sábado, 16 de outubro de 2010

Reflexão do dia – Fernando Henrique Cardoso

"Estou calado há muitos anos ouvindo. Agora quando o presidente Lula vier, como deve vir, como todo presidente democrata eleito, perder a pompa toda, perder o monopólio da verdade, está desafiado a conversar comigo em qualquer lugar do Brasil",

Não é para conversar para dizer o que eu fiz, o que ele fez. Isso o povo vai julgar. É para ter firmeza, olhando cara a cara, um ao outro, e ver se um é capaz de dizer ao outro as coisas que diz

Eu não tenho do que me arrepender. Eu mudei o Brasil. Eu nunca disse isso. Agora, oito anos depois do governo Lula (digo que) eu mudei o Brasil. Não mudei sozinho, mas com o povo brasileiro, com uma equipe de gente competente, com outros partidos. Tudo o que foi inovador foi plantado naquele período. Chega de ficar calado
".


(Fernando Henrique Cardoso, anteontem, em S. Paulo)

Conspirações :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A possibilidade de perder uma eleição que já estava vencida no primeiro turno antes de as urnas se abrirem está levando a uma campanha extremamente agressiva por parte da candidata oficial Dilma Rousseff; e a que lideranças importantes do PT, como o governador eleito do Rio Grande do Sul Tarso Genro, já comecem a insinuar golpismos e a classificar uma eventual vitória tucana de “ilegítima”.

Com todas as pesquisas de opinião convergindo para o estreitamento da diferença entre os candidatos — a mais recente, do Datafolha, mantém a redução da diferença do primeiro para o segundo turno de 14 para 8 pontos —, o comando da campanha petista sofreu uma intervenção branca, determinada pelo presidente Lula, que deu ao deputado federal Ciro Gomes (PSB) e ao candidato petista derrotado para o governo de São Paulo Aloizio Mercadante plenos poderes para elevar o tom da campanha no rádio e na TV.

Também José Dirceu ampliou seu grau de influência nas decisões da campanha, e, segundo informações, é dele a orientação para que Dilma escolha com maior seletividade os debates de que participará neste segundo turno.

Ontem, o SBT anunciou o cancelamento do debate programado por “dificuldades de agenda dos candidatos”. O debate de amanhã na Rede TV/Folha está confirmado, mas ainda há dúvidas quanto ao da TV Record. Em 2006, o debate da Record no segundo turno não foi realizado, e a campanha tucana atribuiu o cancelamento a uma interferência da campanha petista.

A teoria da conspiração, que já surgira no primeiro turno, quando começou a se consolidar a ideia de que a eleição poderia não ser resolvida no dia 3 de outubro, ressurgiu com a queda da diferença entre os dois candidatos, indicando que a dianteira de Dilma pode estar dentro do empate técnico.

Como as pesquisas erraram no primeiro turno, dando para Dilma uma votação maior do que as urnas revelaram, o empate parece ser o resultado que melhor espelha a situação atual.

O governador eleito do Rio Grande do Sul pintou com tintas fortes o quadro político atual, ao falar na noite de quinta em uma reunião partidária em Porto Alegre.

Segundo ele, está havendo “uma campanha de golpismo político só semelhante aos eventos que ocorreram em 1964 para preparar as ofensivas” contra o governo estabelecido.

Sem se esquecer de culpar a imprensa pelo clima de golpismo que denunciava, Genro não deixou por menos: avaliou que a situação pode “redundar em uma eleição ilegítima”, na qual um candidato quer se eleger “com base na mentira, na inverdade, na calúnia e na difamação”.

Esse Tarso Genro eleito governador que fala de golpismo nesses termos é o mesmo que, dias depois da reeleição de Fernando Henrique em 1998, publicou um artigo pedindo seu “impeachment”.

Ontem, depois que a pesquisa Datafolha mostrou estabilidade em relação ao primeiro levantamento do segundo turno, a direção petista comentou que seus levantamentos internos demonstram recuperação de Dilma.

O que significa admissão de que a candidatura petista esteve em queda em algum momento do segundo turno.

Levantamentos internos da campanha de Serra indicam uma situação oposta, mais favorável ao candidato tucano, e apontam a agressividade dos programas eleitorais da adversária como a maior prova de que a tendência de estreitamento da diferença está se mantendo.

A campanha tucana decidiu também entrar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com vários pedidos de direito de resposta aos programas de rádio e TV dos petistas.

A análise feita na campanha tucana é que a propaganda petista está arriscando muito nas acusações, o que seria mais uma demonstração de que eles estão flertando com os limites da legislação eleitoral.

Um dos direitos de resposta será para o programa de ontem à noite, que acusa o então governador Serra de ter mandado a polícia invadir a Universidade de São Paulo numa greve de professores.

Na verdade, foi a reitora da USP quem pediu na Justiça a reintegração de posse, e a polícia foi enviada para executar a ordem.

Também a insistência na acusação de que o ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo David Zylbersztajn quer privatizar o pré-sal é alvo de pedido de resposta.

Zylbersztajn é identificado pela propaganda petista como “principal assessor da área energética” da campanha de Serra, quando, na verdade, ele não exerce nenhuma função.

Zylbersztajn já divulgou uma nota desmentindo Dilma e esclarecendo que ele apenas defende o sistema de concessão na exploração do petróleo, que foi implantado pelo governo Fernando Henrique, em vez da partilha, que o governo Lula quer adotar na exploração do pré-sal.

Se concessão fosse igual a privatização, como acusam os petistas, então o governo Lula já “privatizou” várias áreas do pré-sal, que foram licitadas pelo sistema que estava em vigor até a mudança da legislação.

Há também a acusação de que Serra privatizou a Companhia Siderúrgica Nacional, quando a empresa foi privatizada no governo Itamar, onde Serra não exerceu função.

Ao mesmo tempo, Dilma tenta se livrar do impasse em que está desde que o tema “descriminação do aborto” surgiu na campanha, tomando conta do debate político.

Ontem, depois de muito relutar, ela divulgou uma carta em que se diz “contra o aborto”, mas não nega diretamente que seja contra a “descriminação do aborto”, e deixa para o Congresso decisões sobre esse e outros temas polêmicos, apenas prometendo que, eleita presidente, não enviará nenhuma lei que seja “contra a família”.

É uma tentativa de encerrar uma discussão que tem prejudicado muito seu desempenho.

O tom mais agressivo, a crítica de que o debate sobre aborto foi provocado por setores atrasados da oposição, e a campanha centrada na acusação de que os tucanos entregam o patrimônio público a investidores privados, tudo isso faz parte de uma estratégia para recuperar a parte dos votos da esquerda partidária que foi para Marina no primeiro turno.

Em 2006, deu certo.

A política muda de lugar :: Lourdes Sola

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A transição do primeiro para o segundo turno permite situar melhor um tema explorado por alguns observadores do cenário eleitoral anterior a 3 de outubro: a "despolitização" da campanha para a Presidência. Por trás das diferenças de ênfase quanto ao sentido do termo, tais análises se pautaram por pressupostos que exigem revisão à luz dos resultados das urnas. O que elas tinham em comum? O que mudou?

Todas tinham por pano de fundo a crítica à dominância dos cálculos eleitorais de curto prazo, em detrimento de um horizonte programático propício ao debate em torno dos rumos das políticas públicas. Além disso, a projeção dos "ativos" políticos dos candidatos estaria determinada pelos marqueteiros, subsidiados por pesquisadores. A maioria das críticas foi dirigida, com razão, a uma oposição desidratada pela ação combinada de vários fatores, com destaque para suas dificuldades internas. O foco incidia sobre as dificuldades do principal partido de oposição, o PSDB: a disputa entre os pré-candidatos, a omissão do legado do governo FHC, a forma improvisada como se deu a escolha do vice. Com a exceção do artigo de José Arthur Giannotti no Aliás de 19/9 - que situava a questão em termos de identidades partidárias calcadas em concepções divergentes de Estado e de democracia -, as críticas à despolitização da campanha foram circunscritas ao curto prazo. O aspecto mais intrigante, porém, foi a omissão da candidatura de Marina Silva, não obstante fosse a voz dissonante, pela ênfase em seus compromissos programáticos e no sistema de valores em que estão ancorados.

