sábado, 9 de outubro de 2010

Reflexão do dia – Roberto Freire

O segundo turno foi uma conquista da cidadania que não se deixou envolver pela propaganda oficial e os artificiosos números dos institutos de pesquisa. Como já tínhamos observado, na semana passada a necessidade do segundo turno se impunha, entre outras coisas, para que pudéssemos saber que resposta nos dará o próximo presidente sobre questões essenciais.


(Roberto Freire, no artigo ‘O futuro agora!’, no Brasil Econômico, 8/10/2010)

Voto religioso reavaliado:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O resultado das eleições presidenciais mostrou que a distribuição regional dos votos continuou basicamente a mesma da eleição de 2006, com as regiões mais pobres do país, inclusive na Região Sudeste, votando no governo, e Sul (com exceção do Rio Grande do Sul), Sudeste e Centro-Oeste indo para a oposição.

A influência dos católicos e evangélicos devido à polêmica sobre o aborto não teve tanta importância quanto atribuem no resultado final.

As conclusões são do cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC do Rio, especialista em geografia eleitoral. Ele comemora que já está se tornando comum o uso de mapas para definir melhor o que aconteceu nas eleições: “Há uns dez anos, lançamos um livro chamado “Comunicação cartográfica”, em que chamávamos a atenção para a importância do mapa como forma de comunicar a informação.

Hoje, os grandes jornais estão dando destaque aos mapas, mostrando a distribuição dos votos de cada candidato, o que é muito bom para entendermos o que está acontecendo no país”, diz ele.

Existem nove estados que detêm 75% do eleitorado. Desses, Dilma ganhou em cinco: Ceará, Pernambuco, Bahia, Rio e Rio Grande do Sul, e agora terá governadores eleitos para ajudá-la no segundo turno.

Em contrapartida, aliados de Serra ganharam em quatro desses estados: Minas, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.

Dilma ficou num número intermediário entre a votação de Lula em 2002 — quando teve 46% — e em 2006, quando teve 48%. Nesta eleição, ela teve 47%, o que demonstra que o PT estabeleceu nas últimas três eleições um patamar.

Já Serra, que teve 33% dos votos este ano, teve mais votos que em 2002 — quando obteve 23% —, mas menos do que o PSDB teve em 2006 com Alckmin, que foram 42%.

Esses nove pontos percentuais foram para Marina, já que Dilma ficou no mesmo nível das eleições anteriores do PT. Marina recebeu também os nove pontos que, em 2006, foram dados a Heloísa Helena (6%) e Cristovam Buarque (3%).

Isso quer dizer que Marina, com certeza, além dos votos verdes que em eleições anteriores foram para esses três candidatos, já que o PV não apresentou candidato próprio, foi o estuário desaguadouro de muitos votos, estimulados pelo seu discurso de que queria governar com o melhor do PT e do PSDB, quebrando a polarização: tucanos insatisfeitos com a campanha de Serra; petistas desapontados com o governo Lula, especialmente com as denúncias de corrupção; verdes propriamente ditos; e o voto religioso de evangélicos e católicos contra o aborto.

Romero Jacob, um estudioso da influência do voto religioso, vai contra a corrente e não considera que esse voto tenha sido decisivo, mas apenas mais um dos muitos fatores que impediram a decisão no 1º turno.

Nas três primeiras eleições, os evangélicos estiveram ao lado de Collor e Fernando Henrique, porque entenderam que o PT tinha o apoio das Comunidades Eclesiais de Base (CEB), de onde eram originários muitos dos fundadores do partido, explica Cesar Romero Jacob.

Em 2002, no primeiro turno, foram todos para o “irmão” Garotinho, cuja distribuição de votos no território nacional naquela eleição é muito parecida com a localização das igrejas pentecostais e as repetidoras da Rede Record de televisão, comandada pelo bispo Edir Macedo, como mostram estudos da equipe da PUC que Romero Jacob coordena.

No segundo turno, eles se dividiram: a Igreja Universal ficou com Lula, e a Assembleia de Deus, com Serra. Em 2006, houve certa onda de que Alckmin era da Opus Dei, grupo católico mais conservador, e de novo o voto evangélico se dividiu.

Mas, adverte Romero Jacob, o fato é que, tirando a candidatura de Garotinho em 2002 e a do Crivella no Rio de Janeiro, esses votos se diluem.

De qualquer forma, Romero Jacob diz que, mesmo que sem querer, os grupos católicos e evangélicos ganharam a certeza de que nenhum dos candidatos levará adiante projetos de casamento gay e descriminalização do aborto, independentemente do que eles pensem.

Mas também aí esse movimento não é uniforme. Existe um grupo chamado Católicas pelo Direito de Decidir, um grupo minoritário, mas que defende o direito de a mulher decidir sobre o aborto.

Do mesmo modo existe um movimento católico chamado Diversidade Católica, pela não discriminação dos gays no mundo católico, e entre os evangélicos existe a Igreja Cristã Contemporânea, dissidente da Igreja Universal, que aceita o casamento gay.

É claro, diz Romero Jacob, que para os líderes religiosos é bom que se diga que foi a polêmica que causou o segundo turno, pois isso aumenta o cacife político deles nesse jogo de pressões.

Entre os fatores que influíram no resultado final, Romero Jacob inclui a abstenção mais alta, com maior incidência no Norte e no Nordeste, onde Dilma teve desempenho melhor. E a abstenção foi menor justamente no Sul e no Sudeste, onde Serra foi mais bem votado.

Romero Jacob acha inclusive que os institutos de pesquisas erraram ao não perceber que a abstenção iria aumentar — de 16% para 18% — devido a questões climáticas, como a seca na Amazônia, que impede o ribeirinho de sair de casa, ou no Nordeste, por causa da exigência do documento com foto para votar ou a dificuldade de votar em seis candidatos, deixando o voto para presidente em último lugar.

A distribuição dos votos pelo território nacional é muito semelhante à da eleição de 2006, constata Romero Jacob: o Norte e o Nordeste, a metade norte de Minas e o sul do estado, Rio de Janeiro, Espírito Santo e o Rio Grande do Sul com Dilma, mas o Sul do Brasil, o Centro-Oeste, parte de Minas e São Paulo com Serra.

Mais uma vez o bolso influiu na eleição, ressalta Romero Jacob, com as regiões exportadoras votando contra o governo por causa da valorização do real, e as regiões beneficiadas pelo Bolsa Família e outros programas assistencialistas, a parte mais pobre do país, ficando com Dilma.

Os reflexos econômicos em ambos os casos perpassam toda a cadeia produtiva local, e o mercado interno das regiões, beneficiadas ou prejudicadas pelas ações do governo.

Em linhas gerais, onde o governador ganhou, o candidato a presidente daquela base ganhou também. A única exceção foi Minas, onde o tucano Antonio Anastasia teve 60% dos votos, e Serra teve 30%.

Controle da mídia, corrupção e aborto : e o PT, prá variar, perdido no tiroteio::Bolívar Lamounier

Blog do Bolivar

Em sua prolongada infância, o PT sempre optou por auferir dividendos políticos e eleitorais sem assumir a correspondente parcela de responsabilidades. Em momentos cruciais, quando sua colaboração era esperada e teria sido importante, ele a recusou, se isolou e não poupou saliva em sua crítica às demais forças políticas.

Fez pior, aliás. Tratou de justificar seu comportamento predatório com um discurso fajuto sobre o que supostamente o diferenciava do “resto”. Seria, em sua própria avaliação, a única agremiação autêntica, pura, ética, revolucionária, voltada para o bem público etc etc – desde Pedro Álvares Cabral.

