quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Reflexão do dia - Roberto Freire

José Serra é um representante mais à esquerda do que o Governo Lula. Temos historicamente uma excelente relação com o que José Serra representa de pensamento. Eu disse em 2002, tão logo terminou a eleição com a vitória de Lula, que Lula tinha sido apoiado pelas esquerdas, mas o candidato de esquerda era Serra. Continuo afirmando isso. E o governo de Lula demonstrou ser um dos governos mais conservadores que a história brasileira conhece. É um governo aliado ao grande capital. É um governo que tem como programa social nada que modifique as relações na sociedade, mas que perpetua essas relações. Esses programas assintencialistas têm essa funcionalidade conservadora, exatamente porque mantêm essas relações sociais, embora possa melhorar a realidade social das pessoas, partindo do ponto de vista econômico. Mas mantêm as mesmas relações, não muda coisa alguma. O Nordeste não mudou em nada, e ainda viu ressurgir todo um coronelismo do qual alguns de seus agentes estavam quase que mortos. Eles ressurgiram das cinzas com o Governo Lula. Estão aí os Collors e Sarneys da vida. São velhos coronéis, velhos representantes das oligarquias, todos eles de novo mandando na política nordestina. Isso é um sinal de que não apenas não houve mudança como houve um retrocesso. Nós defendemos uma posição de um candidato que tem uma visão transformadora, uma visão vinculada à produção, uma visão desenvolvimentista, como é o caso de Serra.

(Roberto Freire, entrevista no JC.online/PE)

A máquina em campanha:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Mais grave do que terem colocado o nome do diretor de “Tropa de elite 2”, José Padilha, num manifesto a favor da candidatura Dilma Rousseff à Presidência da República sem sua autorização é o fato de que dirigentes da Agência Nacional de Cinema (Ancine) atuaram fortemente para que pessoas ligadas à indústria assinassem o documento. Há indicações de que vários outros cineastas e atores, muitos inscritos à revelia, foram procurados por funcionários da Ancine na tentativa de engrossar a lista dos apoiadores da candidatura oficial.

Criada em 2001, a Agência Nacional do Cinema é uma agência reguladora que tem como atribuições, segundo a definição oficial, “o fomento, a regulação e a fiscalização do mercado do cinema e do audiovisual no Brasil”.

A Ancine, por sinal, foi uma das responsáveis pela escolha dos jurados que definiram o filme “Lula, o filho do Brasil” como o representante brasileiro ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Esse é um dos exemplos mais visíveis da utilização da máquina pública na campanha eleitoral de maneira despudorada, a começar pelo próprio presidente da República, que, na reta final da campanha — e com a disputa demonstrando estar mais difícil do que imaginavam seus estrategistas —, já não se incomoda de gravar participações nos programas de propaganda eleitoral no horário do expediente oficial.

E utiliza prédios públicos, como o Palácio da Alvorada, para reuniões políticas com os coordenadores da campanha da candidata oficial.

Seguindo o exemplo de seu chefe, também os ministros de Estado já não tentam disfarçar a campanha que fazem, misturando suas funções de Estado com as de cabo eleitoral da candidata oficial.

No lançamento do programa de saúde da candidatura oficial, a foto dos ministros da Saúde, José Gomes Temporão, e das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ao lado do candidato a vicepresidente da chapa oficial, Michel Temer, os três ostentando uma camiseta com propaganda de Dilma Rousseff, é o exemplo da falta de pudor que domina o primeiro escalão governamental.

Da mesma maneira, funcionários de vários escalões das empresas estatais estão sendo estimulados, ou diretamente ou pela leniência de seus chefes imediatos, a fazer campanha usando o e-mail das próprias empresas.

Funcionários da Petrobras estão distribuindo mensagens com propaganda eleitoral a favor de Lula e Dilma, ou mesmo repassando informações caluniosas contra o candidato do PSDB.

Um deles tem o seguinte aviso, todo em caixa alta: “UMA GRANDE VERDADE!!!! REPASSE ESTE EMAIL PRA TODOS E NÃO VAMOS DEIXAR A ONDA VERMELHA (PT) PARAR DE CRESCER POR TODO PAÍS!!!!” A despreocupação é tamanha que já não escondem a identificação. As mensagens têm nome, telefone, cargo.

Entre as muitas mensagens que circulam, uma é da Gerência Setorial de Serviços de Segurança Patrimonial de Escritórios da Petrobras e tem a seguinte identificação: Serviço de Infraestrutura e Segurança Patrimonial. Regional Sudeste.

Serviços Compartilhados.CQAY.

Outro é da Eletrobras, do Departamento de Contratações — DAC Divisão de Suprimentos — DACS.

‘Não é o momento’

O ex-deputado federal e candidato ao Senado pelo PPS nas eleições de outubro Marcelo Cerqueira teve atuação intensa contra o processo de privatização da Companhia Vale do Rio Doce.

Patrocinou ação popular promovida por Barbosa Lima Sobrinho, ações civis públicas em nome de diversas associações, inclusive a dos Empregados da Vale (Aval) e ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pela Ordem dos Advogados do Brasil por seu Conselho Federal.

Após longa batalha judicial, e realizado o leilão, atuou em ação, em nome da Aval, no sentido de estabelecer que o controle da Vale ainda era da União Federal, direta e indiretamente, através das ações em posse da União Federal, do BNDES, do BNDESpar e de fundos de pensão das empresas estatais.

Como o PT, à época, fez dura campanha contra a privatização, inclusive copromovendo ato público com ampla participação, Marcelo Cerqueira, instalada a equipe de transição do governo eleito Lula, telefonou a seu amigo Luiz Eduardo Soares e narrou-lhe o caso, defendendo a tese de que o “controle” da Vale permanecia direta e indiretamente com a União Federal.

Dizendo que tal assunto estaria afeto a Dilma Rousseff, então responsável pelo setor no grupo de transição, Luiz Eduardo passoulhe o telefone.

Depois de ouvir toda a história sobre o “controle” da Vale ainda estar com o governo, Dilma agradeceu “fraternalmente” a informação, mas ponderou: “Não é o momento, Marcelo.” Oito anos depois, o momento não surgiu, apesar de todas as críticas do PT às privatizações. Ao contrário, o PT está tentando, através dos fundos de pensão, assumir a presidência da Vale.

Reclamações ao bispo:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A campanha de Dilma Rousseff faz de conta que descobriu um grande escândalo: a dona da gráfica onde foram impressos panfletos que reproduzem críticas de uma seccional da CNBB à candidata do PT é irmã de um dos coordenadores da campanha de José Serra e também é filiada ao PSDB.

"É indiscutível a relação política da proprietária da gráfica com o PSDB. Os fatos são graves e temos indícios veementes de onde vem a central de calúnias e boatos para atingir nossa candidatura", declarou em entrevista especialmente convocada, um dos coordenadores da campanha do PT, José Eduardo Martins Cardozo.

Deixemos de lado o fato de ter sido identificado o autor da encomenda à gráfica - Kelmon Luiz de Souza, presidente de uma ONG de ultradireita - e imaginemos que a tucana dona do estabelecimento tivesse mandado imprimir os panfletos por iniciativa partidária.

Teria incorrido em ato, no mínimo, antiético ao se apropriar do texto de alguém para atingir outrem. Teria também infringido a lei no tocante a propaganda negativa.

Mas não teria nada a ver com o que realmente incomoda os correligionários de Dilma: a oposição ativa de padres, bispos e pastores.

O PT com toda razão reclama é do prejuízo provocado pelo conteúdo dos panfletos, que lembra a posição do Plano Nacional de Direitos Humanos, assinado por Dilma, em favor da descriminalização do aborto e recomenda voto "somente em candidatos contrários à descriminalização do aborto".

Portanto, essa "central de calúnias e boatos" não está localizada na gráfica, mas no Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que assina o texto, de resto distribuído no último dia 12 em Aparecida durante a celebração do dia da Padroeira do Brasil.

A briga do PT de verdade seria com a CNBB, com o Regional 1 da entidade, com padres e ditos pastores que pregam contra sua candidata aos fiéis. Isso se um partido que concorre a eleições pudesse arrumar uma briga com a Igreja; católica, protestante, pentecostal, seja qual for.

A dona da gráfica entra nessa história como Pilatos no Credo, circunstancialmente.

Por que o PT não reage diretamente contra os autores das pregações? Porque seria pior.

Como não pode reclamar abertamente a quem de direito, o partido infla artificialmente a "gravidade dos fatos", a fim de chamar atenção para a mesma questão e ainda enquadrar a contrariedade de alguns setores religiosos (há outros satisfeitos e apaziguados) no setor de calúnias político-partidárias.

Desvia-se do foco e não atinge o alvo.

Berlinda. A liberalidade com que os institutos de pesquisas transitam entre clientes, candidatos e vice-versa está minando a credibilidade das pesquisas. Talvez mais até que a discrepância entre os números das amostras e os resultados das urnas.

Logo ganharão voz ativa os que defendem a tese de que institutos não podem trabalhar ao mesmo tempo para campanhas e para veículos de comunicação.

Entes votantes. O deputado Chico Alencar discorda do texto de ontem sobre o "voto crítico" do PSOL em Dilma Rousseff, que considerava o adjetivo vazio e dispensável.

Escreve o deputado: "Meu entendimento é outro. O voto vai além do gesto de teclar: pode significar adesão acrítica, expectativa, composição da base parlamentar e até participação na futura administração. O nosso voto "crítico" sinaliza o contrário: independência total e cobrança imediata, dentro dos pontos programáticos que defendemos inclusive ética e transparência republicanas."

