sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Para analistas, BC indica mais cortes de juros

Crise mais forte na economia global e crescimento menor da China justificaram a última redução na Taxa Selic

Gabriela Valente

BRASÍLIA. O Banco Central (BC) traçou um quadro pior para a economia global no último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), no dia 19, e avaliou que os efeitos deste prognóstico justificavam o corte de 0,5 ponto percentual da Taxa Selic, para 11,5%. Para analistas, as indicações contidas na ata da reunião, divulgada ontem, são de que o ciclo de redução de juros continuará nos próximos encontros. O cenário favorece uma desaceleração maior na economia brasileira, o que diminuirá as pressões inflacionárias e trará de volta o IPCA ao centro da meta, de 4,5%, em 2012.

Segundo o Copom, o cenário externo deteriorou-se ainda mais com a expansão menor da China, atual motor da economia global. Com isso, vai esfriar a economia brasileira, que será contaminada pela crise internacional por vários canais de transmissão, "como a redução da corrente de comércio, moderação do fluxo de investimentos, condições de créditos mais restritivas e piora no sentimento de consumidores e de empresários".

"O Copom reconhece um ambiente econômico em que prevalece nível de incerteza muito acima do usual, e pondera que o cenário prospectivo para a inflação, desde sua última reunião, acumulou sinais favoráveis", diz a ata.

Para o Departamento Econômico do Bradesco, "a ata da última reunião do Copom revelou que o BC mantém sua estratégia de realização de "ajustes moderados" no nível da taxa de juros, o que significa manter o ritmo de cortes de 0,5 ponto por reunião, levando a Taxa Selic para 10% em março de 2012".

Já o economista da LCA Corretora, Flávio Samara, alega que não é possível trazer a inflação para a meta de 4,5% em 2012 contando apenas com a crise. A consultoria prevê que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) será de 5% em 2012.

- As autoridades no mundo inteiro estão fazendo de tudo e mais um pouco para não deixar um banco quebrar e, se isso não acontecer, o mundo terá um desempenho sofrível em termos de crescimento econômico, mas sem recessão. Assim, não haverá um impacto tão grande na inflação brasileira.

"Prontas correções" para atingir a meta de 4,5%

O BC usou a ata para rebater críticas do mercado de que estaria disposto a aceitar uma inflação mais alta. Afirmou que a sua estratégia é acertar a meta em 2012 e, se preciso, fazer "prontas correções de eventuais desvios". A autoridade monetária refutou ainda críticas de que a política de juros perdeu a eficácia. Ao contrário, afirmou que ela está até mais forte.

Na ata, o Copom voltou a afirmar que a inflação alcançou o seu pico no trimestre passado e cairá nos últimos três meses do ano. E essa queda, por si só, contribuirá para melhorar as expectativas dos agentes econômicos. O IPCA foi de 0,53% em setembro (0,37% em agosto).

O economista-chefe da corretora Votorantim, Roberto Padovani, disse que o Copom adotou um um modelo de previsões, chamado "Samba", que inclui mais variáveis, e os efeitos de choques externos têm mais impacto no mercado doméstico:

- Por isso eu acho que o Banco Central manterá seu plano de voo e cortará mais 0,5 ponto percentual nas duas próximas reuniões - afirmou Padovani.

Fonte: O Globo

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