quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Dilma mantém Turismo com PMDB e aliado de Sarney

Faxina derruba Novais, que pagou até governanta com verba pública: Gastão Vieira herda pasta

Alvo de novas denúncias de mau uso de dinheiro público com o qual pagava a sua governanta e até ao motorista de sua mulher -, o ministro do Turismo, Pedro Novais, perdeu o cargo ontem. Ele assumirá em meio ao escândalo de ter pagado, também com verba pública, uma festa num motel, e desgastou-se com a Operação Voucher, que descobriu esquema de propinas no Turismo. Foi o quinto ministro a cair - o quarto sob suspeita de corrupção. Dilma deu ao PMDB a tarefa de indicar o substituto, mais exigiu um ficha-limpa. Já sem apoio do PMDB, Novais demitiu-se no segundo encontro com a presidente. O primeiro fora na chegada

A faxina e a governanta

Novais é demitido do Turismo, e Dilma perde o 5º ministro, o 4º por denúncia de corrupção

Catarina Alencastro, Chico de Gois e Gerson Camarotti

Pedro Novais (PMDB-MA) entregou ontem o cargo de ministro do Turismo à presidente Dilma Rousseff, que aceitou sem titubear. Ele foi o quinto integrante do primeiro escalão a deixar o governo desde o início do ano - sendo o quarto por denúncias de irregularidades. Novais já tinha tomado posse, em janeiro, sob acusação de uso indevido da verba indenizatória da Câmara, ano passado, para despesas pessoais.

A queda do ministro ocorre pouco mais de um mês após a Polícia Federal ter realizado a Operação Voucher, em 9 de agosto, quando foi preso o número dois da pasta, o secretário-executivo Frederico Costa da Silva, acusado de corrupção. No posto de ministro, Novais manteve a prática do mau uso da verba da Câmara dos Deputados, que culminou ontem com sua demissão - após revelação do jornal "Folha de S. Paulo" de que ele pagava a governanta e o motorista particular da mulher com recursos públicos.

Deputado federal pelo PMDB do Maranhão desde 1991, Novais, de 81 anos, chegou ao cargo indicado pela bancada do PMDB da Câmara e apadrinhado pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de quem é amigo. Dilma nunca teve simpatia por ele. Nesses oito meses de governo, Novais só teve dois despachos individuais com a presidente - um deles, ontem, para pedir demissão. Dilma passou ao PMDB a escolha do novo nome da pasta, mas o partido ainda estava dividido ontem à noite sobre essa indicação.

Além de denúncias, gestão apagada

Dos três ministros peemedebistas que deixaram o governo Dilma, Novais e o ex-titular da Agricultura Wagner Rossi caíram após denúncias de irregularidades. Nelson Jobim deixou a Defesa porque falou demais numa entrevista, desagradando a Dilma e outros integrantes do Palácio do Planalto. Os outros dois ministros que caíram foram Antonio Palocci (PT), da Casa Civil, e Alfredo Nascimento (PR), dos Transportes.

Novais agora volta à Câmara, reassumindo seu mandato. Ontem, depois que a "Folha de S.Paulo" revelou que um funcionário da Câmara atuava como motorista particular de sua mulher, a sorte do ministro foi selada. O PMDB lhe retirou o apoio e Dilma viu no episódio a oportunidade de se livrar do ministro, que vinha tendo uma gestão apagada antes mesmo das complicações de corrupção na pasta.

PMDB preferiu não se desgastar

Já na noite de terça-feira, a presidente deu sinal verde para o vice-presidente Michel Temer efetuar a mudança. A demora na substituição ocorreu porque o vice estava em São Paulo se recuperando de problemas de saúde. Temer chegou a Brasília por volta das 16h, quando chamou Novais em seu gabinete para dizer que ele não tinha mais condições de continuar no cargo.

Até então, Novais oscilava de humor. Chegou a avisar para integrantes do partido, no fim da manhã, que iria escrever a carta de demissão. Mas, logo depois, em conversa com o líder do PMDB da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), disse que estava disposto a resistir.

- O Pedro Novais chegou à conclusão de que deveria responder as denúncias fora do cargo, até mesmo para não atrapalhar as ações do Ministério do Turismo. Ele disse que vai explicar todas as denúncias. E não quer que uma coisa atrapalhe a outra - disse, por fim, Henrique Alves, após a reunião de Temer com o ministro.

Um pouco antes, o próprio PMDB já demonstrava contrariedade com o ministro. Dirigentes do partido avaliaram que a sua saída deveria ser imediata, para não aumentar ainda mais o desgaste do PMDB - especialmente porque o partido realiza hoje, em Brasília, um encontro preparatório do congresso nacional da sigla, em dezembro, para deslanchar a campanha da eleição municipal de 2012. Seus dirigentes temiam que o evento fosse ofuscado pelas denúncias envolvendo o ex-ministro.

Diante da insistência de Novais, até o início da tarde de ontem, em permanecer no cargo, o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), foi taxativo:

- Para Novais, só tem duas soluções: ou sair por vontade própria, ou ser saído.

No Planalto, a avaliação era que a situação de Novais ficou insustentável e não havia mais condição de segurá-lo no cargo. A presidente tinha decidido conter as demissões de novos ministros até a reforma ministerial, que deve acontecer entre janeiro e fevereiro. Aconselhada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pressionada pela base aliada, Dilma tinha interrompido o processo de faxina.

No início da noite, Novais foi ao gabinete de Dilma, acompanhado de Temer. A audiência de despedida, por volta das 19h, durou cerca de 15 minutos. Na carta protocolar, Novais agradece a oportunidade de ter sido ministro e anuncia o pedido de demissão. Nada esclarece sobre as denúncias que o envolveram. Ao chegar na Vice-Presidência, o ministro, que passou o dia tentando se manter no cargo, ainda tentou despistar:

- VIm aqui conversar com meu amigo Michel Temer.

Pela manhã, esbanjando bom humor, a presidente Dilma disse que, durante o dia, iria decidir o destino de Novais. Antes de participar da abertura do Seminário de Gestão de Compras Governamentais, em um hotel de Brasília, ela disse, ao ser perguntada sobre a situação do ministro:

-- Primeiro, a gente pede as explicações cabíveis. Eu voltei hoje de São Paulo. Vamos encaminhar isso, avaliar qual é a situação e tomar as medidas cabíveis de forma muito tranquila.

A presidente afirmou que, até aquele momento, por volta das 11h, Novais não a procurara para se explicar sobre as novas denúncias:

- Ele não me deu explicação, até porque eu não estava aqui.

FONTE: O GLOBO

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