Não há necessidade de recapitular detalhadamente a história, mas aqui vão – só para ilustrar – alguns episódios.

Em 1982, quando a redemocratização não estava de modo algum assegurada, o partido começou a atacar lideranças de relevo no campo democrático como “farinha do mesmo saco”.

Em 1985, recusou-se a participar da ação institucional que iria finalmente sepultar o regime militar - a eleição de Tancredo Neves -, chegando mesmo a expulsar três deputados que não acataram a diretriz partidária.

Em 1988, recusou-se a assinar a Constituição. Em 1992, após a queda de Collor, negou-se a participar do governo de união proposto por Itamar Franco , e não hesitou em excluir de seus quadros a Sra. Luísa Erundina, que aceitou a nomeação para um ministério.

Em 1994, como todos se lembram, apostou claramente no “quanto pior, melhor”, colocando-se em posição de antagonismo contra a estabilização da economia através do Plano Real.

Outro traço infantil do petismo manifestou-se com mais força – vejam só a ironia – a partir de 2002, justamente após a chegada de Lula à presidência.

Refiro-me ao recurso sistemático à mentira . Sim, todo político mente. Todos os que jamais existiram na face da terra um dia mentiram, com ou sem justificação.

Mas aqui eu estou falando de um traço tipicamente infantil : da mentira transparente, se o leitor me permite um paradoxo. Daquela mentira que se impõe e perdura tão-somente porque há interessados em cultivá-la, ou em agradar quem a cultiva .

De mentiras transparentes, a ilustração definitiva, que todo futuro historiador terá de registrar, é a lenga-lenga da “herança maldita”.

Salvo os muito ignorantes, os de má-fé e os que hajam perdido a sanidade, todos os agentes políticos de nível nacional, todos os partidos e órgãos de governo, todos os economistas e cientistas sociais sabem que o bom andamento do processo político e os avanços econômicos recentes tiveram como pré-condição a estabilização e as reformas encetadas no transcurso dos anos 90.

O terceiro traço a que desejava me referir veio à tona de forma cristalina de alguns meses para cá, em função sobretudo da conjuntura eleitoral.

O petismo parece não compreender que toda força política relevante adquire ao longo do tempo uma identidade peculiar.

Da mesma forma que na vida individual, a identidade não é só subjetiva (aquilo que nós achamos que somos) ; em grande parte ela é também objetiva (aquilo que os outros acham que somos).

Ou seja, as identidades políticas plasmam-se na própria interação, à medida em que as diferentes forças convivem e se influenciam mutuamente.

Vejamos um exemplo : o “controle social da mídia”. Numa perspectiva totalmente subjetiva, o PT e seus militantes podem conferir a esta expressão o significado que quiserem. Mas a identidade politicamente relevante e mais sólida é a outra, parcialmente objetiva : aquela que não se desmancha no ar.

Como indiquei acima, a história do PT caracteriza-se por certas ambiguidades, por percursos não raro sinuosos, por certos padrões de comportamento, enfim. As “bases” que o partido consulta, e como as consulta, o teor das discussões e dos documentos que daí resultam, tudo isso é razoavelmente bem conhecido.

Quando então falam em “controle social da mídia”, como podem os petistas estranhar que outras forças, a começar pela própria mídia, entendam ”controle social da mídia sob o nosso controle” ?

Nas reuniões e declarações desta semana, através das quais o PT (e aliados) vêm tentando recarregar a candidatura Dilma Rousseff, a questão do aborto ganhou destaque.

Tentou-se, por um lado, retirar o assunto totalmente da agenda, ou pelo menos diluir seu impacto eleitoral.

Por outro, a crer em notícias que o governo provavelmente não confirmará, Lula teria “recrudescido” (este verbo é para quem se lembra do general Figueiredo) , fazendo chegar à CNBB um recado inequívoco : ou a hierarquia católica enquadra os prelados que vêm criticando a candidata oficial, ou o governo rompe pura e simplesmente o acôrdo que mantém com o Vaticano.

Deixemos de lado a tendência de Lula a confundir os interesses eleitorais de sua facção com assuntos que na verdade se situam na esfera do Estado brasileiro – vale dizer, da Nação, dos cidadãos brasileiros tomados em conjunto.

Plasmada durante um longo período, a identidade de um partido normalmente traz embutida uma avaliação de sua credibilidade ou confiabilidade aos olhos dos demais, e de outras organizações existentes na sociedade.

No início deste ano – estou certo de que todos os leitores se lembram disto -, uma papelada que atendia pelo pomposo título de Plano Nacional de Direitos Humanos, resumidamente PNDH-3, aterrisou na mesa da Dra. Dilma Rousseff, à época ministra-chefe da Casa Civil.

Tratava-se de uma extensa lista de propostas colhidas junto a não sei quantas reuniões e conferências realizadas por movimentos e entidades as mais variadas : ”setores da sociedade civil”, segundo o consagrado jargão petista.

O referido rol de propostas incluía a revisão da lei de anistia e a adoção de procedimentos de conciliação, em detrimento da autoridade judiciária em conflitos agrários – além do aborto e da controle social da mídia, já mencionados .

Chancelada pela ministra e por Lula – não farei a maldade de indagar se a terão lido – , a papelada virou anteprojeto e estava pronta para ser enviada ao Congresso Nacional.

E aí, aconteceu o quê ? Ora, aconteceu o óbvio. Contundentes advertências e pressões surgiram nos “setores” afetados : Forças Armadas, agricultura, mídia e Igreja. Mais que depressa, percebendo o provável estrago eleitoral, Lula mandou deixar o dito por não dito.

No entanto, pelo menos dois dos quatro assuntos - o controle da mídia e o aborto – continuaram a fermentar. O ressurgimento da questão do aborto, como vimos esta semana, foi rapidamente atribuído às “baixarias” do PSDB : é outro caso de mentira transparente. No que toca à mídia, até as pedras de minha rua perceberam que isso se deveu em grande parte aos ataques de Lula à imprensa.

Mas há - como venho argumentando desde o início -, uma questão de fundo. Dada a identidade histórica do PT e certas práticas em que ele parece fazer questão de reincidir, o quê, exatamente, os petistas esperavam que acontecesse ? Dilma diz que não disse o que disse. Lula manda deletar as sete ou oito linhas “inconvenientes” do PNDH-3.

E daí ? Os petistas combinaram com os russos, ou estão mesmo imaginando que estão com a credibilidade nas alturas ?

Primeiro turno :: Cesar Maia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A campanha eleitoral para presidente pode ser dividida em três momentos.O primeiro, em que Lula procurou apresentar sua candidata pelo Brasil afora e cloná-la a seu governo. As pesquisas diziam que 40% dos eleitores votariam em qualquer candidato que Lula indicasse. Dilma chegou a este patamar antes mesmo da entrada da TV, onde aquela colagem seria garantida.

O segundo momento dependeria da performance de Dilma, que iria tentar capturar uma parte dos 40% de eleitores que diziam que isso dependeria dos candidatos. Dilma cresceu e passou dos 50%, conquistando mais de 35% desses eleitores independentes. Com a TV parecia que a eleição caminharia inexoravelmente para terminar no primeiro turno.

Nesse processo, surgiram escândalos no próprio gabinete da ex-ministra e no governo. Nada aconteceu com as pesquisas. Sondagens mostraram que o eleitor, ao generalizar a desonestidade dos políticos, terminava por minimizar os fatos. Mas as denúncias jogavam Dilma na mesma cesta dos demais, fato novo para o eleitor que a viu como garantia comportamental pós-mensalão do PT.

