quarta-feira, 23 de março de 2011

Marina quer ‘democratizar' PV, mas pode criar partido

Parlamentares e líderes do PV, entre eles a ex-senadora Marina Silva, iniciaram um movimento para mobilizar as bases verdes e cobrar a democratização do partido. Eles querem a realização de uma convenção nacional e a convocação de eleições diretas para escolher novos diretores. Não está descartada a criação de um novo partido.

Marina cria grupo para ‘democratizar’ PV, mas não descarta criar nova sigla

Terceira colocada na eleição presidencial, ex-senadora está sem espaço na legenda e encabeça dissidência que, a partir desta quinta, percorrerá o País pregando renovação; se ação fracassar, ela já cogita fundar um partido

Roldão Arruda


Dois dias após o prefeito Gilberto Kassab ter anunciado a criação de seu PSD, um expressivo grupo de parlamentares e líderes do PV, entre eles a ex-senadora Marina Silva, decidiu por na rua um movimento destinado a mobilizar as bases verdes para cobrar a democratização do partido. Eles querem a realização de uma convenção nacional, no prazo de seis meses, e a convocação de eleições diretas para a escolha de novos diretores. A médio prazo, se a ação não funcionar, o grupo não descarta a hipótese de o movimento, denominado Transição Democrática, desaguar no surgumento de um novo partido.

O primeiro ato político do grupo está programado para quinta-feira, 24. Líderes de diferentes regiões do País devem se reunir em São Paulo para o lançamento de um manifesto com as teses do movimento. Segundo um dos organizadores, o presidente do diretório paulista, Maurício Brusadin, na terça-feira, 22, já estava confirmada a presença de sete deputados federais - o equivalente a metade da bancada verde.

Marina Silva, terceira colocada na eleição presidencial do ano passado com quase 20 milhões de votos, é aguarda, mas até o início da noite desta terça seus assessores diziam que ela ainda estava com problemas de agenda. A ex-senadora terá um papel importante na segunda missão da Transição Democrática, que é a organização de debates políticos com militantes verdes e simpatizantes por todo o País.

A principal meta é a renovação do partido. Quando Marina Silva se desligou do PT e desembarcou com seu grupo no PV, em 2010, ficou combinado que seriam realizadas no primeiro semestre deste ano a convenção nacional e a eleição interna, precedidas de debates sobre democracia. Isso valeu até quinta-feira da semana passada, quando a direção nacional se reuniu na sede do partido, na região do Lago Sul, em Brasília.

Acatando proposição do deputado Zequinha Sarney (MA), a maioria dos participantes daquele encontro votou pelo adiamento da convenção até 2012. Com isso, o atual presidente, o também deputado José Luiz Penna (SP), ganhou mais um ano de mandato - o 13.º.

Como ninguém acredita que se promovam convenções e eleições partidárias no ano que vem, por causa das eleições municipais, é provável que Penna atravesse o 14.º aniversário no poder. Seus críticos já o chamam jocosamente, nos bastidores, de ‘Penna Mubarak’, em referência ao ex-ditador do Egito.

O adiamento irritou Marina Silva. Ela tem dito que os 19,6 milhões de votos dados em 2010 à sua candidatura, identificada com a questão da sustentabilidade, devem ser vistos como um legado político, tanto no plano nacional, no sentido da valorização da temática, quanto no plano interno, provocando a democratização na estrutura do PV.

No mesmo diapasão, a deputada fluminense Aspasia Camargo (RJ), que confirmou presença no encontro de amanhã, diz que seu partido vive um momento crítico, no qual deve fazer a transição democrática e incorporar "o legado da campanha".

O adiamento também deu origem a uma crise que expõe as fissuras internas do PV e a resistência de alguns setores à presença de Marina no partido. Para esses grupos, mais próximos do presidente Penna, considerado um dirigente pragmático, a candidatura de Marina não trouxe tantos benefícios ao PV como se imaginava. Citam o fato de a bancada federal continuar com as mesmas 14 cadeiras que tinha antes.

"Quem diz isso não vê como a base do partido foi ampliada na eleição passada", observou Brusadin. "O que há por trás desses comentários é o medo de que a renovação dos quadros leve o PV a um papel de protagonista, em vez de se resignar ao papel de coadjuvante, servindo aos partidos maiores."

Na própria Transição Democrática existem diferenças. Enquanto o deputado Alfredo Sirkis (RJ), do núcleo de assessores mais próximos de Marina, eleva o tom e fala abertamente na possibilidade de novo partido, o amigo e ex-deputado Fernando Gabeira baixa o volume. Ele acredita que o debate produzirá um acordo interno. Essa também é a opinião do ex-candidato a governador de São Paulo em 2010 pelo PV, Fábio Feldman.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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