem mais garantida a vitória em primeiro turno, revela nova pesquisa Datafolha realizada ontem em todo o país.

Segundo o levantamento, Dilma agora perde votos ou oscila negativamente em todos os estratos da população.

Nos últimos cinco dias, Dilma perdeu três pontos percentuais entre os votos válidos que decidirão o pleito. Ela recuou de 54% para 51% -e precisa de 50% mais um voto para ser eleita.

Como a margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, Dilma pode ter 49% dos votos válidos. Ou 53%, o que a levaria ao Planalto sem passar por um segundo turno eleitoral.

Ainda considerando os votos válidos, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, apenas oscilou positivamente, de 31% para 32%.

Marina Silva, do PV, também oscilou positivamente dentro da margem de erro. Passou para 16%, ante os 14% que tinha na última pesquisa, realizada entre os dias 21 e 22 de setembro.

Houve queda ou oscilação negativa para a candidata escolhida pelo presidente Lula para sucedê-lo em todos os estratos da população, nos cortes por sexo, região, renda, escolaridade e idade.

Uma das maiores baixas (queda de 5 pontos nas intenções de voto) se deu entre os que ganham de 2 a 5 salários mínimos (entre R$ 1.021,00 e R$ 2.550,00). Cerca de 33% da população brasileira se encaixa nessa faixa de renda.

Dilma vem perdendo votos desde a segunda semana de setembro. Foi quando o escândalo envolvendo tráfico de influência na Casa Civil levou ao pedido de demissão de sua ex-principal assessora, Erenice Guerra.

De lá para cá, o total das intenções de voto em Dilma caiu de 51% para 46%. Já a soma de seus adversários subiu de 39% para 44%.

Considerando somente os votos válidos, a diferença entre Dilma e os demais candidatos despencou de 14 pontos há duas semanas para 2 pontos agora.

A pesquisa mostra também que houve forte "desembarque" da candidatura Dilma entre as mulheres (queda de 47% para 42%) e entre os eleitores mais escolarizados, com curso superior.

Na simulação de segundo turno entre Dilma e Serra, a vantagem da petista também caiu. No levantamento anterior, Dilma tinha 55% das intenções de voto. Agora, tem 52%. Serra, que antes tinha 38%, agora tem 39%.

No 2º turno, diferença de Dilma cai 9 pontos

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Se houver um novo turno, o tucano terá de conquistar aproximadamente sete pontos percentuais para vencer

Dilma perdeu cerca de 3,6 milhões de votos entre os que ganham entre 2 e 5 salários, em relação aos dias 8 e 9

DE SÃO PAULO - A diferença das intenções de voto nos candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) em um eventual segundo turno caiu de 22 pontos para apenas 13 nas duas últimas semanas.

Isso significa que, havendo segundo turno, Serra ainda teria de conquistar cerca de sete pontos percentuais para poder vencer.

"Na polarização de um eventual segundo turno, quando um candidato perde um ponto, o outro ganha esse ponto", diz Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha.

A chance de haver segundo turno foi provocada em grande medida pelos eleitores que ganham entre 2 e 5 salários mínimos. Essa fatia representa um terço do eleitorado de 135 milhões. Ou seja, são 45 milhões de eleitores.

Na pesquisa realizada entre os dias 8 e 9 de setembro, antes da queda da ex-ministra Erenice Guerra da Casa Civil, Dilma contava com o apoio da metade desses eleitores (22,5 milhões).

Agora, ela tem 42% nesse estrato, ou seja, 18,9 milhões. A perda em potencial de votos de Dilma no período foi de 3,6 milhões de votos.

Em termos proporcionais, Dilma amargou sua maior perda entre quem tem o ensino superior. A queda foi de sete pontos, de 35% para 28%. Cerca de 13% dos eleitores têm curso superior.

Nessa faixa de escolaridade, Dilma já é a terceira colocada na disputa presidencial (tem 28%), atrás de Serra (34%) e Marina (30%).

Em termos regionais, os eleitores que vivem nas capitais do país ou em suas regiões metropolitanas foram os que mais desembarcaram da candidatura Dilma.

A petista perdeu quatro pontos entre eles (caiu de 46% para 42%), que representam 38% dos eleitores.

Enquanto no Sul Dilma e Serra estão empatados nos limites da margem de erro (39% a 35%), a petista continua forte no Nordeste, mesmo tendo caído quatro pontos na região. Ela tem 59%, contra 19% de Serra. A taxa de rejeição a Dilma atingiu 27%, seu recorde na disputa.

Lula se orgulha de antigo radicalismo

DEU EM O GLOBO

Presidente diz que aprendeu com o passado de sindicalista: Marina sobe tom dos ataques

Em comício com Dilma Rousseff, o presidente Lula afirmou que a petista não deve se preocupar com as críticas ao seu passado de militante de esquerda. "Podem dizer que me prenderam, que eu era grevista, radical. Nada disso me envergonha. Tenho orgulho de ter aprendido com o radicalismo dos anos 70, 80, 90, para virar o dirigente político maduro que nós viramos", afirmou Lula. No palanque, Dilma dançou com o candidato do PT ao governo de SP, Aloizio Mercadante. E disse não temer ataques de Marina Silva (PV), que subiu o tom das críticas na tentativa de forçar o segundo turno. A candidata verde também criticou José Serra e o comparou a Lula pelos ataques a imprensa. Para Marina, Serra "intimida jornalistas": "Há duas formas de tentar intimidar a imprensa: aquela em que vem a público e coloca, de forma infeliz, uma série de críticas, e outra são aqueles que, de forma velada, tentam agredir jornalistas, pedir cabeça de jornalista."

