sábado, 19 de fevereiro de 2011

Regimes ampliam repressão à onda de protestos pós-Egito

Embaixador na Líbia vai a cidade de confrontos, onde estão cem brasileiros

Governos de Bahrein, Líbia e Iêmen, três regimes autoritários que se tornaram foco de protestos após a queda do ditador egípcio, intensificaram a repressão a manifestantes nas ruas. No reino do Bahrein, os militares abriram fogo contra a multidão que desafiou o estado de emergência, e há relatos de quatros mortos e mais de 50 feridos. Numa demonstração de força, o ditador líbio Muamar Kadafi desfilou em carro aberto por Trípoli, mas fontes opositoras denunciaram a morte de 50 pessoas em quatro dias de confrontos. O Embaixador do Brasil na Líbia vai a Benghazi para verificar a situação de cem funcionários da construtora Queiroz Galvão. Segundo a a embaixada, todos estão bem, N Egito, centenas de milhares voltaram à Praça Tahrir para comemorar uma semana sem Mubarak.

Itamaraty manda embaixador a Benghazi

Cem brasileiros estão na cidade, foco das tensões

O embaixador do Brasil na Líbia, George Ney de Souza Fernandes, irá a Benghazi, principal foco das manifestações, para se reunir com representantes da comunidade brasileira. Há pelo menos cem brasileiros na cidade, funcionários da Queiroz Galvão que trabalham na construção de casas e prédios.

- Todos os brasileiros estão bem. Entramos em contato com eles e disseram estar longe dos protestos - contou, por telefone, Rosemary Manhus, funcionária da embaixada.

Há cerca de 500 brasileiros na Líbia, a maior parte em Trípoli, a serviço de empresas como Petrobras, Odebrecht e Andrade Gutierrez. Mas nenhum foi afetado pelos protestos, segundo a embaixada.

A Queiroz Galvão contou ter 130 funcionários na Líbia e que "acompanha a evolução dos acontecimentos". A Odebrecht, que tem 5 mil funcionários, sendo 200 brasileiros, disse que "o clima em Trípoli é de tranqüilidade" e que as obras de expansão do Aeroporto Internacional de Trípoli e da construção do terceiro anel viário estão normais. A Andrade Gutierrez - que tem projetos de água, esgoto e pavimentação na capital - "acompanha a situação".

Em nota, o Itamaraty disse que o governo brasileiro acompanha com apreensão a situação na Líbia e repudia os atos de violência que resultaram nas mortes de civis.

Kadafi desfila e recorre à força contra revolta

Segundo opositores, mortes chegam a 50. Mobilização popular antes concentrada no leste chega ao sul da Líbia

TRÍPOLI. Numa demonstração de força, o presidente líbio, Muamar Kadafi, desfilou ontem em carro aberto pelas ruas de Trípoli, sendo cumprimentado pela multidão. Mas os relatos que conseguiram driblar o bloqueio do Estado e chegar ao exterior mostram que a situação não é tão calma para o líder árabe há mais tempo no poder. Fontes opositoras relataram as mortes de 50 pessoas em quatro dias de confrontos com milicianos e policiais. Os funerais transformaram-se em novos e violentos protestos, com prédios do governo e carros incendiados, no que parece ser o mais sério desafio aos 42 anos do regime Kadafi.

Não está claro se o regime pretende fazer concessões, mas um site ligado a um dos filhos de Kadafi anunciou ontem que o Congresso suspendeu as sessões por tempo indeterminado e que adotará "medidas para reformar o governo" quando retornar. O jornal "Quryna" disse ainda que executivos em estatais devem ser substituídos.
- Não queremos outro líder senão Kadafi - gritava uma mulher diante do carro do ditador.

Paramilitares abrem fogo em Benghazi

Os protestos teriam levado a Líbia, que ocupa a presidência rotativa da Liga Árabe, a adiar a reunião marcada para março. As manifestações se concentram no leste do país, mas ontem chegaram ao sul e mesmo à capital, Trípoli, onde jovens protestaram no fim da tarde. O forte controle sobre as comunicações impede a confirmação dos fatos. À tarde, a internet também foi bloqueada. A organização Human Rights Watch conseguiu confirmar 24 mortes nos confrontos de quarta e quinta-feira, enquanto opositores citavam ontem pelo menos mais 23 em al-Bayda.

- Os ataques das forças de segurança a manifestações pacificas mostram a realidade do brutal regime de Muamar Kadafi - disse Sarah Leah Whitson, diretora da Human Rights Watch para o Norte da África.

