segunda-feira, 8 de novembro de 2010

E la nave va :: Luiz Werneck Vianna

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Há consenso entre os analistas de que, nessa disputa pela sucessão presidencial, a linguagem dominante foi a do marketing, e não a da política. Com efeito, durante os longos meses da campanha no horário eleitoral, a agenda que os candidatos seguiam - saúde, educação, segurança - procedia das pesquisas quantitativas e qualitativas elaboradas por especialistas dessa técnica de comunicação, embora não se lhes possa negar o desempenho eficiente ao expor seus antigos feitos nesses quesitos e na apresentação dos que prometiam para o futuro.

Democracia, suas instituições e seu aperfeiçoamento, assim como programas de governo, contudo, foram considerados temas fora do alcance do entendimento da massa do homem comum e, como tais, marginalizados, quando não completamente ignorados pelos candidatos, inclusive no segundo turno eleitoral. O diagnóstico, que lhes vinha das pesquisas, era o da satisfação dos eleitores com o estado de coisas reinante no país, do qual derivaria a orientação comum de se apresentarem como agentes da continuidade.

As questões ameaçadoras, como as das reformas tributária, política, trabalhista e sindical - nem pensar na agrária e, menos ainda, na previdenciária - deveriam ser deixadas para depois do período eleitoral, com o que se infantilizou o eleitor, visto como um mero consumidor de bens e serviços. É certo que, por acaso, pelo estudo dos votos evangélicos obtidos pela candidata Marina Silva no primeiro turno, veio à tona uma questão efetivamente ameaçadora, a do aborto, que suscitou paixões falsas nos candidatos, postas no lugar das que poderiam revelar as verdadeiras, mantidas dentro do armário e que vão sair dele a partir de agora.

Para o bem e para o mal, a política promete voltar

Findo o processo, vitoriosa a candidata Dilma, mesmo que ainda em estado de ressaca cívica, a cidadania começa a se dar conta de que o mundo de fantasia do horário eleitoral não condiz com o mundo efetivamente existente. Apesar disso, baixadas as cortinas, há muito que comemorar, em primeiro lugar, o fortalecimento das instituições republicanas e da democracia. Um hábito novo - constata-se à vista de todos - se difunde em todas as camadas sociais do país: o do respeito às leis e às regras do jogo, salvo alguns escorregões presidenciais e o reconhecimento, que se generaliza, de que é por aí que se encontram os caminhos que levam a uma política de transformação social. Em segundo, a consagração da questão social como estratégica para a composição das forças políticas e de seus projetos de poder. A vitória nas urnas é inacessível sem ela, e isso foi bem compreendido pelos candidatos.

O mundo efetivamente existente é o da política e o das controvérsias sobre quais os rumos a serem seguidos. A marca do governo Lula foi a de trazer para o interior do Estado uma pluralidade de classes, de frações de classes, alinhadas ou não partidariamente, administrando os conflitos entre elas a partir dos recursos de poder presidenciais, assim interditando a sua manifestação no terreno da sociedade civil escorados em suas representações políticas e sociais. Decerto que essa tarefa exigia qualidades extraordinárias do seu operador, que não faltaram ao carismático Lula.

Dilma não é Lula, nem o seu quatriênio de governo será o mesmo daquele que passou. Aliás, se os registros biográficos servem para algo, não se pode desconsiderar que Lula construiu sua identidade no meio sindical, nas circunstâncias da ditadura militar, avessa a manifestações de uma ética de convicção por parte de um líder operário, e adotou o pragmatismo como lema de vida. Dilma, por sua vez, provém da política, e de uma política, como atesta sua história na resistência armada, orientada pelo culto da vontade, a que, de algum modo, preservou nos seus tempos de militante do PDT de Brizola, um político que também cultuava o primado da vontade em sua forma de agir. Se traços desse estilo pessoal persistem, eles não são favoráveis à difícil tarefa de manter contrários em equilíbrio.

Por outro lado, Dilma governará em condomínio com o PMDB, que terá na vice um dos seus melhores quadros, respaldado por políticos notabilizados, por mais que se fale mal deles, pelo tirocínio político e sabedoria na preservação do poder. O estilo Lula de administração se assentava no monopólio que ele desfrutava no exercício da política e na sua capacidade de interlocução direta com o povo. Dilma não contará com esse monopólio, inclusive porque o PT não lhe concederá tanto quanto concedeu a Lula em matéria de abdicação de poder, e alguns partidos da chamada base aliada se fortaleceram, como o PSB, dirigido pelo governador de Pernambuco, que herdou do seu avô, Miguel Arraes, as mesmas aspirações presidenciais. Tampouco, como notório, é vocacionada para a ida ao povo.

A sinalização da mudança de cenário também é indicada pelo novo mapa dos governadores eleitos, com a oposição à testa dos principais Estados da Federação, o que exigirá um andamento para a política mais consensual, inclusive porque a maioria governamental no Congresso é mais um resultado das estratégias eleitorais dos partidos que a compõem do que de uma união política em torno de um programa. Tal terreno não parece próprio para a emanação de virtudes carismáticas. Aliás, esse foi mais um recado trazido pela campanha eleitoral, quando a opção dos candidatos foi a de se mostrarem como os mais credenciados para impor uma administração racional à economia e às políticas públicas, ao invés de procurar rumos novos para a sociedade.

Com Dilma o que se tem é principado novo, e se ingressa, de fato, em uma ordem burguesa racionalizada, que o messianismo implícito de Lula, ao encarnar a representação do povo, sabia temperar. Sem ele e o seu estilo de negociador nato, os interesses e os conflitos de interesses devem fluir mais soltos, evadindo-se da jurisdição estatal e retomando seus lugares na sociedade civil. Para o bem e para o mal, a política promete voltar.

Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iesp-Uerj. Ex-presidente da Anpocs, integra seu comitê institucional. Escreve às segundas-feiras.

Após a derrota de Serra, uma nova transição :: Raimundo Santos

No segundo turno, a candidatura de Serra espelhou opinião pública de sentido democrático tornando-se mais diferenciada ainda em relação a dois vetores do bloco vitorioso nas urnas que desejam ver o quadro político vindouro conduzido por completo pelo governo. Referimo-nos, de um lado, à poderosa figura de Lula em vias de se retirar da Presidência da República para iniciar caravanas pelo país temidas pela sua compulsão a dividir a população em duas partes; e de outro, a setores hoje à frente de importantes estruturas (organizacionais, grupos e tendências partidários, ambientes intelectuais) reunidos em torno da candidatura de Dilma. Com visão ainda referenciada pelo modelo de mudança social dos Oitocentos, mas agora à mercê da administração da economia realmente existente no país, esta vertente quer dar andamento a ações governista-sociais legitimadas (acredita ela) por se considerar exclusiva defensora do popular. No plano político, além de se integrar à candidatura oficial, ainda não conhecemos quais são suas próximas iniciativas, mas se nota indiferença no mínimo quanto ao estilo de governar próprio do Presidente Lula corrosivo do Estado democrático de direito.

