sábado, 5 de março de 2011

Luz amarela para inadimplência

EXCESSO DE VELOCIDADE

Em 2010, atraso em pagamentos cresceu 6,3% e Serasa estima alta de 8% este ano

Wagner Gomes

Depois de um crescimento recorde de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços do país) em 2010, puxado pelo consumo, que colocou mais pressão sobre a inflação, o sinal de alerta agora vem do crédito. Mesmo com as medidas baixadas pelo governo para tentar esfriar a economia, a inadimplência deve crescer 8% este ano e "acender a luz amarela", segundo o economista-chefe da Serasa Experian, Luiz Rabi. O indicador fechou com alta média de 6,3% no ano passado frente a 2009. Nos oito anos do governo Lula, a média de aumento da inadimplência foi de 6,7%.

- Teremos um ano de aperto monetário, sem as mesmas condições de crédito de 2010. Os juros estão subindo, as prestações ficando mais caras e os prazos de pagamento, mais reduzidos. Isso significa aumento de inadimplência, que pode facilmente crescer 8% e acender uma luz amarela - disse Rabi.

No ano passado, a alta de 6,3% da inadimplência ocorreu na esteira da expansão do crédito e das medidas de incentivo ao consumo do governo, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos, eletrodomésticos da linha branca e materiais de construção.

- Este ano, a situação muda um pouco. Com as medidas macroprudenciais do governo (de aperto ao crédito), já não é esperada uma retomada rápida da economia. Isso pode influenciar o nível de emprego, a renda do trabalhador e o índice de inadimplência. As portas ainda estão abertas para novas medidas, o que representa risco ao crédito.

Indicador aumentou 25% em janeiro

O economista explicou que, este ano, além de a economia brasileira voltar a crescer em patamar próximo do seu potencial (cerca de 4%, segundo os analistas), os juros estarão maiores e o crédito mais caro, provocando alta da inadimplência acima da média. Um primeiro sinal veio em janeiro, quando a Serasa captou variação de 25% no atraso dos pagamentos, na comparação com o mesmo período de 2010. Esse patamar não deve permanecer durante todo o ano, mas a expectativa é de crescimento frente a 2010.

- A alta em fevereiro deve permanecer no patamar de dois dígitos. Essa é a cara de 2011 - afirmou Rabi.

Segundo o economista, o crédito cresceu muito durante o governo Lula, principalmente após 2004, puxado pelo consignado. Em 2005, a Lei de Falências impulsionou o crédito imobiliário. Rabi explicou que isso fez o endividamento dobrar para a pessoa física nos oito anos do governo Lula. De acordo com o Banco Central, o volume de crédito na economia chega hoje a R$1,714 trilhão - 15% são de consumo. Isso representa 46,5% do PIB. No começo de 2010, o crédito chegava a R$1,4 trilhão.

- Em 2003, o crédito em relação ao PIB era de 20%. Hoje chega a 46,7%. Não há dúvida de que o endividamento sobe também - disse Rabi.

Cláudio Felisoni, presidente do Programa de Administração do Varejo (Provar), explicou que a inflação mais alta este ano deve corroer a renda real e aumentar o endividamento dos consumidores. Segundo ele, os prazos médios de pagamentos já vêm diminuindo, enquanto os juros estão em alta. A taxa de juro média nas vendas de varejo subiu de 39,9% ao mês, em dezembro, para 45% em janeiro.

- O problema é que a volúpia do consumo ainda não acabou - disse.
FONTE: O GLOBO

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