Em resumo, prevaleceu o universo polarizado entre Dilma e Serra, entre o lulismo oficial e as oposições - projetado na ofensiva plebiscitária do presidente Lula nos últimos anos. Por isso não há como evadir uma questão derivada, ou seja, a despolitização consentida pelas oposições. Esta não se reduz ao poder dos marqueteiros de converter os candidatos num registro passivo do que os seus pesquisadores sugerem ser a "cabeça do eleitor". Ela resulta da desconstrução das identidades partidárias da oposição, pelo lulismo oficial, graças à apropriação dos seus feitos naquilo que é bom, relevante, eficaz aos olhos do eleitor; e à atribuição daquilo que é por ele visto como negativo.

Qualquer balanço dos fatores que explicam a dificuldade de antecipar o segundo turno deve partir de uma tripla constatação, portanto. Primeira: até então, os termos da concorrência eleitoral foram ditados pelo presidente Lula e por sua presença avassaladora na cena nacional. Segunda: seus cálculos políticos falharam, apesar de ancorados no bom desempenho da economia, nos índices de popularidade, no sentimento de bem-estar do eleitorado - e no uso intensivo dos recursos políticos da Presidência e do Estado. Terceira: os enormes recursos de poder acumulados em mãos do governo foram insuficientes para mobilizar parcela relevante do eleitorado - que se move num universo de valores pluralista e alheio (se não hostil) a maniqueísmos.

É contra esse pano de fundo - no qual os valores voltaram a contar sem prejuízo de alta rentabilidade eleitoral - que os efeitos dos "fatos novos" adversos para o governo devem ser situados: as quebras de sigilo, o contorcionismo dos responsáveis pela Receita Federal, os escândalos envolvendo a Casa Civil, os ataques do presidente à imprensa. Essas constatações obrigam a refletir sobre o binômio politização/despolitização, sim, mas à luz de questões de ordem mais geral, ou seja, o lugar dos valores na cabeça do eleitor, o papel das classes médias emergentes e a forma como o bom desempenho da economia incide sobre a política.

Para começar, é necessário explorar melhor o fato de que a despolitização da campanha é um fenômeno derivado da politização do Estado. Com Lula e o lulismo - fenômeno inseparável da vocação hegemônica do PT - a política mudou de lugar. Passou a ser pautada pela incorporação ao Estado dos interesses organizados de todo tipo, empresarias e sindicais, pela criação de associações sob controle do Estado, à margem das estruturas da democracia representativa, combinada aos incentivos à fragmentação partidária. Daí uma primeira consequência: os conflitos de interesses que são inerentes à sociedade civil no sistema capitalista - democrático - foram trazidos para dentro do Estado. Sob esse aspecto, o nome do jogo político é a instabilidade das regras do jogo das quais depende o funcionamento das instituições, estatais ou não. O processo de capitalização da Petrobrás com seus "ires e vires" é um bom exemplo dos custos inseparáveis dessa modalidade de politização.

A campanha de Marina Silva, a veemência com que defendeu seus valores, sem prejuízo de uma alta rentabilidade eleitoral, ilumina um processo de mudança social a ser mapeada por cientistas sociais. A respeito do qual, porém, existe uma certeza, conhecida na literatura, sobre as relações entre economia e política em tempos de vacas gordas. A rápida mobilidade social ascendente criada por um capitalismo dinâmico como o nosso deixa pouco espaço e nenhum tempo para as classes emergentes (e por emergir) serem pautadas pela lógica política do tipo amigo-inimigo. Desse ponto de vista, a política pode estar mudando de lugar, na sociedade, a partir de um novo registro. Em termos microssociais, significa que a recriação de um horizonte de mudança econômica positivo para o eleitor-consumidor pode vir associada a uma determinação menos simplista da política pela economia e/ou pelo tão celebrado "feel good factor". O bom desempenho eleitoral de Marina no Nordeste e entre as classes médias emergentes faz pensar, e exige uma análise ponderada dos fatores extraeconômicos que determinam o comportamento eleitoral entre nós.

Professora da USP, Doutora pela Universidade de Oxford, publicou ‘Ideias econômicas, decisões políticas’ (EDUSP) e ‘Statecrafting monetary authority. Democracy and financial order in brazil’ (Center for Brazilian Studies, Oxford)

Eleição aberta:: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - O resultado da pesquisa Datafolha realizada anteontem e ontem mantém suspense sobre qual será o desfecho da disputa pelo Palácio do Planalto. O confronto está aberto e indefinido. Dilma Rousseff (PT) está com 47% contra 41% de José Serra (PSDB), considerando-se os votos totais. A diferença entre ambos é de seis pontos percentuais.

Na véspera do primeiro turno, numa simulação de disputa final entre Dilma e Serra, a vantagem da petista sobre o tucano era de 12 pontos. No último dia 8, essa dianteira encolheu para sete pontos. Agora está em seis pontos.

Se há uma semana era prematuro afirmar que Serra caminhava para uma virada, agora também é um equívoco interpretar a estabilização do quadro como uma possível vitória antecipada de Dilma.

Esta é uma eleição na qual não há -pelo menos por ora- possibilidade de previsão com algum grau de ciência. Há, entretanto, indicações de resiliência da candidatura patrocinada pelo Planalto. Na semana que vem esses sinais poderão ou não serem confirmados.

O PT também dispõe de uma arma de última instância e única a favor de Dilma Rousseff: a popularidade de Lula, que voltou a subir e bateu novo recorde. Apesar de toda a beligerância mostrada pelo presidente nas últimas semanas, ele atingiu 81% de aprovação popular -contra 78% na última pesquisa. Só para lembrar, o recorde de FHC foi de 47%, em dezembro de 1996.

O estreitamento da diferença entre Dilma e Serra parece ter ocorrido com força na semana em que se realizou o primeiro turno. Com a propaganda política de volta à TV e ao rádio, o movimento migratório de votos perdeu intensidade. Trata-se do curso natural dos votos. O eleitor presta mais atenção no começo e no final da campanha.

Até o dia 31, o clima continuará tenso, e a guerra quase santa entre Dilma e Serra seguirá indefinida.

Lula em detalhes :: Fernando de Barros e Silva

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Lula voltou a gravar ontem participações no programa eleitoral de Dilma durante o horário de expediente. Deu, como ele diria, "aquela enforcadinha básica". É um detalhe sem importância? Tudo o que diz respeito a Lula se tornou, de certa forma, "um detalhe", não necessariamente sem importância.

Lula praticamente transformou a Presidência num comitê de campanha. Atropelou a liturgia do cargo e desdenhou a legislação eleitoral repetidas vezes. Anunciou que iria extirpar parte da oposição do país e tratou a imprensa como adversária a ser vencida. Fez troça da (e com a) República pela qual deve zelar.

Se Dilma tivesse vencido a eleição no primeiro turno, a descoberta da traficância da parentada na Casa Civil também teria passado à história como outro "detalhe", vencido pela marcha triunfal do lulismo.

(O êxito de Lula, aliás, eximiu o PT de um exame crítico de suas práticas no poder e serviu para legitimar o vale-tudo no campo ético-político, com exceções de praxe, pois há gente boa e séria no partido).

O fato é que Lula não preservou nem a Presidência nem a sua imagem nesta campanha. Colocou-as antes a serviço da sua candidata.

Foi tanto o entusiasmo (digamos assim) do presidente sobre os palanques na reta final do primeiro turno que ele pode, sim, ser corresponsabilizado pelo revés no dia 3. Pareceu até que a tutela sobre o processo eleitoral havia atingido um ponto de exaustão, como se uma overdose de remédio tivesse envenenado a candidata.Em parte em função deste diagnóstico, Dilma se viu obrigada a ensaiar seus primeiros passos, o que fez com algum destrambelho no debate. O PT, porém, como uma mãe insegura, hesita entre estimulá-la a andar (coisa que evitou no primeiro turno) e devolvê-la ao colo do pai.

A popularidade de Lula voltou a subir, mostra hoje o Datafolha. Ele atingiu 81% de aprovação. Numa disputa tão acirrada, e diante de um quadro estável, esse é o detalhe da pesquisa que chama a atenção.