Essa fragilização não afetou as pesquisas num primeiro momento, mas criou um ambiente favorável a perdas futuras, surgindo fatos novos. Serra trocou com Dilma e ficou patinando num patamar um pouco abaixo dos 30%. Abriu a campanha apostando num pós-Lula, continuidade com agregação: o Brasil pode mais.

E depois os escândalos o fizeram mudar.

Marina apostou em um discurso para o século 21: sustentabilidade ambiental.

Ocupou o espaço do voto "politicamente correto", um pouco abaixo dos 10%. A expectativa que se tinha é que, com a fase final da campanha, o voto útil poderia atingi-la. Mas o fato novo veio.

Difundiu-se entre os evangélicos as entrevistas pré-eleitorais de Dilma, especialmente em relação ao aborto. A bandeira contra o PNDH-3 (aborto, ...) passou a ser carimbada em Dilma. E a curva de queda dela nessa faixa do eleitorado foi se acentuando. Marina caminhou para perto dos 20%, paradoxalmente com seu eleitorado dividido ao meio: 50% progressista, os de antes, e 50% conservador, em função de valores cristãos, que, aliás, são os dela efetivamente.

Muito dificilmente o eleitor conservador de Marina voltará a Dilma, que no dia seguinte à eleição soltava balões de ensaio em sua direção. Mas não irá compulsoriamente a Serra. O risco para esse será sempre da opção daqueles pelo voto nulo ou abstenção, que, aliás, cresceu em 2010 em relação a 2006.

Os brancos-nulos-abstenção foram de 25,16% em 2006 e 27,72% em 2010, preciosos, e talvez decisivos, 2,5 pontos.


Cesar Maia escreve aos sábados nesta coluna.

Segundos turnos:: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Uma lenta tendência se firma nas eleições brasileiras: sempre menos governadores são escolhidos no segundo turno. Neste ano, só nove disputas serão decididas em 31 de outubro. É o menor número desde 1990, quando o instrumento foi usado pela primeira vez nos Estados.

Como registrou o jornal "Valor Econômico" nesta semana, os segundos turnos de 2010 também são os que têm uma drástica redução do número de eleitores envolvidos: meros 14% do total do país. Além de serem apenas nove disputas, todas ocorrem em unidades da Federação com população reduzida.

Esse fenômeno indica que o segundo turno da eleição presidencial será quase uma disputa solteira. Ou seja, só 14% dos eleitores receberão colas com os nomes dos candidatos a governador e a presidente. Os restantes serão alvos solitários das campanhas de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). É difícil prever o resultado dessa conjuntura inédita, embora eleições anteriores tenham deixado pistas.

Nas duas vezes em que foi eleito presidente, 2002 e 2006, Lula desfrutou de massas muito maiores de eleitores envolvidas em segundos turnos de eleições de governadores. Ou seja, sua campanha era casada em vários Estados com seus aliados locais. Agora, Dilma e Serra não terão esse benefício.

Como o segundo turno deste ano cai no início de um fim de semana prolongado -31 de outubro é o domingo que antecede o feriado de Finados-, muitos eleitores podem se sentir menos compelidos a votar. Afinal, é só o voto para presidente. A campanha local para eleger o governador já estará desmobilizada em quase todo o país.

Tudo considerado, o cenário fica ainda mais difícil de ter um desfecho previsível pelas características únicas da eleição deste ano. Um presidente com cerca de 80% de aprovação é um grande cabo eleitoral, mas até o momento não dá certeza de vitória a sua candidata.

Caetano canta Feitiço da Vila, de Noel Rosa

PSDB do Piauí acusa ministro de corrupção

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Alexandre Padilha teria oferecido obras do PAC a prefeito de Teresina em troca de apoio a candidato à reeleição ao governo

Luciano Coelho

O PSDB do Piauí deve entrar com uma ação contra o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, por corrupção eleitoral. Ele teria trocado recursos públicos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), no valor de R$ 108 milhões, por apoio político do prefeito de Teresina, Elmano Ferrer (PTB), em favor da candidatura de reeleição do governador Wilson Martins (PSB).

O dinheiro será destinado para obras de infraestrutura e drenagem na capital do Piauí. Padilha pediu licença do cargo de ministro para se engajar na campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República.

A ação contra Padilha deverá ser apresentada junto à Procuradoria-Geral Eleitoral, em Brasília A assessoria jurídica da coligação A Força do Povo, encabeçada pelo PSDB, fez requerimento neste sentido ao Ministério Público Eleitoral. O candidato Sílvio Mendes (PSDB) obteve 30,08% dos votos no primeiro turno. O governador Wilson Martins, 46,37%.

A assessoria jurídica do candidato tucano atuou em duas frentes. Numa delas, ajuizou a representação contra o prefeito de Teresina por corrupção eleitoral passiva. Segundo a advogada Geórgia Nunes, foi pedida uma investigação criminal alegando que o prefeito declarou ter trocado o apoio político ao governo por recursos do PAC.

Em outra frente, o PSDB fez uma representação contra o ministro Padilha por corrupção ativa. A assessoria jurídica do candidato tucano alega, na representação criminal e no pedido ao Ministério Público, que seja apurada a denúncia de crime de corrupção eleitoral.

O argumento é de que o próprio prefeito declarou ter trocado o apoio político em troca de recursos do PAC. As provas devem ser encaminhadas à Procuradoria-Geral Eleitoral, fórum onde ministros de Estado devem ser investigados.

Uma outra ação de investigação judicial eleitoral está sendo ajuizada pela cúpula tucana contra o governador Martins e o prefeito Ferrer por abuso de poder econômico e de poder político.

"Eles confessaram que a máquina pública federal e os recursos públicos estão sendo utilizados para beneficiar a candidatura do governador Wilson Martins. Eles falaram num montante considerável, de R$ 108 milhões", prosseguiu Geórgia Nunes.

Não é a primeira vez que Alexandre Padilha é acusado no Estado. No início da campanha, a Executiva Regional do PT fez uma representação oficial à Executiva Nacional e à Comissão de Ética do PT contra o ministro Padilha por ele ter declarado apoio e gravado mensagem para o candidato a senador Ciro Nogueira (PP), quando o partido tinha dois candidatos ao Senado: Wellington Dias e Antônio José Medeiros. Nogueira e Dias acabaram eleitos senadores no domingo.

Campanha foca no Ceará, Maranhão e Pernambuco

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Anna Ruth Dantas

A coordenação da candidatura do PSDB na Região Nordeste foi entregue ao deputado federal potiguar Rogério Marinho (PSDB) e ao senador paraibano Cícero Lucena (PSDB).

"Ceará, Maranhão, Pernambuco e Bahia, que são os Estados de maior densidade eleitoral e onde tivemos o maior insucesso nas urnas, irão merecer uma atenção maior nas ruas", disse Rogério Marinho. "A possibilidade de virarmos a eleição é concreta. Note que o voto dado a Serra e Marina (Silva) se deu principalmente nas regiões mais escolarizadas e, portanto, com menos fragilidade econômica.

A votação de Dilma (Rousseff) se deu nos pequenos municípios, onde a população é mais dependente dos programas sociais do governo", analisou.

''Quem espera favores está no lugar errado'', diz Tasso

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Carmen Pompeu

Os tucanos cearenses adotaram as bandeiras da "honestidade" e da "ética" como estratégia para levar José Serra (PSDB) à vitória no segundo turno. Ontem, em Fortaleza, na reunião da Executiva Estadual do PSDB, Tasso Jereissati, que perdeu reeleição ao Senado, deu o tom da campanha. "Quero dizer que quem não estiver com José Serra não precisa ficar aqui. Quem esperar favores, dinheiro, benesses, está no lugar errado", ressaltou.

