segunda-feira, 30 de maio de 2011

Serra terá no conselho político mais influência do que parece

Raquel Ulhôa

Brasília - Embora os adversários digam que a presidência do conselho político do PSDB foi dada ao ex-governador José Serra como um "prêmio de consolação", o candidato a presidente da República derrotado em 2010 terá, no cargo, forte influência nas decisões sobre as principais estratégias partidárias, como fusão com outros partidos, incorporação de legendas, política de alianças e fórmula de escolha dos candidatos a cargos do Poder Executivo - assuntos que constam das novas atribuições do conselho.

Um tema prioritário na agenda do conselho, que passa a ser deliberativo, é a política de alianças do partido nas eleições municipais de 2012. Estará em pauta, também em breve, a tese de fusão ou não do PSDB com os demais partidos de oposição. Serra é totalmente contra. O senador Aécio Neves (MG) não descarta, mas como questão a ser tratada apenas depois das eleições municipais.

Como representante do Congresso Nacional, Aécio vai integrar o conselho presidido por Serra, assim como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o presidente do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), reeleito, e os governadores Geraldo Alckmin (SP) - na condição de ex-candidato a presidente-, e Marconi Perillo (GO) - representando os oito governadores do partido.

Embora haja no partido, hoje, tendência expressiva pela candidatura presidencial de Aécio em 2014, na correlação de forças dentro do conselho não se pode afirmar em maioria ou minoria dele ou de Serra. Dependendo do assunto, questões locais vão pesar mais que a nacional. Além disso, Alckmin e Perillo têm pretensões de maior protagonismo no partido e não podem ser enquadrados automaticamente como aecistas ou serristas.

A ampliação dos poderes do conselho - que levou Serra a aceitar o cargo - foi aprovada pelas principais lideranças tucanas quando já transcorria a convenção nacional, sábado, em Brasília. O conselho político deixou de ser meramente consultivo, como era até então previsto no estatuto, para ser deliberativo. Seus integrantes, em vez de nomeados, foram eleitos na convenção, com mandato de dois anos.

Antes do acordo, o grupo de Aécio elevou a tensão ao máximo e já havia derrotado Serra em vários rounds. Primeiro, organizando apoio da bancada na Câmara dos Deputados à reeleição de Sérgio Guerra, o que matou pela raiz uma articulação para levar Serra à presidência do partido.

Ao mesmo tempo, foram barradas as investidas para tirar do cargo o secretário-geral, deputado aecista Rodrigo de Castro (MG). Depois, o convite público ao ex-senador Tasso Jereissati para presidir o Instituto Teotonio Vilela (ITV), pondo fim à pressão dos paulistas para dar o cargo a Serra. Na sexta-feira, véspera da convenção, FHC, Alckmin e Serra chegaram a cogitar de não participar do evento.

Acabaram viajando a Brasília, mas as conversas continuaram na manhã do próprio sábado. A proposta do conselho político foi retomada nas bases sugeridas há cerca de dois meses pelo governador Marconi Perillo: um órgão enxuto (seis membros), presidido por Serra. Daquela vez, a ideia não prosperou, porque a corrente ligada a Aécio divulgou a versão de um colegiado maior, com 14 integrantes, presidido por FHC. Serra rejeitou, por considerar que a proposta fora "desvirtuada" e que a instância não teria importância.

Com o órgão fortalecido e FHC abrindo mão da presidência para Serra, foi feito o acordo. Participaram Alckmin e Marconi, além do presidente do partido, Aécio e do senador Aloysio Nunes Ferreira (SP), reunidos na casa do líder do PSDB da Câmara, Duarte Nogueira (SP). Batido o martelo, Serra e Tasso foram chamados. Hospedados no mesmo hotel, encontraram-se no hall e cumprimentaram-se friamente. Pouco tempo depois, todos chegaram à convenção juntos, na mesma Van.

Para Tasso, a disputa teve um lado positivo, mas o partido precisa mudar. "Essa disputa é sinal de vida do PSDB. Sinal de que o partido está vivo. Mas, até a convenção. De agora em diante, temos problemas muito mais importantes a enfrentar", disse. Segundo Tasso, nesse momento em que o governo Dilma Rousseff está "fazendo água por todos os lados", a obrigação do PSDB é se unir para criticar, fiscalizar e mostrar os erros.

Na repartição de espaço da executiva, os principais interessados foram contemplados. Serra ficou sem os recursos e a estrutura ITV, com os quais poderia montar uma espécie de "comando paralelo" ao da Executiva Nacional do PSDB, segundo adversários. O conselho não tem recursos nem estrutura própria.

Passada a tensão das negociações, Tasso já tem planos de montar um "grande fórum de discussões" para construir um programa de governo do partido para 2014. Uma ideia é promover um "profundo estudo" sobre as causas da corrupção no país e incluir no programa do partido propostas para combatê-la, como - entre os exemplos citados por ele - a profissionalização do serviço público e a redução dos cargos comissionados.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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