Lula: "Temos orgulho do nosso passado"

Petista diz que, de radical, virou político maduro. E apela: "Não se esqueçam, pelo amor de Deus, de levar documento com foto"

Leila Suwwan e Tatiana Farah

SÃO PAULO. Na reta final da campanha, o PT saiu da defensiva sobre o passado de militante de esquerda da candidata Dilma Rousseff e partiu para o ataque.

Em comício ontem no Sambódromo de São Paulo, o presidente Lula afirmou que Dilma não deve se preocupar com as críticas ao passado e afirmou ter orgulho de seu próprio radicalismo como sindicalista: Se tem uma coisa de que temos orgulho, é do nosso passado.

Podem dizer que me prenderam, podem dizer que eu era grevista, que eu era radical. Nada disso me envergonha. Eu tenho orgulho de ter aprendido com o radicalismo dos anos 70, anos 80, 90 para virar o dirigente político maduro que nós viramos.

Além de festejar o passado de Dilma, Lula afirmou que sua eventual vitória seria uma conquista dos que morreram sob o regime militar: Não é apenas eleger uma mulher, é eleger uma companheira que tem uma história.

Que sabe os dissabores e os amargores de ter lutado contra o regime autoritário para poder garantir o dia de hoje. É verdade que essa moça aos 20 anos de idade foi para a luta tentar conquistar a democracia nos anos 70. A luta deles, daqueles que morreram lutando por democracia, será consagrada dia 3, com a eleição de Dilma presidente.

Dilma: O amor vai derrotar o medo e o ódio Antes de Lula, o senador Aloizio Mercadante, candidato do PT ao governo de São Paulo que chegou a dançar com Dilma no palco , já havia começado o comício mencionando as críticas ao passado da ex-ministra, que foi da VAR Palmares e do Colina, ficando mais de dois anos presa. Candidato a senador pelo PCdoB, o vereador e cantor Netinho de Paula, que chama o presidente de Mano Lula, criticou os adversários: Enquanto eles ficam raivosos, a nossa Dilma vai subindo.

Prometendo erradicar a miséria, Dilma voltou a comparar a eleição de 2010 com a de 2002, quando o slogan do PT foi A esperança vai vencer o medo: Sabemos do medo que tentaram implantar lá em 2002.

Agora temos nas mãos não só a esperança, mas a prova do amor do presidente Lula e do nosso governo pelo Brasil. Esse amor que vai derrotar o medo e o ódio que tentam fazer como a característica principal desta eleição.

Sob forte de chuva, os militantes petistas ocuparam a arquibancada central e os camarotes do Sambódromo. Apesar da euforia com as pesquisas que apontam para possível vitória da ex-ministra no primeiro turno, Lula não se deixou levar pelo clima de já ganhou. Tratou de pedir, pelo amor de Deus, que os eleitores não esquecessem o documento de identidade para votar.

Esta é uma nova regra eleitoral.

A preocupação dos petistas é com a desinformação sobre a novidade por parte das camadas mais pobres do país, que fazem a base eleitoral da petista.

Não se esqueçam, pelo amor de Deus, de levar um documento com fotografia para votar alertou Lula.

Em entrevista coletiva, Dilma criticou a nova regra: Quando criam certas regras, isso pode prejudicar parcelas da população, como por exemplo o indígena, que pode ter esse problema de levar a (cédula) identidade disse Dilma, para quem quanto menos barreira tiver, melhor.

No discurso, Lula se pautou pela capitalização da Petrobras, afirmando que foi a maior capitalização do capitalismo. Seu bordão nunca antes na História do Brasil ganhou dimensões planetárias: A maior capitalização que a Humanidade tem conhecimento, nunca feita antes na História do planeta, aconteceu no Brasil.

Lula admitiu que está ficando com o ego inflado, mas, ao ver uma imensa faixa de agradecimento ao seu governo, afirmou: Estou um pouco me sentindo, o ego está crescendo

PSDB espera que Marina favoreça Serra

DEU EM O GLOBO

Tucanos acham que postura mais ofensiva de candidata, mostrada em debate, pode ajudar a levar a um 2o- turno

Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. Mesmo com a postura mais ofensiva da candidata do PV à Presidência, Marina Silva, em relação ao adversário do PSDB à Presidência, José Serra, no debate da TV Record, no domingo passado, a oposição considera que ela teve um desempenho positivo e favorável à estratégia tucana de levar a eleição presidencial para o segundo turno. Os tucanos e democratas adotaram ontem o discurso de que o importante é criar um ambiente favorável a isso, apostando que podem tirar votos da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, evitou criticar o comportamento de Marina no debate. A aposta é a de que um segundo turno pode ser viabilizado com o crescimento tanto de Serra como de Marina, além de queda da petista: A Marina está cumprindo o papel dela. A Dilma não escapa do segundo turno. Esse conjunto da obra já viabilizou o segundo turno disse Guerra, que passou o dia em São Paulo.

O presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), aposta na queda de Dilma Rousseff no Rio de Janeiro, onde as pesquisas mostram que Marina assumiu o segundo lugar, tecnicamente empatada com Serra. Para ele, os indecisos estão migrando para a oposição o que por si só não garante um segundo turno, porque Dilma se manteria com sua vantagem inalterada.

Marina e Serra crescem.

Há chances de segundo turno disse Maia.

Os mais realistas, porém, apontam que a tendência de queda de Dilma é mais lenta do que queriam PSDB e DEM à esta altura da campanha, a menos de uma semana do pleito.

Além disso, avaliam que não surgiram fatos novos no fim de semana que ajudassem a aumentar o desgaste da candidatura de Dilma.

Mais cauteloso, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) ponderou que é preciso ver se a tendência de queda de Dilma se consolida. Para o tucano paranaense que chegou a ser cotado para ser o vice de Serra o desempenho de Marina no debate nada mudou na conjuntura.

Serra: decisão é 'estelionato eleitoral'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Anne Warth

Para o presidenciável do PSDB, José Serra, a decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins de proibir a publicação de reportagens sobre as investigações contra o governador Carlos Gaguim (PMDB), candidato à reeleição, "é um grande estelionato eleitoral". "Um escândalo daquele tamanho, de roubalheira de dinheiro público, e eles conseguem que seja proibido para os jornais e para a imprensa divulgar o que está acontecendo", afirmou. "É o esquema político do PT, porque trata da candidatura do PT no Tocantins."

TRE do Tocantins cassa liminar e encerra censura

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Por 4 votos a 2, o TRE do Tocantins cassou liminar do desembargador Liberato Póvoa que, na sexta-feira, decretou censura ao Estado e a outros 83 meios de comunicação. A censura foi pedida pela coligação do governador Carlos Gaguim (PMDB), que concorre 11 reeleição em aliança com PT e PC do B e com apoio do presidente Lula e da candidata Dilma Rousseff (PT). Gaguim é acusado de envolvimento num esquema de fraudes de R$ 615 milhões em licitações dirigidas. Ele recorreu à censura para evitar que as notícias a seu respeito fossem utilizadas pela coligação de Siqueira Campos (PSDB).

TRE derruba liminar e libera "Estado" para noticiar escândalo do Tocantins

Por 4 votos a 2, tribunal cassa decisão que impedia 84 órgãos de imprensa de informar sobre esquema de fraudes em que governador é citado

João Domingos


Por quatro votos a dois, o Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins (TRE-TO) cassou ontem a liminar do desembargador Liberato Póvoa que decretou censura ao Estado e a outros 83 meios de comunicação na sexta-feira. A censura foi pedida pela coligação do governador do Estado, Carlos Gaguim (PMDB), que concorre à reeleição por uma aliança que conta com o PT e o PC do B e é apoiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua candidata, Dilma Rousseff.

Gaguim é acusado pelo Ministério Público de estar envolvido num esquema de fraudes de R$ 615 milhões em licitações dirigidas em 11prefeituras de São Paulo e do Tocantins. Ele recorreu à censura - e a conseguiu, pelo menos de sexta-feira até ontem - para evitar que as notícias a seu respeito fossem utilizadas pela coligação de seu oponente, o tucano Siqueira Campos.

Ao perceber o alcance político da decisão do desembargador Liberato Póvoa, e o desgaste que ela estava causando, Gaguim tentou fazer uma manobra jurídica.

Recorreu ao TRE solicitando que mudasse a liminar, reduzindo seu alcance apenas para proibir a coligação de Siqueira Campos de mostrar as denúncias na TV, liberando os veículos de comunicação da censura. Mas o TRE rejeitou o pedido. Como caiu toda a liminar, os adversários de Gaguim poderão utilizar as denúncias contra o governador no horário eleitoral.

Ao cassar a liminar concedida por Póvoa, o TRE-TO entendeu que a decisão havia ferido o artigo 220 da Constituição, segundo o qual "é vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística".

O presidente do TRE-TO, desembargador José de Moura Filho, afirmou que "a censura prévia não pode existir", por ser inconstitucional. Ele fez questão de dar o voto, embora isso não fosse necessário, pois quando votou a liminar já havia caído por três a dois. "Quando vi a liminar do desembargador Póvoa, fiquei assustado, porque instituía a mordaça, tentava calar a imprensa", disse o presidente do TRE.

Na sessão extraordinária realizada ontem à tarde, Póvoa manteve sua decisão. Ele acusou a coligação que apoia Siqueira Campos de usar a imprensa para pôr o povo contra o TRE. O desembargador disse que notícias sobre o envolvimento de Gaguim no escândalo do desvio de dinheiro foram obtidas de forma ilícita, por meio do roubo de um computador do Ministério Público na quinta-feira. Mas a primeira notícia do Estado sobre o caso foi publicada cinco dias antes.

