sábado, 28 de maio de 2011

Crise com o PMDB afasta Dilma do vice-presidente

Palocci manda explicações ao procurador-geral, mas sem lista de clientes

Na noite da votação do Código Florestal, na terça-feira, por orientação da presidente Dilma Rousseff, o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) ligou para o vice-presidente da República, Michel Temer, e ameaçou demitir ministros do PMDB caso o partido votasse a favor da anistia a desmatadores, desobedecendo ao governo. Palocci disse que o primeiro a sair seria o ministro da Agricultura, aliado de Temer. "Você acha que eu vou brigar por um ministério de merda?!", reagiu o vice, segundo relato de JORGE BASTOS MORENO na coluna Nhenhenhém. Palocci acabou pedindo desculpas e, no dia seguinte, propôs uma conversa de Temer com Dilma, mas o vice se recusou a se encontrar com a presidente. O embate que afastou o vice da presidente quase implodiu a aliança do PT com seu principal parceiro e teve outras consequências imediatas: a união de todo o PMDB e a intervenção do ex-presidente Lula, que correu a Brasília para alertar aliados sobre o risco de uma crise institucional de resultados imprevisíveis. Ontem, Palocci mandou à Procuradoria Geral da República explicações sobre seu enriquecimento desde que deixou a Fazenda, em 2006, mas não enviou a lista de clientes de sua consultoria.

Tensão máxima

Dilma e Palocci ameaçaram Temer e o PMDB na votação do Código Florestal

Maria Lima

Apresidente Dilma Rousseff enfrentará, na próxima quarta-feira, uma situação delicada ao reencontrar o vice-presidente Michel Temer e a bancada do PMDB no Senado, depois de um enfrentamento que quase provocou o rompimento da aliança. Publicamente, líderes do partido dizem que o problema está superado, mas outros, do entorno do vice-presidente, atestam que foi grande o abalo provocado pela ameaça feita pelo ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, a Temer.

Numa conversa dos dois por telefone, na noite da votação do Código Florestal, terça-feira passada, Palocci repassou ao vice o recado da presidente: se o partido desobedecesse à orientação do governo de votar contra a emenda 164, que anistia desmatadores, os ministros do PMDB seriam demitidos. O resultado foi que o PMDB votou em peso a favor da emenda de um deputado do partido, derrotando o governo do qual faz parte. E nenhum ministro foi demitido, mas a crise está instalada.

Temer, segundo interlocutores, se sentiu desrespeitado por um subalterno, respondeu no mesmo tom e disse que no dia seguinte os ministros do PMDB entregariam os cargos. O alvo do Planalto era o ministro da Agricultura, Wagner Rossi. No dia seguinte, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou em Brasília, a crise da desarticulação política era, agora se sabe, mais grave do que parecia. Tanto que, no encontro com líderes e presidentes de partidos aliados, na quarta-feira, Lula alertou para o risco de uma crise institucional de consequências imprevisíveis.

"Nunca fomos amigos íntimos"

Nos últimos dias, Palocci vem tentando administrar o mal-estar com Temer, pedindo desculpas pelo enfrentamento. Ontem, ele ligou novamente para o vice-presidente para agradecer a articulação que vem sendo feita por ele para unir o partido no Senado, onde haverá novo round na votação do Código Florestal. Na próxima segunda-feira, Temer reunirá todo o partido para discutir os últimos acontecimentos. Num dos telefonemas de Palocci para se desculpar, Temer mostrou estar ainda bastante irritado.

- Desculpe pelo telefonema anterior. A tensão está grande, mas sempre fomos amigos - desculpou-se Palocci.

- Não, Palocci. Nunca fomos amigos íntimos - devolveu Temer.

Passada a fase mais aguda do enfrentamento, peemedebistas afirmam que não haverá um rompimento entre PMDB e PT, mesmo porque um depende do outro. Mas o episódio vai deixar sequelas e mostra a inabilidade tanto de Palocci - principalmente porque está acuado diante das suspeitas de tráfico de influência diante do aumento de seu patrimônio quando era deputado - quanto de Dilma para coordenar politicamente o governo.

- A médio prazo, a relação se recompõe. Mas vai ficar um contencioso. Ninguém vai pegar em armas, mas o que aconteceu mostra a inabilidade do Palocci, que, como principal coordenador político do governo, não pode ser um mero cumpridor de ordens de Dilma, tem que filtrar e orientá-la para evitar esses confrontos - reclamou ontem um desses peemedebistas, completando que é preciso cuidados para evitar uma crise como no caso da governadora Yeda Crusius (RS), que, logo no início do governo, rompeu com seu vice e chegou ao fim de seu mandato nas cordas. Os dois últimos presidentes, Lula e Fernando Henrique, cumpriram seus mandatos em paz com seus vices.

Na reunião com os senadores petistas, na quinta-feira passada, Dilma foi novamente áspera várias vezes, com falas consideradas desaforadas por políticos presentes. Inclusive sobre a mudança no rito das medidas provisórias, que, pelo jeito, agora a presidente vai ter que aceitar, pois esse será o preço do PMDB. Pode ter falado grosso com o PT, mas vai ter que baixar o tom no encontro com os senadores peemedebistas na quarta-feira.

- Esse negócio do Palocci e do Temer já passou. Aconteceu num momento difícil e delicado, mas é uma página virada, e temos que pensar agora nos novos desafios que vêm pela frente - comentou ontem o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

Já o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), alertou para o risco de tentativas de retaliações a parlamentares ou ministros do PMDB por causa da votação do Código Florestal:

- Não acredito em retaliação contra o PMDB em decorrência da posição dos senhores deputados. Seria uma providência que jamais seria bem recebida pelo partido.

FONTE: O GLOBO

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