Alencar aproveita para criticar a neutralidade de Marina Silva e do PV. Para ele, "declarar voto é obrigação". O caráter secreto existe, aponta Chico Alencar, para proteger o indivíduo. "Marina é ente político. No 2.º turno seria natural ela declarar que votará em branco ou nulo, se for o caso.

Não revelar nada é estranho para quem falou tanto em "posições claras" no 1.º turno."

Vale tudo:: Marco Antonio Villa

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Teremos mais dez dias de acusações, calúnias e coações; é a "república hilariante" -pobre Brasil

Estamos assistindo à eleição mais disputada desde 1989. E, como era esperado -até em razão da indefinição de parcela do eleitorado-, a mais violenta. Nada indica que a virulência dos discursos e as ameaças diminuirão. O governo está usando todas as armas. As entidades e movimentos sociais pelegos estão a pleno vapor apoiando a candidata oficialista. Afinal, foram sustentados durante oito anos e agora é a hora de pagar pelos serviços recebidos antecipadamente.

É o momento do vale tudo. Com um coquetel ideológico infernal, o governo conseguiu reunir apoio que vai de José Sarney, passa por Renan Calheiros, chega a Fernando Collor e termina em Oscar Niemeyer. Sem esquecer Jader Barbalho, Paulo Maluf e Newton Cardoso. Dos políticos nacionais é a escória, o que existe de mais nefasto. Da antiga esquerda, são os velhos stalinistas, que nunca viram nada de errado nas ditaduras socialistas, nos campos de concentração, na morte de milhões de cidadãos, na supressão das liberdades.

É uma perversa aliança que tem muitos pontos em comum, como o ódio à liberdade de imprensa, de manifestação e de organização.

Além da política da boquinha, do saque organizado do erário público, que vai do ranário ao edifício público monumental, mas inabitável.

Lula já pensa no futuro. Está no estágio de que não mais dissocia sua ação daquela vinculada aos destinos do país. Vestiu o figurino de salvador da pátria. E gostou. A cada dia fica mais irritado com a oposição. Não aceita qualquer questionamento.

Sua ação está paulatinamente saindo do campo da política. Ficou furioso com a realização do segundo turno e as derrotas nos estados de São Paulo e Minas. Achou uma ingratidão.

O segundo turno contrariou seus projetos para o futuro. Queria vender para o mundo uma unanimidade que nunca teve. A imprensa mundial, que serviu de caixa de ressonância para seu projeto, ficou estupefata com o resultado das urnas, pois acreditou nas bravatas. Lula necessitava vencer de goleada para tentar obter algum cargo em uma instituição internacional. Se pôde salvar o Brasil, porque não o mundo? Mas o realismo das grandes potências -especialmente depois da trapalhada envolvendo o Irã- afastou qualquer possibilidade do "ungido", o "esperado", pudesse regressar de sua breve odisseia e retomar o poder.

Teremos mais dez dias de acusações, calúnias e coações de todos os tipos. É a "república hilariante", como bem definiu Euclides da Cunha, caracterizada pelo que chamou de "bandalheira sistematizada". Pobre Brasil.

Marco Antonio Villa é professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar

Fatores imponderáveis :: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - As novas pesquisas de opinião nesta semana dirão se Dilma Rousseff (PT) de fato estancou sua sangria de votos. Mesmo que a petista se distancie um pouco de José Serra (PSDB), parece haver um consenso entre os analistas dos dois lados da disputa: esta será uma eleição parelha.

Esse diagnóstico pode até estar errado. Mas petistas e tucanos estão escaldados. Ninguém se arrisca a fazer previsões arrojadas. Vários fatores imponderáveis na atual conjuntura impedem prognósticos peremptórios e definitivos.

Para começar, esta é a disputa presidencial mais sem emoção da história do Brasil.

Muitos eleitores votam contra, e não a favor. A neutralidade do PV e o "voto crítico" em Dilma recomendado pelo PSOL são prova desse estado de criogenia geral. O clima morno não favorece uma avalanche de apoio apenas para um dos lados.

Outro aspecto já citado pelos partidos é o fato de o segundo turno cair no meio de um feriado prolongado. O Datafolha apurou que 52% dos eleitores costumam viajar em ocasiões assim. Não se sabe se por civismo ou por constrangimento, só 2% adiantaram ter a intenção de viajar e não votar.

Ainda que o percentual dos viajantes seja pequeno, eles podem fazer a diferença numa eleição apertada. O senso comum indica José Serra como o maior prejudicado, pois seus eleitores são de estratos sociais mais propensos a aproveitar feriados para sair de casa.

Já Dilma sofre com o diminuto número de eleitores que votam para governador no segundo turno: só haverá esse tipo de disputa em nove localidades, envolvendo apenas 14% do eleitorado. Ou seja, a massa de militantes pró-governo encontra-se desmobilizada.

Tudo junto e misturado, o cenário contém muitos elementos inescrutáveis. Exceto se algum fato imprevisível ocorrer, mesmo Dilma sendo favorita, a sucessão tende a ficar em suspenso até o dia 31.

As regras engessaram os debates:: Elio Gaspari

DEU EM O GLOBO

Antes que os eleitores peguem no sono, seria bom copiar normas que vigoram para os candidatos americanos

Quem sabe chegou a hora de se repensar a organização dos debates dos candidatos na televisão. A decadência do atual modelo ficou patente na noite de domingo. Não só Dilma Rousseff e José Serra não responderam a diversas perguntas, mas chegaram a informar que voltariam ao assunto "no próximo bloco" ou "próxima vez", como se fossem apresentadores.

As redes de televisão esforçam-se para preservar a neutralidade do formato e do cenário, mas ficam amarradas às condições negociadas com a direção das campanhas dos candidatos. Essa anomalia engessa o debate e relega o moderador às funções de cronômetro. Resultado: no debate de domingo a audiência média da Rede TV! caiu à metade em relação à sua programação normal.

Como a próxima série de debates presidenciais ocorrerá daqui a quatro anos, há tempo para se pensar no assunto. Para começar, pode-se buscar o que há de útil no modelo americano, com meio século de existência e aperfeiçoamentos:- Os debates americanos são realizados em auditórios de universidades e organizados por uma entidade de composição bipartidária, a Comissão para Debates Presidenciais. Quem quiser, transmite. (Em 1988, a Liga das Mulheres Eleitoras deixou de organizar esses eventos, acusando os partidos de manipular os formatos.)

- Em 2004 as regras negociadas com a direção das campanhas foram públicas e se estenderam por 31 páginas, detalhando até mesmo que os candidatos não podiam levar cola. Antes do início do programa eles recebem papel e caneta para tomar notas. Em 2008, o detalhamento das regras ficou no cofre.

- Houve três debates de Obama com McCain, dois deles com temas predefinidos (política externa e segurança, assuntos domésticos e economia). No Brasil esse mecanismo evitaria que um candidato repetisse propostas e denúncias feitas nos anteriores.

- Duas regras de ouro do contrato de 2004 inibiriam golpes baixos comuns aos debates nacionais. Foi proibida a reprodução de trechos de áudio ou vídeo dos debates na propaganda dos candidatos. Foi proibida também a pegadinha de propor ao outro assuma um compromisso em relação a seja lá o que for.

- A principal diferença está nas atribuições do moderador. Já houve debates com vários jornalistas fazendo as perguntas ou com um só. Há uma pequena flexibilidade com o tempo dado para as respostas. É o moderador quem faz as perguntas ou apresenta os tópicos (que não são negociados com os marqueteiros).

Cabe ao moderador manter o equilíbrio na distribuição do tempo.

- Em 2008 Obama e McCain toparam dividir dois debates em segmentos, com respostas de dois minutos e embates diretos de cinco minutos. No modelo de 2004, Bush e John Kerry não podiam fazer perguntas diretas.

- Um terceiro debate é alimentado por perguntas de uma audiência previamente selecionada. Os candidatos nunca escolhem os convidados e as perguntas são previamente submetidas ao moderador, e só a ele, a quem cabe selecioná-las.

Esse último formato seria de difícil aplicação no Brasil. Outras regras, como a proibição da cola, a definição de um tema para cada debate e sobretudo a proibição do uso de trechos pinçados na propaganda posterior dos candidatos, pedem para serem copiados nas próximas campanhas.

Elis Regina - Atras da Porta - ao vivo

'Serra é muito mais de esquerda do que Lula', diz Roberto Freire

DEU NO JC ONLINE

Entrevista: Roberto Freire

Por Priscila Muniz

Após mais de três décadas na política pernambucana, o presidente nacional do PPS mudou de domicílio eleitoral e foi eleito deputado federal pelo Estado de São Paulo, com 121.471 votos. A mudança desencadeou críticas de rivais políticos de Roberto Freire, que afirmaram que ele foi para São Paulo porque não tinha mais força política em Pernambuco. Nas últimas eleições que disputou no Estado, em 2002, Freire obteve 54.003 votos, número que garantiu sua vaga no limiar da lista dos eleitos. Em 2006, Freire não disputou a renovação do mandato, sendo candidato a suplente do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB).

O político, que iniciou a vida pública no Partido Comunista Brasileiro (PCB), vem ao Recife na próxima quarta-feira (20). O JC Online publica uma entrevista exclusiva com o deputado eleito. Nela, Roberto Freire fala, além da mudança no Estado que representará, do desempenho de seu partido nas eleições, da corrida presidencial no segundo turno e da sua visão sobre o Governo Lula.