Benito di Paula - "Osso duro de roer"

A compulsão fala mais alto:: Editorial – O Estado de S. Paulo

Enquanto os condutores da campanha de Dilma Rousseff se perguntam onde foi que erraram, deixando escapar a vitória dada como certa no primeiro turno, e como conter o estreitamento da vantagem da candidata sobre o opositor José Serra nas pesquisas, eis que o presidente Lula reincide no comportamento belicoso que contribuiu para privar a sua afilhada dos votos que poderiam ter encerrado a contenda em 3 de outubro.

Foi um típico efeito bumerangue. Ao investir ferozmente contra a imprensa em três comícios sucessivos no breve período de 5 dias, Lula decerto buscava desqualificar as revelações dos escândalos na Casa Civil chefiada pela mais próxima colaboradora de Dilma, Erenice Guerra.

Diferentemente das notícias sobre as violações do sigilo fiscal de aliados e familiares de Serra, com as quais muitos não conseguiram atinar, essas outras repercutiram junto ao eleitorado.

Mas, em vez de cair no conto lulista de que as denúncias não passavam de calúnias, uma parcela dos eleitores que nas urnas se revelaria significativa entendeu que a virulência do presidente representava uma confissão de culpa, além de indicar uma ameaça potencial à liberdade de informar em um eventual governo Dilma. Na reta final, informado da mudança dos ventos, ele bem que tentou neutralizar a traulitada com uma autocrítica.

"A gente precisa de humildade para não ficar com muita raiva quando escrevem contra", penitenciou-se num comício em Porto Alegre, "e nem com muito ego quando é a favor." Foi muito pouco e muito tarde. Agora, diante de uma nova situação adversa - ou "problemática", como se ouve na ponte entre o Palácio do Planalto e o QG dilmista -, Lula torna a reagir pavlovianamente, atacando a oposição com renovado rancor.

Nessas horas, as suas palavras parecem atender antes a um arraigado sentimento, ou compulsão, do que ao objetivo de promover a sua candidata. Na noite de quinta-feira, num comício na cidade paraense de Ananindeua, em surto de livre-pensar, disse que as acusações a Dilma vêm "de uma parte da elite que fazia as mesmas acusações ao Ulysses (Guimarães), ao Tancredo Neves, às Diretas Já, a mim em 89, a mim em 94, a mim em 98 e 2006". E, virando-se para ela, disparou: "Estão transferindo para você o ódio que acumularam contra mim."

Ao que se saiba, nenhum dos políticos citados foi alguma vez acusado de ser "a favor do aborto" que é o que se passou a dizer de Dilma nos púlpitos, em panfletos e na internet. E ao que se saiba, os acusadores não são "uma parte da elite" - pelo menos não no sentido que Lula dá ao termo. Mas isso é detalhe quando ele dá vazão a si mesmo, quaisquer que sejam as consequências dessas irrupções para a sorte da candidata no tira-teima do próximo dia 31. Por sinal, num evento oficial em Teresina, a lava do ressentimento correu solta.

Também em fase de citar o nome de Deus a três por quatro, afirmou que Ele "fez a vingança que eu queria" contra os senadores piauienses Heráclito Fortes, do DEM, e Mão Santa, do PSC, que votaram contra a prorrogação da CPMF e não se reelegeram. De volta ao passado, atribuiu as suas três derrotas em eleições presidenciais às "mentiras" dos que o temiam. "Diziam que era comunista, porque tinha a barba comprida. Mas Jesus também tinha. Tiradentes também tinha", declarou, como quem se alça a uma esfera superior.

O resto foi repetição: o elogio da falta de estudo ("a arte de governar não se aprende em universidade, senão pegavam um na Academia Brasileira de Letras para ser presidente"), a divisão dos brasileiros entre ricos e pobres ("rico não precisa de governo, quem precisa de governo é pobre") e a alusão oblíqua a Dilma ("a arte de governar é como a arte de ser mãe, cuidar da família, garantir direitos e oportunidades a todos").

Descontados os "acertos de contas" sem os quais aparentemente Lula não consegue passar, é isso o que entende por politizar a campanha - a seu ver, a única estratégia capaz de revitalizar a candidatura que vem fazendo água. Os companheiros querem a sua presença no horário eleitoral como no primeiro turno. Compreende-se: para o bem ou para o mal, Lula é tudo que Dilma tem. Pior sem ele, pois.

Serra: há aparelhamento da educação

DEU EM O GLOBO

Citando decisão do TSE contra entidade de SP, tucano critica ainda o Enem e recebe carta-compromisso do setor

Flávio Freire

SÃO PAULO. Em evento ao lado de educadores, em São Paulo, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, fez ontem severas críticas à política educacional do governo federal, chegando a classificar de frouxo o sistema usado para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Segundo Serra, que chegou a cantar “parabéns para você” acompanhado por cerca de 500 profissionais da área, há corporativismo e aparelhamento da educação no país, a ponto de instituições atuarem como “instrumento partidário”. O tucano referiase à Apeoesp, que representa os professores de São Paulo: — Nosso compromisso com educação não é de momento.

Temos de buscar valorização e aperfeiçoamento da área. Há hoje corporativismo e aparelhamento da educação, a ponto de o TSE condenara Apeoesp por usar o movimento para fins eleitorais e como instrumento partidário

“A utilização política acabou arruinando o Enem” Após um discurso em que disse que os alunos que tiveram seus cadastros violados no Enem estão reféns dos “bandidos e chantagistas” que tiveram acesso às provas, Serra partiu para o ataque: — A utilização política propagandista acabou arruinando o Enem, fazendo com que o Enem vire um problema para jovens que tiveram seus dados devassados.

Já não se fala nem no uso eleitoral disso, de correspondência enviada com os dados cadastrais do Enem. O governo foi frouxo nesse trabalho.

Serra disse ainda que o PT pôs o ensino privado no circuito do ensino público: — Eles trocaram vagas do ensino privado para o ensino público através do ProUni. Vou manter o ProUni, mas fico pensando, se esse programa tivesse sido implantado pelo Paulo Renato (ex-ministro da Educação no governo Fernando Henrique), o que eles já teriam feito.

Serra disse que o número de formandos em universidades federais caiu, mas a campanha de Dilma Rousseff alardeia ações na área como satisfatórias: — No mundo da saliva que eles têm, parece até que tem uma tsunami na área pública federal, mas não é o que está acontecendo.

O evento reuniu numa casa de shows na Barra Funda cerca de 500 professores da área de educação, a maioria representando diretórios regionais do setor. Sobre o fato de uma parte do professorado não o apoiar, Serra declarou: — Não dá para ser unânime.

Em seu segundo encontro com professores ontem, Serra recebeu, em Londrina, a cartacompromisso elaborada por 25 entidades e movimentos nacionais ligados à educação. O mesmo documento foi entregue, em São Paulo, à candidata do PT, Dilma Rousseff. Ele disse apoiar as propostas listadas no manifesto, como ampliação do financiamento da educação e valorização dos professores: — Este documento que me foi entregue, as propostas e compromissos, é como se eu tivesse feito. É exatamente o que penso — disse. — Precisamos de um plano nacional, que a educação seja uma obsessão nacional. Não pode ficar presa a partidos e entidades sociais.

FHC x Lula: aposta final de tucanos e petistas

DEU EM O ESTADO DE MINAS

PSDB acredita que poderá ganhar votos com possível debate entre o ex-presidente e o atual. Já PT reforça estratégia da comparação para conquistar eleitores pró-Dilma

Ivan Iunes

Brasília – Com a entrada em cena do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reta final de campanha, o marketing de José Serra (PSDB) decidiu utilizar como antídoto para a popularidade do petista exatamente o personagem menos previsível: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Se de um lado da mesa o governo aposta a eleição de Dilma Rousseff (PT) na popularidade de Lula, do outro os tucanos pretendem dissociar as falas do atual chefe do Executivo da corrida eleitoral. Esse afastamento seria possível exatamente com a polarização entre ele e FHC, em torno de uma discussão entre um ex-presidente e o atual, em final de mandato.

A saída do ex-presidente em defesa do espólio do seu governo faz eco na estratégia traçada pelos tucanos para que o discurso de Lula perca parte da força nas últimas semanas de corrida eleitoral. A intenção da campanha do PSDB passa por dissociar as críticas do petista ao governo FHC, da candidatura tucana à Presidência da República. Atualmente, essa comparação entre governos tem sido o mote principal de Dilma para tentar chegar ao Palácio do Planalto. Pelo planejamento riscado pela campanha de Serra, a tarefa de defender a gestão de FHC dos ataques diários ficará a cargo do ex-presidente. Para não passar a impressão de que foge do tema, Serra faz uma defesa tímida do colega de partido.

