terça-feira, 6 de setembro de 2011

Montadoras adotam férias coletivas e param produção

Com as restrições ao crédito e a queda das vendas de carros novos no país, montadoras estão parando a produção e dando férias coletivas a cerca de 35 mil trabalhadores. Volkswagen, Fiat, Ford e Scania anunciaram que suspenderam, temporariamente, a produção para diminuir os estoques, que já equivalem a 40 dias de vendas, segundo a Fenabrave, entidade das concessionárias. Existem hoje, nos pátios de montadoras e revendas, mais de 120 mil carros à espera de compradores. Com as paralisações programadas ate meados do mês que vem, mais de 30 mil veículos deixarão de ser fabricados. Analistas ouvidos pelo BC reduziram a projeção de crescimento do país, este ano, de 3,79% para 3,67%. O mercado já admite que a inflação vai estourar o teto da meta (6,5%)

Parada forçada nas montadoras

Com estoques nos pátios, fábricas deixam de produzir 30 mil carros e 35 mil operários param

Wagner Gomes e Bruno Rosa

A desaceleração nas vendas de carros novos, devido a restrições ao crédito e concorrência dos importados, fez as montadoras pisarem no freio e reduzir a produção em muitas de suas fábricas. Volkswagen, Fiat, Ford e Scania anunciaram ontem que vão suspender temporariamente a produção em algumas unidades e dar férias coletivas aos empregados para tentar diminuir os estoques, que no setor como um todo hoje equivalem a 40 dias de vendas, segundo a Fenabrave, entidade que reúne as concessionárias. A média de estoques do mercado, segundo especialistas, é de 30 dias, no máximo. Há, hoje, nos pátios de montadoras e revendas autorizadas mais de 120 mil carros à espera de compradores, que diminuíram com o esfriamento da economia. A pesquisa Focus (feita com cem instituições financeiras pelo Banco Central) reduziu sua projeção de crescimento da economia, para 3,69%.

Com as paralisações, até meados do mês que vem mais de 30 mil veículos devem deixar de ser produzidos no país. Ao todo, serão 39 dias a menos de produção de carros de passeio, comerciais leves e caminhões, que significarão períodos diferentes de férias coletivas para 35.100 trabalhadores.

A Volkswagen resolveu suspender a produção em três fábricas: São José dos Pinhais, no Paraná; São Bernardo do Campo, no ABC paulista; e Taubaté, no interior de São Paulo. Com dois feriados na semana (7 de setembro, nacional, e no dia 8, dia da padroeira local), a produção na fábrica paranaense ficará paralisada por quatro dias, com os funcionários voltando ao trabalho só na sexta-feira. Nesse período, cerca de 3.600 unidades dos modelos Fox e CrossFox deixarão de ser produzidos. Em Taubaté, os 5.500 empregados da Volks também ficam em casa até a sexta-feira. Os dias parados serão compensados mais adiante, aos sábados, quando o mercado reaquecer.

Empresas darão descontos

O secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba, Jamil D"Ávila, confirmou que as vendas estão desacelerando. De janeiro a agosto, foram comercializadas 78 mil unidades do Fox e do CrossFox produzidos em São José dos Pinhais, contra 90 mil no mesmo período de 2010:

- A Volks tem dez mil carros no pátio de São José dos Pinhais, mais do que o dobro do volume normal.

No ABC, o Sindicato dos Metalúrgicos confirmou que a unidade da Volks em São Bernardo do Campo terá a produção suspensa por dois dias nesta semana: cerca de dez mil trabalhadores da linha de montagem vão emendar o feriado de 7 de setembro e não vão trabalhar quinta e sexta-feira. A montadora informou que não há previsão de férias coletivas, mas "está utilizando suas ferramentas de flexibilização para realizar ajustes nos estoques".

Os empregados da Fiat na fábrica de Betim (MG) já não foram à fábrica ontem, e só voltam na quinta-feira, após o feriado da Independência. Metade dos 15 mil trabalhadores da empresa ficarão em casa nesse período e 6.400 carros não serão produzidos.

A paralisação mais longa acontecerá na fábrica da Ford, em Camaçari (BA), que vai suspender a produção por quase um mês, do dia 12 de setembro a 7 de outubro (20 dias úteis). A unidade tem 8,7 mil trabalhadores e produz 912 veículos por dia (Ecosport e Novo Fiesta).

Ainda na Ford, os trabalhadores terão paradas programadas na fábrica de transmissão e motores em Taubaté, no interior de São Paulo. Segundo o sindicato local, 1.300 dos 1.600 funcionários de Taubaté ficarão dez dias parados (ao todo duas semanas). Em São Bernardo do Campo, a produção de caminhões da Ford será suspensa entre 8 e 16 de setembro. Na mesma fábrica, a produção de carros foi paralisada ontem e só retorna dia 9. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, 2.480 trabalhadores vão folgar durante esse período na Ford.

Ontem, cerca de 300 metalúrgicos da fábrica da General Motors (GM) de São José dos Campos, também no interior paulista, que folgavam desde 22 de agosto, voltaram ao batente. No período, a empresa deixou de produzir 1.500 veículos.

E quando os estoques estão em alta, quem sai ganhando é o consumidor. Segundo o economista Ayrton Fontes, da M. Santos Agência de Varejo Automotivo, as concessionárias estão dando desconto no preço dos veículos para chamar a atenção dos consumidores e fechar a cota mensal de vendas, que devem cumprir para bônus nas encomendas futuras.

- Muitas concessionárias vendem os carros com pouca margem de lucro somente para fechar a cota mensal. Elas dão desconto em cima de desconto para atrair o consumidor - disse Fontes. - As montadoras, naturalmente, suspendem a produção para reduzir o estoque.

Para driblar as vendas fracas, as concessionárias de veículos estão baixando cada vez mais os preços dos carros novos. Em alguns casos, segundo levantamento feito pelo GLOBO, é possível obter descontos de até 8,74% durante a negociação da aquisição do automóvel. Além disso, as montadoras promovem cada vez mais feirões. Segundo as concessionárias, a queda nas vendas começou a ganhar força a partir do fim do primeiro trimestre, em decorrência do aumento da taxa básica de juros, a Selic, que encareceu o custo do financiamento.

A justificativa também é endossada pela Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef). Ontem, a entidade disse que o financiamento de carros está crescendo a um ritmo menor. Em julho, o total parcelado chegou a R$196,2 bilhões. Foi uma alta de 14,6% em relação ao mesmo mês do ano passado, porém menor que os 18% entre 2010 e 2009.

Com juros maiores, o calote cresceu. O índice de inadimplência do CDC de veículos para pessoa física, com atrasos acima de 90 dias, passou de 3,4%, em agosto de 2010, para 4%, este ano, informou a Anef. Em julho, o número era de 3,8%.

- As vendas estão menores porque está mais difícil obter financiamento. - disse Fernanda Alvares, da Recreio, da rede Volkwagen.

Segundo Gustavo Brito Silva Araújo, diretor da Disnave, da Volks, as montadoras irão promover mais feirões até o fim do ano:

- Já virou um aspecto cultural. Muitos clientes só compram carros em feirões. Vamos ter muitos ainda.

Colaborou Fabiana Ribeiro

FONTE: O GLOBO

Um comentário:

Anônimo disse...

Esta' caro o preço do carro no Brasil! A renda media do brasileiro não o permite ficar trocando de carro ou comprar um carro novo como as montadoras pretendem! O custo "carro Brasil" ainda e' bem alto! Não adianta produzir para quem não tem poder de compra!