Confira:

JC Online - Eleitos os proporcionais, como o senhor avalia o desempenho do PPS, partido que preside?

Roberto Freire - O PPS teve um desempenho que era mais ou menos o esperado. Nós perdemos uma cadeira de deputado em relação ao que tínhamos, mas ganhamos um senador, que não tínhamos. Eu diria que o partido aguentou bem o tranco de ter sido uma oposição muito presente ao Governo Lula, e podemos dizer que saímos do pleito sem sofrer uma derrota, ao contrário do que o governo imaginava e gostaria, até mesmo imaginando a minha não-eleição. Eu fui eleito por São Paulo. Um dado importante é que não existe na história um parlamentar eleito por um estado maior do que o que ele representava antes. O caso mais assemelhado a esse foi o de Brizola, que saiu do Rio Grande do Sul e foi para o Rio de Janeiro. Só que Brizola tinha saído como governador do Rio Grande do Sul, e eu apenas como parlamentar de Pernambuco.

JC Online - Depois de mais de três décadas de militância política em Pernambuco, o que o senhor espera dessa nova fase na Câmara Federal como representante do Estado de São Paulo?

R.F. - Pelo ponto de vista da minha atuação haverá pouca mudança, até porque uma característica de desempenho dos meus mandatos é que eu sempre fui um parlamentar nacional. Representava Pernambuco, mas era um parlamentar nacional. Por isso mesmo fui eleito por São Paulo. O que vai mudar é apenas o foco, quando a referência for direta à representação do povo de um determinado estado da federação. Eu vou ter que cuidar, como parlamentar, não apenas das questões nacionais, mas também agora das questões locais do Estado de São Paulo, tal como antes tinha que cuidar das questões de Pernambuco.

JC Online - Como o senhor encara as críticas que lhe foram feitas em virtude da troca de domicílio eleitoral?

R. F. - Críticas de quem? Pelo contrário, eu tenho visto aí em Pernambuco até muita satisfação com essa vitória. A crítica é daqueles que ficaram imaginando que nem para síndico eu me elegeria. Eu nunca perdi eleição em Pernambuco, e continuo sem perder em São Paulo. Em toda a minha vida pública, eu nunca perdi uma eleição parlamentar. As críticas são daqueles que não entendem que eu sou um vitorioso.

JC Online - Como o senhor encarou a vitória de Eduardo Campos (PSB) sobre Jarbas Vasconcelos (PMDB) com uma vantagem tão ampla em Pernambuco?

R.F. - Pernambuco foi um dos estados onde as oposições sofreram uma de suas piores derrotas. Assim como no Ceará. Não foram muitos os estados em que isso ocorreu. Mas de qualquer maneira nada na vida é definitivo, até porque nós estamos agora enfrentando um segundo turno com chances de vitória para as forças políticas que foram derrotadas aí em Pernambuco. No caso de uma vitória de José Serra (PSDB), as forças políticas que foram derrotadas em Pernambuco serão vitoriosas no Brasil.

JC Online - Ideologicamente, o que alinha o PPS à candidatura tucana à presidência?

R.F. - José Serra é um representante mais à esquerda do que o Governo Lula. Temos historicamente uma excelente relação com o que José Serra representa de pensamento. Eu disse em 2002, tão logo terminou a eleição com a vitória de Lula, que Lula tinha sido apoiado pelas esquerdas, mas o candidato de esquerda era Serra. Continuo afirmando isso. E o governo de Lula demonstrou ser um dos governos mais conservadores que a história brasileira conhece. É um governo aliado ao grande capital. É um governo que tem como programa social nada que modifique as relações na sociedade, mas que perpetua essas relações. Esses programas assintencialistas têm essa funcionalidade conservadora, exatamente porque mantêm essas relações sociais, embora possa melhorar a realidade social das pessoas, partindo do ponto de vista econômico. Mas mantêm as mesmas relações, não muda coisa alguma. O Nordeste não mudou em nada, e ainda viu ressurgir todo um coronelismo do qual alguns de seus agentes estavam quase que mortos. Eles ressurgiram das cinzas com o Governo Lula. Estão aí os Collors e Sarneys da vida. São velhos coronéis, velhos representantes das oligarquias, todos eles de novo mandando na política nordestina. Isso é um sinal de que não apenas não houve mudança como houve um retrocesso. Nós defendemos uma posição de um candidato que tem uma visão transformadora, uma visão vinculada à produção, uma visão desenvolvimentista, como é o caso de Serra.

JC Online - O senhor fez uma crítica aos programas assistencialistas, mas o candidato José Serra tem prometido, durante a campanha, manter todos eles, inclusive o Bolsa-Família. O que o senhor acha que ele fará de diferente caso seja eleito?

R.F. - Quando ele (Serra) fala do Bolsa-Família, ele coloca que vai criar todo um programa para que a juventude que está no núcleo familiar do Bolsa-Família tenha uma política para que busquem sua formação técnica e profissional para terem condições de sair do assistencialismo e ir para a produção, através do emprego e do trabalho. Agora deve ficar claro que a minha posição em relação ao Bolsa-Família não é igual à do Serra, até porque eu não penso o que Serra pensa e nem Serra pensa o que eu penso. Cada um de nós tem autonomia, e esse é um dos aspectos pelos quais eu voto em Serra. Nós não pensamos igual, mas eu penso de forma mais parecida ao que pensa Serra do que ao que pensa Dilma, que eu acho que não pensa, e ao que pensa Lula, que eu não concordo.

JC Online - Como o senhor interpretou a posição de independência do PV, que decidiu não apoiar nenhum candidato?

R.F. - Eu respeito a posição, embora ache que foi uma posição equivocada. Não estou dizendo isso porque acho que o correto seria apoiar Serra, não é isso. É que eu acho que todo mecanismo de segundo turno implica que as forças políticas se decidam. Essa posição de independência é uma posição, antes de qualquer outra definição, de omissão. É como se você não tivesse proposto nada ao País. No sistema de dois turnos você busca o projeto político de país que mais se identifica com o que você propôs. Se você não escolhe um dos dois, você parte para a omissão, como se nenhum dos projetos valessem a pena. Como se o seu fosse a única coisa que importasse para o País.

Me engana que eu gosto :: Bolivar Lamounier

"Erros acontecem, a diferença é a atitude em relação ao erro. Investigamos e punimos" . Foi assim que Dilma Rousseff respondeu à pergunta sobre Erenice Guerra, ex-braço-direito dela na Casa Civil, ao ser entrevistada pelo Jornal Nacional.

Especificamente, os entrevistadores quiseram saber como ela pretende evitar que casos semelhantes se repitam em seu governo, se ela vier a ser eleita.

Sim, estamos na reta final para a eleição e não vivemos num mundo de anjos. Eu não sou e ninguém deve ser ingênuo a ponto de imaginar que ela fosse responder com seriedade.

"Erros acontecem", ela sentenciou, e ato contínuo disparou contra Serra, que ao ver dela estaria acobertando o "caso Paulo Preto".

Espertezas à parte, o assunto merece uma reflexão, e acho acertado começá-la no ponto sugerido por Dilma Rousseff : "a diferença é a atitude em relação ao erro".

Que existe um problema de atitude, não cabe dúvida, mas não o que a candidata governista deu a entender. Trata-se, primeiro, da gravidade e da extensão do caso Erenice ; segundo, do metódico trabalho que Lula e a campanha dilmista desenvolveram no sentido de diluir rapidamente o "caso Erenice" .

Em que consiste o caso Paulo Preto ? A "acusação" feita por Dilma Rousseff , no debate da Band, foi que um ex-assessor de Serra teria sumido com cerca de 4 milhões de reais arrecadados para a campanha tucana.

Se isso realmente ocorreu ou não, é um assunto para a polícia. A ela é que cabe apurar os fatos. Mas a própria denúncia petista já indica que o crime, se houve algum, terá ocorrido entre partes privadas.

O affair Erenice Guerra é uma questão completamente distinta ; e basta uma singela recapitulação para se perceber quão inaceitáveis têm sido até aqui as "atitudes sobre o erro" do governo e de sua candidata .

Primeiro, Erenice Guerra não era uma parte privada, era ministra de Estado, ocupava o segundo posto mais poderoso da República, abaixo só do presidente, e trabalhava no próprio Palácio do Planalto .

Segundo, ela foi durante muitos anos assessora e braço-direito da hoje candidata Dilma Rousseff, que a trouxe do Ministério de Minas e Energia para a Casa Civil .

Terceiro, as denúncias que atingiram a ministra Erenice Guerra, assessores e membros de seu círculo familiar referem-se a práticas de intermediação de negócios com o setor público (lobby, "propinoduto") e nepotismo.

Quarto, o governo e a candidata reconheceram por atos e palavras a veracidade parcial ou total das referidas denúncias , tanto assim que ela foi afastada do cargo (ato) e posteriormente atirada aos leões (palavras) tanto por Dilma como pelo próprio Lula.

O apetite dos felinos começou a ser despertado por Lula. Como quem não queria nada, ele deixou escapulir numa entrevista que Erenice pusera a perder a chance de "uma brilhante carreira no serviço público".

