sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Delator diz que foi a ministro 'várias vezes'

No depoimento de oito horas à Polícia Federal anteontem, o policial João Dias Ferreira, acusado de desviar recursos do Ministério do Esporte, disse que teve várias conversas com Orlando Silva e o acusou de indicar até uma firma fornecedora de quimonos. A AGU apresentou queixa-crime contra João Dias

Delator reafirmou acusações contra Orlando

À PF, policial disse que teve vários encontros com o ministro, que entrou com queixa-crime contra o acusador

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. O policial militar João Dias Ferreira, dono de duas ONGs acusadas de desviar R$3,2 milhões do programa Segundo Tempo, afirmou, em depoimento à Polícia Federal, que o ministro do Esporte, Orlando Silva, recomendou que ele comprasse quimonos de uma das empresas de Miguel Santos de Souza. Relatório da Operação Shaolin - investigação sobre as supostas fraudes das ONGs de João Dias - informa que são "fantasmas" algumas das empresas de Miguel Santos. Elas foram usadas para fornecer notas fiscais frias a ONGs financiadas pelo Segundo Tempo, entre elas as de João Dias. O policial disse ainda que teve várias conversas informais com Orlando. O ministro nega todas as acusações e chama o policial de bandido.

O policial afirmou ainda que tem "certeza" de que o esquema de "estruturação" do PCdoB em Brasília era "operado" por Orlando. O policial foi candidato a deputado distrital pelo PCdoB em 2006.

- É mais uma calúnia, sem provas. Por isso, a AGU impetrou, no dia de hoje (ontem), queixa-crime pedindo a condenação do senhor João Dias - disse o ministro, por intermédio de sua assessoria.

A pedido do ministro, a Advocacia Geral da União (AGU) apresentou na Justiça em São Paulo queixa-crime contra João Dias e seu motorista Célio. Orlando Silva pede que os dois sejam condenados por crime de calúnia por conta das denúncias, segundo ele, infundadas de que teria envolvimento em irregularidades no ministério.

No depoimento de oito horas à polícia, na segunda-feira, João Dias disse que teve várias conversas informais com Orlando. Numa delas, no auditório do Grupamento de Fuzileiros Navais, o ministro teria sugerido o negócio com Miguel Santos. "Que numa dessas conversas, Orlando Silva recomendou expressamente ao declarante para que este contratasse a aquisição de quimonos junto a Miguel". A Federação Brasiliense de Kung Fu, um das ONGs de João Dias, tinha um convênio de R$2,5 milhões com o ministério para incentivar a prática de esporte por crianças do Distrito Federal.

Pelo convênio, a ONG deveria ministrar aulas e comprar material, inclusive quimonos, para os alunos carentes. João Dias não disse quando ocorreu o encontro, nem apresentou provas do suposto diálogo com o ministro. Miguel Santos estaria por trás das empresas HP Serviços Gerais, Infinita, WRC Comércio e JG Comércio de Alimentos.

O policial repetiu à PF que o amigo Célio Soares entregava dinheiro ao motorista de Orlando na garagem do ministério. Numa das missões, Soares teria levado R$800 mil. Soares teria recolhido R$600 mil com Toni Matos e Geraldo Nascimento, arrecadadores de campanha ligados ao PCdoB e mais R$200 mil no Instituto Novo Horizonte, uma das ONGs financiadas pelo Segundo Tempo.

João Dias reafirmou, no entanto, que não presenciou a suposta entrega do dinheiro. Ele teria sido informado sobre os repasses por Soares. O policial disse que, antes de ir à polícia, esteve com Soares e que o amigo estaria disposto a confirmar as declarações dele no inquérito sobre as supostas irregularidades no ministério. João Dias sustentou a existência de uma estrutura criada para desviar parte dos recursos do Segundo Tempo para o PCdoB, partido de Orlando, e para o enriquecimento de militantes do partido.

O PM disse que a iniciativa de fazer o convênio partiu do ministério, e não dele. Ele afirmou que, em 2004, foi procurado por uma comissão. O grupo teria oferecido parceria com o ministério, desde que aceitasse algumas condições. Uma delas era pagar uma comissão de 10% a 20%. O policial deveria "somente contratar os fornecedores indicados e aprovados pela comissão do Ministério do Esporte". Teria ainda que "arrebanhar militantes para o partido PCdoB".

João Dias disse ainda que o contrato inicial era de R$400 mil. Mas, por iniciativa exclusiva do ministério, foi aumentado para R$2 milhões.

FONTE: O GLOBO

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