sábado, 8 de janeiro de 2011

Alta no preço da comida faz da inflação a maior em 6 anos

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

No último ano do governo Lula, índice ficou acima do centro da meta, apontando para alta da taxa de juros

A inflação oficial atingiu em 2010, último ano do governo Lula, o maior nível em seis anos. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 5,91%, acima do centro da meta estipulada pelo Banco Central (405%) e superior à taxa de 2009 (4,31%). Segundo o IBGE, os alimentos foram responsáveis por 40% do IPCA - os preços subiram 10,39%, mais do que o triplo do apurado em 2009 (3,18%). Analistas dizem que o cenário para 2011 é preocupante e apostam em alta da taxa básica de juros, atualmente em 10,75%, na próxima reunião do Copom, neste mês. A previsão é de que o aquecimento do consumo interno deve continuar a elevar os preços de alimentos e serviços.

Hipermercados fazem guerra de preço de comida

Campanha iniciada pelo Walmart é rebatida por Extra e Carrefour, com redução nos valores de produtos alimentícios

Márcia De Chiara

A disparada dos preços dos alimentos virou mote de vendas para as grandes redes de supermercados neste início de ano. Além das tradicionais liquidações de janeiro de geladeiras, TVs e máquinas de lavar, por exemplo, os supermercados iniciaram uma guerra de preços de comida este mês.

O estopim ocorreu na quarta-feira, quando o Walmart, terceira maior rede varejista do País do setor de supermercados, anunciou uma nova política comercial, com a redução de até 20% nas cotações de 2 mil itens, a maioria alimentos, por período indeterminado.

No dia seguinte, a rede Extra, do Grupo Pão de Açúcar, líder do setor supermercadista, rebateu a concorrência e anunciou, num encarte de jornal, cerca de 20 produtos, entre alimentos e itens de limpeza, com preços em promoção. A campanha foi além das ofertas e provocou o rival com a frase: "Preço baixo todo mundo diz que tem. Agora, mais barato é no Extra".

Já a reação do Carrefour foi mais discreta. A rede se limitou a espalhar cartazes pelas lojas, reforçando a ideia de que "ninguém bate o precinho Carrefour" e que a empresa cobre qualquer oferta anunciada pelo concorrente.

Um levantamento feito pelo Estado ontem, nas lojas do Walmart do Pacaembu, do Extra da Freguesia do Ó e do Carrefour do Limão, mostra que há um movimento dos hipermercados para cortar preço de comida.

De 12 alimentos básicos escolhidos aleatoriamente, como arroz, feijão, carnes, óleo de soja, açúcar, café, açúcar, macarrão e leite, a reportagem constatou que o Walmart oferecia ontem os preços mais baixos que os concorrentes em sete itens. O Extra tinha preços menores em três produtos e o Carrefour em apenas dois itens.

José Rafael Vasquez, vice-presidente comercial do Walmart, disse que a sua rede perde para os concorrentes em cinco itens porque eles fizeram movimentos promocionais de corte de preços. "A nossa política é de preço baixo todo dia, não por um dia X", provocou o executivo. Ele contou que a empresa negociou com os fornecedores cortes de preços, retirando verbas de promoção e de marketing que encareciam os produtos.

"Estamos retirando as ineficiências da cadeia para aumentar os volumes vendidos e a indústria gostou da ideia", disse Vasquez. Segundo ele, as negociações com os fornecedores começaram em abril do ano passado, muito antes da disparada da inflação dos alimentos.

José Roberto Tambasco, vice-presidente executivo do Grupo Pão de Açúcar, rebateu a concorrência e afirmou que o corte de preços do Walmart não foi "tão radical" como o anunciado pela empresa. Ele pesquisou as cotações dos 2 mil itens antes e depois da nova política comercial do concorrente e constatou que a redução média foi de 5%, e não de 15% a 20% como anunciada. "Teve preço que até subiu", disse o executivo, que mantém a política de ações promocionais.

Inflação. "A inflação dos alimentos virou hoje uma oportunidade de venda para as grandes redes", afirmou o presidente do conselho do Programa de Administração de Varejo (Provar), Claudio Felisoni de Angelo. Ele compara a estratégia das empresas varejistas de reduzir preços promocionalmente à tática do "leve três e pague dois" ou de fixar preços terminados em 0,99 centavos para que o consumidor tenha a impressão de que está gastando menos.

A alta dos alimentos foi o grande fator de pressão da inflação no ano passado e fez com que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechasse 2010 em quase 6%, 1 ponto e meio acima do centro da meta (4,5%).

Martinho Paiva Moreira, diretor de Economia da Associação Paulista de Supermercados (Apas), explicou que os supermercados estão repassando para o consumidor neste início de ano a desaceleração nos preços de várias commodities no mercado internacional.

"Trata-se de um ajuste sazonal e transitório nos preços dos alimentos", afirmou o sócio da RC Consultores, Fabio Silveira. Para o economista, a comida deve continuar pressionando o custo de vida do brasileiro nos próximos três meses. Ele fez esse prognóstico levando em conta que as cotações de commodities agrícolas importantes, como açúcar, soja, café, milho e trigo, estão subindo no mercado internacional e devem ter impactos nos preços domésticos em breve.

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