E Dilma, com sua habitual sutileza, afirmou, no debate do dia 12 de setembro : "Eu tenho, até hoje, a maior e a melhor impressão da ministra Erenice. O que se tem publicado nos jornais é uma acusação contra o filho da ministra. (.) Agora, eu quero deixar claro aqui: eu não concordo, não vou aceitar que se julgue a minha pessoa baseado no que aconteceu com o filho de uma ex-assessora minha".

E assim a coisa foi indo. Percebendo o tamanho do estrago, Lula foi deixando de lado a desconversa inicial e passando ao ataque, com o evidente propósito de tirar de foco o assunto Casa Civil . No dia 21 de setembro, o jornalista Carlos Alexandre, do Correio Braziliense, fez o relato que transcrevo a seguir; o grifo é meu.

"O calor da disputa eleitoral exacerba as contradições entre a retórica e a prática da Presidência da República e dos colaboradores da campanha de Dilma Rousseff. No palanque, Lula é a voz mais tonitruante contra a imprensa e maestro do coro para desqualificar as denúncias de que se instalou um balcão de negócios na Casa Civil sob supervisão de Erenice Guerra".

"As decisões tomadas em consequência do escândalo, entretanto, reforçam a gravidade das acusações. Não apenas a principal assessora da candidata, mas todo o grupo envolvido foi afastado dos holofotes. Se nada houvesse de comprometedor, não haveria razão para desinfetar os gabinetes do Palácio do Planalto".

Ao Jornal Nacional, Dilma disse que a "diferença" de atitude consiste em que José Serra estaria "acobertando" o caso Paulo Preto, ao passo que "nós investigamos e punimos".

Nós investigamos e punimos. Será ?

Se o que Dilma tinha em mente ao fazer essa afirmação era a investigação interna do Planalto, a cargo da Comissão de Sindicância Investigativa, ela devia ter antes combinado o script com os russos.

O prazo da mencionada comissão expirou domingo . Ontem o ministro-interino Carlos Esteves Lima assinou portaria prorrogando-o por mais 30 dias. Providência oportuna, quando nada porque livra a comissão de eventuais incômodos que poderiam advir da divulgação de seus resultados antes das eleições.

Fonte: Blog do Bolivar

O Brasil é grande :: Zelito Viana

DEU EM O GLOBO

Uma das muitas previsões do profeta Karl Marx que vieram a se comprovar verdadeiras era de que a Rússia seria o último país do mundo a se tornar comunista. Quis a fatalidade histórica que fosse o primeiro a se tornar “socialista” — as aspas vão por conta do fracasso que se tornou a experiência russa. Ser de esquerda naqueles tempos do preto e branco significava um apoio praticamente incondicional à União Soviética, e era de direita qualquer crítica ao regime que se formava naquele país.

Tínhamos explicações e respostas para tudo e acreditávamos saber com absoluta clareza o que era certo (esquerda) e o que era errado (direita).

Com o passar do tempo constatou-se que não era bem assim. Entre o preto e o branco havia muitos tons de cinza.

A queda do Muro de Berlim foi a gotad’água para que os conceitos de esquerda e direita se tornassem cada vez mais complexos e difusos.

No segundo turno das eleições esta velha discussão volta à tona. Os eleitores de Dilma insistem que ela é de esquerda e que votar em Serra é votar na direita.

Desde quando Henrique Meirelles é de esquerda? Ser a favor da transposição do agonizante Rio São Francisco ou da construção da barragem de Belo Monte é ser de esquerda? Desrespeitar instituições democráticas como a imprensa, o Congresso e o Poder Judiciário, de forma sistemática, é ser de esquerda? Desde quando? Será que me enganaram de novo todo este tempo sem eu saber? Pagar as maiores taxas de juros do planeta propiciando aos bancos lucros astronômicos é fazer uma política econômica de esquerda? Apoiar um desvairado e sanguinário Ahmadinejad é fazer uma política externa de esquerda? Ser contra a legalização do aborto e da união estável entre pessoas do mesmo sexo é ser de esquerda? Desviar dinheiro do Tesouro Nacional — dinheiro meu, seu... nosso — para cobrir rombo de caixa da Petrobras é ser de esquerda? Que conversa é essa? Vamos deixar de hipocrisia e dizer que votamos por qualquer outra coisa, menos por defender a esquerda.

Por favor. A esquerda, apesar de se encontrar bastante acuada no momento, pela sua história e pelo respeito a milhões de pessoas que deram sua vida para a construção de uma sociedade mais justa, não merece ser tão vilipendiada. Sem desfazer do voto de ninguém, vamos arranjar argumentos mais sólidos para escolher nosso candidato. Que tal biografia? Que tal vivência política? Que tal competência? Que tal conhecimento da realidade do país? Que tal coerência na vida partidária? Vamos comparar os dois candidatos e escolher com a consciência tranquila, sem essa patrulha idiota e anacrônica de rotular “a” ou “b” de esquerda ou de direita. Como disse Marcelo Cerqueira, o Brasil é grande e nele cabemos todos nós.

Zelito Viana é cineasta.

Lula não cumpriu principal promessa para a Cultura

DEU EM O GLOBO

Compromisso era dar 1% do Orçamento, mas verba é de apenas 0,23%

O presidente Lula vai terminar o governo sem realizar sua principal promessa para a área da Cultura. Em 2003, ele garantiu aos artistas que terminaria o governo destinando no mínimo 1% do Orçamento Geral da União ao Ministério da Cultura, mas a realidade da proposta enviada ao Congresso para o ano que vem é bem diferente: estão previstos recursos de R$ 1,65 bilhão, 0,16% do total. Este ano, a Cultura recebeu R$ 2,23 bilhões - 0,23% dos R$ 947,8 bilhões do Orçamento. Só teve mais recursos que as pastas de Pesca, Esporte, Indústria e Comércio e Relações Exteriores. A candidata petista, Dilma Rousseff, fez campanha em Goiás. O tucano José Serra encontrou-se com Fernando Gabeira no Rio e disse que fez parceria com setores do PV.

Ainda à míngua

Lula não cumpriu promessa de elevar gastos com Cultura a 1% do Orçamento

Cristiane Jungblut

BRASÍLIA - Numa eleição recheada de promessas, artistas se mobilizaram e organizaram uma festa de apoio à candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, mas, nos discursos, não houve críticas aos gastos efetivos com o setor no governo Lula. Em 2003, Lula prometeu ao então ministro Gilberto Gil que a pasta teria uma verba equivalente a 1% do Orçamento. Mas Lula chega ao fim do governo sem cumprir a promessa, embora os gastos com Cultura tenham crescido. Em 2003, o orçamento do Ministério da Cultura era de 0,08% do total. Este ano, o Ministério da Cultura recebeu R$ 2,23 bilhões, 0,23% dos R$ 947,8 bilhões do total, incluindo gastos com pessoal, custeio e investimentos.

Em 2011, o Ministério da Cultura tem um orçamento previsto de R$ 1,65 bilhão, o equivalente a 0,16% do bolo total de R$ 1,009 trilhão de despesas do Executivo. Para o próximo ano, o orçamento da Cultura deverá aumentar, já que, tradicionalmente, o Congresso eleva os gastos do setor, por meio de emendas de deputados e senadores.

Em 2010, o Ministério da Cultura ficou com o quinto menor orçamento, à frente apenas de Pesca; Esporte; Indústria e Comércio; e Relações Exteriores. Já em 2011, a Cultura ficará com a terceira pior posição, na frente apenas dos ministérios da Pesca e do Esporte.

Se consideradas as verbas destinadas apenas a investimento, sem incluir gastos com pessoal, por exemplo, o Ministério da Cultura recebe menos de 0,6% do total previsto para todo o governo. Segundo dados do Ministério do Planejamento, apresentados pelo ministro Paulo Bernardo ao Congresso, a Cultura tem R$ 831,4 milhões disponíveis em 2010 para investimentos — apenas 0,51% do total de R$ 160,2 bilhões fixados para despesas discricionárias do Poder Executivo. Para 2011, há previsão de R$ 1,13 bilhão para investimentos, ou 0,58% dos R$ 194,3 bilhões para investimentos no Executivo


Governo diz que verba tem crescido

O discurso do governo é que os recursos para a Cultura vêm aumentando ano a ano e que a promessa de Lula está praticamente cumprida. O ministério prefere usar outro tipo de comparação, considerando as receitas de impostos.

Mas, ontem, a Cultura não informou qual o valor exato utilizado nas contas e prometeu uma informação para hoje. A Comissão Mista de Orçamento também aponta elevação dos recursos investidos em cultura.

Na verdade, o setor cultural tem precisado contar com a boa vontade dos parlamentares para aumentar sua verba. Em 2010, por exemplo, o Planejamento propôs um orçamento de R$ 1,38 bilhão, que foi engordado com emendas parlamentares para R$ 2,23 bilhões. Para 2011, o governo enviou uma proposta de R$ 1,65 bilhão, contra o R$ 1,38 bilhão sugerido para este ano. Em 2009, a Cultura precisou contar novamente com a ajuda dos parlamentares. O governo propôs R$ 1,18 bilhão, e o resultado final foi uma verba de R$ 1,36 bilhão. Segundo a Comissão Mista de Orçamento, o valor efetivamente pago em 2009 (liquidado) ficou em R$ 1,22 bilhão — ou seja, não foi gasta toda a verba prevista.

Em 2009, o investimento em Cultura dentro do Orçamento foi de R$ 797,4 milhões — ou 0,53% do total de R$ 148,2 bilhões fixados para as despesas discricionárias.

