quarta-feira, 6 de julho de 2011

Negócio de criminalistas:: Fernando de Barros e Silva

Márcio Thomaz Bastos defende Abilio Diniz e o Grupo Pão de Açúcar. José Carlos Dias, o Grupo Casino, presidido pelo francês Jean-Charles Naouri. Cada parte tem, é claro, um pequeno exército de advogados (especializados em direito societário, arbitragem e mumunhas mais). Mas as estrelas da batalha judicial que se inicia são dois criminalistas. O que é bizarro, ou revelador, já que a disputa se dá, em tese, na esfera comercial.

A despeito dos currículos notáveis (ou por causa deles), a escolha dos medalhões da advocacia criminal depõe contra os próprios clientes. O fato de que tenham sido ministros da Justiça -um de Lula, o outro de FHC- é um ingrediente a mais deste enredo que mistura negócios privados e dinheiro público.

Seria o caso de perguntar: e quem vai defender o BNDES? Diante da repercussão negativa dos termos da fusão -que José Simão batizou de "Carrefurto" ("o pão é francês, mas a rosca é brasileira")-, o banco estatal pôs o pé no freio e entrou em compasso de espera.

Guido Mantega ontem disse, em Londres, que essa não é uma questão de governo e que o eventual negócio não terá recursos públicos. Há poucos dias, o BNDES dizia que a operação seria lucrativa e o ministro Fernando Pimentel (Indústria e Comércio), entusiasta da injeção de R$ 4,5 bilhões do banco na transação, pedia que a imprensa não fizesse "tsunami em copo d"água".

A operação comporta muitas versões, mas a este leigo sem nenhum faro comercial parece que Abilio Diniz está querendo vender a mesma mercadoria duas vezes.

Já vendeu em 2006, quando o grupo francês ficou com 36,9% da empresa e o compromisso de que assumiria seu controle em 2012.

Quer agora dar um perdido no sócio, fundindo-se a outro grupo francês, mas patrocinado pelo dinheiro do BNDES. Thomaz Bastos e Carlos Dias têm um longo e caro embate pela frente. Cabe ao governo apenas deixar o BNDES bem distante desse duelo de criminalistas.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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