Tasso foi duro e recomendou a quem não se enquadrasse nas condições a se mudar para o PT.
"Nós voltamos a brigar. Tenho certeza de que o resultado aqui não vai ser igual ao resultado do primeiro turno. Vamos juntos e quem não quiser que se retire, vá para o PT, vá para onde quiser", afirmou.

Ofensiva tucana em SP foca 100 maiores cidades

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Principais aliados de Serra participarão do "mutirão" formado por Alckmin e Aloysio Nunes, novos integrantes do conselho político

Julia Duailibi e Chico Siqueira

O comando da campanha do presidenciável do PSDB, José Serra, resolveu adotar medidas preventivas contra o crescimento da candidata adversária Dilma Rousseff (PT) entre o eleitorado de Marina Silva (PV) em São Paulo e passará a focar a campanha tucana nas 100 maiores cidades paulistas.

O governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), entrou na articulação. Na noite de quinta-feira, encontrou-se com prefeitos de Sorocaba, Piracicaba, São José dos Campos, Americana e Santos. Pediu a todos empenho na ofensiva pró-Serra.

Além de Goldman, os dois novos integrantes do conselho político da campanha tucana - o governador eleito Geraldo Alckmin e o senador eleito Aloysio Nunes Ferreira -, participarão do "mutirão paulista". Também compõem o grupo o prefeito paulistano, Gilberto Kassab (DEM), o secretário de Educação, Paulo Renato, e o vice-governador eleito, Afif Domingos (DEM).

Kassab visita hoje Caieiras e Paulínia para entregar aos prefeitos a carta assinada por Alckmin e Aloysio, na qual pedem apoio a Serra. Nos últimos dois dias, Alckmin foi a Santos, Mogi das Cruzes e São José do Rio Preto.

A disputa no maior colégio eleitoral do País será acirrada. Serra venceu no Estado por uma diferença de pouco mais de 780 mil votos. Teve 40,66% dos votos, contra 37,31% de Dilma. Marina conseguiu obter 4,8 milhões de votos no Estado. Os tucanos querem focar em cidades estratégicas, onde o candidato perdeu para Dilma, como Campinas, Guarulhos e a região do ABC.

Alckmin disse ontem, em São José do Rio Preto, que as viagens têm finalidade de conquistar o eleitor de Marina. "O tempo de TV será igual, e Marina teve 20% dos votos. Em quem vai votar esse eleitor no segundo turno? Acho que ele tem uma afinidade maior conosco", disse Alckmin.

O comando da campanha tucana também decidiu agora que vai tentar tirar do papel o "conselho político", criado durante o primeiro turno e formado por lideranças dos partidos aliados.

O grupo foi feito para atender à demanda dos partidos aliados de terem maior participação nas principais decisões da campanha. Mas o "conselho de notáveis" nunca se reuniu. A ausência dos encontros foi vista internamente como exemplo de que o presidenciável tucano não estava aberto para ouvir os aliados.

O comando tucano quer que o grupo se reúna na próxima segunda-feira. A data, no entanto, depende da agenda de Serra.

Pedágio. Alckmin repetiu ontem que vai rever modelos de pedágio - o tema foi polêmico na relação com Serra, que foi governador. Disse que vai rever os 18 contratos. "O que for favorável ao Estado vai permanecer. Vamos analisar caso a caso, e os que não forem favoráveis vamos exigir mais obras ou reduzir tarifas ou reduzir reajustes", disse. Nos casos em que os pedágios estão localizados entre bairros, disse que haverá redução de tarifas.

Depois de lembrar que o PT apresentou a possibilidade de descriminalização do aborto no Plano Nacional de Direitos Humanos (PNH 3), Alckmin disse que o PSDB vai apenas cumprir a legislação que está em vigor.

Na Bahia, Serra diz ter ''ideias coerentes''

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Juscelino Souza

Um discurso improvisado no teto de uma picape, no centro comercial da cidade, marcou a passagem de José Serra (PSDB) ontem por Vitória da Conquista, sudoeste da Bahia, a 509 km de Salvador. Recepcionado por uma multidão estimada em 5 mil pessoas, segundo a PM, e 8 mil, de acordo com os organizadores, Serra foi comedido, quando provocado pelos jornalistas sobre a falta de propostas para o País durante a campanha e a polêmica em torno do aborto.

Segundo ele, "os candidatos colocam propostas para o Brasil, mas as pessoas colocam perguntas e querem saber o que os candidatos pensam, como foi sua vida, o que eles querem e quais são seus valores. Isso não é uma pauta fixada pelos candidatos, mas sim pela população".

Em tom moderado, pontuando o discurso e medindo as palavras, disse estar pronto a falar tudo o que pensa. "Não tenho nada secreto. Tenho sido muito coerente. Não mudo de ideia de um dia para o outro. Quando a gente muda, chama muito a atenção, mas no meu caso nunca chamo porque minhas ideias são coerentes ao longo do tempo."

Projetos do PV. O candidato voltou a falar sobre o assédio político a Marina Silva, mas negou qualquer tipo de pressão para angariar apoio dos verdes. "Não estamos trabalhando no sentido de constranger, pressionar. Nada parecido. Sou contra porque os partidos, as lideranças como a Marina têm liberdade para decidir, sem qualquer espécie de constrangimento, de assédio, de insistência."

Ele afirmou, no entanto, que seu eventual governo deverá abraçar projetos do PV. "Vamos abraçar, sim, sem dúvida alguma. Basta lembrar que em São Paulo o PV esteve comigo, tanto na prefeitura quanto no governo do Estado."

Ao som de charanga e num mar de bandeiras de campanha, o público, que se espremeu entre árvores e carros, foi ao delírio quando Serra empunhou o microfone e fez um jogo de palavras. "Em primeiro lugar quero dizer que vou começar uma luta para mudar o nome da cidade porque aqui começa a conquista da vitória e ela vai abrir outra ainda maior, nos fazendo presidente", citou.

O candidato havia prometido estar na cidade em setembro, no curso do primeiro turno, mas mudou de planos e deixou brecha para que Marina conhecesse de perto o eleitorado que viera lhe conferir 26.880 votos, equivalente a 18,67% dos válidos. Ainda assim Serra conseguiu superar a candidata petista no maior reduto eleitoral do partido no Estado, obtendo 59.420 votos (41,27% dos válidos), contra 56.780 (39,43%) conferidos a Dilma Rousseff. Na Bahia, além de Conquista, Serra só conseguiu frente em Tancredo Neves. O Estado tem 417 municípios.

Como gratidão, conforme deixou claro, não poupou promessas, embora utilizando outro termo. "Não faço promessa. Faço anúncio e aqui, nessa praça, anuncio que Vitória da Conquista pode esperar barragens, universidade federal, aeroporto, saneamento, esgoto, água tratada para indústria, agricultura e famílias."

Encravado no sudoeste baiano, numa área de semiárido conhecida como sertão da ressaca, o município de Vitória da Conquista, com mais de 310 mil habitantes, tem o segundo maior colégio eleitoral do interior (atrás apenas de Feira de Santana), com 205.076 eleitores aptos, distribuídos por três zonas, em 131 locais de votação e 594 seções.

Com ''guerra santa'' candidatos definem o tom da reta final :: Marcelo de Moraes

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Análise

Nem o mais visionário político do País imaginaria no início da campanha que o tema central da disputa presidencial envolveria religião. O impressionante movimento dos eleitores cristãos, rejeitando qualquer candidatura que imaginem ser defensora do aborto, ainda precisará ser estudado e explorado por especialistas para ser compreendido. Mas a verdade é uma só: o segundo turno entre Dilma Rousseff e José Serra já está absolutamente dominado por essa discussão.

