quinta-feira, 30 de junho de 2011

Freire: fusão do Pão de Açúcar e Carrefour com dinheiro do BNDES é negociata

Valéria de Oliveira

“Isso cheira a negociata e deve ser barrado”, disse o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), ao comentar o aporte de quase R$ 4,5 bilhões do BNDES na fusão do grupo Pão de Açúcar com o Carrefour. Para ele, o banco está sendo usado indevidamente “para criar grandes trustes nacionais, inclusive para fazer investimento no exterior”. A instituição, diz Freire, toma dinheiro no mercado a altas taxas de juros e empresta a baixo custo. “Quem paga a diferença é todo o povo brasileiro”.

As negociações privadas envolvendo o BNDES, diz Freire, não são novas. Vêm desde o governo Lula. Na administração Dilma Rousseff, a prática piorou, segundo ele, porque “o Cade levanta a possibilidade de concentração muito grande no ramo do varejo se concretizada a fusão; mais de 30% do mercado nacional do varejo vai ficar nas mãos desse grupo, o que, evidentemente, é um absurdo”.

O BNDES, insiste o deputado, “não foi criado para isso e muito menos um governo que se pretende progressista e de esquerda pode atuar para financiar a criação de conglomerados econômicos de alguns eleitos”. A operação de fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour com dinheiro do banco deve ser detida, defende Roberto Freire.

“A concentração vai diminuir a concorrência, e o povo perde concorrência e empregos; o que o BNDES está fazendo no meio disso se ele trabalha com o dinheiro do povo trabalhador?”, questiona Freire. A instituição, ressalta, foi criada para financiar investimentos produtivos da economia brasileira “e não para patrocinar fusão de grupos que atuam meramente no varejo ou no consumo”.

Freire avalia que a fusão pode redundar em “claro processo de demissão”. Ele disse que já conversou com os dirigentes da UGT (União Geral dos Trabalhadores) sobre o assunto. “Podemos ter uma concentração no mercado e também de diminuição da oferta de empregos”. O cartel, afirma, vai controlar muito mais facilmente os preços, e não atenderá às necessidades do país, que se beneficia com uma maior concorrência. “Até porque esse capitalismo monopolista ou aproximado do monopólio não é de nenhum interesse do ponto de vista democrático de nenhuma economia”.

Segundo Roberto Freire, um patrocínio oficial como o que o BNDES oferece ao Pão de Açúcar “somente é possível em um governo mesquinho, como o que temos desde Lula; um governo atrelado e subalterno aos interesses do setor financeiro e do grande capital nacional”. Ele ressalta que essa conduta não ajuda a um processo de democratização da economia, não atende os consumidores brasileiros nem ao mercado de trabalho.

Ao avaliar a declaração do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, de que a fusão é estratégica para o Brasil, Freire disse que não vê estratégia “senão a de privilegiar aqueles que já privilegiam o grupo politicamente dominante que está no governo, um conluio que não significa transparência e muito menos República”.

Freire atacou ainda o discurso nacionalista usado pelo governo para justificar o negócio. “É um discurso antigo, de quando falávamos de burguesia nacional, do tempo do mundo da bipolaridade, da guerra fria; esse discurso no mundo da globalização chega a ser ridículo”.

FONTE: PORTAL PPS

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