Padilha não assinou manifesto pró-Dilma

DEU EM O GLOBO

Diretor de "Tropa de elite 2", José Padilha negou estar apoiando Dilma Rousseff - embora tenha sido incluído no manifesto de artistas a favor dela. Em nota, o cineasta disse que "a falta de crítica e de compromisso com a verdade" marca os dois candidatos. O sociólogo Emir Sader, que redigiu o manifesto, disse ter sido informado do apoio de Padilha. A CUT admitiu o erro.

Diretor de "Tropa" não aderiu a manifesto

Padilha diz que não apoia candidatura de Dilma, como fora divulgado pela campanha

Fabio Brisolla e Adauri Antunes Barbosa

RIO, SÃO PAULO E GOIÂNIA. O encontro da candidata do PT, Dilma Rousseff, com artistas e intelectuais renovou o ânimo de parte da militância do partido, mas resultou em irritação no caso do cineasta José Padilha, diretor do blockbuster Tropa de Elite 2. O nome de Padilha acabou incluído indevidamente no manifesto de pessoas a favor da candidatura de Dilma, divulgado na noite de segunda-feira durante a evento promovido no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon.

Ontem à tarde, Padilha publicou uma nota no site oficial do filme “Tropa de Elite 2”, onde negou seu apoio à candidatura de Dilma.

No texto, o diretor criticou a postura adotada pelas duas campanhas que disputam a eleição presidencial.

E frisou: “Não pertenço a nenhum partido político, agremiação, sindicato ou lista de apoio a candidatos, na qual eu não tenha me inscrito voluntariamente”.

Ele prosseguiu esclarecendo que, diferentemente das informações divulgadas em sites e pelo Twitter, não aderiu “a candidato algum nesta eleição pelos motivos explícitos em Tropa de Elite 2.” E encerrou a nota com um desabafo: “É uma pena que a falta de crítica e de compromisso com a verdade esteja sendo a principal marca dos dois lados desta campanha presidencial. Um desrespeito ao eleitor brasileiro.” O manifesto de artistas e intelectuais a favor da candidatura de Dilma foi redigido pelo sociólogo Emir Sader, com a participação do escritor e jornalista Eric Nepomuceno e do teólogo Leonardo Boff, os três principais articuladores do encontro realizado no Rio. A maioria dos nomes listados no documento impresso em quatro páginas, que trazia uma foto de Dilma na capa, foi confirmada por mensagens de e-mail.

Ao tentar explicar a inclusão de Padilha no manifesto, Sader preferiu não se estender sobre o assunto.

— Eu recebi a informação com a confirmação de Padilha. Mas se ele diz que não, então tudo bem — explicou o sociólogo, que não lembrou quem havia encaminhado a confirmação de Padilha.

O documento impresso distribuído pelos organizadores do encontro com artistas e intelectuais tinha aproximadamente 5 mil assinaturas.

Porém, já na segunda-feira, Sader informou que o número de confirmações no manifesto através da internet já ultrapassava a marca de 10 mil nomes. A lista reúne centenas de acadêmicos ligados a universidades de todo o país, além de músicos, atores e muitos profissionais ligados ao cinema.

Ruy Guerra, Murilo Salles, Eryk Rocha, Roberto Berliner e Mariza Leão estão entre os cineastas presentes. Todos os citados acima, no entanto, confirmaram o apoio à candidata do PT.

O encontro no Teatro Oi Casagrande contou ainda com uma presença inesperada, a cantora Elba Ramalho. Ela votou em Marina Silva no primeiro turno e, em entrevista ao GLOBO, logo no começo do segundo turno, disse que agora pretendia votar em Serra.

— Nunca declarei oficialmente que ia votar no Serra. Passei a acompanhar os debates e gostei da Dilma — disse Elba anteontem, apesar de ter dito, sim, que votaria em Serra.

O suposto apoio de José Padilha ao PT causou repercussão até mesmo na Central Única dos Trabalhadores (CUT). O presidente da entidade, Artur Henrique, chegou a postar a seguinte mensagem na internet: “Diretor de Tropa de Elite, Chico Buarque, Zeca Pagodinho e muitos outros estão com Dilma. E você?”.

Posteriormente, o dirigente da CUT disse que cometeu um equívoco ao anunciar em seu blog e no Twitter que Padilha estaria apoiando a candidatura de Dilma. Ele disse que incluiu a informação no blog baseado na lista divulgada no Rio.

Em Goiânia, questionada sobre nota de Padilha, a candidata do PT disse que desconhecia o assunto.

— Eu não sei. Eu não pedi o apoio de ninguém. Agora, se ele (Padilha) não quer assinar, perfeitamente, ele tem todo o direito de não assinar — limitou-se a dizer Dilma, antes de seguir para o comício ao lado do presidente Lula.

José Padilha: 'Houve uma blitz de um grupo que apoia a Dilma'

DEU EM O GLOBO

Entrevista

Ao ficar sabendo que seu nome tinha sido indevidamente incluído na lista de apoiadores de Dilma, o cineasta José Padilha levou um susto e não quis acreditar.

Até então, não deixara qualquer dúvida, a todos que o pressionaram a assinar o manifesto, de que não iria associar o seu nome à campanha. Atordoado, ligou para amigos, buscando conselhos sobre o que fazer. Chegou a pensar em processar o PT, mas desistiu. Preferiu, na manhã seguinte (ontem), divulgar uma nota pelo blog, aberta com uma citação do escritor e filósofo americano Henry David Thoreau, autor do célebre ensaio “Desobediência civil”.

Luiz Antônio Novaes

O GLOBO: Se você não assinou o manifesto, como seu nome foi parar na lista anunciada ontem (segundafeira) à noite?

JOSÉ PADILHA: Não sei. É o que eu quero descobrir. Ou é coisa de má-fé ou babaquice

Mas alguém o procurou para tentar convencê-lo a assinar?

PADILHA: Sim. Recebi um e-mail de um amigo, cujo nome prefiro não dizer, perguntando se eu queria assinar. Eu fui claro e direto: “Não, muito obrigado. Eu não quero politizar o meu filme. Os dois partidos, nestas eleições, não têm política de segurança pública”.

E como ficou sabendo que estava na lista?

PADILHA: Fui avisado por alguém que foi ao ato. Liguei imediatamente para o meu amigo, que, para provar que não tinha me incluído indevidamente, me mandou a lista original, com mais de cinco mil nomes. Eu, de fato, não estava lá. Ou seja: meu nome só entrou na última hora, numa lista que fizeram à parte, com os que consideraram mais destacados apoiadores da Dilma. Algum zé-mané fez isso.

Não houve outro tipo de pressão para você assinar? Ninguém do governo ou do comando da campanha o procurou?

PADILHA: O que houve, nos últimos dias, foi uma blitz de um grupo que apoia a Dilma. Recebi apelos de umas 200 pessoas...

Todos artistas?

PADILHA: Sim, do meio. Para todas elas, eu disse o mesmo: esta é uma campanha marcada pela falta de ética e pela mentira dos dois lados. A Dilma mente quando diz que é contra o aborto, e o Serra mente quando fala que acredita em Deus. Eu, pelo menos, não acredito em nenhum dos dois.

E em nenhuma conversa chegaram a dizer abertamente ou a insinuar que, caso não assinasse, você ou o setor de cinema poderia enfrentar problemas com o governo, problemas de verba, de financiamento de filmes?

PADILHA:
Não, se fizessem isso seria inútil. Sabiam que eu não cederia.

Se todos conheciam a sua posição, o que pode ter pensado quem incluiu seu nome na lista? Que, no fundo, você iria se calar com medo de represálias?

PADILHA: Não sei se pensou assim. E não quero pensar isso, pois estaria pensando como eles. Sinceramente, não sei.

Se fizeram isso com você, um cineasta em total evidência, num ponto alto da carreira, o que podem ter feito com outros artistas não tão fortes assim?

PADILHA: Não sei. Vamos ter de descobrir o que houve.

Rio verá atos de Dilma e Serra neste domingo

DEU EM O GLOBO

Tucano faz passeata com Aécio na Zona Sul. Petista prepara carreata com Lula na Zona Oeste

O Rio foi escolhido como cenário de guerra em busca de votos, no próximo domingo, pelos candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Os dois preparam grandes atos para tentar atrair os 11,5 milhões de eleitores do estado. Serra terá a seu lado os senadores eleitos Aécio Neves (PSDB) e Itamar Franco (PPS) e governadores. Já Dilma fará uma carreata com o presidente Lula, o governador Sérgio Cabral e outros líderes.

A passeata de Serra está prevista para sair às 10h do Posto 6, em Copacabana, Zona Sul, e seguirá em direção ao Leme. O evento está sendo organizado pelo candidato a vice, Indio da Costa (DEM). Em outra frente, 16 deputados da aliança farão corpo a corpo pró-Serra na Baixada Fluminense, interior e Zona Oeste na última semana antes das eleições. Além de Aécio e Itamar, são esperados os governadores eleitos Antônio Anastasia (MG), Beto Richa (PR) e Geraldo Alckmin (SP).

A campanha de Dilma ainda não decidiu o local da concentração.

Segundo petistas, ela fará carreata na Zona Oeste. Além de Lula e Cabral, terá os senadores eleitos Marcelo Crivella (PRB) e Lindberg Farias (PT), que ontem se reuniram com prefeitos do estado.

Cabral minimizou o fato de o PSDB também organizar ato no Rio. Segundo Cabral, Aécio é seu amigo e acha importante o Rio estar no centro da campanha: — Aécio é sempre bem vindo.

