terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Brasil passa Reino Unido, mas só terá renda igual em 20 anos

PIB brasileiro já e o 6º maior do mundo e pode passar França e Alemanha

O Brasil tornou-se a sexta maior economia do planeta, ultrapassando o Reino Unido, segundo o britânico Centro de Pesquisa para Economia e Negócios. Pelas previsões, até 2020, o Brasil poderia ainda passar Alemanha e França, mas seria ultrapassado por Rússia e Índia, mantendo-se, portanto, na sexta colocação. Simulações feitas com base nos dados do Fundo Monetário internacional (FMI) mostram que, só em 2032, o Brasil poderia alcançar o padrão de vida hoje desfrutado pelos ingleses. O próprio ministro Guido Mantega reconhece que o país levaria 10 a 20 anos para atingir esse patamar: "Temos um grande desafio pela frente."

Tão perto, tão longe

Brasil sobe à posição de 6ª maior economia do mundo este ano, mas só atinge padrão de renda daqui a 20 anos

Lino Rodrigues*, Flávia Barbosa

O Brasil conquistou o posto de sexta maior economia do mundo, ultrapassando o Reino Unido, de acordo com estudo do Centro de Pesquisa para Economia e Negócios (CEBR, na sigla em inglês) publicado ontem pelos principais jornais londrinos. É a primeira vez que os britânicos ficam atrás de um sul-americano nesse tipo de ranking. Apesar de superar o Reino Unido no tamanho da economia, o Brasil continua longe de proporcionar à população um padrão de renda parecido com o dos europeus. O Produto Interno Bruto (PIB) per capita dos brasileiros, por exemplo, deve encerrar o ano em US$12.916, menos de um terço dos US$39.604 dos britânicos. Num cenário otimista, que pressupõe crescimento populacional de 1% e de 6,5% da economia ao ano, o Brasil só atingiria o patamar do PIB per capita dos britânicos em 2028, segundo simulação feita pela Austin Rating. Com a mesma taxa de expansão populacional, mas com a economia crescendo a 5% ao ano, o PIB per capita brasileiro alcançaria o atual britânico só em 2032.

Ao comentar a ascensão ao posto de sexta maior economia do mundo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu ontem que a melhoria do padrão de vida dos brasileiros continua sendo um desafio. E que o Brasil deve levar de dez a 20 anos para fazer com que os seus cidadãos tenham o padrão de vida europeu. "Isso significa que nós vamos ter que continuar crescendo mais do que esses países (desenvolvidos), aumentar o emprego e a renda da população. Nós temos um grande desafio pela frente", disse o ministro em nota.

País passaria França e Alemanha em 2020

Apesar disso, Mantega afirmou que o país tende a consolidar-se como a sexta maior economia, uma vez que a crise internacional deve restringir a capacidade de crescimento dos desenvolvidos: "Os países que mais vão crescer são os emergentes, como Brasil, China, Índia e Rússia. Dessa maneira, essa posição vai ser consolidada e a tendência é que o Brasil se mantenha entre as maiores economias do mundos nos próximos anos".

A consultoria britânica também prevê a manutenção do Brasil na sexta colocação. Em 2020, o país permaneceria no mesmo posto. Já a queda britânica no ranking continuaria nos próximos anos, com Rússia e Índia empurrando o país, em 2020, para a oitava posição, atrás da Alemanha - hoje em quarto lugar - e à frente da França - atualmente em quinto. O Brasil também passaria Alemanha e França. Já a Itália - hoje em oitavo - passaria ao décimo lugar. Os três primeiros no ranking - EUA, China e Japão - não sofreriam alterações.

Agora, é preciso fazer reformas

Em entrevista à rede BBC, o executivo-chefe do CEBR, Douglas McWilliams, disse que essa mudança de posições entre Brasil e Reino Unido faz parte de uma tendência. "Acho que isso é parte da grande mudança econômica, em que não apenas estamos vendo uma mudança do Ocidente para o Oriente, mas também estamos vendo que países que produzem commodities vitais - comida e energia, por exemplo - estão se dando muito bem, e estão gradualmente subindo na "tabela do campeonato econômico"."

"O Brasil vence os países europeus no futebol há muito tempo, mas vencê-los na economia é um fenômeno novo", afirmou McWilliams ao jornal "Guardian". "Nosso ranking econômico mundial mostra como o mapa da economia está mudando, com os países da Ásia e economias produtoras de commodity subindo enquanto a Europa cai."

O avanço do Brasil na lista dos maiores PIBs não surpreendeu os economistas. Silvio Campos Neto, da consultoria LCA, observa que o salto era iminente, dada a diferença no ritmo de crescimento de Brasil e Reino Unido:

- Era uma questão de tempo, após ultrapassar a Itália. Agora, a França entra na alça de mira do Brasil.

O economista advertiu que o país precisa encarar uma série de desafios para se manter no posto conquistado. Pois a Índia, observou, vem num ritmo forte de expansão econômica e pode ultrapassar o Brasil nos próximos anos, caso o país não faça as reformas estruturais necessárias para assegurar um crescimento sustentável.

- O país precisa de uma agenda estrutural, que ficou travada como as reformas institucionais e políticas. Vai chegar um momento em que a realidade vai cobrar a conta - afirmou.

Mais otimista, Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, entende que o avanço do Brasil mostra que o país está distribuindo riqueza e fazendo a "lição de casa". Se mantiver as diretrizes da atual política econômica, ele estima que até 2015 o PIB brasileiro pode ultrapassar o da França e, em 2019, o da Alemanha. Um dos efeitos dessa ascensão, ressaltou Agostini, é que o país "terá mais voz" em órgãos internacionais, como o FMI, a Organização Mundial do Comércio (OMC), e a nas Nações Unidas (ONU).

- Os países desenvolvidos terão que dar voz ao Brasil. É hora de o país se posicionar e ocupar os espaços - disse Agostini, que também condiciona avanços à necessidade de levar adiante reformas estruturais. - Precisamos fazer as reformas para que lá na frente não tenhamos os mesmos problemas que os desenvolvidos tem hoje.

Segundo o CEBR, o crescimento global em 2012 ficará em 2,5%. Mas, em um cenário com "um ou mais países deixando o euro, com calotes da dívida soberana e com bancos quebrando e precisando de ajuda", a expansão no ano que vem pode ser de apenas 1,1%. Já a Europa deve registrar uma retração de 0,6%. E, se o euro entrar em colapso, a queda pode chegar a 2%.

As previsões para os EUA são mais otimistas: crescimento de 1,8%. China e Índia devem se manter em forte expansão: 7,6% e 6%, respectivamente. Outras economias emergentes devem desacelerar: Turquia passaria de 7,1% para 2,5%; Arábia Saudita; de 6,1% para 4%; Rússia, de 3,8% para 2,8%; e Brasil de 2,8% para 2,5%.

(*) Com agências internacionais

FONTE: O GLOBO

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