Com FHC saindo da coxia, o bate-boca capitalizaria o assunto para um debate entre o ex-chefe do Executivo e o atual, em final de mandato, segundo imaginam os tucanos. "A discussão sobre governos, essa comparação, não é uma discussão de campanha, só leva ao passado, não ao futuro. A verdade é que o Lula já está apartado do processo eleitoral, todo o capital político que ele podia já foi transferido no primeiro turno", aposta o presidente do PSDB, Sérgio Guerra.

Os tucanos comungam da ideia de que o movimento de Lula, de forçar a comparação com o período tucano na Presidência, é uma forma de reeditar a tese de eleição plebiscitária, aposta petista no primeiro turno. O esforço seria necessário para que a campanha de Dilma reencontrasse um discurso eficiente para chegar até o eleitor. "O presidente quer trazer o plebiscito de volta, mas a eleição tomou outro rumo, não é possível forçar uma comparação com um governo que já terminou há quase uma década. A eleição é entre Dilma e Serra, e suas propostas, não tem jeito", aponta o deputado federal Gustavo Fruet (PSDB-PR).

FICHAS EM ALIADOS Ontem, Lula e os coordenadores da campanha de Dilma – José Eduardo Cardozo, José Eduardo Dutra e Antônio Palocci – estiveram reunidos exatamente para traçar a estratégia a ser utilizada nos 15 dias antes das eleições. Ficou decidido que o petista não rebaterá FHC, mas deve forçar o discurso de comparação entre o atual governo e o do ex-presidente. "O presidente não vai ficar batendo boca", justificou o presidente do PT, José Eduardo Dutra. Lula ainda pediu na reunião que a campanha coloque o "bonde na rua", em apelo para que os aliados saiam para o corpo a corpo em busca de votos.

Pela avaliação dos petistas, o surgimento do ex-presidente no debate acaba por provocar uma perda de votos da candidatura tucana, ainda que se tente dissociá-lo da campanha de Serra. Por isso, o horário eleitoral do partido continuará mostrando as diferenças entre os dois governos e, principalmente, as contribuições de Serra e de Dilma nas duas gestões. "Toda vez que ele (FHC) aparece, tem sido negativo para o PSDB. Não fomos incentivar esse confronto, mas isso certamente nos favorece", aposta o secretário de Comunicação do PT, André Vargas.

Para as próximas duas semanas, a aposta de ambas as campanhas passa pela capacidade de aliados regionais em atrair prefeitos e deputados locais, para atuarem como cabos eleitorais dos dois candidatos. Com dificuldades em algumas regiões do país, como o Norte e o Nordeste, os tucanos tentam aproximar apoiadores de última hora. O PSDB conseguiu trazer para a chapa de Serra o PMDB do Rio Grande do Sul e ainda flerta com dissidentes do partido em outras regiões.
Já os petistas tiveram o apoio formal do PP anunciado – embora a oposição tenha conseguido atrair a parcela mineira da legenda. As duas campanhas centram força especial em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, além do Rio Grande do Sul.

Serra tenta manter a cautela

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

SÃO PAULO – Diante do entusiasmo da militância tucana sobre uma possível vitória no segundo turno, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, procurou pôr o pé no freio e pediu cautela nesta sexta-feira na forma como o partido está se colocando nesta reta final da campanha. Em entrevista na véspera, o presidente nacional do PSDB e coordenador da campanha, senador Sérgio Guerra, chegou a dizer que o PT não está disposto a entregar o governo.

“Já tô vendo gente chamando esta eleição de barato. Mas não é assim, não é fácil não. Ainda temos uma eleição pela frente”, disse o candidato, durante evento com educadores em São Paulo.

Serra ainda fez críticas à política educacional do governo Lula, classificando de frouxa a forma como foram elaboradas as provas do Enem. Segundo ele, há um corporativismo e um aparelhamento da educação no País a ponto de instituições do setor atuarem como “instrumento partidário”. O tucano referia-se à APOS, uma entidade que representa os professores de São Paulo.

Ao criticar o Enem, o tucano foi duro: “Hoje os alunos que tiveram seus cadastros violados estão reféns de bandidos e chantagistas que violaram as provas. Esse é um sistema frouxo”.

O candidato disse ainda que o PT pôs o ensino privado no circuito do ensino público. “Eles trocaram vagas do ensino privado para o ensino público através do Prouni. Eu vou manter o Prouni, mas fico pensando se esse programa tivesse sido implantado pelo Paulo Renato (ex-ministro da Educação no governo Fernando Henrique) o que eles já teriam feito”, apontou o presidenciável.

Serristas pintam o rosto e vão às ruas

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Oito deputados, vereadores e lideranças da oposição no Estado participaram de movimentação na Avenida Agamenon Magalhães. Com caras pintadas, eles distribuíram santinhos e adesivaram carros

Cecília Ramos

A campanha do presidenciável José Serra (PSDB) definitivamente ganhou novo fôlego em Pernambuco, onde o tucano ficou em terceiro lugar no primeiro turno. O motivo é um só: a real perspectiva de poder das oposições no País. Ontem, uma amostra disso estava nas ruas, no Recife. Oito deputados federais e estaduais, dois candidatos a deputado, duas vereadoras, presidentes de partido e o ex-ministro Gustavo Krause (DEM) foram às ruas de caras pintadas adesivar carros, distribuir santinhos, agitar bandeiras e conversar com eleitores em sinal da Avenida Agamenon Magalhães, em frente ao comitê central de Serra no Recife.

Com farto material de campanha e mais de 200 militantes gritando: “Dilma já caiu, agora é Serra presidente do Brasil”, o ato contou com o ex-governador Mendonça Filho, eleito deputado federal, que estava ao lado da esposa, Taciana, adesivando carros. O mesmo fez Gustavo Krause, e a filha, a vereadora Priscila Krause (DEM), os deputados Raul Henry (PMDB), Augusto Coutinho e André de Paula (ambos do DEM), entre outros.

A ida para o segundo turno, que não era esperada tanto pela situação quanto a oposição, e as pesquisas de intenção de voto, que apontam queda na vantagem da presidenciável do PT, Dilma Rousseff, são os ingredientes da euforia das oposições no Estado (PMDB/DEM/PSDB/PPS/PMN). “O quadro atual é que Serra está na fase ascendente e a adversária na descendente. Isso nos dá ânimo novo. A rejeição que ocorre no Sul e em outras regiões do País está chegando ao Nordeste”, avaliou Mendonça, presidente estadual do DEM.

Gustavo Krause, que no primeiro turno não participou de eventos de rua, disse que agora é o momento de “cada um se tornar um militante”. Mas alertou contra o clima de já ganhou. “Não podemos subestimar ninguém. Esse foi um dos erros do PT.”

Após a mobilização na rua, o grupo seguiu para o comitê, onde o deputado Raul Jungmann (PPS) fez um rápido discurso, convocando os presentes a se “engajarem dia e noite rumo à vitória”. O presidente estadual do PSDB, Evandro Avelar, também participou do ato, que reuniu cerca de 300 pessoas. Maior líder das oposições no Estado, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), que perdeu a eleição para o governador Eduardo Campos (PSB), não participou. Presidente nacional do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PSDB), eleito deputado federal, era aguardado, mas também não compareceu. O dirigente tucano deve participar da agenda de rua no Recife neste final de semana. Hoje, às 9h, deputados e lideranças da oposição e a militância de Serra visitam o Mercado de Casa Amarela e, amanhã, às 10h, fazem panfletagem na Praia de Boa Viagem. O ponto de encontro é a Padaria Boa Viagem.

Lula também privatizou, diz Serra na TV

DEU EM O ESTDO DE S. PAULO

Isabel Braga

BRASÍLIA. O candidato tucano, José Serra, usou parte de seu programa na TV ontem para reagir às acusações, feitas diversas vezes nos últimos dias pelo programa do PT, em relação às privatizações de estatais.

Serra disse que é típico do PT, em véspera de eleição, inventar mentiras para confundir o eleitor, e afirma que nos últimos 25 anos todos os presidentes privatizaram, inclusive Lula. E disse que vai fortalecer as estatais.