Se ao sair da cena governamental o popularismo de Lula não vai se enfraquecer, isso não significa que estará livre para novos empreendimentos como o da vitória eleitoral, operação cuja base José Serra localizou na fusão Estado-partido em campanha. Mas há quem acredite, em áreas não oposicionistas (e ainda quem assegure em alguns ambientes governistas mais intelectualizados) que, por ser uma formação complexa, o país conta com elementos suficientemente fortes para conter os passos do mito. Por certo este condicionamento de tipo “estrutural” enseja um movimento favorável que, no entanto, não se consuma por si mesmo, pois, como se sabe, terá que ser vivido por protagonistas que, no caso da presente conjuntura pós-eleitoral, são chamados a dar vida a uma transição deste tempo de anomia política que vivemos ultimamente ao curso orientado por valores democráticos que vinha lentamente se afirmando entre nós desde a anistia de 1979.

Enfraquecida pela derrota – ante a virtualidade de mais doze anos de governos do PT –, a oposição se moverá com dificuldade e não são numerosas suas correntes com habilidade para retomar a iniciativa política. A oposição tem pela frente o trabalho de criar condições favoráveis à retomada da importância do reformismo indicado pela Constituição de 1988, ou seja, de um renovamento da vida nacional entendido como progressiva democratização do país e de suas oportunidades sob plena vigência do Estado democrático de direito. O mundo político (incluído o PMDB coligado com Dilma) logo se movimentará no Congresso e na opinião pública, abrindo à oposição a possibilidade de dinamizar o espaço de atuação política (e social), campo ampliado a que converge a movimentação dos novos governadores de oposição, alguns deles à frente de estados importantes, como São Paulo e Minas Gerais.

No que se refere ao social hegemonizado pelas atuais formas organizativas é pouco provável que – no curto e até no médio prazos – as correntes de esquerda e centtro-esquerda da oposição construam cenário discursivo eficaz para disputar o mundo popular nesse terreno. Como já vem ocorrendo no tempo mais contemporâneo é o campo da política que se dispõe ao tipo de oposição como a que aí está, agora investida da função crucial de dialogar com os setores organizados e não-organizados, inclusive com áreas não popularistas de dentro do governo Dilma. O campo da oposição que se estruturará por atores (os principais deles, o PSDB, o PPS e ambientes animados pela candidatura de Marina da Silva) que não pensam em fazer “oposição pela oposição” nem cultivam a luta à morte pelo poder (aliás, com ela acabam de defrontar-se) têm quatro anos pela frente para interpelar um tipo de hegemonia popular consolidada nos últimos oito anos e certamente sobreposto ao futuro governo. Hegemonia popularista ainda a pairar sobre nosso sistema institucional já combalido pelo enfraquecimento dos partidos e pela descrença na política e nos valores em tanto meios asseguradores do desenvolvimento com oportunidades para o conjunto da população diversos das clivagens cristalizadas pela retórica de Lula em consideráveis áreas da opinião pública.

Ator de esquerda oposicionista, agora posto diante de mundos organizacionais hegemonizados, se lhe exige desempenho em várias direções e múltiplos níveis buscando retomar a iniciativa na ação e no plano do pensamento, em particular na esfera da difusão dos valores políticos, perspectivas consideradas por muitos de escassa eficácia no jogo pelo poder de hoje (ver o peso e a qualidade do marketing nas eleições). Recordar, no entanto, que esta procura de invenção no plano da política e do pensamento também pode ter êxito, como lembra o tempo de descrença e pesssimismo durante o regime de 1964, quando, justamente naquele plano, a resistência à ditadura se assentou para se desenvolver e tornar efetiva sua ação. E ainda agora na eleição, como vimos no segundo turno – isto se valorizamos o que foi se acumulando em termos de interpelações ao discurso hegemônico, com a candidatura de Serra apresentando resultado que não é de se desprezar. As interpelações dessa mobilização sem ator individualizado – pois vêm de Serra e também da midia, de algumas instituições e personalidades, como Hélio Bicudo – podem ser aferidas nos compromissos que a candidata Dilma pouco depois de proclamada eleita se viu levada a anunciar (a quem ela respondia se acabara de sair das urnas amplamente vitoriosa?) de forma um tanto diversa do que até ali vinha dizendo nos palanques com Lula.

Chama a atenção o fato de que, logo após a apuração dos votos que lhe confirmaram a vitória – ainda a caminho da celebração no Palácio do Planalto -, em discurso inesperado, a candidata leu pronunciamento refletindo, em pontos cruciais, o sentido da opinião pública crítica à era Lula que se formara como um arcoiris sobre as águas revoltas da campanha eleitoral. Parecendo se mover em forma defensiva, a presidente eleita firmou compromissos ainda ambíguos em relação ao que se lhe acabara de interpelar na campanha, considerando o que a própria candidata havia manifestado no mesmo dia da eleição em artigo publicado na Folha de São Paulo pela manhã. Enquanto no pronunciamento da noite, por ser pontual e rápido, não se vê toda sua articulação interna, no texto escrito para o jornal, se não a critica, manifesta reticência em relação à dimensão formal da democracia. Democracia ora “substantitvada”, diz a autora no artigo da Folha de Sâo Paulo, “pela ascensão de milhões após o crescimento econômico e os programas sociais”. Neste texto Dilma se refere à democracia apreciando-a “como valor fundamental”, postura que se não revela proposição de novo conceito (a respeito deste ponto especifico houve discussão na esquerda pecebista em meados dos anos 1970), encerra, naquela sua adjetivação (“fundamental”), sua não adesão plena ao Estado democrático de direito, diversamente de Serra e das áreas de esquerda e centro-esquerda mais próximas do candidato.

Em todo caso, se aquele contexto eleitoral que ainda cercava o primeiro discurso da presidente eleita indica uma possibilidade promissora, a resistência democrática ao tempo de anomia política a que estamos nos referindo tem mais alento. Resistência democrática – entenda-se bem – no sentido daquilo que, certa vez, falando sobre o famoso “caminho democrático” ao socialismo defendido pelo PCI (exemplo para a esquerda brasileira clássica inclusive na discussão anteriormente mencionada), Armênio Guedes dizia, de forma inconfundível, em um programa de TV chamado Roda Viva, que o que os comunistas italianos haviam trilhado era a rigor um caminho democrático para alcançar a democracia.

A oposição tem à sua frente um complexo trabalho de convencimento, em primeiro lugar, da opinião pública na sua grande maioria eleitora de Dilma e o mundo político-social organizado (partidos, associativismo etc.). Um movimento em busca de hegemonia que tenha por referência a retomada programática – aqui o ponto de apoio para tal convencimento – da revolução democrática sintetizada na Constituição de 1988, como tem sido lembrado ultimamente a propósito da modernização mais contemporânea do país. Renovação cujo sentido e vias a Carta Magna recolheu da luta pela redemocratização do país, da larga jornada iniciada logo após 1964. Depois de 1988, tal renovamento avançou no plano econômico com o Real e com os ajustes à globalização dos anos 1990 e a remodelação da estrutura estatal e nos últimos oito anos deu novos passos sob o governo Lula com o alargamento do alcance da política social e dos apoios emergenciais aos contigentes menos favorecidos, ainda que os seus autores recusem descendência daquele campo da Constituição de 1988 como inspiração de um desenvolvimento sustentável.

