sexta-feira, 26 de agosto de 2011

PT e PMDB temem substituições e fazem trégua

Caio Junqueira

PMDB e PP, partidos com ministros ameaçados de perder o cargo, estabeleceram uma trégua entre suas correntes internas para evitar o risco de, além de perder o ministro, a presidente Dilma Rousseff nomear alguém de sua preferência pessoal, como fez na substituição do senador Alfredo Nascimento (PR-AM) no Ministério dos Transportes.

Essa foi a melhor resposta que os dois partidos encontraram para dar aos recados enviados pelo Palácio do Planalto durante a semana: a reposição de ministros é prerrogativa da presidente da República e não das bancadas do Congresso.

Os ministros com a cabeça a prêmio são Mário Negromonte (PP), das Cidades, e Pedro Novais (PMDB), do Turismo. O primeiro é acusado de ter patrocinado um mensalão na bancada do PP; o segundo, teve a cúpula de seu ministério presa pela Polícia Federal, acusada de desvio de verbas via emendas parlamentares.

Ontem mesmo na Câmara, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) enviou um desses recados: "Tem uma determinação clara da presidente: os partidos têm suas independências absolutamente respeitadas pelo governo. Mas não pode nem intervir na disputa interna e nem será permitido que a disputa afete a manutenção de ministros", disse a coordenadora política do governo.

Assim, ao menos no discurso, o ministro das Cidades conseguiu um entendimento com a ala do partido que primeiro destituiu, a seu contragosto, o então líder da bancada na Câmara, Nelson Meurer (SC). Reuniram-se anteontem e acertaram que o melhor era parar com a briga interna, sob pena de perder a bilionária Pasta.

No entanto, as declarações que Negromonte fez de que "imagina se começar a vazar o currículo de alguns deputados, ou melhor, folha corrida" permanecem incomodando até mesmo os deputados ligados ao ministro. Segundo eles, o acordo entre as duas alas não foi feito "em cima de bases sólidas". Serviu a Negromonte, circunstancialmente, para ele dizer a presidente Dilma Rousseff que o partido já estava unido novamente e que, portanto, ele poderia ser mantido no cargo. Serviu ainda à maioria da bancada para evitar ver a tentativa de derrubada do ministro acabar em perda do ministério.

O objetivo de enfraquecer Negromonte, contudo, está mantido. Mas agora a expectativa é de que surjam mais denúncias de corrupção na imprensa contra ele para que a própria presidente se convença de que o melhor a fazer é substituí-lo. Ou seja, os parlamentares querem ver substituído a responsabilidade pela troca de ministros. Querem que Dilma seja a algoz, não a bancada.

Mencionam como exemplo da fragilidade do acordo feito os duros ataques que o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), fez contra o ministro, horas depois do "acordo", sem que nenhum correligionário subisse à tribuna para defendê-lo.

O PMDB, por sua vez, também avalia que o ministro do Turismo, Pedro Novais, mantém-se fraco, mas não haverá movimentações na bancada para destituí-lo. O motivo é o mesmo do PP: o risco de Dilma se irritar e resolver fazer uma "faxina" na Pasta é grande.

Além disso, diferentemente do PP, a bancada do PMDB conseguiu ver atendidas muitas de suas reivindicações. O líder da legenda, Henrique Eduardo Alves (RN), notou a gravidade da insatisfação e agradou aos insatisfeitos, ao tirar o deputado Eduardo Cunha (RJ) da relatoria do novo Código de Processo Civil e forçar a inclusão na pauta da Casa a conclusão da votação da regulamentação da Emenda Constitucional 29.

Isso serviu para tirar o foco da pressão sobre Novais, sua indicação pessoal. Que pode voltar na próxima semana, se Alves não mantiver a promessa de promover debates na bancada e consultar os deputados acerca das posições a serem tomadas dentro do plenário e perante o Palácio do Planalto. Nessa linha, agendou uma ampla reunião com todos os correligionários para começar esse trabalho na terça-feira.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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