Ontem, na volta do horário de propaganda eleitoral, o tema se defini u como principal ponto da discussão entre os candidatos.

Com pouco mais de três semanas até a escolha do próximo presidente e com peso para influenciar no resultado, essa "guerra santa, provocada pela discussão em torno da legalização do aborto, será o centro da disputa.

A abordagem feita por cada candidato refletiu a surpresa provocada pela adesão em massa desse voto cristão à candidatura de Marina Silva. Se não foi suficiente para garantir sua vitória, essa força freou as chances de Dilma se eleger no primeiro turno

A petista, principal prejudicada pela nova variável eleitoral, passou o primeiro programa na defensiva. Disse e repetiu quantas vezes pôde que era a favor da vida, tentando deixar clara a posição contrária ao aborto. Até o programa Minha Casa, Minha Vida foi associado à defesa da família pelo seu programa.

O problema é que essa estratégia defensiva não ajudou-a em nada. Enquanto Dilma foi pautada pelo tema que tem sangrado sua candidatura, Serra parecia ter ganho o primeiro turno e não perdido por 14,5 milhões de votos.

Sem precisar se defender, o tucano agradeceu votos, mostrou imagens de festa, homenageou Marina e aproveitou o mote do aborto para criticar Dilma. Exibiu mães grávidas, declarou ser contra o aborto e avisou que tem fé na vitória.

Com um programa "para cima" e tecnicamente superior ao que exibia no primeiro turno, Serra até tirou do armário aliados que tinha preferido esquecer, como os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco.

Para Dilma, a opção óbvia é recuperar sua agenda própria. Do contrário, poderá trocar seu favoritismo inicial por uma via crúcis política dolorosa.

É jornalista de "O Estado de S. Paulo"

Virgílio denuncia compra de votos no Amazonas

DEU EM O GLOBO

Senador tucano, que não se reelegeu, acusa adversários

Paula Litaiff*

MANAUS. O senador Arthur Virgílio Neto (PSDB) denunciou suposto esquema de compra de votos na eleição para o Senado, da qual saiu derrotado. Virgílio acusou o ex-governador do estado Eduardo Braga (PMDB) de coordenar a distribuição de cartões magnéticos em valores que variam de R$ 600 a R$ 1,2 mil para cabos eleitorais fazerem captação ilícita de votos. Os eleitores, segundo Virgílio, recebiam R$ 50 para votar em Braga ou na deputada federal Vanessa Grazziottin (PCdoB).

Braga foi eleito com 42,04% dos votos. Virgílio ficou em terceiro lugar com 21,95%, pouco atrás de Vanessa, com 22,83%.

Virgílio apresentou documentos e cartões de banco que teriam sido usados para a fraude.

De acordo com o tucano, o Bradesco emitiu cartões em nome da empresa A.C Nadaf Neto Assessoria em Comércio Exterior, em favor de supostos cabos eleitorais de Braga e Vanessa, dois dias antes das eleições. O Bradesco não se manifestou.

Pela denúncia, cada beneficiário deveria comprar de 10 a 20 votos, no valor de R$ 50 cada. O dinheiro seria depositado nas contas do Bradesco abertas em nome dos cabos eleitorais.

— Se o valor era de R$ 600, o coordenador de campanha ficava com R$ 100 e comprava dez votos. Se o valor era de R$ 1.200, o coordenador ficava com R$ 200 e comprava 20 votos — acusou Virgílio, afirmando que tomou conhecimento das denúncias pelos cabos eleitorais.

A denúncia foi protocolada ontem no Ministério Público Eleitoral. Seis pessoas prestaram depoimento e confirmaram que foram orientadas para comprar votos para Braga e Vanessa.

O coordenador da campanha de Braga e Vanessa, o servidor público licenciado Raul Zaidan, disse que os políticos usaram cartões do Bradesco para pagar 2.275 cabos eleitorais, num total acima de R$ 6 milhões.

O processo de pagamento dos colaboradores, segundo o coordenador, foi feito com base numa recomendação do Ministério Público do Trabalho, e, segundo ele, o uso dos cartões foi informado ao TRE.

(*) Especial para O GLOBO

Serra diz que deve abraçar projetos dos verdes

DEU EM O GLOBO

Tucano afirma que não pressiona grupo de Marina e volta a insinuar que Dilma muda de posição

Juscelino Souza*

VITÓRIA DA CONQUISTA (BA). - Um discurso improvisado no teto de uma picape, no centro comercial da cidade, marcou a passagem do candidato tucano à Presidência, José Serra, por Vitória da Conquista, no sudoeste da Bahia, a 509 km de Salvador.

Recepcionado por cerca de cinco mil pessoas, segundo a PM, Serra afirmou que seu eventual governo deverá abraçar projetos do PV, mas negou qualquer tipo de pressão para angariar apoio dos verdes.

O tucano foi comedido quando provocado pelos jornalistas sobre a falta de propostas para o país durante a campanha e a polêmica em torno do aborto: — Não tenho nada secreto.

Tenho sido muito coerente. Não mudo de ideia de um dia para o outro. Quando a gente muda, chama muito a atenção, mas no meu caso nunca chamo porque minhas ideias são coerentes ao longo do tempo — disse, referindose à polêmica sobre aborto e à mudança de posição da adversária do PT, Dilma Rousseff.

Serra negou que haja assédio político a Marina Silva (PV).

— Não estamos trabalhando no sentido de constranger, pressionar.

Sou contra porque os partidos, as lideranças como a Marina, têm liberdade para decidir, sem qualquer espécie de constrangimento, de assédio, de insistência — afirmou, destacando o interesse por projetos dos verdes. — Vamos abraçar, sim, sem dúvida alguma. Basta lembrar que em São Paulo o PV esteve comigo, tanto na prefeitura quanto no governo do estado.

Serra evitou comentar o primeiro programa do horário político do segundo turno e prometeu obras para a cidade baiana: — Anuncio que podem esperar barragens, universidade federal, aeroporto, saneamento, esgoto, água tratada para indústria, agricultura e famílias.

Ao som de charanga e num mar de bandeiras de campanha, Serra fez um jogo de palavras com o nome da cidade: — Em primeiro lugar, vou começar uma luta para mudar o nome da cidade porque aqui começa a conquista da vitória.


(*) Da agência A Tarde

Aécio prepara megaevento em BH

DEU EM O GLOBO

Expectativa é reunir mais de 300 prefeitos e líderes para apoiar Serra

Adriana Vasconcelos, Thiago Herdy e Isabela Martin

BRASÍLIA, BELO HORIZONTE e FORTALEZA. Irritado ainda com a tentativa do presidente Lula de interferir na disputa eleitoral de Minas Gerais — onde, apesar da ação federal, conseguiu garantir a reeleição do governador tucano Antonio Anastasia em primeiro turno —, o ex-governador Aécio Neves prepara um megaevento em Belo Horizonte para receber o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, na próxima quinta-feira. Sua expectativa é reunir mais de 300 prefeitos e líderes municipais para engrossar a campanha de Serra no estado. Aécio está telefonando pessoalmente para alguns prefeitos pedindo apoio.

— Há três dias estamos ligando para essas lideranças convidando para o evento da próxima quinta-feira. A ideia é trazer para uma reunião com Serra o máximo de prefeitos que estiveram com Anastasia no primeiro turno — confirmou o secretário-geral do PSDB, deputado Rodrigo de Castro (MG), coordenador da campanha de Serra em Minas.

