quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Brasil é hipócrita ao aconselhar Europa, diz ‘Financial Times’

Sílvio Guedes Crespo

O blog BeyondBrics, do “Financial Times”, publicou um texto atacando o discurso da presidente Dilma Rousseff em Bruxelas.

Na capital da Bélgica, a chefe do governo brasileiro disse que, no caso da crise da América Latina nos anos 1980, “medidas fiscais extremamente restritivas apenas aprofundaram o processo de estagnação”.

“Sim, você leu direito. O país que está listado em 152º lugar no ranking do Banco Mundial por seu desajeitado e pesado sistema de impostos está dando conselhos sobre impostos restritivos”, provoca o BeyondBrics.

Sem avaliar o teor da proposta de Dilma, o texto opta por discutir se as autoridades brasileiras têm ou não o direito de dar sugestões a países europeus.

“Os políticos brasileiros recentemente assumiram para si o papel de resolver a crise financeira global, distribuindo conselhos ao mundo desenvolvido”, afirma Samantha Pearson, autora do artigo.

“Depois de despontar para a fama graças ao seu discurso da ‘guerra cambial’, [o ministro da Fazenda, Guido] Mantega no mês passado propôs um pacote um tanto excêntrico de socorro à zona do euro por parte dos Brics. O problema é que ele não consultou outros Brics, como a China”.

O BeyondBrics acredita, ainda, que “o conselho vindo do Brasil soa de certa forma hipócrita”, porque a presidente falou sobre a necessidade de combater o protecionismo uma semana depois do governo anunciar o aumento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre automóveis importados.

Outra atitude hipócrita, na visão da autora, é a compra de dólares quase diária pelo Banco Central (antes da atual fase de queda do real), combinada com a crítica a países que estariam manipulando suas moedas.

“Com um dos sistemas bancários mais sólidos do mundo, uma enorme capacidade de medidas de estímulo anticíclicas e reservas cambiais robustas, não causa surpresa que o Brasil hoje se sinta no direito de distribuir tantos conselhos – ainda que excêntricos”, conclui o texto.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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