quinta-feira, 3 de março de 2011

BC aumenta os juros pela 2ª vez no governo Dilma

Para conter a inflação, o Banco Central elevou, pela segunda vez no governo Dilma, a taxa básica de juros do país em 0,5 ponto percentual, fixando-a em 11,75% ao ano, o maior nível desde 2009. Nos cálculos do BC, o aperto monetário nos últimos três meses já equivale a 1,75 ponto percentual. Isso considera as duas altas de 0,5 ponto da Taxa Selic em 2011 e as medidas de restrição ao crédito, cujo impacto é estimado em 0,75 ponto. Segundo economistas, os últimos reajustes dos preços, que fizeram a inflação anual chegar a 6,08% - a meta do governo é de 4,5% -, devem obrigar o BC a subir os juros até junho, para 12,50%. Hoje, o Brasil terá a maior taxa real do mundo: 5,9%, contra 2% da Austrália. O governo ainda não incluiu no cenário futuro de inflação impactos negativos da crise no Norte da África e no Oriente Médio. Para a Fiesp, os juros altos vão desaquecer a economia ainda mais.

BC eleva juros pela 2ª vez no ano

Para conter inflação, Selic vai a 11,75%. Analistas projetam que taxa terá novas altas até junho
Patrícia Duarte e Wagner Gomes

OComitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) fincou posição ontem e, apesar da pressão de parte dos agentes econômicos para acelerar o compasso, manteve o ritmo do aperto monetário ao elevar a taxa básica de juros do país em 0,5 ponto percentual, repetindo o movimento feito em janeiro passado. Com isso, a Selic passou a 11,75% ao ano, o maior patamar desde janeiro de 2009, quando ela estava em 12,75%. Foi a segunda elevação do governo Dilma. Segundo economistas, a alta dos preços nos últimos meses deve obrigar o BC a elevar a Selic pelo menos até junho. Será a única maneira, afirmam os analistas, de a autoridade monetária fazer a inflação convergir para o centro da meta de 4,5% em 2012, já que, para este ano, o objetivo está comprometido.

- O cenário de inflação surpreendeu nos últimos meses, com os preços bem acima das previsões. Isso fará o juro subir até junho, pelo menos, quando deve chegar a 12,75% ao ano. O BC não pode afrouxar o ciclo de aperto monetário se quiser convergir a inflação para o centro da meta em 2012 - disse Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria.

Segundo boletim Focus, pesquisa do BC com analistas de mercado divulgada esta semana, a projeção para a inflação oficial subiu pela 12ªsemana consecutiva. A estimativa para o IPCA passou de 5,79% para 5,8%. Há quatro semanas, a projeção estava em 5,64%. Para 2012, a estimativa permanece em 4,78%. Em fevereiro, o IPCA-15 acumulou 6,08% em 12 meses.

A alta na Selic, que serve de base para os juros cobrados nos empréstimos, deixa os financiamentos mais caros, inibindo o consumo e reduzindo a pressão inflacionária. A expectativa é que, no próximo encontro do Copom, em abril, haverá outra alta de meio ponto e, em junho, mais uma de 0,25 ponto, encerrando o ciclo com a Selic a 12,50%.

Para BC, aperto já equivale a 1,75 ponto

A decisão foi unânime, mas o comunicado, desta vez, foi bem mais conciso do que o usual: "Dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a Taxa Selic para 11,75% ao ano, sem viés", diz a nota de ontem. Em janeiro, o BC havia ressaltado que as medidas de restrição ao crédito anunciadas em dezembro também ajudavam.

- O comunicado curto indica que o BC está confiante de que esse ritmo (de alta de juros) vai fazer a inflação convergir para a meta (de 4,5% pelo IPCA) - avaliou o economista-chefe da corretora Prosper, Eduardo Velho.

Nos cálculos do BC, com a elevação de ontem, o aperto monetário nos últimos 90 dias já equivale a 1,75 ponto percentual. Isso considera as duas altas de 0,5 ponto da Selic em 2011 e as medidas de restrição ao crédito, cujo impacto é estimado em 0,75 ponto.

Por isso, na avaliação dos técnicos da equipe econômica, o BC não está sendo leniente no combate à inflação. Nos últimos dias, cresceram as pressões do mercado para que o aumento de ontem fosse de 0,75 ponto. Além da ação do BC, contribui para este cenário o corte de R$50 bilhões no Orçamento. A avaliação da autoridade monetária é que, não fosse o arrocho fiscal, os juros teriam que subir ainda mais.

O governo ainda não incorporou possíveis impactos negativos da crise no Norte da África e no Oriente Médio e de problemas climáticos ao cenário futuro da inflação. Considera que a situação ainda é instável.

- Há sim uma maior pressão (sobre os preços) dos alimentos, mas há desaceleração da atividade econômica e o apoio da política fiscal. O BC acertou ao elevar a Selic em meio ponto - defendeu o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves.

Em reação ao novo aumento, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, afirmou que a decisão foi "um crime". Em nota, o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, disse que "mais uma vez" o BC atendeu "aos interesses do capital especulativo". Já a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) disse ter recebido a decisão do Copom com "indignação".

- Os impactos desse ciclo de elevação dos juros irão desaquecer nossa economia ainda mais no futuro próximo - afirmou o presidente da entidade, Paulo Skaf.

Com a alta, o Brasil permanece no primeiro lugar do ranking de maiores taxas reais de juros (descontada a projeção de inflação para os próximos 12 meses) de mundo, com 5,9%, segundo levantamento da corretora Cruzeiro do Sul com 40 países.

Num fato inédito, o Copom recebeu novos membros no meio de um processo de decisão do juro básico. Às pressas, depois da aprovação pelo Senado, na terça-feira, foram publicadas ontem no Diário Oficial da União (DO) as nomeações de dois diretores do BC, Altamir Lopes e Sidnei Marques, que ficaram livres para participar do segundo dia da reunião, com direito a voto. Os dois estiveram presentes no primeiro dia também, porém ainda como chefes de departamento, cargo que não lhes dava chances de votar.

Lopes, que durante 16 anos ocupou a chefia do departamento Econômico do BC, foi para a diretoria de Administração no lugar de Anthero Meirelles, que vai dirigir a de Fiscalização. Marques, ex-chefe do Departamento de Monitoramento do Sistema Financeiro e de Gestão da Informação, vai para a diretoria de Liquidações.

Colaborou: Lino Rodrigues

FONTE: O GLOBO

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