Com áreas fortemente ligadas à tradição da resistência política ao regime de 1964 (parte delas continuam no PMDB oficialista), a oposição têm aquele marco de referência constitucional que confere à sua ação na conjuntura sentido construtivo e põe suas perspectivas fora da futurologia para próxima eleição presidencial. O movimento oposicionista de agora visa prioritariamente garantir curso livre à vida política democrática, cabendo ainda considerar de modo positivo (conquanto aceita sem reservas o resultado das urnas, não obstante apontar a forma comprometedora da vitória de Dilma) que o novo governo, pressionado a partir de fora e também de dentro, ele próprio possa vir, se não a favorecer, ao menos a não se tornar obstáculo ainda maior ao tempo da política e da sua capacidade transformadora no Estado democrático de direito pleno. A oposição – chamada por Serra no seu discurso na noite de dia 31 de “campo da liberdade e da democracia” – não tem pela frente tarefas simples, como tampouco é certo que as forças da oposição convocadas para estruturar aquele campo sejam as únicas correntes lúcidas.

A candidata eleita reconheceu o sentido democrático de parcelas da opinião pública envolvidas na eleição, por ela acolhido como compromissos, como foi observado, na própria hora da apuração dos votos, em particular os compromissos que assumiu de “valorizar a democracia em toda a sua dimensão, desde o direito de opinião e expressão até os direitos essenciais básicos da alimentação, do emprego, da renda da moradia digna e da paz social”, de “zelar pela mais ampla e irrestrita liberdade de imprensa” (mais de uma vez repetido nos dias seguintes), o compromisso de “zelar pela observação criteriosa e permanente dos direitos humanos tão claramente consagrados pela nossa Constituição” e, por fim, o compromisso de “zelar pela nossa Constituição, dever maior da Presidência da República”. (O Globo, 3/111/10).
Raimundo Santos é professor da UFRRJ/CPDA

Bateu, levou! :: Denis Lerrer Rosenfield

DEU EM O GLOBO

O já longo período eleitoral terminou em temperatura bastante elevada, ofuscando algumas questões centrais. A rigor, não foi apresentado por nenhum dos candidatos um conjunto sério de propostas que digam respeito ao nosso futuro. Chegamos à esdrúxula situação em que a candidata vitoriosa apresentou como plano de governo uma visão sucinta do programa partidário, impregnado do viés dogmático do 3.º Plano Nacional de Direitos Humanos, logo retirado para modificações. No segundo turno tivemos apenas propostas genéricas, em que virtualmente tudo poderia ser incluído. O candidato oposicionista nem isso fez, ao não apresentar plano de governo algum, salvo o cumprimento de um procedimento burocrático no TSE, via recorte de dois de seus discursos. A pergunta que se impõe é: será que o País não merecia ser discutido? Será que somos cidadãos considerados incapazes de apreender e discutir ideias e concepções? Somos apenas objetos de marqueteiros?

Numa campanha carente de ideias, ganhou força novamente o que já se torna um mantra: seguir um pseudoprincípio das campanhas eleitorais segundo o qual "quem bate perde"! Tal como é apresentada, essa ideia ganha o estatuto de uma verdade a priori, válida independentemente de qualquer experiência. O mais curioso é que José Serra a seguiu em todo o primeiro turno e início do segundo, colocando-se, dessa maneira, numa posição de nítida desvantagem. Marina Silva, com seu jeito calmo e cordato, afastou-se desse "princípio", cobrando de Dilma Rousseff o escândalo de tráfico de influência de Erenice Guerra na Casa Civil. Terminou ela viabilizando o segundo turno.

Dilma e sua equipe, desorientados com esse resultado, tiveram, contudo, uma visão mais realista da situação. Certamente auxiliada por pesquisas internas que davam a diminuição de sua vantagem em relação a Serra, a candidata petista mudou de atitude e passou a "bater" em seu adversário, e "levou"! Não seguiu o mantra que aparentemente acatava. Ou melhor, em campanhas eleitorais o que conta são as verdades a posteriori, que dependem de uma reflexão ancorada na experiência. Em alguns momentos convém não bater, em outros é mais do que conveniente. A candidatura Serra não soube avaliar esse timing e terminou vítima de si mesma e da bem conduzida campanha de sua adversária.

Intervém, aqui, outro fator da maior relevância, o de que o "ataque" de Dilma se tenha aproveitado de um velho preconceito a respeito das "privatizações". Chega a ser incompreensível que depois das derrotas de 2002 e 2006 os tucanos não se tenham preparado para esse debate de ideias. Na verdade, mostram-se envergonhados do que fizeram quando governo. As privatizações são um sucesso estrondoso, sobretudo nas áreas de telecomunicações e siderurgia, na Embraer e na Vale, entre outras. O País mudou, e para melhor. Algumas dessas empresas se tornaram players internacionais, sendo motivo de orgulho para o País. Pagam altos impostos, geram renda para si e para seus acionistas, empregam e dão muito boas condições de vida a seus trabalhadores. Argumentos não faltam.

O que fez Serra, confrontado com o problema? Acusou Dilma de "privatista"! Ou, ainda, quis se mostrar tão ou mais estatizante do que ela. Recusou-se a um verdadeiro debate, foi incapaz de mostrar a herança bendita legada por Fernando Henrique. Caiu em duas armadilhas: a do PT, entrando em seu jogo, e a de suas pesquisas "qualis", que partiram da ideia de que o cidadão brasileiro tem uma concepção negativa das privatizações do governo FHC.

Acontece que as pesquisas "qualis", se bem feitas, retratam somente um momento, uma foto fixa de um estado de espírito. Ora, esse estado de espírito foi formado ao longo destes oito anos de governo Lula, e mesmo antes, pois no período anterior elas foram consideradas um mal necessário, algo que deveria ser apenas tolerado. O governo petista aproveitou-se dessa "vergonha" e fez um longo trabalho de formação da opinião pública, cujo "retrato final" foi oferecido pelas pesquisas. A verdadeira política se faz nesse longo processo de formação da opinião pública, e não apenas no calor de uma campanha eleitoral, em que ideias já se encontram cristalizadas. Se os tucanos em todos esses anos não souberam defender o que fizeram, fica, de fato, difícil em poucos meses e semanas reverter uma situação desse tipo.

Neste deserto de ideias, sobra como alternativa nos apegarmos ao discurso da presidente eleita e no que resta de propostas das oposições. Dilma, em seu discurso de vitória e em manifestações posteriores, foi extremamente sensata, tendo sabido captar a importância do momento. Mostrou-se à altura deste, com um discurso de união nacional que poderia ser subscrito pelos oposicionistas. Fez veemente defesa da democracia representativa, da liberdade de imprensa e dos meios de comunicação, do Estado de Direito, posicionando-se, mesmo, contrária às invasões de prédios públicos e de propriedades privadas pelo MST. Sinalizou também um afastamento do Irã, por seus atos de barbárie contra as mulheres. Em algumas dessas questões, demarcou-se de seu mentor. Convém, porém, fazer um acompanhamento de seus passos, para que possamos melhor avaliar se essas ideias vieram para ficar ou não. Seria altamente promissor saber que a nova presidente não é uma "metamorfose ambulante"!