O deputado mineiro admitiu que, no primeiro turno, a prioridade do PSDB no estado era eleger Anastasia. Mas ele garante que agora, com a disputa estadual já resolvida, vários prefeitos e líderes municipais se colocaram à disposição para trabalhar na campanha de Serra.

— Em alguns lugares, no primeiro turno, fomos impedidos de falar em Serra para não atrapalhar a campanha de Anastasia. Isso aconteceu, por exemplo, em Espinosa, no norte do estado. Mas o prefeito de lá já me ligou dizendo que agora vai trabalhar para Serra — disse Castro.

Na quinta-feira, Aécio pretende definir com os líderes políticos regionais um calendário de eventos no estado para este segundo turno.

Assim como o ex-governador mineiro, o governador eleito do Paraná, o tucano Beto Richa, também pretende se dedicar integralmente à campanha de Serra. Segundo o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, Richa assumirá a coordenação da campanha de Serra no estado: — O nosso empenho agora é para mobilizar nossas lideranças e aliados nos estados para garantir a vitória de Serra.

Para Tasso, onda verde e amarela pode se espalhar O senador Tasso Jereissati (PSDB), que não se reelegeu, também afirmou em reunião com lideranças do PSDB do Ceará que está disposto a brigar pela eleição de Serra. E mandou um recado para as cerca de 350 pessoas reunidas num hotel em Fortaleza: — Aquele que por receio ou por conveniência não tiver disposto à luta neste momento, que se retire…Vá para o PT, para onde quiser… Se sobrarem quatro ou cinco, nós vamos juntos rodar o estado e levar José Serra à vitoria neste estado inteiro — disse.

Apesar de não ter pedido votos para Serra no horário eleitoral gratuito, Tasso demonstrou confiança na vitória do tucano. Disse ter sentido uma onda verde e amarela no Centro-Sul do país e acredita que ela poderá se espalhar.

— Nós vamos voltar a brigar agora. Eu estou disposto mais do que nunca a brigar. Digo uma coisa do meu coração: prefiro um PSDB menor, mas forte, unido e com convicções políticas — disse, destacando que suas pontes de safena aguentam bem essa batalha.

Sem citar nomes, Tasso criticou o governador Cid Gomes (PSB), de quem foi aliado.

Disse que preferiu ter perdido a eleição do que ter sido eleito “pela benesse de um padrinho que tenta a hegemonia política absoluta e restabelece as velhas oligarquias e as práticas do atraso”.

Marina apresenta lista de compromissos

DEU EM O GLOBO

Senadora e PV condicionam eventual apoio no 2º turno a aceitação de propostas

Marcelle Ribeiro

SÃO PAULO. A senadora Marina Silva (PV-AC) e o seu partido apresentaram ontem uma lista com 42 propostas, divididas em dez áreas, que vão nortear as conversas com os candidatos do PSDB, José Serra, e do PT, Dilma Rousseff, para a definição de um possível apoio dos verdes no segundo turno.

Entre a propostas, estão a ampliação dos investimentos em educação e o veto a algumas alterações no Código Florestal.

Ao apresentar ontem o elenco de propostas, a senadora negou que o PV tenha negociado cargos no próximo governo em troca de apoio, e evitou falar sobre uma divisão interna no PV. Porém, reafirmou que ela e o seu partido poderão tomar decisões diferentes.

Marina não revelou se vai se encontrar com Serra e Dilma para conversar sobre um eventual apoio. Ao ser perguntada se continua achando que o Brasil quer uma mulher como presidente, como vinha dizendo no primeiro turno, afirmou que o país está preparado para ter uma mulher no cargo: — O Brasil está preparado para ter uma mulher na Presidência da República. Tem sinalizado isso. Caberá a quem está na disputa como mulher conquistar e convencer os votos.

Poderiam ser duas mulheres (no segundo turno).

O documento apresentado ontem, chamado “Agenda para um Brasil Justo e Sustentável”, trata de transparência e ética, reforma eleitoral, educação, segurança, mudanças climáticas e energia, saúde e assistência social, proteção de biomas, gasto público de custeio, reforma tributária, política externa e fortalecimento da diversidade socioambiental e cultural.

Marina destacou uma proposta de cada tema, como a divulgação na internet de dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi) e o veto a propostas de alteração do Código Florestal que reduzam áreas de reserva legal ou anistiem desmatadores.

Marina desconversa sobre fisiologismo no PV Perguntada se abriria mão de algum ponto apresentado no documento, Marina disse que todos são importantes: — Estamos disponibilizando para a apreciação dos candidatos.

A forma como isso vai se desdobrar é uma reação que pertence a eles — afirmou.

Marina disse que, caso os dois candidatos aceitem as propostas, o critério de “desempate” ainda será decidido. No próximo dia 17, o PV fará uma convenção para decidir se apoia alguém ou se fica neutro. No dia 13, haverá uma reunião em Brasília para preparar o evento.

Ao ser perguntada se o PV está livre do fisiologismo, devolveu a pergunta aos jornalistas: — Você acha que existem lugares que são perfeitos? Ela admitiu que não há garantias de que o candidato eleito cumpra as propostas apresentadas pelo PV: — Não existe uma garantia, a priori, do que seria feito depois de eleito. Da nossa parte, havia um compromisso de implementar uma plataforma. É por esse compromisso que estamos lutando — disse. — Não sei que reação teremos.

Sobre a polêmica em torno do aborto, a senadora disse que o documento apresentado ontem já contempla indiretamente a questão, ao tratar do combate à discriminação religiosa.

O documento será divulgado no site www.minhamarina.org.br

As propostas do PV

DEU EM O GLOBO

Estes são os dez compromissos que o PV apresentará aos candidatos a presidente:

ORÇAMENTO: Transparência de informações sobre a execução orçamentária do governo federal, divulgando na internet dados primários do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), permitindo o acompanhamento da execução dos contratos e processos decisórios, inclusive dos conselhos de governo e agências reguladoras.

REFORMA POLÍTICA: Envio ao Congresso de proposta de reforma política, com a adoção do voto distrital misto e financiamento público de campanhas.

EDUCAÇÃO: Elevação do investimento em educação do setor público para 7% do PIB, priorizando gastos para a universalização do acesso à pré-escola e a creches.

SEGURANÇA: Destinação de verba para complementar os salários de policiais civis e militares, por meio do Fundo Nacional de Segurança, e assim garantir dedicação exclusiva desses profissionais à segurança pública.

CLIMA: Criação de uma agência reguladora independente para a Política Nacional de Mudanças Climáticas.

SANEAMENTO: Alcançar a cobertura de 75% de domicílios com acesso à rede de esgoto, e pelo menos 50% com tratamento do esgoto coletado, até 2014, com vistas à universalização do serviço até 2020.

CÓDIGO FLORESTAL: Veto a propostas de alteração do Código Florestal que reduzam áreas de reserva legal, preservação permanente ou anistiem desmatadores.

GASTO PÚBLICO: Limitação dos gastos de custeio do governo federal à metade do crescimento do PIB.

RELAÇÕES EXTERIORES: Política externa orientada à promoção da paz, liberdade, democracia e respeito aos direitos humanos.

TERRAS INDÍGENAS: Conclusão da demarcação e homologação das terras indígenas e criação de fundo para apoiar projetos indígenas e populações tradicionais.

Triunfo nas urnas, crises entre aliados

DEU EM O GLOBO

Lula, Dilma e Temer apagam incêndios

José Casado

Nunca antes um triunfo nas urnas provocou tantas crises entre aliados políticos.

