terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Procura-se a oposição::Marco Antonio Villa

DEU EM O GLOBO

É rotineiro dizer que a propaganda é a alma do negócio. Na política, ela é ainda mais importante. No Brasil, a presidência Lula foi aquela que melhor compreendeu a necessidade de transformar qualquer ato do governo em propaganda. E mais: através da Secretaria de Comunicação Social, pagando entre mil e três mil reais mensais, obteve de 4.200 veículos de comunicação, quase todos no interior do país, apoio irrestrito ao governo. A veiculação da propaganda oficial foi o pretexto para a transferência dos recursos. Para os grandes centros, o caminho foi o "apoio cultural" a centenas de artistas através do Ministério da Cultura e, principalmente, dos bancos e empresas estatais (especialmente a Petrobras). Juntamente com os milhares de assessores incrustados na máquina estatal, a estrutura partidária do PT e, secundariamente, com o apoio dos outros partidos da base no Congresso Nacional, foi construída uma máquina de propaganda nunca vista no Brasil.

No passado tivemos o Departamento de Imprensa e Propaganda, durante o Estado Novo (1937-1945), ou a Assessoria Especial de Relações Públicas, notabilizada durante o governo Médici (1969-1974). Mesmo assim, havia uma oposição, tolerada ou não. Mas a Secom superou amplamente seus antecessores. Foi tão eficaz que até convenceu os opositores, que ficaram surpreendidos quando, no primeiro turno, 54% dos eleitores votaram contra o governo na eleição presidencial. Ou seja, a oposição estava mais convencida dos êxitos do governo do que os eleitores.

A euforia construída artificialmente pela propaganda dá a entender que vivemos uma expansão econômica em ritmo chinês. Entretanto, na média dos últimos 8 anos, o Brasil cresceu aproximadamente 1/3 do que a China, bem menos do que no quinquênio juscelinista (1956-1961) e menos ainda do que no "milagre econômico" (1968-1973). Se houve uma melhor distribuição de renda e enorme expansão do crédito, os indicadores sociais continuam muito ruins, e isto é o que mais importa.

Habilmente - mas extremamente nocivo para o futuro do país -, o governo fez uma opção preferencial: deixou de lado o enfrentamento dos graves problemas nacionais (que nem sempre redunda imediatamente em votos) e escolheu o distributivismo primitivo, das migalhas, para os setores mais pobres, deixando para o grande capital lucros nunca obtidos na história. Eleitoralmente foi um sucesso. Elegeu Dilma, uma desconhecida para a maioria dos seus eleitores 3 anos atrás.

Contudo, esta política não poderá ter vida longa. É produto de uma conjuntura econômica internacional favorável, da eficiência do setor primário (mas que em alguns setores já atingiu seu limite) e do aprofundamento de um modelo exportador que está desindustrializando o país. Destas combinações - e do oportunismo eleitoral do distributivismo primitivo - os grandes prejudicados serão o país e os mais pobres - que continuarão pobres ad aeternum. Sem a rápida melhora dos indicadores sociais, a situação de pobreza não vai ser alterada simplesmente pelos programas assistenciais. Somente políticas públicas que efetivamente enfrentem os péssimos indicadores de saúde, educação, habitação e saneamento básico é que poderão retirar milhões de brasileiros da miséria. Para isso é necessário haver ousadia, esforço, competência administrativa e um plano estratégico para o país, tudo que em oito anos Lula não fez - e que dificilmente Dilma fará.

O novo governo já nasceu velho. Administra o varejo. Faz a pequena política. Reforça o conservadorismo. Tem uma fórmula nefasta para vencer eleições. Deseja manter tudo como está. O importante é o poder. É através dele que é possível atender às burocracias partidárias, sindicais e das empresas estatais. Além de estabelecer uma aliança com o grande capital parasitário, lucrativa para ambos.

A oposição assiste a tudo calada. Nem sequer protesta. Está mais preocupada com possíveis candidatos para 2014, mas esqueceu de fazer política em 2011. Ela tem um compromisso histórico com o país. Deve romper com a inércia e não ficar assustada com a propaganda oficial. Deixar de lado - ao menos neste momento - os projetos personalistas. Não faltam bons quadros políticos. Pode elaborar um programa mínimo. Tem todas as condições para acompanhar as atividades do governo, denunciar e propor alternativas. Com uma base governamental ampla e sedenta de cargos, não faltarão oportunidades para explorar as contradições. A eleição do presidente da Câmara pode ser uma primeira oportunidade para a oposição começar a fazer política.

Marco Antonio Villa é historiador.

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