Mas o povo do Rio sabe que o melhor para o Rio é Dilma.

Tucano fala de parceria com Cabral

DEU EM O GLOBO

Cassio Bruno

No Rio, junto com Gabeira, Serra afirma ter boa relação com governador
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, defendeu ontem, no Rio, a parceria com o governador reeleito Sérgio Cabral (PMDB), aliado de sua adversária Dilma Rousseff (PT). Ao lado do candidato derrotado ao governo, Fernando Gabeira (PV), Serra afirmou ter boa relação com CabraL, que, também ontem, se reuniu com prefeitos em um manifesto pró-Dilma: mdash; Não olho a cor da carteirinha partidária nem preferências de alianças que não são minhas para efeito de governar — disse Serra.

— Pessoalmente, tenho uma boa relação com o atual governador e essa relação vai se manter do ponto de vista administrativo.

Segundo o tucano, caso seja eleito, no Rio de Janeiro serão feitas parcerias entre governos federal, estadual e as prefeituras, para a realização da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016: — Vamos investir no Rio, inclusive para fazer a Olimpíada de maneira que sirva ao desenvolvimento do Rio de Janeiro, do ponto de vista econômico e social, começando pelo saneamento básico na Baixada Fluminense e na Baía de Guanabara, além de investimentos em obras viárias — frisou.

Serra acusou a CUT de privatizar a Petrobras. Foi um contraponto ao que vem afirmando o presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli, e a campanha da petista Dilma Rousseff. Eles têm acusado o governo Fernando Henrique de ter enfraquecido a empresa para privatizá-la: — Trata-se do cotidiano do trabalho do PT, que é manipular as entidades sindicais.

É a privatização da Petrobras no sentido de servir ao partido e não, no caso, aos servidores, aos filiados do sindicato e à população brasileira — atacou.

O tucano — que ontem fez campanha no Rio ao lado do deputado federal Fernando Gabeira (PV) — comentou ainda sua aliança com alguns setores do PV, e disse que sempre trabalhou com os verdes quando foi prefeito e governador de São Paulo: — Temos ligações de trabalho em função do meio ambiente.

Agora estamos fazendo uma aliança pela sustentabilidade do desenvolvimento.

Comitê do PT tem panfleto contra mulher de Serra

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Natuza Nery e Nancy Dutra

BRASÍLIA -Panfletos apócrifos contra Monica Serra, mulher do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, foram encontrados ontem na recepção do comitê de Dilma Rousseff (PT) em Brasília.

O material reproduz reportagem da Folha com relatos de ex-alunas de Monica, de que ela teria feito um aborto quando no exílio. A assessoria do PSDB nega.

A assessoria da candidata afirmou que nem o PT nem a campanha estão distribuindo panfleto contra o adversário e que a campanha desconhece como o material chegou à sua sede.

Sob título fictício "Esposa de Serra já fez aborto", o folheto traz reportagem publicada pela Folha no último sábado, com relatos de duas ex-alunas de Monica.

Segundo elas, a então professora de dança da Unicamp teria confidenciado ter feito um aborto nos tempos de exílio no Chile com o marido. Ainda no primeiro turno, Monica Serra afirmou que Dilma era a favor de "matar criancinhas", segundo a Agência Estado.

Os panfletos estavam sobre a mesa da recepcionista do QG petista em uma pilha com cerca de 60 exemplares. Também constava do panfleto a frase: "Serra fala uma coisa e faz outra. Serra, homem de mil caras!"

A reportagem pediu para pegar uma cópia, ao que a secretária do local respondeu: "É para pegar mesmo".

A mesma versão do documento anti-Serra teria sido distribuída em Sobradinho, cidade satélite da capital.

Moradores confirmaram à Folha que passaram a receber o panfleto em suas caixas de correio já no domingo, um dia depois da reportagem. Um deles afirmou ter recebido o papel das mãos de um entregador, mas não soube indicar os eventuais autores.

O episódio acontece num momento em que o PT acusa a campanha de Serra de estar por trás da produção de 1 milhão de panfletos contra Dilma. A Polícia Federal apreendeu o material.

A gráfica que imprimia os jornais contra a petista pertence à irmã de Sérgio Kobayashi, coordenador de infraestrutura da campanha do presidenciável tucano.

MP denuncia tesoureiro do PT no caso Bancoop

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O Ministério Público de São Paulo pediu abertura de processo contra o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Ele é acusado de formação de quadrilha, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro quando dirigia a Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop) de São Paulo, fundada em 1996 por núcleo do PT. A defesa de Vaccari nega tudo.

Promotor denuncia tesoureiro do PT por crime de lavagem de dinheiro

Além de João Vaccari Neto, Ministério Público acusa à Justiça outros cinco ex-dirigentes da Bancoop e pessoas ligadas a fornecedoras da cooperativa por suposto rombo de R$ 168 milhões; todos são alvo de pedido de bloqueio de bens

Fausto Macedo

O Ministério Público denunciou ontem à Justiça e requereu abertura de processo contra o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, por formação de quadrilha, estelionato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro - crimes que ele teria praticado como diretor administrativo da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop) de São Paulo, fundada em 1996 por um núcleo do PT.

Em 81 páginas, o promotor José Carlos Blat aponta rombo nos cofres da Bancoop no montante de R$ 68 milhões e prejuízos a 1.126 cooperados que não receberam suas unidades no valor de R$ 100 milhões. Parte do desvio, diz o promotor, teria abastecido caixa 2 de campanhas do PT.

Além de Vaccari, há outros cinco denunciados - Ana Maria Érnica, Tomás Edson Botelho Fraga, Letycia Achur Antonio, Henrique Rodrigues de Oliveira e Helena da Conceição Pereira Lage -, ex-dirigentes da Bancoop e ligados a fornecedoras da cooperativa. A denúncia foi distribuída à 5.ª Vara Criminal da capital. O promotor pediu quebra do sigilo bancário e fiscal de Vaccari e dos demais citados. Solicitou também bloqueio de bens do petista.

Blat depôs ontem durante cerca de 4 horas à CPI da Bancoop na Assembleia em sessão marcada por tensão e provocações. Cerca de 100 cooperados lotaram o plenário e vaiaram petistas que acusaram o promotor de agir movido por interesses eleitorais a serviço do PSDB. "A denúncia do promotor tem tintas tucanas", disse o deputado Vanderlei Siraque (PT). "São tintas da Justiça e lágrimas de 3 mil cooperados lesados", rebateu Blat.

Vaccari foi diretor-administrativo e financeiro da Bancoop, cargo que assumiu em substituição a Ricardo Berzoini, fundador da Bancoop. Depois, Vaccari ocupou a presidência da entidade até afastar-se, em março passado, para ser tesoureiro do PT.

Blat investiga a Bancoop desde 2007. Ele afirma ter identificado "negócios escusos, absurdos" com recursos dos cooperados. "O esquema para ocultação dos valores provenientes de estelionato consumado através da quadrilha que se estabeleceu na direção da Bancoop contava com sofisticada manipulação de dados dos balanços contábeis."

O promotor sustenta que "a utilização da empresa fantasma Mizu Gerenciamento pela organização criminosa serviu para captação de recursos da Bancoop e destinação para campanhas políticas eleitorais do PT". Mapeamento parcial aponta repasse de R$ 200 mil para o PT. "Planilhas de controle financeiro da Mizu permitiram detectar lançamentos com a rubrica "doação PT"", disse Blat.

A Germany Construtora, fornecedora da Bancoop, teria movimentado R$ 50 milhões ilegalmente. "A Bancoop pode ser qualquer coisa, menos cooperativa. É um verdadeiro balcão de negócios criminosos." Ele anota que entradas de recursos lícitos na conta denominada Pool, no Bradesco, de titularidade da Bancoop, movimentou R$ 323,9 milhões de créditos e R$ 324,7 milhões em débitos "onde se depreende uma série de cheques, transferências eletrônicas e bancárias que impossibilitam a destinação de aludidos recursos".

A base da acusação são 70 depoimentos e o laudo 39/2010, do Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro, da Procuradoria-Geral de Justiça. Para rastrear 8 mil cheques, os auditores usaram programa semelhante ao do FBI e da polícia da França. Blat, que classifica a Bancoop como "verdadeira organização criminosa", juntou 60 anexos de documentos bancários e fiscais.

O pente fino pegou "movimentações escandalosas". Blat citou despesas de R$ 105,7 mil no hotel Grand Hyatt São Paulo em reservas feitas pela direção da cooperativa nos GPs de F-1 de 2004 e de 2005. A investigação mostra repasse de R$ 50 mil da Bancoop para um centro espírita. "O dinheiro começou a sangrar dos cofres da Bancoop a partir de 2002 e os picos de movimentação foram até 2005", acusa o promotor. "Uma parte foi para o PT."

