sexta-feira, 15 de abril de 2011

“O povão”: Jirau prepara demissões em massa

Após negociar com governo e trabalhadores uma redução no ritmo das obras da usina de Jirau, a Camargo Corrêa, responsável pelo projeto, deve demitir entre 4 mil e 8 mil operários.

Decisão sobre Jirau deve causar até 6 mil demissões

Governo quer reduzir ritmo e critica contratações "além do adequado". Obra pode parar, diz sindicato

Geralda Doca, Chico de Gois e Cássia Almeida

BRASÍLIA e RIO. Governo, empresários e trabalhadores, reunidos ontem no Palácio do Planalto, decidiram negociar a redução do ritmo das obras na hidrelétrica de Jirau (RO), admitiram que este freio acarretará em demissões no canteiro da usina e acertaram critérios para desligamentos. Deverão ser preservados operários que moram no estado e pagos os direitos trabalhistas àqueles que forem dispensados, ou seja, não haverá demissão por justa causa.

Embora a Camargo Corrêa, empreiteira responsável pela obra, tenha informado que ainda está concluindo o levantamento sobre o número de demissões, a estimativa dos representantes dos trabalhadores é que haja dispensa de quatro a seis mil operários por causa da mudança do prazo final da construção, que voltaria a ser em 2013 e não mais 2012.

Antes da rebelião que resultou em paralisação do empreendimento, em março, Jirau trabalhava em ritmo acelerado para antecipar a construção, e tinha 22 mil operários. Quatro mil foram mandados de volta aos seu estados de origem.

O temor pelas demissões ganha força com o plano de reconstrução apresentado pela Camargo Corrêa à Superintendência Regional do Trabalho de Rondônia. A capacidade de alojamento de pessoal cai de 19 mil para pouco mais de 10 mil. Há cerca de 4 mil alojados nas cidades próximas, como Nova Mutum, Jaci-Paraná e Porto Velho. Portanto, o quadro seria reduzido para cerca de 14 mil.

Segundo o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil de Rondônia, Altair Donizete, há vários rumores de demissão em massa no canteiro de Jirau. Na negociação do dissídio coletivo, a empresa ofereceu 8% de reajuste mais cesta básica de R$160 (é de R$110, e os trabalhadores reivindicam R$350). Os operários querem aumento de 30%.

- Amanhã, vamos ao canteiro informar a proposta. Há chance grande de os trabalhadores pararem a obra de novo.

Esta semana, a Justiça trabalhista de Rondônia derrubou a liminar que garantia o emprego dos operários que voltaram para suas casas. A empresa fica liberada para demitir quem quiser, desde que traga o trabalhador de volta e faça a demissão acompanhada pelo sindicato e Ministério do Trabalho.

Na avaliação do governo, a contratação desenfreada de funcionários piorou as condições de trabalho e gerou os problemas. O ministro da Secretaria-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, que coordenou o encontro no Planalto, considerou dispensas inevitáveis.

- Demissões são naturais e a Camargo Corrêa sabia que contratou mais gente do que o adequado - disse Carvalho.

- Acertamos que todas essas possíveis demissões sejam feitas através de acordos com os sindicatos, para que tenhamos controle desse processo - reforçou o ministro do Trabalho, Carlos Lupi.

Embora os sindicatos reconheçam que há trabalhadores que desejam voltar para seus estados, querem impedir uma dispensa em massa. Também entregaram à Camargo Corrêa um documento pedindo que não haja retaliações aos operários que participaram do confronto.

- A região já está explosiva. Imagine se houver muita demissão - afirmou Manoel Messias Melo, secretário nacional de Relações de Trabalho da CUT.

Redução do ritmo também na Usina de Santo Antônio

Segundo Lupi, a redução do ritmo das obras pode ser estendida à usina de Santo Antônio, também em construção no Rio Madeira e com 16 mil trabalhadores.

- Muitas das obras, em Jirau e Santo Antônio, vão diminuir o ritmo até por solicitação dos sindicatos e do próprio governo. É um contingente muito exagerado de trabalhador que fica sem controle. Os empresários querem antecipar, mas queremos que seja cumprido o cronograma estabelecido.

FONTE: O GLOBO

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