segunda-feira, 30 de maio de 2011

Campinas: lobistas usaram escritório de publicitário do PT

Dudu Godoy é citado por delator do esquema de corrupção em relatório de inteligência da promotoria; desvios chegam a R$ 615 mi

Fausto Macedo

Ás da comunicação e marketing de campanhas do ex-presidente Lula, da senadora Marta Suplicy e outros nomes do primeiro escalão do PT, o publicitário Dudu Godoy emprestou seu escritório em Campinas para uma reunião de lobistas da organização criminosa a quem o Ministério Público imputa fraudes em série e desvios de R$ 615 milhões dos cofres públicos.

A revelação, incluída no relatório de inteligência da promotoria, foi feita por Luiz Augusto Castrillon de Aquino, ex-presidente da Sanasa, companhia de saneamento de Campinas, foco de corrupção que aponta para políticos próximos a Lula.

Aquino fez acordo de delação premiada. Em busca do perdão judicial ofereceu dois relatos minuciosos, em janeiro, nos quais traça os movimentos do grupo que teria se apossado de setores da administração Dr. Hélio (PDT), prefeito de Campinas e amigo do ex-presidente.

A promotoria afirma que Rosely Nassim, primeira-dama e chefe de gabinete do marido prefeito, ocupa o topo da organização. Ela ia ser presa, mas um habeas corpus a livrou de "medidas coercitivas".

A promotoria quer saber o grau de relação entre Dudu Godoy, Aquino e os lobistas Emerson Geraldo de Oliveira e Maurício Manduca. Alvos da devassa, Oliveira e Mancuda seriam o elo de prefeitos e empresários no esquema de corrupção. A próxima etapa da investigação mira contratos da prefeitura de Campinas na área de publicidade.

Oliveira e Manduca foram presos em setembro, quando a promotoria deflagrou a primeira fase da operação. Há duas semanas, a Justiça ordenou novamente a prisão dos dois.

O delator afirma que Dudu Godoy o procurou e intermediou encontro dos lobistas para "resolver o impasse". O publicitário confirma ter cedido seu gabinete para os protagonistas do escândalo que assombra Campinas e inquieta o PT. Mas nega que tenha procurado Aquino. "Quem solicitou o escritório para fazer uma reunião foi o próprio senhor Aquino, pedindo para fazer uma reunião com umas pessoas", retrucou o publicitário.

Partilha. No escritório de Dudu, os lobistas e Aquino trataram da divisão de valores ilícitos. A partilha foi motivo de grave desavença no coração da organização. Oliveira e Manduca não estariam repassando dinheiro desviado de contratos.

"Emerson e Manduca voltaram a me perseguir e pressionar", relatou o ex-presidente da Sanasa. "Eles me ligavam todos os dias ameaçando, dizendo que precisavam de novos contratos. Tentavam marcar encontros comigo, faziam insinuações para me lembrar que haviam gravado conversas."

À página 39 de seu depoimento à promotoria, em 17 de janeiro, Aquino diz: "Fui procurado pelo sr. Dudu Godoy, dono da publicidade PG. Ele intermediou a realização de uma reunião com Emerson e Manduca, a pedido deles, para resolver o impasse. A reunião foi marcada e realizada no próprio escritório do sr. Dudu Godoy".

O delator afirma que Dudu não participou dessa reunião, apenas emprestou o escritório. "Participaram Emerson e Manduca. Eles me apresentaram gravações de conversas nossas sobre o esquema na Sanasa. Eles me chantagearam e disseram que, caso eu não cedesse, na manhã seguinte eu não seria mais presidente da Sanasa."

Aquino presidiu a Sanasa entre 2005 e 2008. Ele disse que acabou atendendo às exigências. "Fui muito pressionado e fiquei com medo de perder meu cargo, de ter minha imagem maculada na imprensa e de sofrer algum atentado. Acabei cedendo, mais uma vez, às chantagens da dupla."

A reunião foi cercada de forte tensão. Do lado de fora do escritório de Dudu, dois policiais civis, Biazon e Caveira, armados, permaneceram de prontidão. "Os policiais ficaram nas proximidades para me dar um apoio caso acontecesse alguma coisa", contou Aquino.

Os policiais foram apresentados a Aquino pelo chefe da segurança do alto escalão da prefeitura, Álvaro Gandezi. O delator contou que tinha medo dos lobistas. "Cada vez que falava com eles eu descobria mais conversas nossas que haviam gravado para me chantagear. Sempre queriam mais dinheiro."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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