Póvoa continuou defendendo Gaguim, cujo governo emprega a mulher e a sogra do desembargador: "Não há inquérito aberto contra o candidato e as investigações correm em segredo de Justiça." Para ele, não há direito constitucional quando se fere o direito individual.
"Não há como se reconhecer razoável ou proporcional sacrificar os direitos individuais em detrimento ao direito constitucional de informação e liberdade de imprensa", disse.

Cerca de 300 pessoas fizeram ontem uma passeata até a sede do TRE contra a liminar - depois derrubada.

Ontem, Gaguim passou o dia em Gurupi, a cerca de 240 quilômetros de Palmas. Hoje à noite haverá o último debate entre os candidatos a governador.

Inconstitucional
José de Moura Filho: "Quando vi a liminar, fiquei assustado, porque instituía a mordaça"
Desembargador, Presidente do TRE

Na TV, Dilma pede votos para o governador

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

João Domingos

PALMAS –A petista Dilma Rousseff abriu ontem o programa eleitoral de Carlos Gaguim (PMDB), candidato ao governo do Tocantins. "Peço, para governar Tocantins: vote Gaguim", disse Dilma. O Ministério Público apura a participação de Gaguim num esquema de desvio de dinheiro público.

A coligação do candidato Siqueira Campos (PSDB), adversário de Gaguim, aproveitou-se da queda da censura. Ocupou todo o espaço destinado aos candidatos a deputado para divulgar notícias sobre as suspeitas de participação do governador no escândalo de corrupção, além de repetir as reportagens sobre o assunto e também sobre a censura.

Gaguim, por sua vez, prevendo que sofreria ataques dos rivais, anunciou que o fato de ser, segundo ele, "o favorito", estava levando Siqueira Campos "ao desespero". De acordo com o programa de Gaguim, Tocantins sempre teve a fama de ser atrasado. Mas agora, com o apoio do presidente Lula, passará a ser um Estado do progresso, com a Ferrovia Norte-Sul e outros projetos.

O programa do governador disse ainda que, com a tendência de vitória de Dilma, "os adversários estão se aproveitando para transformar um falso escândalo numa arma eleitoral". Afirmou ainda que os jornais que publicaram notícias dos escândalos são "mal-intencionados".

Tucanos elogiam 'novo' desempenho de Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Julia Duailibi

Na última semana da campanha presidencial, o candidato do PSDB, José Serra, tenta reproduzir o clima de "paz e amor" similar ao que havia nos primeiros meses do ano, quando liderava as pesquisas de intenção de voto. Passou a dosar as críticas à adversária Dilma Rousseff (PT) e a delegar ao partido os ataques mais ácidos aos petistas, apostando nisso como receita para a passagem ao segundo turno da disputa.

Os tucanos comemoravam ontem o tom de Serra no debate promovido pela Rede Record anteontem. Para o comando da campanha, a atuação de Serra foi emblemática dessa mudança que pretendem imprimir até domingo. Diferentemente do embate anterior, na RedeTV, o candidato não foi agressivo nem mostrou arrogância, avaliam. Teria conseguido expor os principais eixos da sua campanha, se mostrado propositivo, sem agredir a adversária. Pelo contrário. Chegou a assistir discussões entre Dilma e Marina Silva (PV).

Serra acatou a orientação do comando da campanha e não chegou a fazer questionamentos diretos à petista - o que, além de colocá-lo na posição de atacante, daria à rival a chance da última palavra na tréplica. O resultado, em mãos da equipe tucana, foi um desempenho vitorioso de Serra entre os grupos de eleitores monitorados pela campanha durante o debate de anteontem - Marina chegou a vencer apenas o segundo bloco.

"Serra está convencido de que, se bater, ele não cresce", afirmou o presidente do PSDB e coordenador da campanha, Sérgio Guerra. Na semana passada, o partido colocou no ar vídeos que atacavam Dilma. Na tentativa de blindar a campanha, Serra chegou a dizer que as produções não tinham relação com a candidatura.

Os tucanos começaram a articular mudanças, preparando-se para o caso de um segundo turno. Na madrugada de ontem, Serra chegou a se encontrar com Guerra no Rio e conversaram sobre as articulações necessárias nos Estados e na estratégia para a nova fase da campanha. Guerra telefonou para as lideranças regionais do PSDB e pediu empenho nos Estados na reta final.

Encontro. O presidenciável participou ontem de encontro com eleitoras, organizado por sua mulher, Monica Serra, no Esporte Clube Sírio, em São Paulo. Pediu que elas multipliquem os votos e consigam convencer os indecisos na reta final. "Se cada um conquistar mais um voto, seriam votos demais. Quem puder conquistar 4 ou 5, maravilha. Sobretudo, quem for da área da saúde", disse.

