domingo, 24 de abril de 2011

Marina na encruzilhada

Ivan Iunes

Depois de alcançar a expressiva marca de 19,6 milhões de votos nas eleições presidenciais do ano passado, Marina Silva enfrenta um nó político. Em rota de colisão com a atual direção do partido, a ex-senadora pelo Acre pretende percorrer até maio pelo menos quatro estados atrás de apoio para influenciar na composição do diretório nacional da legenda. Amanhã, tem encontro agendado com correligionários em Brasília para discutir a sucessão na legenda. Caso fracasse no teste de força, provavelmente ficará sem ambiente para permanecer no PV, com o destino político em aberto e a criação de um partido como horizonte mais provável. A legenda já tem até nome: Partido da Sustentabilidade (PS).

Os ruídos entre PV e Marina começaram na análise do saldo das eleições de 2010. Embora a ex-senadora tenha se saído bem nacionalmente, o partido ganhou apenas uma cadeira de deputados federal a mais do que em 2006. Ou seja, o caminhão de votos despejados nela não se refletiu nos resultados obtidos pela legenda nos estados. No campo ideológico também ha problemas. A agenda da sustentabilidade foi defendida com sucesso. Mas outros pontos como a união homoafetiva e a liberalização das drogas, antigas bandeiras verdes, foram completamente abandonadas pela campanha de Marina — e também não fazem parte do que ela chama de refundação da legenda. Ainda, se ganhou envergadura nacionalmente, a candidata viu desidratar o capital político no próprio estado, o Acre, onde ficou apenas em terceiro lugar com 23,4% dos votos.

Sem mandato e dedicada à reformulação do partido pelo grupo Movimento Transição Democrática do PV, Marina tem agora como teste de força a substituição do atual presidente do PV, o deputado federal José Penna (SP), que dirige o partido desde 1999. A data para o esperado racha é julho, quando ocorre a convenção nacional verde. A ala do partido ligada à ex-senadora acusa a atual direção de não querer incluir a agenda verde de campanha da ex-senadora ao programa partidário. Quer emplacar no comando da legenda o secretário de Meio Ambiente de Pernambuco, Sérgio Xavier. “Há um grupo que acha que deve prorrogar seus mandatos, que não vê urgência por mudanças. Mas precisamos exercitar a nova forma de fazer política e dar à militância a possibilidade de escolher os dirigentes”, queixa-se Marina.

O atual comando da legenda rebate as críticas e diz que aceita discutir a reivindicação, desde que outras agendas, como a união homoafetiva e a política de liberalização das drogas, façam parte do pacote. “O que existe é uma briga por espaço e poder. Não é interesse da Marina fazer algumas discussões programáticas porque há pontos de divergência entre nossas agendas históricas e os posicionamentos dela”, diz um membro da executiva nacional do partido.

Os passos pós-eleições de Marina se assemelham ao da também ex-senadora e dissidente petista Heloísa Helena. Depois de conquistar o terceiro lugar nas eleições de 2006, a política alagoana se voltou para a organização do Psol. Elegeu-se vereadora por Alagoas, mas teve o capital político no estado corroído. Perdeu o pleito para o Senado no ano passado para Benedito Lira (PP-AL) e Renan Calheiros (PMDB-AL). Aparentemente maior depois das eleições de 2006, ela acabou desidratada longe de Brasília e sem o controle do partido, como acreditava dispor.
"Há um grupo que não vê urgência por mudanças. Mas precisamos exercitar a nova forma de fazer política ”

(Marina Silva, ex-senadora)

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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