segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Cirurgia eletiva:: Melchiades Filho

O Planalto prefere a versão de que Dilma gritou basta, de que enfim um presidente disse não à banda podre do Congresso. Há, no entanto, mais cálculo político do que propósitos edificantes na decisão de desalojar a ala mais estridente do PMDB de posições estratégicas da máquina federal.

O objetivo é esterilizar o campo de ação do grupo que deveria dirigir a Câmara, com poder sobre votações e CPIs, nos dois últimos anos de Dilma -se respeitado o acordo chancelado pelo próprio governo.

As canetadas da Presidência têm precisão cirúrgica. Vão derrubando, um a um, os redutos da bancada peemedebista da Câmara. Furnas, Correios, Funasa, Conab...

Ligados ao vice Michel Temer, esses deputados já haviam recebido migalhas na montagem dos ministérios: pastas sem fôlego orçamentário, quando não partilhadas com outros partidos (Agricultura, Turismo e Assuntos Estratégicos).

Já o PMDB do Senado, tão ou mais fisiológico, não foi até agora incomodado por Dilma. Renan Calheiros manteve o setor de transporte de combustíveis e ganhou o INSS de bônus. A área elétrica segue sob influência de Sarneys -José e o filho indiciado, Fernando.

É fato que as estatais operadas pelo PMDB da Câmara frequentaram o noticiário policial durante o governo Lula. Mas é verdade, também, que Dilma não se viu movida a limpar outros notórios recantos de escândalos, como, por exemplo, a administração de estradas e ferrovias, há anos sob tutela do PR.

Ocupar altos cargos tornou-se fundamental para o exercício partidário -não apenas para a roubalheira. Determinar a estrada que ganhará asfalto ou escolher a cidade que abrigará uma faculdade é mais do que uma decisão técnica. Tem imediatas implicações eleitorais.

Como Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) convencerá os colegas a fazê-lo presidente da Câmara em 2013 se ele não tem força nem para garantir as próprias nomeações?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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