sábado, 30 de julho de 2011

De novo, a Augusta:: Fernando Gabeira


Aos sábados, costumo postar algo sobre cotidiano nas cidades. Daqui a pouco, no entanto, vou à rua ver essa manifestação da Frente Nacional de Torcedores, contra Ricardo Teixeira, presidente da CBF. Hoje, será um dia de Copa do Mundo no Rio.

Algumas pessoas não gostaram de ter dedicado um post à Rua Augusta, na verdade, ao trecho da Augusta que percorri.

Fiquei surpreso, porque não manifestei nenhum juízo de valor sobre o que a Augusta é hoje, ou sobre o que será no futuro próximo.

Pode ser até que não exista a transformação à qual me referi, que tenha sido um delírio.

Mas vi novos prédios surgindo e intensa atividade de compra e venda. Um leitor pergunta: por que não falar da Avenida Paulista?

Acontece que é possível também falar da Augusta. Lugares como Les Halles, em Paris, Village, em Nova York, e Soho, em Londres, também sofreram transformações, cada um à sua maneira.

Areas boêmias passam por transformações diferentes nas metrópoles, mas, em quase todos os casos, são engolfadas pelo crescimento econômico. Sua nova forma não depende apenas do planejamento, mas também do entrechoque de interesses e visões dos moradores, urbanistas e políticos.

Era só isso que queria registrar. Já estive na Augusta, num evento de rock, patrocinado pela revista Trip. O lugar era parecido com o Club Noir.

Por sinal, durante meu passeio, parei no Club Noir e tomei um café com o jornalista Palmerio Dória que mora nas imediações da Augusta.

Se houve tanta reação às fotos da Augusto, imagino que haverá também para o tema de nossa conversa: Paulo César Pereio, o ator com que dividi um apartamento nos anos 60.

Pereio agora é herói de história em quadrinhos. É o segundo amigo que se transforma em herói de história em quadrinho.

O outro foi Hugo Bidê, desenhado por Jaguar em os Chopnics, uma série publicada, há alguns anos, nos jornais.São figura realmente extraordinárias. Pertencem à história da boemia cultural brasileira.

.Algumas comentários recomendam que deveria me limitar ao Rio. Mas mundo é tão grande, e, além do mais, dentro de 50 anos, seremos, talvez, uma única cidade. No caso do Rio, o exemplo que me veio à memória, foi o da Lapa.Aqui, em função do turismo, a Lapa foi remodelada como centro de vida noturna.

Mas com o projeto de recuperação da área portuária e o crescimento da demanda, muitos dos prédios vazios do centro serão ocupados. E o modelo futuro talvez combine na mesma área, residências, lojas comerciais, bares e vida noturna.

São esses bairros e sua trajetória que me vieram a cabeça, quando falei do enigma da Augusta.Não mencionei a Avenida Paulista porque, no rápido passeio, não cheguei nem à esquina das duas. A Augusta tem três quilômetros e oito metros .Por falta de tempo, entrei na rua, como na letra da música, a 120 por hora.

Mas para não dizer que falei de flores, mostro o ponto de partida do meu passeio, a esquina da rua Avanhadava, área reformada em 2007, com a Martins Fontes.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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