Soldados foram enviados aos principais focos de protestos - como Benghazi, segunda maior cidade da Líbia - e mercenários de língua francesa foram vistos atacando manifestantes. Na cidade, onde o ditador tem menor apoio, milhares saíram às ruas carregando os corpos dos mortos na véspera, enquanto paramilitares dos Comitês Revolucionários, à paisana, abriram fogo contra a multidão.

Em al-Bayda, testemunhas viram a chegada de unidades especiais de milicianos. Segundo relatos, policiais, que pertencem à mesma tribo da população, se uniram aos manifestantes para impedir o ataque da milícia. Os manifestantes teriam destruído a pista do aeroporto para evitar o envio de soldados.

- Eu vi imigrantes africanos e vi tunisianos entre os milicianos - contou uma testemunha em al-Bayda.

Para evitar os protestos, o governo usou várias estratégias: cortou água e luz, e fez promessas em Zentan: "Podemos dar tudo o que precisarem", diziam funcionários com altofalantes. Apelou ainda para a intimidação: "Quem quer que tente violar as diretrizes estará cometendo o suicídio e brincando com fogo", dizia o jornal "Az-Zahf Al-Akhdar", ou a marcha verde. Verde é a cor que o Coronel Kadafi adotou para o que chama de revolução, sistema criado após tomar o poder em 1969, no qual ele seria um cidadão comum, mas que de fato tem o poder absoluto, com um forte culto à personalidade, controle da mídia e um impressionante aparato de segurança.

Filho de um pastor beduíno, ele chegou ao poder com um golpe militar em 1969. Foi acusado pelo Ocidente de ter ligações com o terrorismo, principalmente após a explosão de uma bomba num voo da Pan Am, em 1988, sobre a Escócia, o que gerou sanções à Líbia. O caminho de volta começou em 2003, após o país abandonar o programa de armas proibidas e assumir a responsabilidade pelo atentado.

No Irã, multidão pede forca para opositores

Milhares saem às ruas para apoiar regime de Ahmadinejad, que aumenta cerco às residências de Karroubi e Moussavi

TEERÃ. Depois de reprimir com violência um novo protesto da oposição no início da semana, o governo do Irã contra-atacou e levou milhares de simpatizantes às ruas de Teerã para declarar seu apoio ao regime dos aiatolás. Atendendo à convocação do Conselho de Coordenação da Propagação do Islã, milhares deixaram as mesquitas após as orações de sexta-feira e marcharam pedindo a execução dos líderes opositores Mir Hossein Moussavi e Mehdi Karroubi - mantidos em prisão domiciliar e, segundo testemunhas, em condições cada vez mais difíceis.

Karroubi: "Derrubaram a república islâmica"

Mas, apesar das crescentes ameaças contra qualquer tentativa de articulação antigoverno, o aiatolá Ahmad Jannati - velho aliado do líder supremo Ali Khamenei e visto como integrante linha-dura do chamado Conselho dos Guardiões - afirmou que os opositores do chamado Movimento Verde tiveram sua reputação abalada.

- Aos que clamam pela execução deles, devo dizer que já foram executados. Perderam todo o prestígio e a credibilidade diante do povo iraniano. Sua comunicação deve ser completamente cortada. Eles não devem poder enviar ou receber mensagens. As linhas de telefone e internet devem ser cortadas. Devem ser prisioneiros em suas casas - afirmou Jannati, em sua prédica no campus da Universidade de Teerã.

Houve ainda manifestações de apoio ao governo de Mahmoud Ahmadinejad nas cidades de Arak e Ardabil, na província de Markazi. Os ativistas entoavam gritos de ordem como "Moussavi e Karroubi devem ser enforcados" e "Moussavi analfabeto, agente do Mossad", numa referência ao serviço secreto de Israel.

Na página de Mir Hossein Moussavi no Facebook, oposicionistas expressaram preocupação com o estado dele e da esposa Zahra - uma vez que as forças de segurança do governo expulsaram os guarda-costas particulares e mantêm a residência isolada. Segundo o site Jaras, desde quarta-feira os oficiais impedem que as três filhas do casal visitem os pais.

Já Mehdi Karroubi disse estar disposto a enfrentar um julgamento e, sem hesitar em desafiar o regime, disparou:

- Este governo não é mais uma república, nem é islâmico. Esses senhores derrubaram a república islâmica há muito tempo.
FONTE: O GLOBO

Um comentário:

Anônimo disse...

eu quero so saber como e que vai ficar esses brasileiros que foram para la para ter uma vida melhor sera que a embaixada do Brasil nao
vao fazer nada por ele, e as familias deles aqui no Brasil como
deve estar sentindo, a embaixada tem que fazer alguma coisa, nao ficar esperando o pior.