Do encontro no Sírio participaram o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o governador Alberto Goldman, o candidato do PSDB ao governo paulista, Geraldo Alckmin, a vice-prefeita Alda Marco Antonio. Monica Serra disse que o marido tem tudo para ir ao segundo turno: "Graças a Deus a verdade sempre vence, apesar de muitas mentiras por aí." / Colaborou Anne Warth

Serra defende 2 documentos para votar

DEU EM O GLOBO

Tucano diz que medida evita "enganação" eleitoral e critica PT por tentar derrubar regra no STF na "última hora"

Silvia Amorim

SÃO PAULO. O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, criticou ontem o PT por pedir à Justiça a suspensão da exigência de dois documentos para que os eleitores votem no domingo.

Segundo ele, a apresentação de um documento com foto, além do título eleitoral, é uma garantia para não haver enganação no processo eleitoral.

Os candidatos do Brasil inteiro estão falando para seus eleitores da necessidade de dois documentos. É uma garantia para não ter enganação. Todo o processo eleitoral se organizou em função disso. O presidente da República, meses atrás, sancionou a lei. Aí vem o PT, de última hora, querendo mudar a regra do jogo. É muito esquisito isso afirmou o presidenciável, após participar de um evento promovido por sua mulher, Mônica, e pela militância feminina do PSDB, em São Paulo.

Semana passada, o diretório nacional do PT entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) contra a lei que obriga o eleitor a apresentar um documento oficial com foto, no dia da votação. O PT teme que a obrigatoriedade aumente a abstenção, principalmente em regiões como o Norte e Nordeste, onde Dilma Rousseff lidera por larga margem as pesquisas de intenção de voto.

O DEM, partido que compõe a coligação de Serra, prometeu contestar o pedido do PT no Supremo Tribunal Federal (STF).

O tucano ainda fez outra investida contra o PT. Serra associou o partido ao episódio da censura a 84 veículos de imprensa, a pedido da coligação do governador e candidato à reeleição em Tocantins, Carlos Gaguim (PMDB). A medida, tomada por um desembargador, foi derrubada ontem pelo TRE daquele estado. Gaguim é apoiado pelo PT e recebeu em seu palanque Dilma e Lula.

É uma aberração completa.

Na semana da eleição, um escândalo daquele tamanho de roubalheira de dinheiro público e eles conseguem que seja proibido para os jornais e a imprensa divulgar o que está acontecendo.

Isso é um grande estelionato eleitoral e do esquema político do PT acusou.

Com a proibição imposta pelo desembargador, a imprensa não podia noticiar as investigações do Ministério Público de São Paulo, que citam Gaguim como integrante de organização criminosa para fraudes em licitação.

No encontro da militância feminina do PSDB, em São Paulo, Serra pediu foco nos eleitores indecisos nesta reta final: A meu ver, o mais importante é ganhar votos não definidos.

E ainda tem muita gente que ainda não se definiu. É preciso que a pessoa transforme sua decisão no trabalho de conquistar mais um voto. Se cada um conquistar mais um, puxa vida, teríamos votos demais disse o tucano, que, reafirmou que estará no segundo turno.

Em Presidente Prudente (SP), Serra prometeu acabar com a guerra fiscal entre os estados.

Disse que a guerra fiscal é desvantagem para todo mundo.

Como presidente, vou pôr um fim à guerra fiscal, num entendimento que seja feito junto com os estados, para que não se tenha um círculo vicioso que, no final, é desvantagem para todo mundo. Vamos ter de chegar a um entendimento no Brasil sobre como tratar e resolver essa questão

DEM vai ao STF para que regra eleitoral não mude

DEU EM O GLOBO

Para partido, eleitor deve exibir documento com foto na votação

Isabel Braga

BRASÍLIA. O DEM entrou ontem no Supremo Tribunal Federal (STF) com um pedido para que seja mantida a exigência de que o eleitor apresente, ao votar, seu título eleitoral e um documento de identificação com foto, como previsto na reforma da lei eleitoral aprovada em 2009 pelo Congresso.

O DEM contesta o argumento apresentado em ação movida pelo PT, semana passada, que pede ao STF que considere a norma inconstitucional.

O PT pede que o STF garanta, liminarmente, o direito do cidadão de votar só com um documento que comprove sua identidade. A relatora da ação é a ministra Ellen Gracie. O pedido de liminar deverá ser apreciado pela STF amanhã.

Para o PT, a exigência é desnecessária e poderá cercear o direito político do cidadão de votar.

Segundo a ação, o eleitor já está cadastrado na Justiça Eleitoral e só precisa comprovar sua identidade. O PT teme pelo aumento da abstenção em regiões onde a petista Dilma Rousseff tem altos índices de intenção de voto, como Nordeste e Norte.

O DEM alega que a norma aprovada é importante e evitará fraudes nas eleições: A medida é adequada e necessária porque não há, até o presente momento, outra forma capaz de praticamente eliminar a possibilidade de fraude no momento da votação.

A exigência foi incluída com a anuência de deputados de todos os partidos. Nos debates, a proposta não recebeu emendas ou tentativa de modificação.

Isso passou despercebido, foi um erro que cometemos disse ontem o deputado Cândido Vaccarezza (SP), à época líder do PT na Casa.

O líder do PSDB na época, José Anibal (SP), confirmou que não houve debate sobre esse tema.

