domingo, 3 de julho de 2011

O Real é de Itamar:: Clóvis Rossi

O Plano Real, aquele que finalmente domou a intratável inflação brasileira, é sempre atribuído a Fernando Henrique Cardoso. Há certa lógica nisso: foi a equipe que FHC montou na Fazenda que, de fato, elaborou o plano e deu início à sua execução.

Contudo é injusto omitir que o presidente da República naquele momento chamava-se Itamar Franco -que, se não leva a glória de tê-lo concebido, merece a homenagem pela coragem de bancar uma ideia ousada.

Quando a presidente Dilma Rousseff escreveu a Fernando Henrique, louvando o seu papel na estabilização da economia, omitiu que esta ocorreu com Itamar Franco e foi mantida pelos seus dois sucessores. É justo, pois, resgatar esse papel, não porque todo morto sempre vira santo, mas porque ele é real, historicamente verdadeiro.

Do meu ponto de vista, vale lembrar outro aspecto relevante: de todos os presidentes com os quais lidei nos 24 anos em que ocupo este espaço, foi o que menos críticas recebeu, mas de longe, de muito longe. Não por condescendência ou por amizade ou qualquer coisa do gênero, mas porque o governo de Itamar Franco produziu poucos escândalos e anomalias, mesmo assim menores.

Conto um episódio singelo para demonstrar, no detalhe, como Itamar Franco respeitava o cargo que ocupou no Planalto. Durante uma cúpula qualquer em Santiago, no Chile, ele não quis participar do almoço tradicional. Foi para o hotel, e lá ficamos os jornalistas no indefectível plantão, esperando uma palavra ou uma saída.

Itamar, de fato, queria sair para ir a um shopping center, mas não queria que o seguíssemos, porque achava que não ficava bem um presidente ser visto -e, acima de tudo, fotografado- em um local comercial, como um turista qualquer.

Coisinha banal, eu sei, mas ilustrativa de uma personalidade singela, presidente por acaso.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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