terça-feira, 1 de março de 2011

Ingleses e inglesas:: Eliane Cantanhêde

Além herdar o mesmo marqueteiro, João Santana, Dilma Rousseff está seguindo no mínimo uma lição do seu antecessor e padrinho: mantém um olho esperto no mercado e outro nos milhões de eleitores miseráveis que ainda habitam esse Brasil tão varonil e que está estreando a primeira mulher na Presidência da sua história.

Ontem, foi a vez de agradar aos tais mercados, ou seja, bancos, investidores e produtores. Foi para eles, às vésperas da reunião do Copom (o comitê definidor dos juros), que Guido Mantega (Fazenda) e Miriam Belchior (Planejamento) ratificaram os cortes inéditos de R$ 50 bilhões. A Bovespa subiu.

As piores tesouradas são, nominalmente, nos ministérios das Cidades (R$ 8,6 bi) e da Defesa (R$ 4,4 bi) e, proporcionalmente, nos do Turismo (R$ 3,1 bi) e dos Esportes (R$ 1.5 bi). As emendas parlamentares foram comidas em 70%.

A tesoura não perdoou o "Minha Casa, Minha Vida", carro-chefe do marketing de Dilma na campanha do ano passado. Serão cortados R$ 5,1 bi -40% do total previsto.

A oposição reage dizendo que os cortes são para pagar a "conta da campanha" de Dilma em 2010. Ou seja, para compensar a gastança de Lula para eleger a sucessora.

Segundo o PSDB, os cortes foram só virtuais, "para inglês ver". E o DEM insiste: nada poderia confirmar tão cabalmente a "farra" fiscal dos últimos anos do governo Lula.

Mas, se Dilma tentou mostrar ontem para os "ingleses" e mercados que é uma moça durona e rigorosa com as contas públicas, ela hoje vai assumir um outro papel: a de "presidenta" boazinha, "mãe dos pobres" -ou melhor, "das pobres".

Preste atenção nas fotos. Em Brasília, delegou aos ministros o pacote de maldades. Na Bahia, é ela, em carne e osso, quem anuncia um saco de bondades e o aumento do Bolsa Família para comemorar o dia da Mulher, 8 de março.

É ou não é o mesmo pacote lulista de popularidade?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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