CASO BANCOOP

Setembro/2006
Estado noticia que o Ministério Público de São Paulo investiga denúncias de irregularidades na cooperativa criada pelo ex-presidente do PT, Ricardo Berzoini

Março/2008
Reportagem do Estado informa que promotor José Carlos Blat encaminhou à Procuradoria documentos que indicariam uso da Bancoop para caixa 2 do PT

Junho/2008
Estado informa que morte de Luiz Malheiro por acidente de carro será investigada. Irmão diz que ele teria sido alertado para reforçar segurança

Abril/2009
Promotor João Lopes Guimarães Jr. pede condenação dos responsáveis pela Bancoop ao pagamento de indenização por danos morais e materiais

Março/2010
O Ministério Público pede a quebra de sigilo do presidente licenciado da Bancoop e também tesoureiro do PT, João Vaccari Neto

Agosto/2010
Justiça decreta bloqueio de ativos financeiros de Vaccari a pedido de cooperados que alegam terem sido lesados. Valor congelado chega a R$ 73,8 mil

Dilma assinou duas nomeações de novo investigado para postos no governo

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Suspeito de ter participado do lobby na Casa Civil, o assessor Gabriel Laender foi beneficiado diretamente pela então ministra Dilma Rousseff para conseguir um cargo dentro do governo.

Laender é procurador no Espírito Santo e atuou como advogado da Unicel, empresa na qual o marido de Erenice Guerra era diretor.

Erenice, que era braço direito de Dilma e assumiu seu lugar, deixou o comando da Casa Civil após as acusações de lobby na pasta envolvendo a empresa de seus filhos.
Gabriel Laender foi convidado para trabalhar no governo em 11 de fevereiro de 2009, em ofício assinado por Dilma. No pedido enviado à Procuradoria, a então ministra pede que "seja examinada a possibilidade de colocar Laender à disposição da Presidência da República".

No ofício, informa-se que ele receberá comissão de R$ 6.843,76, uma das mais altas dentro da burocracia estatal, "sem prejuízo da remuneração e das vantagens" do cargo de procurador, cujo salário é de R$ 11.049.

Em 20 de março de 2009, Laender assumiu cargo na SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), vinculada à Presidência. Foi do computador de Laender que partiram os acessos suspeitos com a senha de Vinícius Castro, ex-assessor da Casa Civil que era sócio na empresa de lobby dos filhos de Erenice.

A Folha apurou que depois dos acessos suspeitos, que aconteceram em outubro de 2009, Laender passou a trabalhar informalmente na Casa Civil. Continuava como servidor da SAE, mas dava expediente na Casa Civil.

Dilma, então, intercedeu mais uma vez. Conseguiu tirar Laender da SAE para levá-lo para a secretaria-executiva da Casa Civil, sob o comando direto de Erenice. Um cargo foi criado só para ele.

Foi Dilma quem assinou decreto em 13 de janeiro de 2010 que fez uma triangulação dentro do governo: transferiu um cargo da SAE para o Ministério do Planejamento, e o ministério transferiu esse cargo para a Casa Civil.

Uma semana depois, Laender foi realocado da SAE para a Casa Civil, passando, então, a trabalhar lado a lado com Vinícius Castro.

A Folha apurou que Erenice dizia com frequência que Laender era um "homem dela" no governo. A nomeação do procurador foi assinada por Erenice, então secretária-executiva da Casal Civil.

O procurador Gabriel Laender é o único nome ligado à família de Erenice que sobreviveu na Casa Civil após o escândalo.

Atualmente, é um dos coordenadores do plano de banda larga. A Folha apurou que ele foi preservado porque só pesava contra ele o fato de ter advogado para o marido de Erenice. (FC e AM)

PF liga quebra de sigilo fiscal de tucano à pré-campanha de Dilma

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Escândalo da receita: Despachante diz que intermediou compra para jornalista que atuou na equipe de inteligência

Investigação da Polícia Federal fez conexão entre a quebra dos sigilos fiscais de várias pessoas ligadas ao candidato José Serra (PSDB) e o dossiê preparado pela chamada "equipe de inteligência" da pré-campanha de Dilma Rousseff (PT).

A PF descobriu que o jornalista Amaury Ribeiro Jr. encomendou a compra de informações obtidas ilegalmente ao despachante Dirceu Garcia, que, em depoimento, confirmou ter recebido R$ 12 mil pelo trabalho.

O jornalista sempre negou que estivesse trabalhando para a pré-campanha de Dilma. Ele, no entanto, participou de reunião da "equipe de inteligência" no dia 20 de abril. O flat em que Ribeiro Jr. se hospedava em Brasília era pago pelo PT.

A quebra de sigilo fiscal de tucanos foi revelado pela Folha em junho.

PF liga quebra de sigilo à pré-campanha de Dilma

Segundo inquérito, jornalista ligado ao "grupo de inteligência" pagou por dados

Despachante admitiu ter recebido R$ 12 mil por informações fiscais de tucanos encontradas na pré-campanha do PT

Leonardo Souza

BRASÍLIA - Investigação da Polícia Federal fez conexão entre a quebra do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao candidato José Serra (PSDB) e o dossiê preparado pelo chamado "grupo de inteligência" da pré-campanha de Dilma Rousseff (PT).

A PF já descobriu quem encomendou as informações: o jornalista Amaury Ribeiro Jr., ligado ao "grupo de inteligência".

Também identificou o homem que intermediou a compra dos dados obtidos ilegalmente em agências da Receita no Estado de São Paulo. Trata-se do despachante Dirceu Rodrigues Garcia.

O elo foi estabelecido a partir do levantamento de ligações entre o despachante e o jornalista revelado pelo cruzamento de extratos telefônicos obtidos pela PF com autorização judicial.

O uso de informações confidenciais de tucanos no dossiê petista foi revelado pela Folha em junho.

Em depoimento à polícia neste mês, Garcia confirmou que Amaury pagou pelos dados da filha e do genro de Serra, Verônica e Alexandre Bourgeois, do dirigente tucano Eduardo Jorge e de outros integrantes do PSDB. O despachante disse ter recebido R$ 12 mil pelo trabalho.

O "grupo de inteligência" era responsável pelo levantamento de informações e confecção de dossiês que pudessem ser usados na campanha contra os adversários.

Amaury até hoje negava que estivesse trabalhando para a campanha do PT. Mas ele participou de reunião da "equipe de inteligência" em 20 de abril deste ano, num restaurante de Brasília.

Na época, o responsável pela comunicação da pré-campanha de Dilma era o jornalista Luiz Lanzetta, que participou do encontro. O flat em que Amaury estava hospedado em Brasília era pago pelo partido.

Desde que a existência do grupo foi revelada pela revista "Veja", Amaury atribui a uma ala do PT o furto de informações de seu computador pessoal e o vazamento "por interesse político".

Em um primeiro momento, o despachante Garcia afirmou à PF não ter envolvimento com o caso. Mas, confrontado com o histórico de telefonemas dele com Amaury, admitiu o pedido e a execução dos serviços.

A investigação foi aberta a partir de reportagem da Folha revelando que cópias de cinco declarações de renda de Eduardo Jorge faziam parte do dossiê que circulava entre pessoas ligadas ao "grupo de inteligência".

Ontem, a advogada de EJ foi à Superintendência da PF em Brasília para obter novas informações e cópias de depoimentos do inquérito.

Segundo a investigação, quando os dados dos tucanos foram encomendados em outubro de 2009, Amaury ainda mantinha vínculo profissional com o jornal "O Estado de Minas".

O PT atribui ao diário proximidade política com o ex-governador tucano Aécio Neves, eleito senador.

A partir de depoimentos e cruzamentos telefônicos, a PF mapeou a cadeia da quebra dos dados fiscais.

Amaury não só fazia a encomenda, segundo a PF, como ia a São Paulo buscar os documentos. As viagens eram pagas pelo jornal.

Garcia fazia contato com o office-boy de São Paulo Ademir Cabral. Este acionava um outro despachante, Antonio Carlos Atella.

Atella tinha dois caminhos para obter os dados. O primeiro por meio da falsificação de uma solicitação de cópia de documentos da Receita. O segundo era contatar o despachante Fernando Araújo Lopes.

Segundo a PF, Lopes pagava Adeildda dos Santos, funcionária lotada na agência da Receita em Mauá (SP), que acessou os dados.

Sindicância aponta novos elos do caso Erenice na Presidência

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Sindicância do governo indica que o esquema comandado por Israel. filho da ex-ministra Erenice Guerra, não usava só a estrutura da Casa Civil, relatam Andreza Matais e Filipe Coutinho.

Segundo a investigação, o grupo de Israel, acusado de tráfico de influência, usou PCs e funcionários da Secretaria de Assuntos Estratégicos e do Gabinete de Segurança Institucional.
A sindicância deveria ter sido concluída no domingo, mas foi adiada para depois da eleição. Ex-braço direito de DUma Rousseff. Erenice deixou a Casa Civil em setembro, após as denúncias.

Citado na investigação, Gabriel Laender, que foi da SAE e hoje é assessor da Casa Civil, negou relação com o esquema. O governo alegou sigilo e disse que não se pronunciaria.


Grupo de Erenice agia em outros 2 órgãos

Sindicância apura que computadores da SAE e do GSI, ligados à Presidência, foram usados por investigados

Investigações incluem Gabriel Laender, ligado à ex-ministra, que teria ajudado na elaboração dos contratos de lobby

Andreza Matais e Filipe Coutinho

BRASÍLIA - O esquema de tráfico de influência comandado pelo filho da ex-ministra Erenice Guerra usava não apenas a estrutura da Casa Civil mas também a de pelo menos outros dois órgãos da Presidência da República: a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos) e o GSI (Gabinete de Segurança Institucional).Computadores e funcionários dessas outras duas repartições foram utilizados pelo grupo de amigos de Israel Guerra, filho de Erenice que era peça central do contato de empresários com negócios do governo -cobrando uma "taxa de sucesso" pelo tráfico de influência.