Presidenciável critica PT por tentar mudar lei

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Anne Warth e Sandro Villar

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, criticou ontem a ação direta de inconstitucionalidade impetrada pelo PT para tentar derrubar a obrigatoriedade de apresentação de dois documentos para votar: título de eleitor e um documento com foto.

"Essa foi uma lei aprovada pelo Lula", afirmou, após encontro organizado por sua mulher Monica Serra, no Esporte Clube Sírio. Segundo o tucano, apresentar dois documentos "é uma garantia para não ter enganação porque o título não tem foto".

"Todo o processo eleitoral se organizou em função disso", disse.

Saúde. Serra também fez campanha em Presidente Prudente. Ele destacou temas regionais, citando segurança pública e saúde, e prometeu investimentos maciços.

"As Santas Casas do Brasil estão com dívidas de R$ 6 bilhões", disse, comprometendo-se a ajudar esses hospitais se for eleito. Além de defender a construção de presídios para "combater o crime", voltou a cutucar o governo ao falar dos pedágios nas rodovias paulistas. "As dez melhores estradas estão em São Paulo. As piores são federais, de dez há nove sem condições."

O tucano participaria de uma caminhada no centro da cidade, onde cerca de 500 pessoas o esperavam, mas o evento foi cancelado por causa da chuva. Mesmo assim, ele foi ao camelódromo acompanhado de 20 prefeitos.

Chávez sai enfraquecido das urnas na Venezuela

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), do presidente Hugo Chávez, elegeu ao menos 98 dos 165 deputados da Assembléia Nacional na votação de anteontem. 0 resultado, abaixo da meta de 110, deixa o chavismo sem a maioria necessária para ratificar as medidas que visam a instalar no país o "socialismo do século 21". Assim, pela primeira vez desde 2005 quando a oposição boicotou a eleição legislativa -, Chávez terá de negociar a aprovação de emendas constitucionais. A bancada do PSUV só foi obtida em razão de mudanças na lei eleitoral, que permitiu aos chavistas terem mais deputados mesmo tendo menos votos - a oposição diz ter obtido 52% dos sufrágios, numa eleição com 70% de participação. Somos maioria", festejou a Mesa de Unidade Democrática, que reúne forças antichavistas e levou 65 cadeiras.

Urnas reduzem poder de Chávez e complicam plano de reeleição em 2012

Roberto Lameirinhas
Enviado especial / Caracas

O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), liderado pelo presidente Hugo Chávez, terá a maior bancada na Assembleia Nacional eleita no domingo, com pelo menos 98 dos 165 deputados da Casa. A Mesa de Unidade Democrática (MUD), que reúne as forças antichavistas, obtinha 65 cadeiras e o partido Pátria Para Todos (PPT), ex-aliado do chavismo que se recusou a se incorporar ao PSUV, 2.

Entre os aliados de Chávez, porém, há pouco a celebrar. O PSUV ficou muito aquém de sua meta de alcançar a bancada de 110 deputados, que lhe daria a maioria de dois terços e permitiria a Chávez seguir ratificando as medidas de seu projeto de instalar no país o "socialismo do século 21". Agora, pela primeira vez desde 2005 - quando a oposição boicotou a eleição legislativa em protesto contra as regras eleitorais -, terá de negociar a aprovação de leis orgânicas e emendas constitucionais na Assembleia.

Pior do que isso, a bancada majoritária do PSUV só foi obtida em razão do redesenho do mapa das circunscrições do país, aprovado no ano passado, que causou uma enorme distorção entre a votação nacional e a representação das forças políticas no Legislativo. De acordo com a apuração paralela da oposição, os partidos que se opõem a Chávez obtiveram 52% dos votos.

Até ontem à noite, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) omitia as cifras da votação nacional. Caso os números da oposição se confirmem, Chávez verá, pela primeira vez de forma clara, a possibilidade real de não obter o apoio popular para manter-se no poder após as eleições presidenciais de 2012. "Em 2007, o presidente viu seu projeto de reforma constitucional, que incluía a possibilidade de reeleições ilimitadas, derrotado nas urnas", lembra o jornalista e analista político Eloy Torres. "Mas a diferença de votos na ocasião era de menos de 2 pontos porcentuais e a abstenção foi de quase 45%. Agora, trata-se de uma situação diferente, na qual se evidencia a decepção do eleitorado com o governo, numa votação que teve uma participação próxima dos 70%."

"Somos maioria", celebravam os partidários da MUD, em sua sede em Miranda, perto de Caracas, quando o secretário-geral Ramón Aveledo anunciou o resultado da apuração paralela - minutos depois de o CNE ter divulgado o primeiro boletim com os números da eleição em cada Estado, às 2 horas (3h30, em Brasília). Ao mesmo tempo, o porta-voz do PSUV, Aristóbulo Istúriz, tentava conter a decepção dos chavistas, informando que o partido obtivera a bancada majoritária e seguia como "principal força política do país". Logo depois, admitiu que a meta de conquistar 110 cadeiras não tinha sido alcançada.