O presidente Lula, sua candidata Dilma Rousseff e o vice Michel Temer têm gastado mais tempo na tentativa de apagar incêndios no PT e no PMDB do que na preparação da campanha para o segundo turno.

Em Minas Gerais, a crise eclodiu antes mesmo de encerrada a apuração dos votos, na noite de domingo. O PT mineiro comunicou sua implosão ao presidente e sua candidata.

Dilma obteve 46,9% dos votos no estado. Venceu com 16 pontos de vantagem seus adversários do PSDB, José Serra (30,7%), e do PV, Marina Silva (21,2%).

Mas isso não foi suficiente para garantir a unidade petista no segundo maior colégio eleitoral do país.

A cúpula do PT mineiro rachou no embate entre Patrus Ananias, candidato a vice na chapa derrotada de Hélio Costa ao governo estadual, e Fernando Pimentel, derrotado na disputa pelo Senado. A fragmentação do partido durante a campanha teve reflexos na mobilização eleitoral em Belo Horizonte. Na capital, Dilma perdeu a eleição — teve 126 mil votos a menos que Marina Silva (PV).

A disputa entre Patrus e Pimentel é pelo controle do PT mineiro e, aparentemente, não tem solução imediata. Patrus responsabiliza Pimentel por ter permitido o avanço do PSDB de Aécio Neves em redutos eleitorais antes controlados pelo PT, a partir da coalizão na eleição municipal de 2008.

Patrus estava no comando da campanha de Dilma, mas a candidata mantém uma longa amizade com Pimentel e o escolheu como principal conselheiro no estado.

No início da semana, Patrus informou a Lula que não mais aceitaria a participação de Pimentel nas decisões do comitê. E informou a Dilma: caso seja eleita e venha a considerar Pimentel para o ministério, ela deveria ponderar que ele não seria um representante do PT de Minas — apenas uma escolha pessoal.

Na emergência, Lula apelou ao vice-presidente José Alencar (PR), cujo estado de saúde é frágil, para representálo no comando da campanha de Dilma em Minas durante o segundo turno eleitoral. Na quinta-feira, Dilma passou por Belo Horizonte.

Durante todo o tempo posou para câmeras ao lado de Pimentel.

O presidente e sua candidata têm motivos para aflições, também, com os múltiplos impasses no PMDB e no PR, assim como na relação desses partidos com o PT nos estados. Pediram ao candidato a vice-presidente Michel Temer para tentar conter os descontentes — tarefa difícil, pois o mapa da discórdia segue a trilha da expressiva votação de Dilma nas cidades médias de Minas, atravessa o Nordeste, especialmente a Bahia, e segue até o Amazonas.

Inclui, também, o estado do Rio, onde personagens do PR, como Anthony Garotinho, desfiam um rosário de queixas.

Na Bahia, Temer acredita ter tido um relativo sucesso em conversas com baianos como Geddel Vieira (PMDB), candidato derrotado ao governo, e César Borges (PR), que perdeu a disputa para o Senado. Mas não obteve garantias de engajamento de Geddel e Borges, entre outros, na campanha do segundo turno. O candidato a vice-presidente saiu dessas e de reuniões semelhantes com a impressão de que manter uma coalizão com o PT de Dilma será muito mais complexo do que foi, no passado, a aliança com o PSDB no governo e no Congresso.

Outro dos sinais percebidos por Temer foi a relutância demonstrada pela cúpula petista, nesta semana, em deixar o PMDB na Presidência da Câmara dos Deputados, a partir de fevereiro de 2011. A melhor tradução do ânimo pemedebista nas relações com o PT foi feita na quarta-feira pelo líder do partido na Câmara, Henrique Alves, indicado por Temer para a Presidência da Câmara no ano que vem: “Ou ganhamos todos juntos ou não ganha ninguém.” O acordo político que previa a “partilha” do poder entre os PMDB e o PT, no governo e no Congresso, virou uma ação de alto risco na bolsa de apostas do segundo turno da eleição presidencial.

Ex-assessor de Dilma tem negócio com estatal

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Contratos de Ibanês Cássel, diretor de Gestão Corporativa da Empresa de Pesquisas Energéticas, com a Petrobrás passam de R$ 500 mil

Ibanês César Cássel, diretor de Gestão Corporativa da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), braço do Ministério de Minas e Energia, é sócio da Capacità Eventos Ltda e assinou dois contratos, em 2008, entre sua empresa e a Petrobrás no valor total de R$ 538.755.65. Um deles, na soma de R$ 100 mil, foi fechado sem licitação. As informações são do jornal O Globo.

Segundo o diário fluminense, Cássel tem laços profissionais estreitos com a presidenciável do PT, Dilma Rousseff. Foi diretor administrativo da Companhia Estadual de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul sob comando de Dilma, que chefiava a Secretaria de Energia, Minas e Comunicações do Estado. Em 2005, assumiu a diretoria da EPE a convite da petista, que era ministra de Minas e Energia.

Um dos contratos entre a empresa de Cássel e a Petrobrás, informa o jornal, tem o valor de R$ 438.755,65. A Capacità Eventos ficou responsável pela inauguração da plataforma P-53, em 18 de setembro de 2008 na cidade de Rio Grande (RS). Nesse caso, a licitação foi feita por meio de carta-convite.

O segundo contrato, continua o diário fluminense, foi para o patrocínio do evento "Porto Alegre - Uma visão de futuro", da Câmara Municipal da capital gaúcha, e foi assinado sem licitação no valor de R$ 100 mil, sob as regras do decreto 2745 de 1998, que a eximiu de abrir concorrência pelo serviço.

Em resposta ao jornal, Cássel disse ter 1% de participação na empresa e, por isso, não teria ingerência nos contratos da Capacità Eventos. A sócia majoritária é a mulher de Cássel, Eliana Azeredo, com 99% de participação.

Trâmites legais. Ontem, por meio de nota, a Capacità Eventos negou irregularidades nos contratos. A nota da empresa de Cássel e de sua mulher refere-se a outra nota, divulgada pela Petrobrás, na qual a estatal sustenta que o contrato para o batismo da P-53 foi feito por licitação, em que participaram seis empresas. A Capacità Eventos, afirma a Petrobrás, venceu por apresentar o menor preço.

Sobre o evento na Câmara de Porto Alegre, a Petrobrás destacou que os patrocínios são firmados por contratação direta, por inexigibilidade de licitação. E narra outros dois contratos com a Capacità Eventos: para estande na Jornada Literária de Passo Fundo, em 2007, com processo licitatório, e de patrocínio da Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento de Cidades, em Porto Alegre, em 2008.

Em nota assinada pela diretora Eliana Azeredo, a Capacità afirma que começou a disputar licitações relacionadas ao governo federal em 2006 e lembra que, em 160 participações, foi a vencedora de somente nove concorrências. "A empresa, em uma década e meia de existência, nunca respondeu a qualquer processo judicial", diz.

Colaborou Elder Ogliari

Dilma defende diretor da EPE

DEU EM O GLOBO

Dilma Rousseff defendeu o ex-assessor Ibanes Cássel, diretor da estatal EPE, e dono de empresa com negócios, com a Petrobras: "É especulação contra a maior empresa do Brasil". A Petrobras perdeu R$ 19 bi de valor em 4 dias.

Dilma defende ex-assessor sobre contratos com Petrobras

Candidata critica reportagem e diz que denúncias atrapalham a estatal

Maria Lima e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Ainda aparentemente abatida com a ida para o segundo turno, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff (PT), mostrou irritação ao ser indagada, ontem, a respeito de reportagem publicada no GLOBO que trata dos negócios do seu amigo e ex-assessor Ibanês César Cássel, diretor da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), com a Petrobras. Ela defendeu Cássel, que trabalhou em sua equipe na Secretaria de Energia do Rio Grande do Sul e hoje é diretor de Gestão Corporativa da EPE.

