terça-feira, 21 de junho de 2011

Tragédia expõe relação de Cabral e empresários

A queda de um helicóptero na Bahia - que matou seis pessoas e deixou uma desaparecida - trouxe à tona relações do governador Sérgio Cabral com empresários. Ele viajou para a Bahia num jato de Eike Batista, ao lado de Fernando Cavendish, dono da Delta Construções. Ambos têm negócios com o estado. Cabral pediu licença.

Relações delicadas

Cabral viajou em jato de Eike para festa de empresário com quem tem contratos de R$1 bi

Carla Rocha, Elenilce Bottari e Fábio Vasconcellos

Três dias depois do acidente de helicóptero que caiu em Porto Seguro, matando seis pessoas - uma vítima ainda está desaparecida -, o estado quebrou o silêncio e informou ontem que o governador Sérgio Cabral viajou para o Sul da Bahia num jatinho do empresário Eike Batista, em companhia de Fernando Cavendish, dono da Delta Construções. A empresa é uma das maiores prestadoras de serviço do estado e recebeu, desde 2007, contratos que chegam a R$1 bilhão. Além disso, também foi informado que Cabral se dirigia com o grupo para o aniversário de Cavendish num resort, onde ficaria hospedado, mas o acidente com a aeronave interrompeu os planos. Ontem, o governador se licenciou do cargo, alegando razões particulares.

Cabral, ainda de acordo com o governo, embarcou no Aeroporto Santos Dumont às 17h de sexta-feira num jato Legacy de Eike. Estavam a bordo o governador, seu filho Marco Antonio Cabral e a namorada do rapaz, além de Cavendish e sua família. Após o pouso em Porto Seguro, parte do grupo embarcou no helicóptero para fazer a primeira viagem até o Jacumã Ocean Resort. A decolagem foi às 18h31m, mas o helicóptero desapareceu no mar. A última visualização de radar da aeronave ocorreu às 18h57m.

Eike: R$750 mil para campanha de Cabral

Além de Cavendish, Eike mantém estreitas relações com o estado e com o governador. O megaempresário doou R$750 mil para a campanha de Cabral em 2010. Eike se comprometeu ainda a investir R$40 milhões no projeto das UPPs, a menina dos olhos da segurança do Rio.

Desta vez, a participação de Eike, ao oferecer o transporte até Porto Seguro, não tinha relação com projetos públicos. O motivo da viagem era o aniversário de Cavendish, comemorado sexta-feira. Os laços do empresário e da Delta com o estado foram se estreitando nos últimos anos. Se é o "príncipe do PAC" por conta do expressivo número de obras do programa federal que estão na carteira de sua empresa, Cavendish é o rei do Rio, se for considerada a generosa fatia do bolo de recursos do estado que recebeu nos últimos anos ou está prestes a abocanhar, por obras como a reforma do Maracanã ou do Arco Rodoviário, ambas estimadas em R$1 bilhão cada. Em 2007, no primeiro ano do governo Cabral, a Delta teve empenhos (recursos reservados pelo estado para pagamento) no valor total de R$ 67,2 milhões. No ano passado, o número deu um salto de 655%, para R$506 milhões.

Nascida em Recife, a Delta ganhou impulso, no Rio, no governo Anthony Garotinho. Hoje ocupa posição de destaque na execução orçamentária de Cabral. Apenas em rubricas com grande concentração de obras, as cifras falam por si: o DER empenhou em favor da empresa, no ano passado, R$40,1 milhões, e a Secretaria estadual de Obras, R$67,9 milhões. Os dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do estado (Siafem) foram levantados pelo gabinete do deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB).

- Os números falam por si. O faturamento da Delta no estado é crescente e nítido - diz o deputado, ao comentar a estreita relação entre o dono da Delta e o governo do estado que vazou com o acidente de helicóptero e já repercute na Alerj.

- Após o momento doloroso, é hora de o governador dar explicações - criticou o deputado Marcelo Freixo (PSOL). - Não fica bem ele aparecer em festinhas de empreiteiros.

Quando se consideram os valores efetivamente pagos, a posição de vantagem da Delta não muda. No ano passado, somente a Secretaria de Obras pagou R$91 milhões à empresa, que ficou em terceiro lugar na lista das que mais receberam da pasta, que tinha orçamento de R$1,1 bilhão para obras e reparos. Em primeiro lugar, com 25%, ficou o Consórcio Rio Melhor (PAC nas favelas), com R$269 milhões. Detalhe: a Delta faz parte do consórcio com Odebrecht e OAS. Outro exemplo do longo braço da Delta é o DER. Em 2010, na rubrica obras, o órgão tinha R$283 milhões e pagou 30%, ou R$81 milhões, à Delta, que ficou com o maior pedaço do bolo.

Em maio, após romper com Cavendish, o dono de uma outra empresa da área de construção, Romênio Marcelino Machado, afirmou à "Veja" que a Delta havia contratado José Dirceu para tráfico de influência junto a líderes petistas. "O Cavendish é amigo íntimo do Sérgio Cabral", disse ele. Segundo a revista, Cavendish, em reunião com sócios em 2009, teria dito que, "com alguns milhões, era possível comprar um senador".

A Delta não se pronunciou e a assessoria de Eike informou que ele só falará hoje.

FONTE: O GLOBO

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