domingo, 13 de fevereiro de 2011

Não subestimar a justa indignação:: Luiz Carlos Bresser-Pereira

Desde que começaram as revoluções por ora vitoriosas na Tunísia e no Egito deixaram "em situação embaraçosa" os Estados Unidos e a França, e seus intelectuais "ficaram confusos". Não é difícil compreender o embaraço dos grandes países.

Embora façam um discurso em defesa da democracia, acusem de forma indignada dirigentes nacionalistas de países que não seriam democráticos mas que atendem às condições mínimas da definição de democracia, e não hesitem em apoiar movimentos de direita que tentam derrubá-los pela força, não obstante tudo isso, apoiam de forma integral governos abertamente ditatoriais e corruptos, mas que se portam de forma "amiga" em relação a seus interesses de curto prazo.

Quanto à "confusão" de seus intelectuais, foi um artigo em Le Monde (6.fev.2011) que a acentuou referindo-se a intelectuais de direita na França como Bernard-Henri Lévy, para quem "a situação seria muito complexa", ou Olivier Mongin que declara: "mais vale um Ben Ali que um Bin Laden".

No fundo, diz o jornal, "a revolução iraniana está em todas as mentes". E, portanto, para se evitar uma possível ditadura islâmica e, portanto, nacionalista, se apoia uma ditadura corrupta e dependente.

Em primeiro lugar, não há qualquer razão de ordem democrática ou de ordem moral para essa opção.

Por que uma ditadura corrupta e dependente é melhor para seu povo do que uma ditadura islâmica?

Segundo, não há razão para se colocar o problema da Tunísia ou do Egito nesses termos.

Existe sempre o risco de uma revolução nacionalista islâmica, mas esse risco só aumentará e se tornará real se os países ricos insistirem em pensar em termos dessas duas alternativas radicais, e, a partir daí, continuarem a optar pela ditadura corrupta e dependente.

Egito e Tunísia já não são países estritamente pobres, mas, ao contrário de países como o Brasil ou como a Índia, não realizaram ainda sua revolução capitalista, não contam com uma classe empresarial ampla, uma classe média diversificada, e um Estado capaz de defender os interesses nacionais.

É disto que esses países precisam, é isto o que os jovens que lideram essas duas revoluções com ajuda da Internet reivindicam.

Eles tiveram acesso à educação, mas a administração dependente e incapaz de suas economias não promove o desenvolvimento econômico necessário para que eles tenham empregos e salários decentes ou então oportunidade de se tornarem empresários.

Estes objetivos conflitam com a lógica imperialista, que sempre foi a de se aliar às elites dependentes e aos governos corruptos das colônias. Mas será que essa é a melhor estratégia?

ORIENTE MÉDIO

Em relação aos países pobres, acredito que ainda dê bons resultados. Mas a era dos impérios está terminando.

Foi isso o que mostraram os países do Leste Europeu em 1989; é isto que estão dizendo os países do Oriente Médio em 2011.

A revolução agora não é tão decisiva como foi aquela, porque os países do Oriente Médio são menos desenvolvidos, e porque os impérios do Ocidente não estão tão debilitados como estava o soviético.

Mas é um equívoco subestimar a justa indignação e a determinação desses povos de alcançarem e autonomia nacional e a democracia.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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