— Aquela matéria é ridícula! Em algum momento foram questionados ministros e empresários, como Luiz Fernando Furlan e Roberto Rodrigues? — reagiu Dilma, em referência, respectivamente, aos ex-ministros do Desenvolvimento e da Agricultura do primeiro mandato do governo Lula.

Confrontada com o fato de que o questionamento não se devia ao fato de Cássel ser sócio de uma empresa, mas sim porque essa empresa fez negócio com a Petrobras, ela não quis responder. Dilma disse ainda que é preciso ter muito cuidado com denúncias em período de campanha eleitoral.

— Tem que ter muito cuidado com esse tipo de matéria. Isso se chama especulação contra a maior empresa do Brasil — acusou a petista. — O fato de um exassessor ter uma empresa e participar do governo não é crime.

Olha, acessem o site da empresa que vocês vão ver que ela presta serviços para muitas empresas, inclusive órgãos da imprensa. Isso é uma denúncia? Ela voltou a demonstrar preocupação com os efeitos de denúncias como a que envolvem seu ex-assessor e a Petrobras em outro trecho da entrevista: — Tem que ter muito cuidado no período eleitoral com esse tipo de matéria. Eu fiquei sabendo que tem relatório de bancos relatando a possibilidade de uma futura matéria a esse respeito e não era a matéria do GLOBO — disse ela.

Mágoas não superadas

O PMDB baiano demonstrou, ontem, que não superou a mágoa pelo afastamento da ex-ministra Dilma Rousseff do partido no primeiro turno das eleições deste ano. Ela frustrou as expectativas peemedebistas pela formação de dois palanques na Bahia, provocando a rejeição de lideres do partido à sua candidatura. Em evento realizado ontem num hotel em Salvador, em que o partido declarou apoio à candidatura da ex-ministra neste segundo turno, a estrela foi o presidente nacional do partido e candidato a vice, Michel Temer.

— Nós prefeitos estamos constrangidos de pedir votos para Dilma depois de sermos apunhalados pelas costas — declarou o prefeito de Abaré, Delísio Oliveira. De acordo com ele, os líderes vão atender à orientação do partido, mas não o farão “com o coração”.

As palavras “traição” e “injustiça” foram repetidas em quase todos os discursos. O candidato derrotado ao governo baiano Geddel Vieira Lima deu o tom do que será a estratégia do partido neste segundo turno. De acordo com ele, apesar da mágoa pela campanha do primeiro turno, ele vai apoiar o projeto que representa ter Temer na Vice-Presidência.

Métodos de institutos de pesquisa são criticados

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Motivo é resultado fora da margem de erro em parte das disputas do dia 3

Mauro Paulino, do Datafolha, afirma que técnica usada hoje é a melhor, mas que precisa de ajustes pontuais

DE SÃO PAULO - Institutos de pesquisas eleitorais admitem que não é possível obter resultados rigorosamente precisos em suas projeções a cada eleição, mas defendem a metodologia utilizada atualmente para apurar as intenções de votos no Brasil.

Eles entendem, no entanto, que são necessários ajustes pontuais a cada pleito para calibrar melhor a apuração das intenções de votos.

Alguns institutos vêm sendo criticados neste ano por não terem acertado, dentro dos limites das margens de erro divulgadas, os percentuais finais de votos válidos de alguns candidatos a presidente, governador e senador.

Jairo Nicolau, professor de ciência política da Uerj, por exemplo, diz que, além de problemas metodológicos, o excesso de pesquisas aumenta as chances de erro e que a mídia, ao dar demasiado destaque aos resultados, acaba gerando uma sensação de "absolutização".

José Ferreira de Carvalho, professor aposentado da Unicamp, afirma que "os erros observados nas eleições não são casuais".

"Eles refletem um problema metodológico grave dos institutos, que aplicam à amostragem por cotas [como sexo, idade, escolaridade e renda] uma fórmula que vale apenas para a amostragem probabilística."

AMOSTRAGEM

Na amostragem probabilística, todos os eleitores têm chances iguais de serem sorteados pelos pesquisadores. Na por cotas, há uma delimitação prévia do total de indivíduos por alguns critérios.

O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, diz ser "inviável" a mudança da amostragem de cotas para probabilística no Brasil. Isso foi feito na Inglaterra a partir de 1992, por exemplo.

"A cobertura de telefonia fixa no Brasil não é suficiente para representar o total da população. Até poderíamos considerar os celulares, mas não existem listas de celulares no Brasil. Por isso, descartamos o método probabilístico, que é o que os estatísticos acadêmicos mais cobram", diz Paulino.

Para uma pesquisa probabilística pura, face a face, seria preciso que ela fosse domiciliar. Isso levaria pelo menos duas semanas. O início da pesquisa já estaria defasado em relação ao seu final, argumenta Paulino.

Cristiano Ferraz, professor de estatística da Universidade Federal de Pernambuco, admite a dificuldade em realizar pesquisas probabilísticas no Brasil por conta da ausência de uma ampla cobertura telefônica.

Mas afirma que as pesquisas baseadas em cotas "não são científicas". "Estudos mostram que as flutuações nas estimativas por cotas são bem maiores do que na aleatória (probabilística)."

Apesar da dificuldade em alterar completamente o método (de cotas para probabilístico), os institutos fazem alterações periódicas nos levantamentos após o resultado de eleições e ao constatar falhas nas previsões.

"A cada eleição, sempre que termina um turno, há reuniões de avaliação, e, nos lugares onde houve problemas, o Datafolha avalia o que deu errado", diz Paulino.

"Estamos reavaliando alguns lugares. São Paulo e Distrito Federal, principalmente, onde haverá segundo turno. Vamos comparar os dados oficiais da eleição com os da pesquisa no detalhe. Onde houver imprecisões, investigaremos o problema."

O Ibope também afirma que faz esse tipo de revisão. Mas, segundo Márcia Cavallari, diretora do instituto, não são necessárias mudanças na metodologia utilizada.

"Não se trata de problema metodológico, trata-se da complexidade da eleição de primeiro turno com vários cargos, vários candidatos."

Cavallari concorda que a amostragem probabilística é impraticável no Brasil. "A celeridade do processo eleitoral exige uma metodologia que seja rápida para acompanhar a opinião dos eleitores."

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais Jornais do Brasil
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Volta a Pernambuco:: João Cabral de Melo Neto

Contemplando a maré baixa
nos mangues do Tijipió
lembro a baía de Dublin
que daqui já me lembrou.

Em meio à bacia negra
desta maré quando em cio,
eis a Albufera, Valência,
onde o Recife me surgiu.

As janelas do cais da Aurora,
olhos compridos, vadios,
incansáveis, como em Chelsea,
vêem rio substituir rio.

E essas várzeas de Tiuma
com seus estendais de cana
vêm devolver-me os trigais
de Guadalajara, Espanha.
Mas as lajes da cidade
não em devolvem só uma,
nem foi uma só cidade
que me lembrou destas ruas.

As cidades se parecem
nas pedras do calçamento
das ruas artérias regando
faces de vário cimento,

Por onde iguais procissões
do trabalho, sem andor,
vão levar o seu produto
aos mercados do suor.

Todas lembravam o Recife,
este em todas se situa,
em todas em que é um crime
para o povo estar na rua,

Em todas em que esse crime,
traço comum que surpreendo,
pôs nódoas de vida humana
nas pedras do pavimento.


(Paisagens com figuras, 1954/1955)