domingo, 15 de maio de 2011

Como conviver com a inflação

A alta mais acentuada do custo de vida nos últimos meses aperta os orçamentos, mas atinge de maneira diferente as famílias, dependendo do perfil de consumo de cada uma. Aprenda a calcular a inflação doméstica, para domar o dragão que mora em sua casa e impedir que ele engula todo o rendimento. É importante pôr no papel todas as despesas, cortar gastos e substituir mercadorias para não ser atropelado pelas contas do mês.

Ele está em casa

Escalada de preços afeta orçamento familiar e já exige adaptações por parte do consumidor. Colocar gastos no papel e calcular a inflação doméstica pode ajudar a não perder o controle

Marinella Castro e Zulmira Furbino

O encarecimento do custo de vida é sentido de forma imediata no orçamento doméstico. Mas perceber a inflação, que este ano vem apertando o bolso das famílias, nem sempre é simples para o consumidor, que, em tempos de pressão dos preços, tem a sensação que seus gastos galopam mais que os percentuais oficiais divulgados no país. Para saber exatamente em qual medida o dragão consome a renda, é preciso acompanhar os gastos na ponta do lápis. Com as anotações em mãos, cada grupo familiar pode montar o seu próprio Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é a inflação oficial do país, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE .

O IPCA avançou 0,77% em abril e, no acumulado do ano, a alta é de 3,23%. Especialistas acreditam que a inflação em 2011 deve fechar próxima ao teto da meta estipulada pelo Banco Central (BC) de 6,5%, maior que o índice apurado no ano passado, de 5,9%, e a mais forte elevação desde 2004.

Quando confere os preços no supermercado, ou no posto de gasolina, a impressão da administradora de empresas Jóia Lopes é que este ano a inflação do país já atingiu 20%, bem maior que os 3,23% apontados pelo IBGE. Isso porque a escola das duas crianças ficou 12% mais cara, o supermercado, incluindo o açougue, outros 20%. A elevação do salário mínimo reajustou o salário da babá e as viagens para a fazenda também encareceram, já que a gasolina avançou nos últimos 12 meses, contados a partir de abril, 11,68%, segundo o IBGE. Na ponta do lápis, a inflação da família de Jóia foi de 2,62% no último mês. O percentual é menos do que ela supunha, mas ainda assim, três vezes maior que a inflação do país, medida no mesmo período.

Para adequar o orçamento da família, que continua o mesmo diante da aceleração dos custos, Jóia faz substituições no cardápio e o lazer da família também ficou restrito às viagens no final de semana. “Tenho a sensação de que os preços estão subindo mais do que mostram os índices inflacionários. Em fevereiro, o lanche das crianças saía por R$ 3, hoje custa entre R$ 4,50 e R$ 5. Por isso, troquei o cardápio.” Ela também sentiu a aceleração no sacolão. “Para fugir da disparada de preços, compro frutas e verduras da época. Antes , comprava muito rabanete, mas o molho, que não dá para nada, está custando R$ 6. A alface americana também subiu de preço e já custa R$ 3. Passei a comprar couve ou repolho”, ensina.

Aperto no cinto O professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) e também conselheiro do Conselho Federal de Economia, Roberto Piscitelli, diz que o momento é para apertar o cinto. Ele acredita que a inflação do ano fechará próxima ao teto da meta do BC (6,5%). Para o especialista, a criação de vagas deve perder o ritmo e o reajuste salarial, que no ano passado ficou acima da inflação para 88% das categorias profissionais, não deve se repetir este ano. “O crescimento da economia também deve ser menor, ficando entre 3,5% e 4%.” Para o professor, apesar de a inflação contar com alguns ingredientes para forçar a desaceleração dos preços, como a perda de ritmo das commodities que no início do ano, segundo índice da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), atingiram a maior alta em 21 anos, o momento é para o consumidor acompanhar bem os gastos. “Vale esperar para comprar o bem de consumo durável, optar por uma cesta mais barata, mudar de marcas.”

Antes mesmo de tomar conhecimento da perda de ritmo do crescimento econômico, a dona de casa Lilian Estevão vem tomando providências bem práticas. Com filhos de 7, 13 e 15 anos, Lilian tem que observar os gastos de perto para não extrapolar o orçamento mensal de R$ 600, que pode crescer um pouco dependendo de trabalhos extras do marido. “Em vez de quatro pacotes de arroz, estou levando dois. Já substituí os biscoitos e o açougue. Faço pesquisa em três supermercados diferentes, e roupa para os meninos, compro só uma ou no máximo duas vezes por ano”, revela. Para a dona de casa, a sensação é de que este ano os preços dobraram. “Antes, comprava muita coisa com R$ 200.”

A planilha mostra que os gastos da família de fato aceleraram, sendo que os principais vilões foram o gás de cozinha, a carne bovina e produtos de sacolão, além da conta de energia elétrica. A inflação da família no último mês ficou próxima a 1,4% , maior que o INPC, que mede a inflação das famílias entre um e seis salários mínimos, que atingiu em abril 0,72 ponto percentua l

FONTE: ESTADO DE MINAS

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