Serra decidiu reagir ao programa do PT, no qual Dilma Rousseff diz que seria “um crime” privatizar estatais, como a Petrobras, e a exploração do petróleo no pré-sal, acrescentando que tal defesa foi feita por David Zylberstajn, ex-presidente da Agência Nacional de Petróleo e, segundo ela, o principal assessor na área de energia da campanha de Serra.

— Nos últimos 25 anos, todos os presidentes privatizaram: Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique e Lula, em cada época, por necessidades diferentes.

Como presidente, vou fortalecer as empresas públicas brasileiras, vou fortalecer a Petrobras.Vou impedir que essas empresas continuem sendo usadas para interesses particulares, privados ou de partidos e turmas de políticos. Vou impedir o loteamento de cargos que sempre acaba em corrupção.

Vou acabar com a corrupção e impedir que gente sem escrúpulos avance sobre a riqueza que é de todos os brasileiros — disse Serra, na TV.

O programa petista de ontem à noite, já dentro das novas orientações do presidente Lula, optou por dar mais espaço à candidata, apresentando propostas e também cenas com populares. Lula voltou a aparecer para dar um tom mais emocional, reforçando que não há ninguém mais preparado que Dilma.

A candidata aparece na casa de estudantes, enaltecendo programas do governo que permitiram o acesso dos mais carentes a universidades. Dedicado ao Dia do Professor — assim como o de Serra — o programa de Dilma voltou a criticar o modo de Serra conduzir a educação em São Paulo.
Foram mostradas cenas da polícia batendo em professores. E o locutor pontua: “O que o Serra diz é uma coisa, o que o Serra faz é bem diferente”. O programa de Serra voltou a bater em aliados de Dilma, citando que no governo Serra não haverá “Zés Dirceu, mensalão e Erenices”.

Serra acusa governo Lula de fazer uso político do Enem

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em ato com educadores, tucano citou vazamentos e disse que Enem virou 'problema para os jovens'

Daiene Cardoso e André Mascarenhas

O candidato do PSDB à sucessão presidencial, José Serra, defendeu nesta sexta-feira, 15, que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) precisa ser remodelado. Em evento com educadores das redes de ensino municipal e estadual em São Paulo, o tucano acusou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de fazer uso político do sistema de avaliação. A crítica foi feita em referência ao episódio do vazamento de dados pessoais de estudantes inscritos no exame. O site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), que realiza o Enem, disponibilizou de maneira indevida essas informações, em agosto deste ano.

"A utilização política propagandista acabou arruinando o Enem, acabou fazendo com que o Enem vire um problema para os jovens que tiveram os seus dados devassados", disse. O tucano também insinuou que pode ter havido uso eleitoral do cadastro. "Já não se fala nem no uso eleitoral disso, de correspondência enviada com os dados cadastrais do Enem", acusou. Na opinião de Serra, o Ministério da Educação (MEC) teria sido negligente em relação ao sigilo do cadastro dos estudantes. "O governo foi frouxo nesse trabalho", criticou.

O ex-governador paulista aproveitou o ato com educadores simpáticos ao PSDB para rebater ataques sofridos por sua gestão durante a campanha para o governo do Estado e fazer promessas para a educação. Segundo Serra, os ataques feitos pelo PT ao longo da campanha estadual passaram agora para a eleição presidencial, mas o fato de Alckmin ter sido eleito no primeiro turno comprovaria que os paulistas rejeitaram as acusações. Sem citar o nome do candidato derrotado do PT em São Paulo, Aloizio Mercadante, o tucano disse esperar que nas próximas eleições os adversários apostem "na mesma estratégia e até no mesmo candidato". "Assim abrem o caminha para boas administrações em São Paulo", provocou.

Ao longo da campanha, o petista criticou duramente o sistema de progressão continuada do governo paulista. Com o pretexto de combater a evasão escolar, o programa garante a não repetência de alunos do ensino fundamental do Estado.

Além de Serra e do governador eleito ao governo de São Paulo, Geraldo Alckmin, secretários, políticos, reitores de universidades e lideranças ligadas à educação participaram do encontro, no qual um manifesto de apoio a Serra foi lido. Coube ao secretário municipal de Educação de São Paulo, Alexandre Schneider, criticar a gestão petista na cidade. Segundo ele, ao assumir a pasta, em 2004, "75 mil crianças passavam calor e frio nas escolas de lata" do município.

Ensino particular. Durante o evento, Serra defendeu a manutenção do Programa Universidade para Todos (ProUni) e a criação do ProTec, bolsas para estudantes do ensino técnico na rede particular. Ainda assim, criticou a qualidade do ensino superior privado e a falta de coordenação do governo federal na área.

O candidato criticou também a suposta queda do número de estudantes formados pelas escolas públicas federais. "Tem que ter um planejamento nessa área", defendeu. Serra pregou ainda a educação como prioridade de seu governo e disse que é preciso fazer uma união nacional pela educação, "acima dos interesses partidários". "Temos de fazer um grande mutirão pela melhoria da qualidade da educação no Brasil."

Salto alto. Ao fim do seu discurso, Serra aproveitou para dar um recado aos militantes do PSDB que, após a divulgação de pesquisas apontando crescimento do tucano, já se comportam como favoritos na reta final da campanha. "Temos uma batalha dura. Já vejo gente dando de barato. Não é assim, não. Eleição é um processo difícil", disse. Questionado sobre se já havia escolhido o seu ministro da Educação, já que Paulo Renato Souza - ex-ministro da pasta e atual secretário da Educação em São Paulo - estava presente no evento, Serra desconversou. "Não está escolhido. O ministro da Educação vai ter de trabalhar muito", disse em coletiva concedida após o evento. Antes de deixar o local, no entanto, procurou evitar a polêmica: "Primeiro, ganhar a eleição, nada de salto alto."

Tucanos divulgam carta de FH ao Senado

DEU EM O GLOBO

Campanha quer mostrar que Petrobras não estava na lista das privatizações

SÃO PAULO. Os tucanos decidiram reagir à estratégia da campanha de Dilma Rousseff (PT), que desde o início deste segundo turno busca convencer a opinião pública de que não só a campanha do tucano José Serra, mas até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pretendem ou pretenderam privatizar a Petrobras e o pré-sal. A cúpula da campanha tucana divulgou ontem na internet uma carta — escrita em 9 de agosto de 1995 por Fernando Henrique e enviada ao então presidente do Senado, José Sarney — em que o então presidente da República detalha os pontos principais de uma conversa sua com o então líder do governo na Câmara, Luiz Carlos Santos, sobre restrições ao capital estrangeiro na atividade de exploração de petróleo no país.

A carta revela a preocupação de FH em acalmar os senadores, temerosos de que a estatal pudesse ser privatizada ou ficasse em situação desconfortável diante da competição estrangeira. No texto, o então presidente garante que a Petrobras não era passível de privatização, que a União não contrataria empresas para a pesquisa e lavra em área que tivessem produção já estabelecida pela Petrobras, e que a estatal tinha o direito de preferência nas contratações em licitações para concessão de pesquisa e lavra.

“Esses pontos, como disse acima, já foram expostos pelo líder do governo na Câmara.

Em consideração ao Senado, estou pedindo ao líder Élcio Álvares que entregue a V. Excia.

esta carta para que a Casa tome diretamente conhecimento do pensamento do governo”, escreveu FH.

Dessa forma, a Emenda Constitucional 6/95 foi aprovada, suprimindo o artigo 171 da Constituição, que trazia a conceituação de empresa brasileira de capital nacional e lhes dava proteção e benefícios especiais. Ao mesmo tempo, modificou a redação do artigo 176, permitindo que a pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais de energia elétrica fossem concedidos ou autorizados a empresas constituídas sob as leis brasileiras (dispensando a exigência do controle de capital nacional).

Petistas evitam confronto com FH

DEU EM O GLOBO

Lula não comenta desafio de tucano

Cristiane Jungblut e Luiza Damé

BRASÍLIA. Interlocutores que estiveram ontem com o presidente Lula disseram que ele sequer comentou, e o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), chamou de “bobagem” as declarações feitas anteontem pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo. O ex-presidente afirmou que deseja fazer um debate “cara cara” com o presidente Lula, assim que ele deixar o Palácio do Planalto, quando estiver “de pijama”.

— O presidente Lula não fica batendo boca com o expresidente — afirmou o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra.

