sexta-feira, 17 de junho de 2011

Bombeiros voltam a ocupar as escadarias do Palácio Tiradentes

Natanael Damasceno

RIO - Bombeiros que participam do movimento que reivindica melhores salários voltaram a ocupar as escadarias do Palácio Tiradentes, no Centro do Rio, nesta quinta-feira. O grupo, que começou a chegar no local por volta das 13h30m, reuniu pouco mais de 300 pessoas entre bombeiros, familiares, professores e profissionais da saúde. Os manifestantes prometem ficar no local até que o governo do estado conceda a anistia para os bombeiros que ocuparam o Quartel Central da corporação, no último dia 3. De acordo com um dos líderes do movimento, o cabo Benevenuto Daciolo, os manifestantes querem ser recebidos pelo secretario de Defesa Civil, coronel Sergio Simões, ou pelo próprio governador.

- Nós ficamos a semana inteira esperando o governo falar conosco. A vontade do governo é de que venha cair e esfriar o movimento. Nós não vamos permitir isso. Então, a partir de hoje, vamos ficar na escadaria da Alerj até que o governo fale conosco. E a partir de hoje vamos ficar colhendo assinaturas para um abaixo assinado que pede a anistia administrativa dos militares. Vamos ter vários pontos de arrecadação de assinaturas em todo o estado. Onde houver quarteis do Corpo de Bombeiros, haverá uma banca recolhendo assinaturas.

O deputado Marcelo Freixo (PSol), um dos deputados estaduais simpáticos ao movimento, reuniu-se com as lideranças do grupo na parte da manhã e disse que os bombeiros vão usar toda a sua energia para conseguir a anistia.

- O governo agora tem que entender que a anistia agora virou a base para qualquer negociação salarial. E a anistia deixou de ser uma questão jurídica para ser uma questão política. Virou uma questão que depende do governo, do Congresso e da Alerj. O objetivo deste abaixo assinado é sensibilizar o governo para a questão. Vamos buscar assinaturas em todos os lugares do estado. Além dos quartéis, vamos para as estações das barcas, do Metrô, da Supervia, onde sempre há filas, e vamos aproveitar o péssimo serviço destas empresas para dar oportunidade para as pessoas apoiarem este movimento - disse o deputado, que vai se reunir com os bombeiros ainda nesta quinta-feira.

Na terça-feira, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS) afirmou que irá discutir com os líderes da Casa a viabilidade de votação de projetos que garantem anistia aos bombeiros grevistas do Rio de Janeiro . Deputados da bancada do Rio que apresentaram projetos de anistia solicitaram a Maia a urgência para a votação das propostas, se possível ainda esta semana. O presidente da Câmara afirmou que a prioridade é a votação do Regime Diferenciado de Compras (RDC) para obras da Copa e das Olimpíadas. Três deputados federais apresentaram projetos que tratam da anistia aos bombeiros grevistas do Rio: Alessandro Molón (PT), Anthony Garotinho (PR) e o líder do PSOL, Chico Alencar.

Apesar de chamar atenção pelo gigantismo, a tropa de bombeiros do Rio — a maior do país, segundo o próprio governo do estado — ainda pode aumentar. Uma lei encaminhada pelo governador Sérgio Cabral e aprovada pela Assembleia Legislativa em 2007 fixa o efetivo do Corpo de Bombeiros em 23.450. Se hoje são 16.550, ainda há margem para contratar 6.900. A proposta passou com a justificativa de que eram necessários oficiais e praças para atuar na área de saúde, em especial em dois projetos importantes do governo, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

O crescimento do quadro dos bombeiros teve também uma contribuição de governos anteriores. A lei 5.175 aprovada por Cabral substituiu outra, de 4 de abril 2002, de Anthony Garotinho, que fixava o efetivo em 18.125 homens. No entanto, este nunca chegou a ser o total dos bombeiros. Cabral disse ainda que este ano, quando for contabilizada a antecipação de 5,58%, o total de reajuste salarial da categoria terá chegado a 11,58%. No fim do dia de quarta-feira, a assessoria do governo do estado assegurou que, no momento, apesar da lei, não há intenção de aumentar o efetivo dos bombeiros.

Mas a oposição explorou o fato de Cabral ter apontado o tamanho da tropa como empecilho para reajustar os salários. A deputada Clarissa Garotinho (PR) vê contradição no discurso do governador, que, segundo ela, foi o grande responsável pela situação. Ela criticou a desvirtuação da função primordial do bombeiro, ao se transferir um contingente tão grande para funções típicas de saúde:

— Como ele pode querer fazer essa comparação ou insinuar que o Rio tem bombeiros demais? Hoje, um terço do efetivo trabalha na saúde.

O deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) também protestou contra o argumento do governador. Ele afirmou que a lei aprovada em 2007 não só inflou o número de bombeiros, como criou uma distorção salarial. Um decreto de Cabral instituiu, em 2008, gratificações por plantões extraordinários de R$ 2.100 para oficiais médicos dos bombeiros, R$ 900 para oficiais enfermeiros e R$ 700 para praças técnicos de emergências médicas e auxiliares de enfermagem

FONTE: JORNAL EXTRA

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