Os tucanos, perdidos, estão na obrigação de se reinventar. Deverão fazer uma avaliação rigorosa de três fracassos sucessivos, em 2002, 2006 e 2010. Deverão apresentar ideias e concepções que deixem claro ao eleitor brasileiro o que significa o seu nome: "social-democracia". Deverão, enfim, fazer uma defesa do seu próprio legado e, em particular, enfrentar a questão das privatizações e, com ela, as das reformas tributária, previdenciária e política. Não podem omitir-se. Se o fizerem, estarão destinados novamente ao fracasso em 2014.

Professor de filosofia na UFRGS.

Qual Oposição? :: Vagner Gomes de Souza

Mais uma vez o governismo tomou a iniciativa em dar a pauta política nacional quando o Presidente da República em fim de mandato declarou que a Oposição ao Governo dele foi cruel nas suas ações. Horas depois a idéia da CPMF voltava com força e apoio de governadores eleitos por legenda da Oposição (como observamos na declaração do Governador Reeleito de Minas Gerais). Para além disso, as lideranças do heterogêneo campo oposicionista se adiantaram em reafirmar diversos adjetivos para nossa postura oposicionista sem demarcar que há um segmento eleitoral de oposição que não se viu representado no segundo turno das eleições. Esse segmento foi aquele que votou em Marina Silva no Primeiro Turno e voltou para o campo governista no Segundo Turno, pois não percebeu uma política clara de diferenciação oposicionista mais no campo de “centro esquerda”.

Em 16 anos de continuidade de um modelo político hegemônico formou-se um eleitorado que sempre leva o processo eleitoral para o Segundo Turno, mas não impôs sua agenda política. Esse eleitor silencioso não deseja a ruptura mas assume uma postura pelo aprofundamento das mudanças por uma via democrática. Um eleitor que deseja mais que a distribuição da renda nacional, pois sabe que é necessária a redistribuição através de um critério desenvolvimentista, humano e ecológico. Esse eleitor já votou em Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS) em 2002. Já votou em Heloisa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT) em 2006. Votou em Marina Silva (PV) esse ano acrescido de eleitores que “fugiram” da polarização PSDB e PT no primeiro turno.

A votação desse eleitor está ampliando sem que haja uma política de oposição para ele uma vez que falam em adjetivos oposicionistas, mas falta um Programa de Oposição com base real nesse eleitor urbano, atuante nas redes sociais da INTERNET, militante em causas diversificadas e entre outras formas mais clássicas de militância política. Um eleitor onde a renda ascendeu pelo acesso aos meios de informação e no aumento do acesso a anos de estudo. Um possível novo segmento político a ganhar força nas próximas eleições se ganhar um ator político que faça seu discurso. Esse segmento não defende o pragmatismo eleitoral e conservador de uma fictícia “nova classe média” que é base de uma possível oposição mais à direita como estaria pretendendo o DEM.

Há espaço para ampliar o espaço político das forças políticas comprometidas com a vocação democrática de um Estado Laico sem concessões ao oportunismo eleitoreiro das Direções Partidárias Regionais de partidos como PV e PPS. Não podemos deixar que esse debate fique em segundo plano ou ao reboque de uma reflexão simplista. Uma possível aproximação entre Verdes e Socialistas do PPS pode ser um núcleo de intervenção para que lideranças independentes de filiação partidária se filiem a esses partidos para dar novos ares à política brasileira com maior atenção do segmento político que destacamos acima. Entretanto, esses novos sujeitos políticos não podem ser alijados pelas “máquinas eleitorais partidárias” criadas em muitos grupos partidários estaduais para se sempre se reeleger.

O PPS poderia ser o melhor exemplo e defender a prática das prévias eleitorais com a inscrição de eleitores simpatizantes de um programa de oposição a ser criado num documento de Carta de Princípios de uma vertente Social-democrática de novo tipo no país. As prévias mobilizariam a sociedade civil sem filiação partidária e estabeleceriam as políticas de alianças nas eleições municipais, escolheriam candidatos majoritários e até poderiam estabelecer os critérios concentração eleitoral na campanha em determinadas candidaturas para Vereador. Esse é um bom momento para apontar para mudanças de rumos partidários na “Centro-esquerda” nesse debate no campo de oposição. Vamos fazer o possível para que isso ganhe espaço no debate interno de nosso partido.

O futuro do PSDB:: Fernando de Barros e Silva

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Apesar da derrota, ou por causa dela, José Serra alimenta a pretensão de se tornar presidente do PSDB na convenção que o partido realiza entre maio e junho de 2011. Seria a maneira de se manter vivo no jogo, contra a ameaça de se tornar um retrato na parede.

Ocorre que, desta vez, Serra vai encontrar resistência bem maior à sua pretensão. Está disseminada a percepção de que o futuro da tucanolândia passa pela capacidade de entender e sinalizar desde já que Serra pertence ao seu passado. Ou seja, de que a fila agora andou.

Na presidência do partido, o ex-governador representaria uma espécie de terceiro turno contra Dilma Rousseff, em prejuízo da construção de um consenso partidário em torno do nome de Aécio Neves.

Não é à toa que o mineiro acaba de propor uma "refundação" do PSDB, a fim de "atualizar o programa" e "recuperar sua identidade partidária". Como diria Serra, essa história de refundação não passa de trololó. Quando Aécio fala em "atualizar" e "recuperar a identidade", nos dois casos quer dizer: Serra, até logo, chegou a minha vez.

O candidato de Aécio para presidir o PSDB hoje é Tasso Jereissati. Ele e Serra nunca se bicaram, todos sabem. Mas imagina-se que Tasso seja o nome capaz de fazer a ponte entre Aécio e Geraldo Alckmin, evitando que a relação entre os PSDBs de Minas e de São Paulo caminhe para um esgarçamento perigoso.

Aécio, neste momento, movimenta-se para disputar a presidência do Senado, num esforço claro para demonstrar que tem bom trânsito entre os partidos, inclusive os da base aliada de Dilma. Foi Cid Gomes (PSB), irmão de Ciro e governador do Ceará, quem defendeu em público o nome do mineiro para o comando da Casa.

A Alckmin, no entanto, pode interessar uma aliança tática com Serra para evitar que Aécio se projete desde já no horizonte como líder incontestável do novo PSDB.

Apostar nisso é o que resta a Serra, às voltas com a ruína.

Futurologia:: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Dois nomes se consolidaram na eleição deste ano no campo governista e na oposição.

O governador de Pernambuco reeleito, Eduardo Campos (PSB), é o emergente mais vistoso entre os dilmistas. E o senador eleito por Minas Gerais Aécio Neves (PSDB) lidera o lado oposto.

Se moverem as peças corretas no tabuleiro, não é um exagero dizer que ambos estão habilitados para concorrer com chances reais de ganhar o Palácio do Planalto algum dia. Pode ser em 2014, 2018 ou 2022. Aécio tem 50 anos. Eduardo Campos, 45. O tempo está a favor deles. Jovens, podem esperar a fila andar e o momento certo.

No caso do tucano, tudo dependerá de como se sairá depois da transição de poder em curso no PSDB. Os aliados tradicionais da legenda, DEM e PPS, também precisam ser devidamente cooptados de maneira mais perene. Há alguns anos ouve-se a hipótese de fusão dessas siglas para criar uma agremiação análoga ao Partido Republicano dos EUA aqui no Brasil.

Essa eventual incorporação é vital para Aécio. O PSDB passa por um processo de raquitismo. Sem músculos partidários, o mineiro não terá uma caminhada suave.

