domingo, 20 de março de 2011

À mesa com ex-presidentes

Fernando Henrique Cardoso, Itamar Franco, José Sarney e Fernando Collor aceitam o convite feito por Dilma Rousseff, em um gesto que supera divergências político-partidárias

Ivan Iunes e Denise Rothenburg

Antecessor da presidente Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva foi o único ex-presidente da República a não comparecer ao almoço no Palácio do Itamaraty com o norte-americano Barack Obama. A versão oficial é de que Lula preferiu não atrair os holofotes de Dilma e tinha compromissos familiares, mas antigas rusgas com os Estados Unidos devido à posição brasileira em relação ao Irã também teriam motivado a falta. O tucano Fernando Henrique Cardoso considerou o convite uma gentileza e foi o único ex-presidente sem mandato eletivo a ocupar lugar na mesa principal da cerimônia.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já tinha anunciado que não compareceria à cerimônia desde o início da semana passada, alegando motivos familiares. Em contrapartida, vieram ao encontro de Obama os hoje senadores Itamar Franco (PPS-MG), Fernando Collor (PTB-AL) e José Sarney (PMDB-AP), além de FHC, todos ex-presidentes. “Achei uma coisa de gentileza, senão eu não teria vindo. É um gesto. Eu acho que, em matéria de Estado, quando está se representando o país, como é o caso aqui, não cabem divisões político-partidárias. Eu acho que a presidente Dilma demonstrou que tem uma compreensão correta dessa matéria”, elogiou Fernando Henrique.

Entre os ex-presidentes presentes ao almoço, Collor e Itamar ficaram em mesas próximas à principal. A de Collor ficava de costas para Obama e a de Itamar em frente — o senador sentou-se ao lado do ministro da Defesa, Nelson Jobim. Durante o evento, Lula participava das comemorações pelo aniversário de 26 anos do filho caçula, Luiz Cláudio da Silva. A assessoria dele informou que o convite feito, por telefone, se repetiu a mais de uma centena de pessoas, por isso o presidente preferiu não cancelar o compromisso em família.

O assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, reforçou a tese de que Lula ainda está “desencarnando” da Presidência e tem preferido não ofuscar Dilma. “Deve ter havido um problema de agenda. Além disso, é preciso ter em conta que o presidente ainda está na quarentena”, ressaltou Garcia. Mesmo com a explicação oficial, houve quem trouxesse de volta as divergências entre Brasil e Estados Unidos durante o governo anterior como motivação para a ausência de Lula no encontro. A insatisfação diz respeito à posição contrária dos EUA ao acordo para utilização de energia nuclear para fins pacíficos, firmado entre Brasil, Irã e Turquia no ano passado.

Com a ausência de Lula, FHC surfou sozinho na polêmica e não se furtou de cutucar o sucessor. O tucano elogiou a defesa brasileira por uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU, mas criticou a falta de diálogo de Lula. “Temos que ter uma relação (ex-presidentes). Não é necessário tratar um como Deus e outro como demônio”, pediu Fernando Henrique. O tucano ironizou a falta de convites de Lula quando era presidente. “É que o Lula é tão meu amigo que achou que não era necessário. Acho que tem que conversar”, disse. Além de FHC, a mesa principal tinha a presença de Sarney. “A visita de Obama marca um novo capítulo nas relações entre Estados Unidos e Brasil”, afirmou ao sair do almoço.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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