— Isso é bobagem. O Lula vai dar o exemplo, e pode contribuir muito com o país. Vai ajudar o Brasil (depois que sair da Presidência), independentemente (do resultado) da eleição — disse Vaccarezza.

Já o líder do PT na Câmara, deputado Fernando Ferro (PE), disse que as declarações de Fernando Henrique são “manifestações de vaidade”. Ele argumentou que o presidente Lula não deve aceitar o convite para um embate direto.

Em evento tucano, anteontem, Fernando Henrique chamou Lula de mesquinho por não reconhecer políticas do governo FH. E disse que o PT tem posto “apaniguados” na Petrobras.

PP-MG declara apoio 'irrestrito' a Serra no 2º turno

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Elizabeth Lopes

Menos de 24 horas depois da direção nacional do Partido Progressista (PP) anunciar apoio à candidatura da presidenciável petista Dilma Rousseff neste segundo turno, num almoço realizado na casa do presidente do partido, senador Francisco Dornelles (RJ), e que reuniu lideranças da sigla e a própria candidata, o diretório regional da legenda em Minas Gerais decidiu apoiar "de forma irrestrita" a campanha do tucano José Serra.

O racha no PP é semelhante ao vivido pelo PMDB nessas eleições. O PMDB nacional está com Dilma, mas alguns diretórios importantes, como o de São Paulo, apoiam Serra. O apoio do PP mineiro ao presidenciável tucano foi formalizado em carta encaminhada ao senador Francisco Dornelles, na manhã de hoje.

No comunicado, o presidente estadual do PP de Minas Gerais, deputado Alberto Pinto Coelho, ressalta que o diretório regional da legenda apoia "de forma irrestrita" a candidatura tucana à Presidência da República por manter a coerência de apoio à aliança vitoriosa no Estado, ao lado do governador reeleito Antonio Anastasia (PSDB) e dos senadores eleitos Aécio Neves (PSDB) e Itamar Franco (PPS).

"A direção estadual informa que a posição firmada faz parte de uma decisão colegiada", diz o comunicado. A carta é assinada pelo presidente do PP de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho, vice-governador eleito e presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, e pelo vice-presidente do PP mineiro, Odelmo Leão, prefeito de Uberlândia.

Ex-governador do Ceará troca de candidato

DEU NO DIÁRIO DO NORDESTE (CE)

Lúcio deixa Dilma para apoiar o tucano Serra

Alegando quebra de compromisso do PT nacional, sobre apoio à sua candidatura, Lúcio agora é eleitor de Serra


Depois de passar todo o primeiro turno, no Ceará, apoiando a candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República, o candidato ao Governo do Estado derrotado no pleito deste ano e presidente estadual do Partido da República (PR) no Ceará, Lúcio Alcântara, anunciou o apoio de sua agremiação, neste segundo turno, ao nome de José Serra (PSDB), adversário de Dilma. Segundo Lúcio, a adesão ao tucano ocorre devido à falta de compromisso da coordenação nacional da campanha de Dilma Rousseff com a candidatura do PR cearense.

Lúcio Alcântara anunciou a posição de seu partido em entrevista coletiva, envolvendo dirigentes do PR, PSDB, DEM, PMN e PPS, ontem à tarde. Dentre os presentes um dos seus adversários no pleito deste ano ao Governo do Estado, o deputado estadual Marcos Cals (PSDB). O republicano avisou inclusive que vai acompanhar a visita de José Serra, hoje, em Canindé.

O presidente do PSDB, Marco Penaforte, declarou que todos os partidos pró-Serra no Ceará estarão comprometidos em um bloco de oposição ao governador Cid Gomes (PSB) na Assembleia Legislativa, a partir de fevereiro de 2011. O presidente estadual do PMN, Reginaldo Moreira, contestou tal informação, dizendo que o vereador Mário Hélio, futuro representante de sua legenda naquela Casa, vai ficar na base aliada de Cid.

Falta de prestígio

Lúcio Alcântara explicou que a decisão do PR cearense em apoiar a candidatura de José Serra, neste segundo turno, foi definida após uma série de conversações entre as lideranças regionais do partido. Lúcio afirmou que os compromissos firmados pelo PT, na pessoa do presidente nacional da agremiação, José Eduardo Dutra, de que Dilma Rousseff estaria em todos os palanques aliados da petista que fossem formados nos estados, inclusive no Ceará, não foram cumpridos.

"Não aconteceu, nem após o primeiro turno, qualquer manifestação que nos vinculasse do ponto de vista político, até mesmo do pessoal, a continuidade neste apoio. Pelo contrário, a designação de um coordenador (o deputado federal Ciro Gomes - PSB) envolvido em conflitos que atingiram de maneira desleal o prefeito de Maracanaú, o companheiro Roberto Pessoa (PR). Então, nós nos sentimos absolutamente desobrigados de qualquer continuação nesse apoio no segundo turno".

PT acusa marqueteiro de Dilma de despreparo

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Tânia Monteiro

Brasília - No clima de cobrança que se instalou nos bastidores da campanha da candidata Dilma Rousseff (PT), sobrou para o marqueteiro João Santana. Na avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de assessores e coordenadores da campanha, Santana não se preparou para a eventualidade de ter de disputar o segundo turno das eleições presidenciais.

O despreparo ajudaria a explicar, em parte, a desaceleração da campanha, logo depois da contagem dos votos do primeiro turno. Os primeiros programas do segundo turno no horário eleitoral do rádio e da TV foram pouco mais do que peças requentadas da reta final do primeiro turno, o que desagradou o presidente - que decidiu participar de forma decisiva na campanha.

Lula voltou a criticar a participação da candidata Dilma nos programas. Para ele, a petista não tem apresentado a emoção necessária, não olha nos olhos das pessoas nem fala de forma convincente. Por isso, quer um programa mais propositivo da candidata, em vez dos que estão sendo exibidos, considerados "mornos".

Outra avaliação é de que é preciso mudar a abertura do programa de Dilma, principalmente quando ela entra logo após a apresentação do programa do tucano de José Serra, que sempre termina sua fala batendo na adversária - Dilma entra sem esboçar qualquer reação. O presidente Lula continua achando também que Dilma não reagiu com a indignação suficiente às denúncias das movimentações da ex-ministra-chefe da Casa Civil Erenice Guerra. Para Lula, ela tinha que, no mínimo, insistir que Erenice traiu sua confiança.

Ação contra queda de Dilma junta Lula, Petrobras e MST

DEU EM O GLOBO

Para evitar que a petista Dilma Rousseff continue a cair nas pesquisas, o presidente Lula reuniu dirigentes da campanha e ordenou que convoquem a militância e botem mais emoção nos programas de TV.

Lula interveio durante reunião no horário de expediente, na qual se mostrou preocupado em corrigir os erros do começo do segundo turno para evitar que o tucano José Serra vire o jogo. 0 MST ontem anunciou apoio formal a Dilma e prometeu mobilizar os sem-terra. No Rio, um gerente da Petrobras usou o e-mail da estatal para convocar para ato pró-Dilma. Pesquisa Datafolha mostrou que a petista voltou a perder um ponto, reduzindo a vantagem sobre Serra de sete para seis pontos.

Lula intervém na campanha

Para tentar conter queda de Dilma, presidente apela a militantes e cobra mais emoção na TV

Luiza Damé, Maria Lima e Gerson Camarotti

BRASÍLIA - O publicitário João Santana vai ter que descobrir uma fórmula para levar emoção ao programa de TV da candidata Dilma Rousseff (PT), com resultado imediato, para tentar estancar a queda registrada nas pesquisas no segundo turno. E os dirigentes petistas vão ter que botar a militância nas ruas para pedir votos e dar um novo rumo à campanha governista. A candidata também terá de ir mais para as ruas, além da volta da presença mais frequente do presidente Lula na TV. Essas foram as principais decisões tomadas em reunião convocada para a manhã de ontem — em pleno horário de expediente no governo — pelo presidente Lula, que decidiu intervir pessoalmente nos rumos da campanha.

No encontro com João Santana, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, e os deputados Antonio Palocci e José Eduardo Cardozo, o presidente se mostrou preocupado em corrigir rapidamente erros para evitar uma virada do candidato tucano, José Serra, mas não quis responsabilizar ninguém.