No caso de Eduardo Campos, neto de Miguel Arraes (1916-2005), a conjuntura é semelhante. Ele comanda um partido que terá em 2011 seis governadores, 34 deputados e três senadores. É a força de centro-esquerda mais saliente depois do PT. Por que não fundir as duas siglas e construir a maior agremiação de apoio a Dilma Rousseff a partir de 2011?

Juntos, PT e PSB teriam 11 governadores, 122 deputados e 18 senadores. Nasceria a maior sigla desde o PMDB anabolizado artificialmente nos anos 80 por causa do Plano Cruzado. Esse é um cenário improvável. Impossível talvez. Mas certamente seria uma aposta robusta para viabilizar um projeto presidencial competitivo de Campos nessa espécie de neo-PT.

Sindicatos vão cobrar Dilma sobre mínimo

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O primeiro teste sobre a disposição da presidente eleita, Dilma Rousseff, de promover ajuste fiscal será nesta semana: a reunião com centrais sindicais sobre o reajuste do salário mínimo e das aposentadorias acima do mínimo, itens que mais pesam nos gastos do governo.

Cobrada por sindicalistas, Dilma terá primeiro teste fiscal com novo mínimo

Contas públicas. Definição do valor do salário para 2011 envolve uma intrincada negociação entre governo, Congresso e centrais, que terão reunião esta semana com representantes da atual gestão e da equipe de transição da presidente eleita, Dilma Rousseff

Lu Aiko Otta

BRASÍLIA - O primeiro teste sobre a disposição da presidente eleita, Dilma Rousseff, de promover o ajuste fiscal defendido por integrantes do governo e da equipe de transição ocorrerá nesta semana: a reunião com as centrais sindicais sobre o reajuste do salário mínimo e das aposentadorias acima do mínimo.

Esses são os dois itens que mais pesam nos gastos do governo, sem contar os juros da dívida pública. O assunto será discutido pelos representantes dos trabalhadores, do atual governo e da equipe de transição, que trabalhará no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

Se quiser mesmo segurar o crescimento dos gastos, ela terá de conter o ímpeto dos sindicalistas. Para cada R$ 1 a mais concedido ao mínimo, as despesas do governo com o pagamento de benefícios previdenciários e assistenciais vinculados ao piso nacional aumentarão em R$ 286,4 milhões, segundo cálculos do Ministério do Planejamento.

Se fosse implementada a promessa do candidato do PSDB, José Serra, de R$ 600, o gasto adicional seria de R$ 17,7 bilhões. É dinheiro suficiente para pagar 15 meses do Bolsa-Família.

As centrais, porém, têm um argumento que cala fundo no coração desenvolvimentista de Dilma: foi a política de dar ganhos reais ao mínimo que impulsionou o consumo nos últimos anos e permitiu ao Brasil escapar dos efeitos mais negativos da crise econômica de 2008 e 2009.

"A Dilma já disse duas ou três coisas que indicam que a política de valorização do salário mínimo vai continuar", disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique.
"Ela disse que é preciso fortalecer o mercado interno e reforçou a importância do salário mínimo nesse processo."

Além disso, a própria presidente eleita já demarcou as linhas de um eventual aperto. "Recusamos as visões de ajustes que recaem sobre os programas sociais, os serviços essenciais à população e os necessários investimentos", afirmou, após a divulgação do resultado das eleições.

Acordo. Apesar do discurso favorável a aumentos generosos para o mínimo, manobras nos bastidores procuram controlar maiores danos nas contas públicas. Por orientação do governo, o relator do Orçamento de 2011, senador Gim Argello (PTB-DF), disse aos sindicalistas que poderá dar um reajuste mais generoso em 2011, mas ele será descontado do aumento para 2012.

Explica-se: por uma regra acertada entre governo e centrais, ainda não convertida em lei, o mínimo é corrigido conforme a inflação e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos atrás. Por esse mecanismo, o valor para 2011 seria R$ 538,15, que é o piso atual (R$ 510) corrigido pela inflação, mas sem o acréscimo do PIB porque em 2009 a economia encolheu 0,2%.

Em 2012, porém, o mínimo já tem garantido aumento da ordem de 7,5% acima da inflação, pois essa deve ser a taxa de crescimento do PIB em 2010. O que Argello propôs foi pagar em 2011 parte do que será dado em 2012.

Resistência. As centrais são contra. Elas querem aumento real para o mínimo agora, mas não abrem mão do reajuste grande de 2012. "Essa história de parcelar parece coisa de Casas Bahia", brincou o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP). "É loucura, porque o reajuste de 2012 vai refletir o bom momento de 2010", disse Artur Henrique.

Diante da resistência, Argello não sabe se insistirá na ideia. "Vou conversar com o presidente Lula e com Dilma", disse ele, na semana passada. "Mas a orientação partiu do Executivo."

O relator avisa que não tem como acomodar um aumento muito grande de despesas. A análise da proposta para 2011 mostrou que a arrecadação pode ficar R$ 17,7 bilhões acima do previsto, mas a lista de gastos não contemplados passa dos R$ 30 bilhões. Argello acha que, com esforço, dá para elevar o valor para R$ 550.

Para Paulinho, é questão de decidir como serão gastos os R$ 17,7 bilhões. Pelo sim, pelo não, ele já tem elaboradas emendas ao Orçamento. Se as negociações com o governo chegarem a bom termo, ótimo. Do contrário, ele proporá um mínimo de R$ 580 e caberá aos parlamentares decidir o novo valor no voto.

Caminhos do PSDB:: Editorial – Folha de S. Paulo

Proposta de "refundação" do partido, lançada por Aécio Neves, responde a uma carência de discurso mas esbarra em dificuldades

A clássica prudência dos políticos mineiros talvez recomendasse ao ex-governador Aécio Neves um maior tempo de espera e de silêncio antes de propor novos rumos ao PSDB, enquanto são digeridos os resultados do último pleito.

Após eleger-se senador por Minas Gerais, e tendo feito o sucessor no governo do Estado, é entretanto natural que Aécio se apresse a assumir o posto de principal liderança tucana no momento.

Foi assim que lançou, em entrevista à Folha na última sexta-feira, a proposta de uma "refundação" de seu partido. A ideia seria, já em maio do ano que vem, quando se realiza uma convenção nacional do PSDB, aprovar uma reforma do programa partidário.

Avaliar a conveniência de tal iniciativa é assunto que cabe, evidentemente, às próprias instâncias partidárias. Quem quer que tenha acompanhado a campanha eleitoral não terá deixado de notar, entretanto, os sinais de esvaziamento no discurso do PSDB, e sua necessidade de consolidar, nos anos pós-Lula, um projeto original para o futuro do Brasil.

Temas de aferição menos fácil, como o da excelência gerencial, conviveram na campanha com o antigo modelo propagandístico das grandes obras viárias (área em que tanto Serra quanto o próprio Aécio acumulam pontos), sem que se apontasse, contudo, para um horizonte mais claro de transformações para o país.

Projetos fortes para a melhoria da educação, para a redução de impostos e para o combate à criminalidade, por exemplo, haveriam de possibilitar um salto qualitativo num cenário político marcado por debates superficiais e certa conformidade continuísta, que se espraia do centro do governo para atingir parte dos próprios setores da oposição.