Ontem, em cadeia nacional, Chávez minimizou os resultados. "Os magos do mundo ao revés, dos micropartidos, estão gritando que ganharam. Bom, que sigam ganhando assim. Foram eleições locais, por circunscrições, em 23 Estados, e não uma eleição nacional." O presidente reivindicou ainda a maioria dos votos: 5,42 milhões contra 5,32 milhões da oposição - Chávez incluiu na conta os votos do PPT.

Após pleito, Chávez perde poderes para mudar Constituição

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Chávez perde força para mudar Constituição Partidos contra presidente venezuelano conseguem mais de 50% dos votos, mas governo vence em cadeiras

Regras distorcidas dão ao governo 98 assentos na Assembleia, menos que os 2/3 necessários para quorum qualificado

Flávia Marreiro

DE CARACAS - A oposição na Venezuela impôs um revés ao presidente Hugo Chávez nas eleições legislativas de anteontem.

Com as 67 cadeiras obtidas nas urnas, não só impediu que o governo alcançasse a meta de assegurar dois terços dos 165 deputados como desferiu um golpe simbólico: somadas, as principais forças opositoras alcançaram mais de 50% dos votos nacionais.

Principal coalizão opositora, a Mesa de Unidade (MUD) disse ter ficado com 48% dos votos. Outro grupo anti-Chávez, o Pátria Para Todos, obteve mais 2,91%, totalizando 50,91% para os opositores.

O presidente, em cadeia de TV e rádio à noite, contestou os números, dizendo que o PPT não pode ser considerado de oposição.

Dissidência do chavismo, o pequeno partido quer ser uma "Terceira Via" e não está alinhado ao governismo.

Mas Chávez não negou que tenha obtido menos da metade dos votos.O chavista PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) conseguiu, disse ele, 100 mil votos a mais que a MUD -o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) não apresentou a totalização oficial dos votos.

Mesmo assim, manteve folgada maioria na Assembleia Nacional que assume em janeiro, de 98 cadeiras.

É o resultado da recente redistribuição de distritos, que privilegiou as áreas rurais, em que o presidente venezuelano é mais forte.

"Os esquálidos [opositores] dizem que ganharam. Bom, que sigam "ganhando" assim", Chávez ironizou no Twitter.

Mas o fato é que foi o próprio Chávez quem definiu como triunfo nas legislativas a manutenção da maioria qualificada no Parlamento, necessária para aprovar leis orgânicas e revogar mandatos de magistrados do Judiciário, por exemplo.

Aos chavistas da próxima Assembleia também faltará um voto para chegar aos 99 que, pela Constituição, permitem conceder ao presidente a prerrogativa de legislar por decreto -lei habilitante.

"Provamos que somos maioria", disse Delsa Solórzano, eleita pela Mesa da Unidade (MUD), a diversa coalizão antichavista, para o Parlatino. "O governo não tem legitimidade para impor seu projeto", argumentava.

SUSPENSE

O CNE (Conselho Nacional Eleitoral), dominado pelo chavismo, levou longas oito horas para divulgar os primeiros resultados da eleição, que teve alta participação: 66,4% do eleitorado.

A demora, provocada em princípio por atrasos em votações em dois Estados, se arrastou levando a oposição a exigir a divulgação final dos resultados.

Já eram 2h de ontem quando se soube que Chávez tinha perdido a maioria qualificada. O presidente desistiu de aparecer aos apoiadores que se aglomeravam nos arredores do palácio presidencial.

O chefe de campanha do PSUV, Aristóbulo Asturiz, afirmou: "Foi uma vitória contundente", mas admitiu que a meta traçada pelo governo não foi atingida.Agora, o temor da oposição é que Chávez use os três meses que faltam de trabalho da atual Assembleia para aprovar leis importantes.

Chávez perde maioria absoluta no Congresso

DEU EM O GLOBO

Oposição volta ao jogo político na Venezuela com mais de um terço das cadeiras

O presidente Hugo Chávez perdeu a maioria absoluta no Congresso venezuelano, com a qual governou confortavelmente nos últimos cinco anos. Embora ainda tenha maioria simples, seu partido elegeu 98 deputados, e não conseguiu os dois terços necessários para aprovar as polêmicas leis orgânicas sem precisar negociar com a bancada opositora. A oposição conquistou 65 cadeiras, mais de um terço da Assembleia Nacional, e voltou ao jogo político. 0 resultado é um revés no almejado projeto bolivariano de Chávez, que já se dizia em campanha para renovar o mandato em 2012. As primeiras parciais foram divulgadas oito horas após o fechamento das urnas, causando tensão no País. Para Júlio Borges, um dos líderes da Mesa da Unidade Democrática, coalizão opositora, mensagem clara foi dada ao presidente: "Não queremos o caminho radical do governo. Hoje, Chávez é minoria.

Sem maioria absoluta, Chávez sofre duro revés

Oposição volta ao jogo político e poderá bloquear polêmicas leis orgânicas

Elianah Jorge
Especial para O GLOBO Caracas

Ao perder a maioria absoluta na Assembleia Nacional, com a qual governou confortavelmente nos últimos cinco anos, o presidente Hugo Chávez sofreu também um duro revés em seu projeto bolivariano.