— O fato é que todos nós erramos nesse processo. Foi um erro coletivo, houve desmobilização, e não cabe agora ficar procurando culpados — disse Lula na reunião.

— Conversamos sobre a necessidade de botar o bloco na rua. Já estamos fazendo isso. É um processo de chamamento. Numa disputa como esta, a militância do PT faz a diferença. A perplexidade (que houve no fim do primeiro turno) já está superada — disse Dutra ao fim do encontro.

Mais tarde, disse ao GLOBO: — O Lula não chamou a reunião porque está descontente com os rumos da campanha. Avalia que a campanha neste segundo turno está difícil e precisa de ajustes, que já vínhamos fazendo. Avaliamos que é preciso dar um toque mais emocional.

Está faltando emoção, o sonho do que pode ser conquistado a mais no governo Dilma.

‘Como vai ser feito é outra história’

Como boa parte dos programas no segundo turno foi usada para a desconstrução de Serra, decidiu-se que agora é preciso usar mais a imagem e a presença de Lula e voltar à emoção, mostrando que Dilma, e não Serra, seria capaz de dar continuidade às conquistas dos brasileiros. O PT espera que, através dos programas de TV, a militância volte a ocupar ruas com bandeiras, fazendo volume e barulho.

— A decisão política foi de dar mais emoção. A forma como isso vai ser feito é com a equipe especializada.

O Lula pode ser o canal dessa emoção, pode convencer que Dilma, e não Serra, é capaz de dar continuidade ao sonho. Como vai ser feito é outra história — disse Dutra.

Outra aposta do comando da campanha de Dilma é utilizar depoimentos de artistas defendendo o voto na petista. Na segunda-feira, ela se encontrará com um grupo de artistas liderado por Chico Buarque, Luis Melodia, Alceu Valença, Martinho da Vila, Margareth Menezes e Gilberto Gil — este está no exterior, mas deixou uma mensagem gravada.

No encontro, ficou acertado ainda que a candidata vai se concentrar nos maiores centros — São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná —, mas o Norte e o Nordeste não serão descuidados. Deve haver atos de campanha no Ceará, em Pernambuco, na Bahia e no Amazonas, onde os governadores aliados tiveram votação expressiva no primeiro turno.

Ontem, Lula aproveitou a manhã para gravar novas mensagens para o programa eleitoral de Dilma. Foi a segunda sexta-feira consecutiva em que o presidente dedicou todo o seu horário da manhã à campanha, inclusive gravando mensagens para o programa eleitoral de Dilma e de aliados.

Não há impedimento nem ilegalidade no fato de o presidente fazer reuniões de campanha em horário de expediente.

O Ministério Público, em anos anteriores, entendeu que o presidente é presidente 24 horas por dia.

Carro de ministro também no estúdio

Na agenda oficial, divulgada pelo Palácio do Planalto, Lula passaria a manhã no Palácio da Alvorada. Mas, na verdade, ele estava no estúdio na LBV (Legião da Boa Vontade), onde são feitas as filmagens das inserções para propaganda eleitoral da candidata.

Por volta de 9h40m, o comboio presidencial deixou o Palácio da Alvorada, mas o presidente não foi para o Planalto. Ele estava em outro carro — civil, com placa comum e sem identificação da Presidência — que foi para o estúdio. A bandeira oficial que indica a presença do presidente no local continuava hasteada no Palácio da Alvorada, embora Lula não estivesse mais lá.

O presidente chegou ao estúdio de Dilma acompanhado do ministro de Comunicação Social, Franklin Martins.

No início da tarde, Lula saiu do estúdio, novamente acompanhado de Franklin, e foi para a Base Aérea, mas acabou não indo para o Paraná, como estava previsto, por causa do mau tempo na região. Seguiu diretamente para São Paulo, onde fez campanha à noite com Dilma.

Embora Franklin tenha ido com Lula no carro usado pelo presidente, o automóvel da Secretaria de Comunicação Social ficou estacionado do lado de fora do estúdio durante todo o período em que ele permaneceu no local. A legislação eleitoral permite que apenas o presidente use transporte oficial na campanha. A assessoria do Planalto disse que o ministro não sabia que seu carro estava no estúdio, e que a decisão foi do motorista

E-mail da Petrobras é usado para a campanha de Dilma

DEU EM O GLOBO

Coordenador de Patrocínio convocou fornecedores para ato no Rio segunda-feira

Flávio Freire

SÃO PAULO. Mecanismos de comunicação da Petrobras continuam sendo usados em apoio à candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência. Segundo email enviado da caixa postal do coordenador de Patrocínio à Música e Patrimônio da estatal, Claudio Jorge Oliveira, ao qual O GLOBO teve acesso, fornecedores estão sendo convocados para participar de ato político a favor da campanha petista marcado para acontecer no Rio, na próxima segunda-feira.

Com título em letras maiúsculas, o funcionário convida os “caros amigos” a participar do evento. No corpo do documento, destaca a participação de artistas e intelectuais, liderados pelo cantor e compositor Chico Buarque, além dos escritores Leonardo Boff, Eric Nepomuceno e Fernando Morais e do sociólogo Emir Sader. Na ocasião, como destacado em negrito no e-mail, será entregue à candidata um manifesto de artistas e intelectuais pró-Dilma.

No e-mail, o funcionário pede a adesão à campanha do PT e faz um apelo: “Se você puder, divulgue o evento junto a seus amigos do Rio de Janeiro”.
Petrobras diz que prática é proibida A Petrobras informou que essa prática não é autorizada pela empresa: “O uso do correio eletrônico corporativo da Petrobras em atividades de caráter político-partidário é proibido por norma interna. O correio encaminhado pelo jornal foi repassado à área competente, que vai apurar o caso”.

O advogado Ricardo Penteado, que representa a candidatura presidencial do tucano José Serra, pretende entrar na Justiça contra o uso da estatal “para objetivos eleitorais”. Em relação à Petrobras, a guerra entre tucanos e petistas foi acentuada depois que Dilma acusou publicamente dirigentes do PSDB de quererem privatizar a empresa.

O presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, também usando o sistema interno de comunicação, entrou na campanha pró-Dilma para dizer que, se dependesse da gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, a companhia “morreria de inanição”.

Um dos coordenadores de campanha do PSDB, senador Álvaro Dias (PR), disse que a estatal está sendo usada como “patrimônio dos petistas”.

Datafolha: vantagem de Dilma é de 6 pontos

DEU EM O GLOBO

Em relação à pesquisa anterior, petista caiu um ponto, e tucano ficou estável; nos votos válidos, diferença é de 8 pontos

Cristiane Jungblut e Regina Alvarez

BRASÍLIA. O Datafolha divulgou ontem nova pesquisa de intenção de voto no segundo turno da disputa presidencial, que indica uma diferença de seis pontos percentuais entre a petista Dilma Rousseff e o tucano José Serra. Dilma, que aparece com 47% das intenções de voto, caiu um ponto percentual em relação à sondagem anterior do Datafolha, divulgada dia 9, enquanto o candidato tucano mantém os mesmos 41%.

O índice de votos nulos e em branco se manteve em 4%, e o de indecisos foi de 7% a 8%. Considerandose os votos válidos (sem nulos, em branco e indecisos), os percentuais não mudam em relação à pesquisa anterior.

Dilma mantém 54%, e Serra, 46%, diferença de oito pontos.

Campanha do PT recebe com certo alívio dados da pesquisa A pesquisa, divulgada pelo “Jornal Nacional”, foi encomendada pela Rede Globo e pelo jornal “Folha de S. Paulo”.

Foram entrevistados 3.281 eleitores em todo o país, nos dias 14 e 15. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.

A campanha de Dilma recebeu com certo alívio os dados da pesquisa, interpretados como uma indicação de que a sangria de votos da candidata parou. Mas o alerta no comando permanece. A avaliação é que a disputa está acirrada.

O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), disse que Dilma está com uma situação consolidada: — O Datafolha mostrou o mesmo resultado, e isso significa que a situação está consolidada.

Não adianta o Serra baixar o nível e agredir a Dilma, que isso não resolveu. O povo está reconhecendo que a Dilma é que pode consolidar e aprofundar as conquistas do governo Lula — disse Vaccarezza, negando que Dilma tenha ficado agressiva: — Ela não foi agressiva, ela colocou os pingos nos “is”.