Vale observar que o termo proposto por Aécio Neves -o de uma "refundação" do PSDB- é daqueles cujo apelo retórico se combina com alguma conotação infausta do ponto de vista prático. Posto em voga no Partido Comunista Italiano, depois da debacle do bloco soviético, foi rememorado e logo depois esquecido por setores do PT, em meio à crise do mensalão.

No caso do PSDB, o que não falta ao partido é uma equipe capaz de formular programas e propostas para os próximos anos ou para o próximo milênio. Mais do que de ideias, uma "refundação" do partido necessitaria, sem dúvida -e este é um problema que não se restringe ao tucanato- de uma revisão mais profunda nas suas próprias formas de organização.

A participação efetiva dos cidadãos no processo partidário, a começar pelo clássico recurso às prévias eleitorais, é um fenômeno quase inexistente no Brasil. Dos "notáveis" do PSDB aos "coronéis" do PMDB e do DEM, passando pelos "comissários" petistas, a política brasileira profissionalizou-se no seu pior sentido -e "refundar" os seus procedimentos, com certeza, é um desafio que independe das lideranças, novas ou não, que ocupam o proscênio.

Serra ficou com 50% dos votos de Marina

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Pelo Ibope, tucano atraiu 9,8 milhões de eleitores no 2º turno e Dilma, 6,5 milhões

Daniel Bramatti, José Roberto de Toledo

Segundo o Ibope, metade dos eleitores que votaram em Marina Silva (PV) mudou seu voto para José Serra (PSDB) no segundo turno, um terço migrou para Dilma Rousseff (PT) e os demais 15% anularam ou votaram em branco (quase o triplo da média do total do eleitorado).

Serra se beneficiou do voto da terceira colocada do primeiro turno na proporção de 1,5 para 1 em relação a Dilma. Cooptou 50% de eleitores a mais do que a rival direta. Dilma foi eleita porque partiu de um patamar de votos, obtidos em 3 de outubro, 44% maior que o tucano.

Aplicando-se os porcentuais do Ibope sobre a votação da candidata verde no primeiro turno, estima-se que Serra incorporou 9,8 milhões de votos do eleitorado de Marina, contra 6,5 milhões que foram para Dilma e pouco menos de 3 milhões que anularam ou votaram em branco.

Há uma diferença notável no perfil dos eleitores de Marina que migraram para um lado e para outro. As marinistas mulheres, os brancos, quem estudou até o fundamental ou médio, os cristãos (católicos ou evangélicos) e os mais ricos optaram majoritariamente por Serra.

Os homens, os que fizeram faculdade, os que se auto-declaram pardos (critério IBGE) e os de renda intermediária racharam meio a meio. Já os ateus, agnósticos e seguidores de outras religiões, os pobres e os que se auto-declaram pretos votaram mais em Dilma.

Os marinistas tiveram um impacto maior no crescimento de Serra no segundo turno. Seu peso foi de quase 95% dos novos votos do tucano. O restante é um misto de ex-eleitores de Dilma, de Plínio Sampaio (PSOL) e dos que haviam anulado ou votado em branco no primeiro turno.

Para Dilma, os marinistas tiveram peso um pouco menor, mas ainda grande: 85% do seu crescimento. Os outros 1,2 milhão de votos incorporados pela petista vieram, principalmente, da redução dos votos nulos e brancos de um turno para outro.

Contando-se a votação total dos dois candidatos finalistas, os eleitores de Marina foram responsáveis por 20% dos 44 milhões de votos de Serra no segundo turno, e apenas 10% dos 56 milhões votos de Dilma.

A pesquisa Ibope foi feita no dia do segundo turno, na casa dos entrevistados, tanto com eleitores que já haviam votado quanto com quem ainda iria votar. Foi uma pesquisa diferente da boca de urna, que é realizada apenas nos locais de votação.

O Ibope perguntou em quem os eleitores haviam votado no primeiro turno e em quem votaram ou pretendiam votar no turno final (para aqueles que ainda não tinham votado). Os poucos indecisos foram redistribuídos na mesma proporção das intenções de voto dos já decididos.

Serra cresceu mais do que Dilma no segundo turno em quase todas as regiões: de Norte (70% a mais do que ela) a Sul (198%), passando por Sudeste (28%) e Centro-Oeste (55%). A exceção foi o Nordeste, onde a petista aumentou 15% mais sua votação.

Teto. Na média do Brasil, os ganhos de eleitorado de Serra foram 30% maiores do que os de Dilma. O tucano ganhou mais onde Marina foi proporcionalmente pior. E os ganhos foram mais significativos onde sua votação, no primeiro turno, ficou abaixo da média. Ou seja, inversamente proporcionais.

Uma hipótese para explicar isso é que Dilma já havia chegado muito perto de seu teto de votação nas cidades menores, onde o eleitorado de Marina foi pequeno. Portanto, Serra poderia crescer mais nelas. Dilma tinha mais chance de crescer nas cidades grandes, onde Marina lhe "roubara" votos.

Considerando-se apenas as cidades onde a verde teve pelo menos 15% dos votos válidos do primeiro turno, os ganhos de Serra caem para 23% além dos de Dilma.

Já entre os municípios onde Marina teve mais de 25%, o porcentual cai para 3%. E vira negativo (-6%) nas cidades onde ela obteve mais de 30%. No Sudeste, é o contrário. Há uma forte correlação positiva entre o crescimento da votação de Serra e o tamanho do eleitorado marinista.

Aécio: 'Não postulo e não serei presidente do Senado'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Aécio invoca a proporcionalidade na distribuição do poder e nega articulações com aliados e governistas para levá-lo ao comando da Casa

Christiane Samarco

BRASÍLIA - Sob o argumento de que sempre respeitou a proporcionalidade na distribuição do poder no Parlamento, o senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG) disse ao Estado que em momento nenhum articulou com os partidos aliados e até mesmo da base governista o apoio à sua candidatura à presidência do Congresso.

No sábado, o Estado revelou que foi deflagrada uma ampla articulação política para que Aécio conquiste o comando do Senado, em operação bancada por PSDB e DEM, com o apoio informal de setores do PSB e do PP. A articulação contaria com a possível adesão de PDT e PC do B, que ajudaram a eleger Dilma Rousseff presidente. Em troca, o senador apoiaria esses parceiros na briga pelo controle da Câmara.

"Não postulo, não articulo, não disputo e não serei presidente do Congresso. É natural que a presidência do Senado caiba às forças majoritárias, o que não é o nosso caso. Quem pensa que estou articulando isto, ou não me conhece, ou não conhece o Congresso. Fui parlamentar por 16 anos e sempre defendi, e continuo defendendo, o respeito à proporcionalidade na ocupação dos espaços no Parlamento", afirmou Aécio.

Um dos que já defenderam publicamente o nome do ex-governador para o lugar do senador José Sarney foi o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB). Apesar desse movimento, o tucano insiste em que nunca conversou com nenhum senador sobre o assunto, nem mesmo para articular a presidência do PSDB ou a liderança do partido no Senado. "Minha participação nisso é zero, zero, zero. Não estou conversando com ninguém e não falei com um único senador sequer sobre presidência do Senado. Não postulo nada e não quero cargo algum."