Apesar de conquistar a maioria simples no Congresso, o partido do presidente não conseguiu eleger os dois terços de deputados necessários para aprovar as polêmicas leis orgânicas sem precisar da oposição. Atualmente, a ampla maioria que o governo detém no Congresso o permite aprovar todas as medidas sugeridas pelo presidente.

A oposição, que havia boicotado as últimas eleições legislativas, em 2005, voltou ao jogo político e conquistou mais de um terço das cadeiras, com o que poderá frear o projeto bolivariano. Foram eleitos 98 deputados pró-governo, 65 de oposição, e dois do Pátria Para Todos (PPT), dissidência do partido de Chávez, o PSUV. Os dois deputados do PPT devem sofrer agora assédio dos dois lados, já que a oposição necessita de 67 deputados para impedir que Chávez possa governar por decreto.

Os primeiros resultados da votação do último domingo demoraram oito horas para serem divulgados, provocando críticas de opositores e causando nervosismo e tensão nas linhas chavistas. Centenas de pessoas aguardaram o presidente na frente de uma varanda do Palácio de Miraflores, de onde Chávez costuma aparecer para fazer discursos importantes. Na madrugada de ontem, no entanto, a varanda presidencial ficou vazia. O presidente só se pronunciou oficialmente muitas horas mais tarde.

As eleições foram uma importante vitória para a revolução socialista do país, apesar de a oposição dizer o contrário afirmou o presidente.

Resultado dificulta reeleição

Por sua vez, o governista PSUV, que atualmente detém 139 cadeiras no Congresso, admitiu que não alcançou a meta desejada.

Alcançamos um importante resultado eleitoral, uma luta dura nessa batalha. Claro que montamos uma meta de alcançar os dois terços, não foi possível consegui-lo, mas o resultado nos coloca e nos reafirma como primeira força política do país afirmou o deputado eleito Aristóbulo Istúriz, chefe de campanha do partido.

Em todos os 23 estados, a oposição conseguiu ao menos uma cadeira no Congresso. Em Miranda e Sucre, houve empate no número de parlamentares eleitos, seis e três, respectivamente.

Mas foi em Zulia, perto da fronteira com a Colômbia, e responsável pela produção de mais de 80% do petróleo nacional, que o partido de Chávez sofreu uma derrota contundente: 12 candidatos eleitos pela coligação Mesa da Unidade Democrática (MUD) contra três do governista PSUV.

Apesar de comemorar o que considerou uma vitória, a oposição afirmou que o resultado não corresponde ao número de votos que teria obtido nas urnas, 52% contando com o PPT. O presidente Hugo Chávez, no entanto, contesta os números e se diz certo de que o desempenho dos adversários foi pior que o alardeado devido ao complexo e polêmico sistema de distribuição de cadeiras na Venezuela.

A conquista da oposição deve dificultar uma possível tentativa de reeleição de Chávez em 2012, baseada no voto popular. Para um líderes da MUD, Julio Borges, o recado está dado: É uma mensagem clara: nós não queremos o caminho radical do governo.

Hoje, Chávez é minoria.

A oposição não tinha representação no Congresso desde as eleições de 2005. Na ocasião, a abstenção nas urnas chegou a 70%, um forte contraste com as eleições de domingo, que teve a participação de 67% dos mais de 17 milhões de venezuelanos inscritos.

Em Nova York, no intervalo de uma reunião da Assembleia Geral da ONU, o chanceler Celso Amorim elogiou a oposição por participar do pleito.

A oposição às vezes é muito incômoda.

Mas é importante (ela existir) para discutir e dialogar afirmou lembrando que o boicote em 2005 não contribuiu para a democracia.

O resultado abre agora uma nova fase na política venezuelana.

Nos três meses que restam até a posse dos deputados eleitos, a base governista pode se ver tentada a acelerar a aprovação de reformas, aproveitando o poder quase total que os chavistas desfrutam no Congresso. O chefe de campanha do PSUV exortou ontem a população a impulsionar aceleradamente o processo de mudança.

Colaborou: Fernanda Godoy, de NY

Ferreira Gullar, em O Globo

DEU EM O GLOBO/ COLUNA DO ANCELMO GOIS

Os camaradas


Antigos amigos do PCB se reuniram sábado para festejar os 80 anos de Ferreira Gullar numa churrascaria de Laranjeiras, no Rio

O poeta chegou a estudar em uma escola de formação de quadros comunistas, em Moscou.

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
Clique o link abaixo

Flor Amorosa - Instrumental Clássico Brasil séc. XIX (ao estilo da época)

Bilhetinho triste :: Graziela Melo

Quantos
olhares tristes,
divagam
pelo mundo?

São almas
famintas
de afeto
de teto
de pão!

São Josés
e Manoéis
Raimundo,
Maria
Josefina
Conceição!!!

É
a indiferença
de tantos

que mais dói
no coração!!!

Penso nisso
todos
os dias,

quando
anoitece
minha alma
entristece....

Lembro
as calçadas,
as marquises

onde dormem
os anônimos,
os infelizes,

ao cobertor
das noites frias

os Josés
e as marias!!!


Rio, 27/09/2010