quarta-feira, 3 de agosto de 2011

'O PR não é lixo'

Ao reassumir o mandato no Senado após ser forçado a se demitir do Ministério dos Transportes diante de denúncias de corrupção, Alfredo Nascimento (PR-AM) disse ontem não ter tido apoio da presidente Dilma e reagiu à faxina na área: "Eu não sou lixo, o PR não é lixo para ser varrido da administração."

Nascimento: "Não sou lixo, o PR não é lixo"

Ex-ministro diz que não teve apoio de Dilma e acusa o atual, Paulo Sérgio Passos

Maria Lima

BRASÍLIA. Pressionado por aliados a deixar o bloco do governo e entregar todos os cargos indicados pelo partido, o presidente do PR, senador Alfredo Nascimento (AM), defendeu-se ontem no plenário atirando no atual ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, e afirmando que não teve o apoio da presidente Dilma Rousseff. Nascimento acusou o Planalto de ter vazado informações confidenciais sobre uma reunião privada no governo que teriam provocado a crise no Dnit - crise que tornou Nascimento e seus liderados alvos da faxina comandada pela presidente. Antes do discurso, o ex-ministro dos Transportes concordara com companheiros de partido que o PR deveria se declarar independente, mas terminou a fala afirmando que continua na base governista.

Num pronunciamento que não convenceu a oposição nem os aliados do governo, o ex-ministro foi enfático em sua defesa, do partido e do filho Gustavo, cuja empresa teve grande crescimento em pouco mais de cinco anos. Nascimento e outros senadores do PR protestaram contra o tratamento dado ao partido, mais rigoroso do que o dispensado a outros aliados suspeitos de irregularidades:

- Eu não sou lixo, o meu partido não é lixo, nossos sete senadores não são lixo! Somos homens honrados e queremos que seja apurada, pelo menos, a minha participação como senador da República no Ministério dos Transportes - bradou Nascimento, reforçando a mágoa com a faxina feita por Dilma nos Transportes. - O PR, cuja presidência assumi, não é lixo para ser varrido da administração!

Ele frisou que o PR foi um dos primeiros partidos a apoiar a candidatura de Dilma e que, em seis anos de dedicação exclusiva como ministro de Lula, nunca teve seus atos contestados.

- Continuaremos a apoiar a presidente Dilma convencidos de que é isso que esperam nossos eleitores. Nos últimos anos, fui um ministro convocado para resolver problemas. Não aceito que usem meu nome para corrigir distorções que não criei. Que cada um assuma sua responsabilidade - disse, lamentando não ter tido o apoio da presidente. - Renunciei ao cargo de ministro no momento em que, diante dos ataques violentos contra mim desferidos, não recebi do governo o apoio que me havia sido prometido pela presidente Dilma.

Nascimento teve o apoio dos senadores do PR presentes, que cobraram a imediata entrega de todos os cargos e a saída do bloco governista. O senador Blairo Maggi (MT), um dos mais irritados, cobrou da presidente o mesmo rigor para apurar todas as denúncias de corrupção.

- Viramos lixo, a escória da política! Que a presidente Dilma diga se o PR é um partido do bem ou do mal e que dê aos outros partidos o mesmo tratamento que deu ao PR. Dois outros partidos já sofreram denúncias de revistas e nada foi feito. Por que a diferença de tratamento? Estou junto com o líder Magno Malta. O PR não tem que ser mais responsável pelos Transportes. Se quer continuar com Passos, que continue, mas ele não é do PR e não tenho mais ninguém no governo - desabafou Blairo, num aparte.

Antes do discurso, o senador Clésio Andrade (PR-MG) disse que Nascimento havia consultado os senadores do partido e que todos concordaram que a bancada deve ser independente para votar como quiser.

- Somos sete senadores. Se dependesse só de mim, o PR diria para a presidente Dilma: toma seu ministério. O PR tem que dizer: presidente Dilma, tchau e bênção! Faça o que quiser com seu ministério! - aparteou o líder Magno Malta (ES), pedindo a saída do bloco governista.

No longo pronunciamento, Nascimento disse que não é ladrão e que nunca fez um ato lesivo ao país. Emocionado, culpou seu sucessor e atual ministro, Paulo Sérgio Passos, pelo descontrole de gastos com aditivos e inclusão de R$14 bilhões em novas obras não previstas no orçamento, entre março de 2010 e janeiro de 2011, quando retomou a pasta:

- Quando saí, junto com a presidenta Dilma, então ministra, o PAC do Ministério dos Transportes significava um pacote de investimentos da ordem de R$58 bilhões. Quando retornei, já estava em R$72 bilhões. Dediquei os primeiros 90 dias de gestão a uma imersão em todos os projetos e ações programadas em andamento. Em fevereiro, fui o primeiro a perceber a disparada dos gastos previstos e determinei um pente-fino para conhecer a origem de tal movimentação - disse, sem citar o nome de Passos e frisando que os aumentos eram decididos pelos ministérios do Planejamento, da Fazenda e da Casa Civil.

O ministro caiu em 6 de julho, quatro dias após a denúncia da "Veja" sobre o esquema de cobrança de propina em contratos do setor e no mesmo dia em que O GLOBO relatou o crescimento do patrimônio da empresa de seu filho Gustavo - dados contábeis da empresa indicam crescimento de mais de 86.000%.

Nascimento disse que a reportagem é mentirosa. Com a voz embargada, defendeu o filho, mas admitiu que a empresa Forma fora criada com um patrimônio de cerca de R$60 mil, e que, em um ano, saltou para R$52 milhões, mas sem recursos públicos:

- É mentira! O meu filho não é ladrão. Eu vou provar porque tenho toda a documentação, vou buscar a correção dessa injustiça que cometeram com meu filho. O Gustavo tem tino empresarial que justifica o sucesso da empresa. Não se apropriou de dinheiro público.

- Se houve condenação e prejulgamento, partiu de seus superiores no Palácio do Planalto - aparteou o tucano Aécio Neves (PSDB-MG).

Senadores da oposição cobraram que Nascimento assinasse a CPI do Dnit, já que desejava ver tudo apurado. Ele negou-se.

FONTE: O GLOBO

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