Para tucanos, há tendência de crescimento de Serra Segundo o presidente do PT, José Eduardo Dutra, as pesquisas internas da campanha, encomendadas ao Ibope e ao Vox Populi, indicam uma retomada do crescimento da candidata.

Já na campanha de Serra, o discurso é que ele tem crescido em todas as regiões. O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, disse que há uma tendência de crescimento de Serra e que, no primeiro turno, os institutos de pesquisa demoraram a captar as mudanças no eleitorado.

— A tendência é de crescimento, e ele (Serra) cresceu em todas as cidades, menos uma, das pesquisadas. Nas nossas pesquisas, já não estamos atrás. E, no primeiro turno, também foi assim — disse.

Colaborou Maria Lima

Dilma sofreu queda entre evangélicos

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Candidata petista passou de 40% para 36% entre os não pentecostais, enquanto Serra variou de 48% para 50%

Maior variação ocorreu entre os eleitores que não têm religião: Dilma caiu de 51% para 45%, e Serra foi de 35% a 40%

DE BRASÍLIA -
Ao se observar o comportamento dos eleitores divididos por grupos religiosos, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, sofreu sua maior baixa entre os evangélicos não pentecostais. Ela desliza de 40% para 36%, de acordo com pesquisa Datafolha realizada ontem e anteontem.

Como a margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, a oscilação da petista ficou dentro desse limite máximo. Na pesquisa anterior, ela poderia ter no mínimo 38%. Na atual, chegaria a esse patamar no limite positivo da margem.

Os evangélicos não pentecostais são 6,3% dos eleitores brasileiros.

Nesse grupo, José Serra (PSDB) registrou uma variação positiva, também dentro da margem de erro, indo de 48% para 50%.

Os temas religiosos dominaram esse início de campanha no segundo turno, sobretudo com relação às propostas dos candidatos sobre a descriminalização do aborto. Ambos, Dilma e Serra, afirmam ser contrários a alterar a lei atual.

Apesar do predomínio desse assunto nas propagandas de rádio e de TV, todas as variações em grupos religiosos ficaram dentro ou muito próximas à margem de erro.

Curiosamente, a maior variação se deu entre os eleitores que declaram não ter religião (5,8% do total do país).

Nesse segmento, Dilma desceu seis pontos, de 51% para 45%. Já Serra subiu cinco pontos, de 35% pra 40%.

MARINEIROS

Outra forma de aferir como se deram as pequenas variações nos percentuais de Dilma e de Serra nesta primeira semana de campanha para o segundo turno é observar o comportamento dos eleitores de Marina Silva (PV). Ela está fora da disputa por ter ficado em terceiro lugar.

Entre aqueles que votaram em Marina no primeiro turno e agora assistiram à propaganda política na TV, só 38% dizem que o comercial de Dilma Rousseff é ótimo ou bom. Já o programa de Serra é considerado ótimo ou bom por 52% dos marineiros.

A influência da candidata verde surge agora maior do que seu percentual de votos (19,3%). Segundo o Datafolha, 25% dos eleitores poderiam votar em alguém indicado por Marina. Mas para 55% esse apoio seria inócuo. E há também 15% que rejeitaram esse tipo de recomendação.

ELITE

Algumas oscilações positivas de Dilma se deram em grupos nos quais Serra em geral tem melhor desempenho. Por exemplo, entre os eleitores de nível de escolaridade superior (14% do total do país), a petista variou dois pontos, de 36% para 38%. Já Serra viu seu percentual ir de 50% para 47%.

Entre os eleitores com renda média mensal de mais de dez salários mínimos (4,4% do total dos brasileiros), a petista subiu cinco pontos, de 33% para 38%. Serra desceu de 58% para 53%.

Os mais escolarizados e de renda superior são os grupos nos quais Marina Silva começou sua ascensão no primeiro turno. (FERNANDO RODRIGUES)

Carta de petista a evangélicos não promete veto a aborto

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Em carta a evangélicos, Dilma Rousseff (PT) se comprometeu a não apresentar projeto para descriminalizar o aborto, mas não a vetar a medida caso o Congresso a aprove. Considerada ambígua por igrejas, a carta desagradou a entidades do movimento gay por não rechaçar a homofobia.

Em carta, Dilma não promete veto a aborto

Mensagem não atende exigência, feita por evangélicos, de barrar qualquer projeto para descriminalizar prática

Texto foi considerado ambíguo por igrejas e desagradou entidades do movimento gay por não rechaçar homofobia

Márcio Falcão

DE BRASÍLIA - Em mensagem divulgada ontem para "acalmar" evangélicos, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, se compromete a não apresentar projeto para descriminalizar o aborto, mas não a vetar a medida caso seja aprovada pelo Congresso.

Em reunião com a coordenação da campanha do PT, na última quarta-feira, 51 representantes de igrejas evangélicas exigiram de Dilma o compromisso de vetar qualquer projeto aprovado no Congresso "contra a vida e valores da família".

O texto traz seis pontos nos quais a candidata reafirma declarações já feitas ao longo da campanha.

Diz, por exemplo, que é "pessoalmente contra o aborto" e que vai defender a "manutenção da legislação atual sobre o assunto", que só permite a prática em casos de estupro e risco de morte para a gestante.

Ambígua em vários pontos, a mensagem não produziu o efeito desejado.

Em vídeo na internet, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, por exemplo, diz que "quem é religioso não precisa fazer força para mostrar".

"Nós não somos trouxas (...) Mudar agora por questões eleitoreiras é vergonhoso", diz o pastor.

Antes de ser candidata, Dilma defendeu, em pelo menos duas ocasiões, a descriminalização do aborto.

Coordenador evangélico da campanha dilmista, o bispo da Assembleia de Deus e deputado Manoel Ferreira (PR-RJ) reconheceu que Dilma não se compromete com o veto na mensagem, mas minimizou a questão.

Walter Pinheiro (PT), evangélico e senador eleito pela Bahia, saiu em defesa da candidata petista à Presidência. "Quer compromisso maior do que defender a manutenção da legislação? O veto está subentendido aí."

Outra cobrança dos evangélicos era o veto ao projeto que criminaliza condutas homofóbicas (PLC 122).

Na mensagem, porém, Dilma diz apenas que, se a proposta for aprovada, o "texto será sancionado nos artigos que não violem liberdade de crença, culto e expressão".

O temor dos evangélicos é que o projeto impeça sermões e pregações referentes aos homossexuais.

Dilma não cita diretamente outros tabus para os religiosos, como casamento homossexual e adoção por pessoas do mesmo sexo.

Movimentos gay, por sua vez, criticaram as campanhas de Dilma e José Serra (PSDB) pela forma como têm discutido a temática.

A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que reúne 237 entidades, criticou em carta a "instrumentalização de sentimentos religiosos e concepções moralistas" na campanha.

A associação cobra coerência dos dois candidatos e sugere que a discussão, como tem sida conduzida, dá espaço à homofobia.

A mensagem de Dilma também é dúbia ao tratar do PNDH-3 (Plano Nacional dos Direitos Humanos), bombardeado pelos setores evangélicos. A petista diz que o programa é uma "ampla carta de intenções", que "está sendo revisto" e não pretende promover nenhuma iniciativa que "afronte a família".

Colaborou Uirá Machado , de São Paulo

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Por certo,
um Professor de Etiquetas
não presenciou o ato em que fui concebido.
Quando nasci, nasci nu,
ignaro da colocação correta dos dois pontos,
do ponto e vírgula,
e, principalmente, das reticências.
(Como toda gente, aliás...)

Hoje só quero ritmo.
Ritmo no falado e no escrito.
Ritmo, veio-central da mina.
Ritmo, espinha-dorsal do corpo e da mente.
Ritmo na espiral da fala e do poema.

Não está prevista a emissão
de nenhuma “Ordem do dia”.
Está prescrito o protocolo da diplomacia.
AGITPROP – Agitação e propaganda:
Ritmo é o que mais quero pro meu dia-a-dia.
Ápice do ápice.

Alguém acha que ritmo jorra fácil,
pronto rebento do espontaneísmo?
Meu ritmo só é ritmo
quando temperado com ironia.
Respingos de modernidade tardia?
E os pingos d’água
dão saltos bruscos do cano da torneira
e
passam de um ritmo regular
para uma turbulência
aleatória.

Hoje...