terça-feira, 8 de novembro de 2011

Mercados reinventam a guilhotina:: Clóvis Rossi

Quando Silvio Berlusconi cair, não terá sobrado um só governante nos cinco países sitiados pela crise

Quando Silvio Berlusconi cair, hoje ou depois, todos os governos dos países que entraram na alça de mira dos mercados terão soçobrado: Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha. Na Espanha, José Luis Rodrígues Zapatero desistiu de disputar a re-reeleição porque seria surrado. Não importa: no dia 20, seu partido, o Socialista Operário Espanhol, sofrerá a derrota mais contundente de sua história, indicam todas as pesquisas.

Mas não há qualquer lógica nem qualquer remédio real nessas trocas de governo. Tome-se o caso Berlusconi: há uns 300 mil motivos para que ele caia (para o meu gosto, aliás, nem teria sido eleito). Mas não foi ele que acumulou a dívida italiana hoje em 120% do PIB, o que tornou a Itália a bola da vez, após o colapso da Grécia.

Passe-se para a Grécia: George Papandreou, a vítima do fim do semana, não criou a crise que o derrubou. Paradoxalmente, a grande responsável é a Nova Democracia, o partido conservador que agora voltará ao poder, surfando no governo de coalizão imposto à Grécia.

Quando assumiu, em dezembro de 2009, Papandreou descobriu que o deficit público legado pelo Nova Democracia não era de 3,7% do PIB, mas quatro vezes maior (acabou chegando a 15%).

Detalhe: quem ajudou no trambique do deficit foi a Goldman Sachs, uma das grandes grifes do tal mercado, esse que agora decepa uma cabeça após a outra na Europa.

A guilhotina política arruína a democracia porque atropela seus modos. Tanto Papandreou como Berlusconi acabam de sobreviver a votos de desconfiança, nos respectivos Parlamentos. Que caiam em seguida, desidratados até a morte pelos mercados, pode até ser merecido, mas não é a maneira legítima de proceder em democracia.

Na Grécia, inverteu-se a lógica completamente: primeiro o Parlamento velho aprova o novo pacote de austeridade e depois são convocadas eleições (fala-se em 19 de fevereiro). Para que eleição se o governo que resultar delas não tem o que fazer, a não ser gerir o que foi decidido pela União Europeia/FMI e referendado pelo Parlamento em fim de mandato?

Vale o mesmo raciocínio para a Espanha: o governo do conservador Partido Popular, virtual vencedor no dia 20, seguirá as pautas deixadas por Zapatero porque, se não o fizer, a bola da vez volta a ser a Espanha.

Vale para todos esses países o raciocínio feito para a Grécia por Dimitris Kontoginannis no "Khatimerini" de ontem:

"Infelizmente, não há razão para alguém acreditar que a contração econômica terminará em algum ponto do futuro previsível, por um número de razões, incluindo a deterioração da economia global, e da eurozona em particular".

Sem crescimento econômico, não há hipótese de tornar administrável a dívida dos países sitiados pelo mercado.
A mudança de governo, portanto, pode ser rima mas não é solução.

E olhe que a Europa/FMI, se aprovarem o segundo pacote de resgate da Grécia, terão empilhado uma soma (€ 240 bilhões) superior ao tamanho da economia grega (€ 220 bilhões). Não é lógico derrubar o governo a que se concedeu e/ou prometeu mais do que o seu próprio país.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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