A chamada "operação Aécio" garantiria a PSDB, DEM, PSB, PP e a PDT e PC do B - caso as duas legendas venham a se aliar ao grupo - uma expressiva quantidade de votos na Câmara e no Senado, ameaçando a parceria entre PMDB e PT para controlar as duas Casas.

"Pontes políticas". O tucano diz que seu maior objetivo é defender os interesses de Minas, o que o levará a construir "pontes políticas", até com setores do governo, que viabilizem reformas também do interesse do País.

A busca dessas pontes, no entanto, não vão impedir, segundo Aécio, que o PSDB faça uma oposição "vigorosa" ao governo Dilma, e não "generosa", expressão usada pelo ex-governador que chegou a provocar interpretação de que haveria um embate "suave". "Ao contrário. Faremos oposição com uma cobrança clara em relação aos compromissos e às promessas feitas pela candidata Dilma Rousseff.

Será uma oposição firme, mas responsável."

Restrição a mídia ganha poder, diz relatório

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Delegação do Brasil em conferência de comunicação afirma que esquerda no país tem meios para cercear expressão

Documento levado a encontro da Sociedade Interamericana de Imprensa vê problema em rever radiodifusão

Flávia Marreiro

CARACAS - Embalada pela vitória de Dilma Rousseff (PT) e apoiada na maioria governista no próximo Congresso, a esquerda brasileira detém agora poder para concretizar ameaças à liberdade de expressão embutidas na ideia de "controle social da mídia" promovida no governo Lula.

A avaliação consta do informe da representação brasileira na SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), apresentado ontem em Mérida, no México, durante sua 66ª assembleia geral.

O documento foi exposto ante a Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação, que revisa anualmente as ameaças ao livre exercício do jornalismo nas Américas.

A comissão também recebeu ontem pareceres sobre Venezuela, Argentina, Equador e Bolívia, entre outros. Amanhã, a organização, que reúne 1.300 jornais e meios de comunicação do continente, aprovará documento com relatórios por país.

O informe preparado pelo representante do Brasil na SIP, Sidnei Basile, do Grupo Abril, afirma que o conceito de "controle social da mídia" "é o novo nome da censura".

"Embalada pelo continuísmo e por maioria tanto na Câmara como no Senado, a esquerda brasileira detém os instrumentos para concretizar as ameaças embutidas no Plano Nacional de Direitos Humanos e nas "conclusões" da Conferência Nacional de Comunicação que o governo federal promoveu no ano passado", diz o texto.

Amanhã e quarta, o governo Lula promove em Brasília, sob o comando do ministro Franklin Martins (Secretaria de Comunicação), o Seminário Internacional das Comunicações Eletrônicas, com o fim de discutir novo marco regulatório para a mídia no país. Serão debatidas, por exemplo, regras de participação de capital estrangeiro.

Outro ponto problemático, segundo o informe apresentado na reunião da SIP, é a iniciativa do governo de revisar as regras da radiodifusão.

Sob essa justificativa, diz o texto, "as autoridades federais tentam cancelar licenças de radiodifusão, como aconteceu em outros países. O passo seguinte será o de incluir medidas restritivas à liberdade de expressão e ao direito à informação".

O diretor para Liberdade de Expressão da SIP, Ricardo Trotti, considerou "ambíguas" as declarações da presidente eleita, Dilma Rousseff, sobre compromisso com a liberdade de expressão e discussão do marco regulatório. "Se forem aprovadas as reformas para instalar o controle social da mídia, será gravíssimo", disse à Folha.

O documento brasileiro registra casos de agressão a jornalistas e de censura prévia, como o envolvendo o jornal "O Estado de S. Paulo", proibido pela Justiça de publicar dados de investigação acerca de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

O diretor jurídico do Grupo Folha, Orlando Molina, e a advogada do jornal, Taís Gasparian, participam do encontro. O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, esteve ontem no evento.

Para Serra, não é hora de falar da política nacional

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Derrotado na eleição presidencial, José Serra afirmou a Vaguinaldo Marinheiro, em voo entre Biarritz e Paris, que não é hora de falar sobre política.

O tucano aceitou conversar com a Folha sobre economia, principalmente mundial. Em referência ao Brasil, ele mencionou os juros "escandalosos".


"Não é hora de falar de política", diz Serra

Na França, tucano evita alimentar discussão no PSDB sobre culpados por sua derrota em disputa à Presidência

Ex-governador aceita falar de economia, mas não sobre futuro, e diz que o momento é de descansar da campanha

Vaguinaldo Marinheiro
Enviado especial a Biarritz

José Serra, candidato derrotado na eleição presidencial do último dia 31, afirma que agora não é hora de falar de política brasileira.

Passada apenas uma semana desde o segundo turno, afirmou à Folha que é o momento de descansar dos sete meses de campanha.

É para isso que está na Europa. Passou o fim de semana em Biarritz (litoral francês) e fica mais uns dez dias no continente.

Ele não diz, mas, ao evitar os assuntos políticos, busca não alimentar agora a discussão interna do PSDB sobre culpados pela derrota para Dilma Rousseff (PT).

Divulgados os resultados, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, afirmou que foi um erro esperar até março para definir o candidato tucano (decisão que partiu de Serra).

Em Biarritz, o ex-governador de São Paulo participou de seminário sobre relações entre América Latina e Europa, realizado quinta e sexta.

Diz que foram delirantes os relatos de seu discurso no final do evento. Foi reportado que ele criticou o governo Lula, que estaria fechado para o mundo e promovendo a desindustrialização do país.

Serra afirma que sua fala, feita de improviso, em espanhol, fazia uma análise histórica da América Latina, não uma crítica direta a esse ou àquele governo.

Na palestra, alguém da plateia gritou "por qué no te callas?". Segundo o tucano, era uma mexicana partidária dos zapatistas, movimento guerrilheiro que lutava contra a globalização e a favor da distribuição de terras para os indígenas do sul do México.

A Folha conversou com Serra no voo que o levou de Biarritz a Paris. Ele só aceitou falar de economia, principalmente a mundial. Mas tratou um pouco de Brasil. Falou de juros "escandalosos" e "galopante gasto público".

Serra, que viaja com o filho, Luciano, parece mesmo cansado, mas não triste. Mantém o hábito de pontuar suas falas com anedotas.

Leia trechos da conversa.

Moeda desvalorizada

O Brasil entrou na guerra cambial em desvantagem: com a moeda já sobrevalorizada e juros escandalosos, o que pressiona ainda mais o real para cima. O gasto público galopante e o deficit nas contas correntes, também galopante, atrapalham ainda mais. A única solução para o Brasil é fazer um bom diagnóstico de sua situação macroeconômica e planejar. Mas o Brasil está num momento de pouco planejamento econômico.

Campanha

Seria importante discutir assuntos mais sérios durante a campanha eleitoral. Temas da economia profunda. Mas eles são evitados porque todos creem que ficaria incompreensível para a maioria.

China

A China não irá de uma hora para outra valorizar sua moeda para ajudar o Brasil. O governo chinês fará um ajuste, mas com a elevação do salário de sua população.Isso irá aumentar o consumo interno, e o superavit nas exportações deve cair, o que é bom para os demais países. O que a China quer do Brasil e da África é matéria-prima.

