sexta-feira, 15 de abril de 2011

Ipea: aeroportos não ficam prontos para Copa

Segundo levantamento, obras estarão inacabadas em nove dos 13 terminais das cidades que vão sediar jogos em 2014

Geralda Doca

BRASÍLIA. Nove dos 13 aeroportos das cidades brasileiras que vão sediar os jogos da Copa em 2014 não estarão preparados a tempo para o evento, pois levará um prazo de sete anos para que as obras sejam terminadas. A conclusão é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que avaliou os prazos médios das obras de infraestrutura no Brasil, considerando as fases de projeto, licença ambiental, licitação e obra, sem contar o tempo que o Tribunal de Contas da União (TCU) gasta para analisar e emitir pareceres.

Com inauguração prevista para 2013, conforme cronograma oficial, o Ipea estima que somente em 2017 as obras ficarão prontas nos seguintes aeroportos: Manaus, Fortaleza, Brasília, Guarulhos, Salvador, Campinas e Cuiabá. A maior parte deles ainda está em fase de projeto. Um pouco mais adiantados, Confins (Belo Horizonte) e Porto Alegre terão os trabalhos concluídos apenas em 2016.

A situação só não é pior porque o Ipea excluiu Natal das contas. Na capital do Rio Grande do Norte, ainda será construído o novo aeroporto de São Gonçalo do Amarante - que será concedido à iniciativa privada - e o edital não foi oficialmente lançado.

Já Curitiba, se nada der errado, ficará dentro do prazo previsto pelo governo, em 2013. O mesmo deve ocorrer com o Galeão (Tom Jobim), com previsão de finalização da obras para o fim 2012.

O estudo, de autoria do pesquisador Carlos Campos Neto, concluiu que as obras de infraestrutura no Brasil levam em média um prazo de 92 meses para serem concluídas. São 12 meses na elaboração do projeto; 38 meses na liberação da licença ambiental, seis meses para licitação e 36 meses para realização da obra.

No texto, o autor aponta ainda que a Infraero, que administra 67 aeroportos, não tem condições de realizar as obras sem passar por um "choque de gestão". Para desembolsar os R$5,6 bilhões previstos para os aeroportos da Copa, entre 2011 e 2014, a estatal terá que investir R$1,4 bilhão por ano - mais que triplicar o valor médio aplicado no setor nos últimos oito anos, que foi de R$430,3 milhões. Mantido o ritmo, aplicará apenas R$2,5 bilhões ao fim do período.

Até o fechamento desta edição, a Infraero não havia se pronunciado sobre o estudo.

O texto lista obras paradas pelo TCU devido a irregularidades há cerca de quatro anos e que a estatal ainda não conseguiu resolver, como os terminais de Goiânia e Vitória. Havia problemas também com Guarulhos, mas as intervenções foram retomadas no ano passado com ajuda do Exército.

Uma alta fonte do governo avalia que a situação é crítica, devido ao simbolismo da Copa - oportunidade para atrair turistas estrangeiros, incrementar a aviação executiva (jatinhos) - e ao forte deslocamento de passageiros dentro do país.

- A presidente Dilma está preocupada e não aceita o argumento defendido pelos responsáveis (pelos aeroportos) de que o movimento durante a Copa será pequeno (600 mil visitantes estrangeiros) e concentrado em apenas dois meses - disse um interlocutor.

Em entrevista ao GLOBO há três semanas, o novo presidente da Infraero, Gustavo Vale, afirmou que se a Copa fosse hoje, não teria problema nos aeroportos, pois, a despeito do forte crescimento da demanda, há espaços ociosos durante muitos horários diurnos e noturnos. Por isso, defendeu, será possível direcionar o tráfego extra gerado pelos jogos.

Nos últimos dois anos, nenhum aeroporto melhorou

O problema, afirma uma fonte, é que o sistema hoje já não atende à demanda atual, o que significa que a brecha para recuperar o tempo perdido continua mínima. O levantamento do Ipea mostra que nos dois últimos anos nenhum aeroporto dos 20 analisados melhorou suas condições: o número de terminais em situação crítica (operando acima da capacidade) subiu de 11 para 14, com a taxa de ocupação saindo de 164,3% para 187,2%. Ou seja, 14 dos 20 estão em situação de estrangulamento, operando acima de suas capacidades.

No documento, o Ipea reforça que a alta da demanda não foi acompanhada pela infraestrutura aeroportuária (nos últimos oito anos, foram investidos R$8,798 bilhões). O valor saiu de R$502,67 milhões em 2003 para R$1,2 bilhão em 2010. Nesse período, o volume de passageiros cresceu 116,7%.

FONTE: O GLOBO

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