Erenice deixou o governo em 16 de setembro depois de a Folha publicar que ela recebeu na Casa Civil um empresário levado pelos lobistas do esquema, que cobravam para viabilizar um empréstimo para um projeto de energia eólica no BNDES.

Esses novos braços do tráfico de influência foram identificados pela sindicância interna do Planalto que investiga a participação de servidores no esquema de tráfico de influência no órgão e cuja investigação corre em sigilo.

A comissão pediu mais 30 dias para concluir os trabalhos que deveriam ter sido encerrados no domingo. Com isso, o resultado só será divulgado após a eleiçãoA comissão descobriu que o computador que era utilizado por Gabriel Laender na SAE foi acessado várias vezes com a senha de Vinícius Castro, ex-assessor da Casa Civil e sócio de um filho de Erenice na Capital, empresa da família Guerra que intermediava negócios com o governo.

Castro pediu demissão depois que seu nome foi associado ao esquema de lobby.Documento ao qual a Folha teve acesso mostra que o disco rígido desse computador, da marca Seagate, número de patrimônio 131.817, foi levado pela comissão de sindicância no dia 6 de outubro -logo após o primeiro turno das eleições.

Antes de ir para o Planalto, Laender foi advogado da empresa de telefonia Unicel, na qual o marido de Erenice é consultor. A Folha revelou que essa empresa foi beneficiada pela Presidência da República em 2007, com Dilma e Erenice na Casa Civil.

Atualmente, Laender é um dos responsáveis pelo Plano Nacional de Banda Larga, menina dos olhos do governo, que visa universalizar o acesso à internet no país.O uso do computador de Laender com a senha de Vinícius Castro abre pelo menos duas possibilidades.

Ou o advogado usava a senha do colega para ter acesso ao sistema interno da Casa Civil e aos arquivos de Vinícius em rede, ou Vinícius saía do prédio da Casa Civil e, de dentro da SAE, em outro prédio da Esplanada, usava o computador de Laender para acessar seus arquivos.

A Folha apurou que uma das hipóteses levantadas na Casa Civil é que Laender tenha ajudado a redigir os contratos da empresa de Israel Guerra e Vinícius Castro, que incluía a "taxa de sucesso".

Procurador de Justiça no Espírito Santo, Laender tinha mais experiência jurídica que os outros do grupo.

PAGAMENTOS

Uma pessoa que acompanha a sindicância diz que os acessos do computador de Gabriel Laender com a senha de Vinícius Castro foram feitos em outubro de 2009.Em seu depoimento à Polícia Federal, o representante da MTA Linhas Aéreas, Fábio Baracat, disse que foi a partir daquele mês que começou o pagamento para a empresa dos filhos de Erenice.

A MTA contratou a empresa para intermediação de negócios na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e nos Correios, conforme reportagem publicada pela revista "Veja" que desencadeou a crise na Casa Civil.

A partir dos primeiros rastreamentos, a sindicância descobriu que 12 computadores foram utilizados com as senhas de Castro, Stevan Knezevic e Erenice Guerra.

Uma das máquinas ficava no Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia), onde estava lotado Stevan Knezevic.

O órgão é ligado ao Sistema Brasileiro de Inteligência, subordinado ao GSI.

Knezevic, que seria sócio oculto de Vinícius e dos filhos de Erenice no esquema de tráfico de influência, deixou a Casa Civil após o escândalo e voltou para a Anac.

Ele, Vinícius e Israel, filho de Erenice, trabalharam na Anac antes de os dois primeiros seguirem para a Casa Civil por indicação do filho de Erenice Guerra.

Os empresários Rubnei Quícoli e Fábio Baracat disseram à Polícia Federal que ele era apresentado como "advogado" da Capital Assessoria, a empresa de lobby.
Os responsáveis pela sindicância ainda não decidiram se abrirão os arquivos dos computadores ou deixará essa tarefa para a Polícia Federal, que inestiga o caso.

Apesar de Erenice não estar oficialmente entre os investigados, a Folha apurou que a senha dela também foi rastreada. Além de dois computadores de mesa, Erenice também usava um notebook.

Todos os equipamentos foram levados para uma sala do Palácio do Planalto.

Sergio Guerra acusa Vox Populi de fazer pesquisa 'sem-vergonha'

Agência Estado

Daiane Cardoso

No dia em que uma nova rodada da Pesquisa Vox Populi apontou 12 pontos de vantagem da petista Dilma Rousseff sobre o candidato tucano José Serra, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, acusou a instituição de trabalhar para o governo e para o PT. Em entrevista à imprensa nesta manhã em São Paulo, o dirigente chamou o levantamento divulgado hoje "de pesquisa sem-vergonha" e afirmou que o instituto promove uma "poderosa" ação combinada para interferir na intenção de voto.

De acordo com Guerra, o erro do instituto de pesquisa no primeiro turno (que indicava a vitória de Dilma Rousseff em 3 de outubro) prova que houve uma manipulação dos dados. "Não dá para acreditar que foi um erro. Foi uma safadeza, uma falta de respeito pelas instituições brasileiras", acusou.

Segundo o dirigente, institutos de pesquisa, como Vox Populi, fizeram um trabalho sistemático contra as campanhas dos aliados do PSDB no primeiro turno e repetem a estratégia do que ele chamou "de nova conspiração." Para ele, os "institutos de pesquisa se tornaram campanhas eleitorais." A preocupação do partido, enfatizou Guerra, é que a repercussão das pesquisas na imprensa interfira na escolha dos eleitores e afete o ânimo dos militantes. "É uma ação irresponsável e leviana de uma instituição que não tem neutralidade", afirmou.

Guerra afirmou que o partido não pretende entrar com uma ação judicial para impedir a divulgação de novas pesquisas do instituto Vox Populi, embora tenha alegado que a repercussão desse tipo de pesquisa deixa a democracia brasileira comprometida. "Não dá para aceitar calado que uma instituição como essa, que trabalha para o governo, que faz a campanha do governo, do PT, atue impunemente", disse. No final, o tucano mandou um recado para o presidente do instituto: "Marcos Coimbra não vai eleger o presidente da República, ele não é o povo", afirmou.

Tracking desmente Vox Populi

Olha o tracking aí, gente

Calma, pitaqueiros, finalmente consegui conversar com nosso amigo marqueteiro sobre os números do Vox Populi, o tal instituto contratado pelo PT que vem fazendo parte da campanha, no setor de propaganda.

Não preciso dizer que nosso amigo deu uma risada daquelas e me autorizou a passar a seguinte informação a vocês todos:

“O tracking continua dando empate entre as duas candidaturas, mesmo quando é aplicado o nosso deflator, que dá mais cinco pontos a Dilma, para haver o encontro entre a pesquisa telefônica e a de campo. Ou seja, estamos de fato em uma situação de empate técnico, porque, no tracking, Serra está um pouco à frente de nossa adversária”.

O deflator é para que se tenha segurança nos dados, essenciais para orientar a estratégia de campanha e inibir o “oba-oba”. Se não fosse aplicada essa medida de segurança, no tracking, Serra já estaria à frente, fora da margem de erro.

É salutar compreender que o deflator aproxima os resultados da pesquisa telefônica, na metodologia utilizada pelo tracking, das pesquisas de campo SÉRIAS. Como sempre dissemos, o mais importante é detectar as ordens de grandeza e para onde as curvas se movem. Números precisos, é óbvio ululante, somente quando o TSE concluir a apuração, na noite do dia 31 de outubro.

Nosso amigo apenas não quer dar os números absolutos, para deixar o inimigo na ansiedade.

Por outra fonte, obtive uma informação interessante. Noblat está sabendo que o tracking tucano está dando Serra ligeiramente na frente de Dilma. Comprometeu-se a divulgar esta informação, mas até agora não o fez.

Por que será?
(Tibério Canuto)

PS- Pitaqueiros unidos, a divulgação dessas informações ajuda a combater a onda petista que, desesperadamente, a esta altura, tenta turvar a realidade, na esperança de estancar a sangria de intenções de voto da criatura. Como sabemos, nossas informações são confiáveis e comprovadas, vide o que o tracking informou na antevéspera do primeiro turno.


Fonte: Blog do Pitacos

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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A que está sempre alegre :: Charles Baudelaire

Teu ar, teu gesto, tua fronte
São belos qual bela paisagem;
O riso brinca em tua imagem
Qual vento fresco no horizonte.

A mágoa que te roça os passos
Sucumbe à tua mocidade,
À tua flama, à claridade
Dos teus ombros e dos teus braços.

As fulgurantes, vivas cores
De tua vestes indiscretas
Lançam no espírito dos poetas
A imagem de um balé de flores.

Tais vestes loucas são o emblema
De teu espírito travesso;
Ó louca por quem enlouqueço,
Te odeio e te amo, eis meu dilema!

Certa vez, num belo jardim,
Ao arrastar minha atonia,
Senti, como cruel ironia,
O sol erguer-se contra mim;

E humilhado pela beleza
Da primavera ébria de cor,
Ali castiguei numa flor
A insolência da Natureza.

Assim eu quisera uma noite,
Quando a hora da volúpia soa,
Às frondes de tua pessoa
Subir, tendo à mão um açoite,

Punir-te a carne embevecida,
Magoar o teu peito perdoado
E abrir em teu flanco assustado
Uma larga e funda ferida,

E, como êxtase supremo,
Por entre esses lábios frementes,
Mais deslumbrantes, mais ridentes,
Infundir-te, irmã, meu veneno!