Reservas e investimento

O Brasil gasta muito para manter e ampliar suas reservas. Se você investe em estradas, sabe o efeito que dá. Se gasta com reservas, não.

Europa

A Europa está com um problema enorme porque não pode fazer política monetária, só fiscal. Com os países usando uma mesma moeda, fica difícil. Perde-se um instrumento muito importante para lidar com as crises.

Futuro

Não é hora de falar disso. Após sete meses de campanha, é hora de esfriar a cabeça, ler jornal, descansar.

Enem vira caso de polícia e pode acabar na Justiça

DEU EM O GLOBO

Marcado por erros no primeiro dia, o Enem terminou ontem em meio ao risco de uma guerra judicial. O exame já virou caso de polícia: uma aluna, em Salvador, entrou com queixa-crime requerendo a anulação do teste, e o Ministério da Educação (MEC) chamou a Polícia Federal para apurar o uso de celulares e do Twitter durante a prova. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) considerou as falhas um "desastre" e anunciou que vai pedir ao Ministério Público Federal (MPF) que apure o caso. Os promotores devem analisar o caso hoje. O MEC admitiu que poderá aplicar novas provas para dois mil alunos. São os que responderam as questões do caderno amarelo, que continha erros.

Enem é concluído em meio a dúvidas

Possibilidade de novas provas e risco de anulação geram insegurança sobre teste

Demétrio Weber, Gustavo Paul e Patrícia Duarte

BRASÍLIA E RIO - O segundo e último dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) terminou ontem em meio a ameaças de uma guerra judicial e dúvidas sobre quais serão as consequências dos erros ocorridos nas provas de sábado — em todo o país, o cabeçalho dos cartões de resposta estava invertido, enquanto parte das provas do modelo de cor amarela tinha questões duplicadas ou inexistentes.

Neste último caso, a probabilidade maior é de que um novo teste seja realizado para os cerca de dois mil alunos que foram prejudicados.

O novo teste poderia ocorrer nos dias 6 e 7 de dezembro, quando será realizado o Enem para presídios, repetindo a solução dada em 2009 no Espírito Santo, onde as provas não foram ser aplicadas por causa das chuvas.

Ao todo, segundo números extraoficiais do Ministério da Educação (MEC), aproximadamente 20 mil provas amarelas apresentaram defeitos de impressão e foram distribuídas em pelo menos setes estados, entre eles Santa Catarina, Paraná, Distrito Federal, Minas Gerais, Mato Grosso e Sergipe.

Mas, segundo o reitor da Universidade de Brasília (UnB), José Geraldo de Sousa Jr., teriam sido 30 mil com defeito.

A gráfica informou a organização do Enem sobre a destinação das provas erradas no sábado à tarde. O Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe), que com a Fundação Cesgranrio foi contratado para aplicar e corrigir a prova, é um órgão da UnB.

Problemas serão tratados caso a caso

Porém, mais de 90% dos alunos teriam percebido o problema a tempo e tiveram suas provas trocadas por outras com dados corretos. O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Joaquim José Soares Neto, disse que nenhum estudante será prejudicado, mas ainda não sabe quando os problemas serão totalmente apurados e solucionados.

— Não posso descartar nenhuma possibilidade — afirmou Soares Neto, ao ser questionado se haveria a necessidade de realizar uma nova prova.

O secretário-executivo do MEC, José Henrique Paim Fernandes, disse ontem que a situação de quem recebeu as provas amarelas com erros está sendo levantada caso a caso, já que se trata de um número “residual”: — A gente não sabe o número residual.
Vai ser apurado. Só aí vamos ver se é necessário (aplicar novo teste).

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) considerou as falhas um “desastre” e anunciou que pedirá ao Ministério Público Federal (MPF) que investigue o caso. Em São Paulo, o MPF já anunciou que fará isso, enquanto participantes do Enem avaliavam a possibilidade de ingressar com ações pedindo a anulação do exame.

O presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, disse que ainda é cedo para se pedir o cancelamento. Primeiro, segundo ele, é preciso ter clareza sobre a extensão do problema: — Temos que ver a repercussão que teve no rendimento dos candidatos.

Ele criticou o MEC, lembrando que o Enem de 2009 acabou adiado por causa do vazamento da prova e que o gabarito da edição daquele ano foi divulgado com erros, levando à demissão do então presidente do Inep, Reynaldo Fernandes.

— É um erro que se repete e, por isso mesmo, deve ser apurada a responsabilidade — disse Cavalcante.

Sobre isso, Soares Neto disse que a realização das provas do Enem teve “padrão bastante bom” e que não existe “qualquer possibilidade” de se realizar um novo teste para todos os alunos.

Ele defendeu que o Inep não tem “poder de polícia” e se esquivou das perguntas sobre quem teria responsabilidade sobre as falhas.

O reitor da UnB disse que o erro só pode ter ocorrido na gráfica. Ainda assim, o Inep tem responsabilidades sobre as provas. O edital do processo que escolheu as empresas participantes da preparação dos exames prevê que o instituto tem de “acompanhar e fiscalizar a execução dos serviços, por meio dos servidores designados como representantes da administração, exigindo seu fiel e total cumprimento”.

A estratégia do Inep para contornar o problema no cabeçalho nos cartões de resposta também foi alvo de críticas.

No sábado, o Inep divulgou que quem preencheu o cartão de forma invertida poderá solicitar que a prova seja corrigida também ao contrário, a partir desta quarta-feira, 10 de novembro, e até o dia 16, pelo site http://www.enem.inep.gov.br/.

Para o secretário-executivo da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Gustavo Balduíno, isso cria um problema jurídico. Segundo ele, até quem foi avisado e preencheu corretamente o cartão poderá solicitar a correção na ordem invertida. Ainda mais que, com a divulgação extraoficial dos gabaritos, os candidatos poderão fazer as contas e verificar de qual maneira obtêm mais acertos: na ordem prevista ou na ordem invertida.

Presidente da Cesgranrio, que integra o consórcio responsável pela realização do Enem, Carlos Alberto Serpa de Oliveira, se esquivou das críticas ao exame.

— A Cesgranrio não tem nada a ver com isso. Cabe a ela aplicar e corrigir as provas. Não temos nem acesso às provas impressas.

Segundo o Inep, a abstenção no Enem, no domingo, foi de 29,19% dos candidatos.

O ministro da Educação, Fernando Haddad, esteve no Palácio do Alvorada à tarde para encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A assessoria do MEC negou que ele tenha ido prestar esclarecimentos sobre os problemas.

Haddad acompanhará Lula, hoje, na viagem a Moçambique.

Recife, cidade lendaria (Capiba) - Chico Buarque

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Chopp :: Carlos Pena Filho

Na avenida Guararapes,
o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antonio,
tanto se foi transformando
que, agora às cinco da tarde,
mais se assemelha a um festim.
Nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.
Ah, mas se a gente pudesse
fazer o que tem vontade:
espiar o banho de uma,
a outra, amar pela metade
e daquela que é mais linda
quebrar a rija vaidade.
Mas como a gente não pode
fazer o que tem vontade,
o jeito é mudar a vida
num diabólico festim.
Por isso no Bar Savoy,
o refrão é sempre assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.


Do livro: "Livro Geral", Ed. Póstuma, 2 ªed. 1999, PE