terça-feira, 7 de junho de 2011

Sair ou sair:: Merval Pereira

Para se ter uma ideia de como a situação do chefe do Casa Civil, Antonio Palocci, está se deteriorando, basta ouvir as especulações políticas que se fazem em torno de seu destino, mesmo depois de o procurador-geral da República ter decidido arquivar o pedido de inquérito contra ele, por considerar que não há indícios suficientes.

Continua sendo majoritária a sensação de que Palocci tem que sair, pois as acusações de que a decisão oficial foi tomada a seu favor através de conchavos de bastidores não deixarão que a sombra da suspeição o abandone.

Principalmente porque a recondução de Roberto Gurgel ao cargo de procurador-geral da República está para ser decidida pela presidente Dilma e desafortunadamente deve ser anunciada nos próximos dias, uma coincidência no mínimo desagradável politicamente.

Ainda mais depois que a Caixa Econômica Federal apontou oficialmente o Ministério da Fazenda como o mandante da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo, anulando moralmente a decisão do Supremo de livrá-lo dessa acusação.

No entanto, no despacho do procurador-geral há o registro de que, "não competindo ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar atos de improbidade administrativa atribuídos a autoridades com prerrogativa de foro, não detém o procurador-geral da República atribuição para a análise das representações sob tal perspectiva, incumbindo-lhe o seu exame exclusivamente no aspecto penal".

Com isso, o procurador retirou sua responsabilidade sobre uma eventual improbidade administrativa cometida pelo ministro Palocci, lembrando que "tramita na Procuradoria da República no Distrito Federal inquérito civil instaurado para apurar, sob a ótica da improbidade administrativa, os mesmos fatos".

Palocci começou tendo o apoio velado até da oposição, e seu silêncio nos primeiros dias era sinal de que considerava que a questão seria superada com o tempo, caindo no esquecimento.

Hoje, o próprio PT já puxou o tapete sob os pés de Palocci - negando-lhe apoio formal -, o PCdoB pede uma solução rápida que fortaleça a autoridade da presidente, e a Força Sindical pediu seu afastamento.

Vários companheiros seus já dão declarações contra a permanência no cargo, e ele mesmo, na entrevista que concedeu à Rede Globo, colocou-se à disposição da presidente Dilma para ser afastado, afirmando que a crise política não tem nada a ver com o governo, mas apenas com ele mesmo.

Parece disposto a se sacrificar para não contaminar o governo da presidente Dilma.

Tenho a forte impressão de que Palocci se afastará do governo, mesmo com a decisão do procurador-geral da República.

Sairá respaldado pela decisão do procurador-geral, mas poderá permanecer afastado até que o inquérito civil termine. Haverá uma razão concreta para a atitude, e a possibilidade de reeditar nesse caso a emblemática decisão do então presidente Itamar Franco, que afastou seu chefe do Gabinete Civil Henrique Hargreaves, diante de acusações menos graves até, e reconduziu-o tempos depois, quando o inquérito concluiu por sua inocência.

Sem contar com a possibilidade de fatos novos surgirem, no campo político, com a assinatura de membros da base aliada para a abertura de uma CPI, como já fez ontem a senadora Ana Amélia e prometem fazer outros, que só esperam a palavra do procurador. Na falta de inquérito, pelo menos o senador Pedro Simon já anunciou que assinará o pedido de CPI.

No campo pessoal, fatos novos surgem todos os dias, como essa estranha empresa laranja que é dona do apartamento onde a família Palocci reside de aluguel, apesar de ter outro belo apartamento fechado na mesma cidade de São Paulo.

Para complicar ainda mais a situação política, a presidente Dilma deixa escapar que se aconselhará com o ex-presidente Lula antes de tomar uma decisão.

Não poderia dar maior demonstração de que é tutelada, como a oposição acusava durante a campanha presidencial.

A presença de Lula no centro das negociações políticas na semana anterior, reunindo-se com os senadores da base aliada na casa do presidente do Senado, José Sarney, e dando orientações sobre como superar a crise, já havia corroído a credibilidade da presidente.

Os registros de que ela havia ficado aborrecida com o tamanho da intromissão e a falta de cuidado de preservar sua autoridade por parte de Lula pareciam demonstrar que, afinal, a presidente reagiria para recuperar o lugar que é só seu no posto de comando das ações políticas do país.

Qual o quê. Na primeira decisão grave que tem que tomar, foi se aconselhar com o padrinho, que havia indicado Palocci para o cargo mais importante do governo.

Dilma não apenas ficou impossibilitada de nomear uma pessoa de sua confiança pessoal para a Casa Civil como agora, quando pode ter essa chance, rifando quem fora nomeada para tutelá-la, não tem segurança política para fazê-lo e vai buscar apoio naquele que parece ser a última instância em todas as tomadas de decisão dos governos petistas.

A presidente Dilma, desta vez por escolha própria, está se apresentando ao eleitorado como um fantoche de Lula, confirmando o que a oposição dizia na campanha eleitoral.

A situação é mais grave politicamente porque tanto o PT quanto o próprio Palocci trataram de tentar isolar o caso da atuação do governo.

Se não é uma crise partidária, a consulta a Lula tem um caráter totalmente privado, entre criatura e criador, com a presidente tendo cautelas excessivas para demitir Palocci sem melindrar Lula.

As mesmas cautelas que Lula não teve quando interveio na crise política para tentar salvar seu protegido.

Ou a mesma prudência que Palocci não teve quando preferiu proteger o sigilo das empresas que o contrataram em vez de preservar o governo a que está servindo.

Preferiu proteger os interesses privados, que lhe renderam grossa remuneração, ao interesse público.

FONTE: O GLOBO

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