sábado, 16 de abril de 2011

Estratégia de saída:: Celso Ming

Ontem, em Washington, o presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini, advertiu que é preciso estar preparado para o tranco que acontecerá quando for deflagrada a estratégia de saída dos grandes bancos centrais do planeta.

Estratégia de saída é a reversão da atual abundância de recursos que zanza por aí. Resumidamente, desde o início da crise, os bancos centrais passaram a despejar um volume nunca visto de dinheiro nos mercados. Como esta Coluna ontem relembrou, por decisão de seu presidente, Ben Bernanke, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) sozinho bombou US$ 2,3 trilhões com objetivo de manter os fluxos do crédito, o consumo, a atividade econômica e o emprego. Esse é o fator, avisam governantes e analistas, que está provocando inundação de dólares nas economias emergentes e a disparada dos preços do petróleo e demais commodities.

Como a inflação está subindo, não só nos emergentes, mas também nos países industrializados, pode estar perto o dia em que os grandes bancos centrais deem meia volta. Além de revender os títulos que hoje estão em seu poder, deverão puxar os juros para cima. O efeito é o inverso do que foi produzido pela política de afrouxamento mantida até agora e que ainda vai se prolongar provavelmente até meados de 2012.

Mas, afinal, o que seria, para uma economia como a do Brasil, preparar-se para esse tempo de escassez de capitais?

O primeiro efeito poderia ser complicações para se reabastecer de capitais externos caso o Tesouro, uma empresa ou um banco precisassem disso. O outro efeito esperado seria um tombo nas cotações das commodities e eventual queda das exportações brasileiras.

Mas não há certeza de que essa estratégia de saída implique tanta coisa ruim. Primeiramente, nem o Fed nem os outros bancos centrais vão partir instantaneamente da abundância para a escassez. Isso vai ter uma fase de transição, provavelmente longa. Como nenhum país rico suportará um ambiente de forte escassez, é improvável que os bancos centrais sejam tão esfoladores quanto alguns vêm dizendo. Os Estados Unidos, por exemplo, têm uma dívida pública que vai para US$ 11 trilhões. Não pode se deixar asfixiar pela falta de tomadores para seus títulos.

Em segundo lugar, ninguém está em condições de avaliar quanto da disparada dos preços das commodities se deve ao jogo dos investidores nas bolsas de futuros. Muito provavelmente, esse efeito está exagerado. O movimento de fundo é o aumento da demanda de matérias-primas e de alimentos por parte dos emergentes, especialmente dos asiáticos, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) avalia em relação ao petróleo. Se os dirigentes do Grupo dos 20 (G-20) querem mais transparência do mercado de commodities, então está claro que nem eles próprios sabem dizer o quanto dessa alta provém da dinheirama espalhada pelos mercados (que pode encolher em alguma proporção) e o quanto provém de aumento do consumo (situação que não deve se reverter).

Em todo o caso, se houver esse efeito escassez, o Brasil parece mais do que preparado. Há reservas externas de US$ 320 bilhões que podem ser revendidas no mercado de câmbio e, se os preços das commodities caírem, ficará mais fácil baixar os juros.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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