sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Dilma tira Furnas do grupo de Cunha e entrega a Sarney

A presidente Dilma Rousseff decidiu acabar de vez com a influência do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) em Furnas. Contrariada com a reação do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, que ameaçara entregar todos os cargos no governo caso o partido não mantivesse a presidência da estatal, Dilma escolheu, convidou e mandou anunciar o nome do engenheiro Flávio Decat para o cargo. Ex-diretor da Eletrobras, Decat é próximo do grupo do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e também do senador Delcídio Amaral (PT-MS). Interceptações telefônicas feitas com autorização judicial pela Polícia Federal durante a Operação Faktor registraram, em 2008, uma conversa de Fernando Sarney com o pai em que pedia que o senador arrumasse um emprego na Eletrobras para o amigo Decat.


Dilma enfrenta Cunha e Alves

A HORA DA PARTILHA

E indica para dirigir Furnas Flávio Decat, que tem ligações com a família Sarney

Gerson Camarotti e Chico de Gois

Diante das ameaças feitas pela bancada do PMDB na Câmara de entregar todos os cargos no governo se não mantivesse o comando de Furnas, a presidente Dilma Rousseff decidiu ontem nomear o engenheiro Flávio Decat para a presidência da estatal como uma forma de barrar a pressão dos peemedebistas ligados ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Dilma ficou especialmente contrariada com as declarações do líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), ao GLOBO rejeitando a indicação do nome de Decat, ex-diretor da Eletrobras, que tem proximidade com ela e com o grupo do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

A decisão da presidente Dilma foi tomada no final da manhã, depois de uma reunião que contou com as presenças do vice-presidente Michel Temer e dos ministros Antonio Palocci (Casa Civil), Edison Lobão (Minas e Energia) e Luiz Sérgio (Relações Institucionais). Segundo relatos, a presidente não gostou de ter sido desafiada com a exigência feita pela bancada do PMDB do Rio de Janeiro de fazer a nova nomeação.

Diante disso, a presidente avisou que demitiria imediatamente o atual presidente da estatal, Carlos Nadalutti Filho, que tinha o respaldo do deputado Eduardo Cunha, pivô da atual crise em Furnas, com as denúncias reveladas pelo O GLOBO há duas semanas. Com isso, Dilma colocou um ponto final nas especulações em torno do futuro da estatal. A reunião de última hora acabou atrasando em 40 minutos a primeira cerimônia pública no Palácio do Planalto, na qual ela anunciou a distribuição gratuita de medicamentos contra hipertensão e diabetes.

Determinação é trocar diretoria

O anúncio foi feito pelo ministro Edison Lobão, depois que Dilma convidou pessoalmente o ex-presidente da Eletronuclear e ex-diretor da Eletrobras para presidir Furnas. Decat, que se reuniu com a própria Dilma também na tarde de ontem, aceitou. Dilma chamou Decat para uma conversa no mesmo dia e, no meio da tarde, mandou anunciar o nome do novo presidente de Furnas.

Decat recebeu a determinação de fazer uma substituição completa em toda a diretoria da estatal, inclusive nas indicações políticas do PMDB e do PT. Nas palavras de um ministro que acompanhou a crise, as declarações do líder Henrique Alves foram "exageradas" e de "muito atrevimento", o que motivou uma reação à altura.

- Decat vai pedir para que todos os diretores de Furnas coloquem seus cargos à disposição. Ele foi uma escolha da presidente Dilma. Ganhou sua confiança quando Dilma era ministra de Minas e Energia do governo Lula e ele, do setor elétrico - disse Lobão.

Lobão negociava uma saída honrosa para o PMDB. Em troca da nomeação de Decat para Furnas, o partido ficaria com os comandos da Eletrobras e da Eletronorte. Para dar uma justificativa ao partido, o governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) aceitou apadrinhar Decat para evitar reações. Mas a proposta foi rejeitada por Henrique Eduardo Alves.

Ainda pela manhã, Dilma foi surpreendida com o impasse em relação a Furnas. Isso porque Henrique Eduardo Alves mostrou-se irredutível numa negociação. Na noite anterior, houve uma longa reunião no Palácio do Planalto, que só terminou às 2h da madrugada de ontem. Participaram dessa reunião Antonio Palocci, Temer, Henrique Alves e o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR).

Para superar o impasse, Lobão sugerira o nome de Decat. O PMDB, no xadrez ensaiado pelo ministro, poderia compensar a "perda" com o comando da Eletrobras e da Eletronorte. Mas Henrique Eduardo Alves não estava disposto a aceitar a oferta. Diante das ameaças de Henrique Alves, Palocci foi obrigado a reagir de forma dura.

- Se você quer romper, se você quiser sair do governo, fique à vontade - disse Palocci, segundo relato dos presentes.

Durante todo o dia de ontem, integrantes da cúpula do PMDB demonstraram preocupação com a postura de Henrique Alves. Ele foi alertado que, se insistisse em desafiar a presidente Dilma, poderia criar problemas para a sua própria pretensão de ser eleito presidente da Câmara num prazo de dois anos.

O ministro Edison Lobão minimizou o descontentamento da bancada de seu partido na Câmara. Ele disse que incumbiu Decat de conversar com o vice-presidente Michel Temer, presidente licenciado do PMDB.

- Decat vai ter uma conversa, que já recomendei a ele, civilizada com o vice-presidente Michel Temer. Eu próprio vou conversar com todos os líderes do PMDB e não há nenhuma guerra contra ele. Não há o que se dizer contra ele (Decat). Ele está sendo convidado e é um técnico e já trabalhou no sistema Eletrobras - adiantou Lobão, que negou que a indicação tenha sido sua.

- Foi um consenso do governo. A presidente conhece bem o Decat. Ela foi ministra de Minas e Energia no período em que ele atuava fortemente no setor.

De acordo com Lobão, as demais trocas na diretoria de Furnas serão definidas pelo próprio Decat em consulta a Dilma e a Lobão. Na opinião do ministro, não há necessidade da instalação de uma CPI sobre Furnas, como quer a oposição.

- A CPI é para momentos de grandes crises. E não há crise no setor - disse Lobão.

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