terça-feira, 6 de dezembro de 2011

PIB parado:: Míriam Leitão

O Brasil ficou estagnado no terceiro trimestre. Este será o dado com o qual o país se defrontará hoje quando sair o número do PIB. A produção industrial encolheu 0,9% no período, a produção de aço mergulhou 15%. O quarto trimestre até agora também está negativo. O PIB de 2011 está caminhando para uma taxa de 3% no melhor cenário. Mesmo assim, é um bom resultado.

O ano teve sustos, interrupções, crises demais, por isso é natural que o crescimento que se previa ficar entre 4,5% e 5% tenha ficado na verdade em torno de 3%. Do quarto trimestre, só há dados de outubro, mas não se espera uma reversão da tendência, mesmo com a queda dos juros e o pacote.

Ontem o mercado estava em dúvida sobre se o indicador a ser divulgado hoje será de zero, ligeira alta ou pequena queda, mas qualquer que seja o número ele mostrará estagnação. A MB Associados acha que pode, no melhor cenário, dar 0,3% de alta, mas não afasta o risco de até ficar negativo. Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, o resultado seria de 2,6%. Uma freada forte porque o ano passado terminou em 7,5%.

- Essa desaceleração está mais relacionada com a crise internacional do que com efeitos da política doméstica. Foi feito pouco em matéria fiscal e monetária para justificar a desaceleração. Infelizmente estamos sendo contaminados pela paralisia que estamos vendo no mercado financeiro internacional - disse Sérgio Valle, da MB.

E a situação internacional teve ontem novos capítulos para confirmar que este ano é mesmo o da dúvida. A boa notícia foi que juntos os governantes da Alemanha e da França, Angela Merkel e Nicolas Sarkozy, anunciaram que chegaram num amplo acordo para a reestruturação da Zona do Euro. No final da tarde, no entanto, veio a notícia de que a Standard & Poor"s colocou em perspectiva negativa as dívidas de 15 países da Zona do Euro. Hoje, França e Alemanha são triplo A.

O Brasil não está desacelerando sozinho. Países vizinhos que cresceram muito no ano passado também estão com ritmo menor. Os bancos centrais do México e do Chile mantiveram as taxas de juros acionando o modo "esperar para ver". A economia chilena é a mais vulnerável da região a uma desaceleração da China. Segundo a consultoria Capital Economics, o ritmo de crescimento chileno no mês de outubro foi o mais fraco desde o terremoto que atingiu o país em fevereiro de 2010.

A incerteza em relação à economia mundial afeta os investimentos, segundo o Itaú Unibanco: "A volatilidade da taxa de câmbio e a incerteza internacional costumam ser apontadas como fatores de postergação de investimentos; assim como os altos custos trabalhistas e de energia, restrição à importação de insumos e a dificuldade de encontrar mão de obra qualificada", escreveu o banco em relatório. O Itaú ressalta que o desempenho das vendas varejistas decepcionou em setembro e outubro. Mas houve pequena melhora nos investimentos. As vendas de imóveis residenciais desaceleraram, o setor de commodities deve continuar a se expandir e o mercado de trabalho começa a dar sinais de acomodação.

De julho a setembro a produção industrial teve o seguinte desempenho: 0,3% positivo; 0,1% e 1,9% negativos. No trimestre, a produção de carros encolheu 0,4%; o setor de gás, 1,5%. Mas o que assustou mesmo foi a queda de 15% na produção de aço.

O Instituto Aço Brasil reviu para baixo suas previsões para 2011. O excedente de capacidade de produção de aço em relação à demanda no mundo continua alto - cerca de 500 milhões de toneladas. No Brasil, sobram 20 milhões de toneladas.

- No início do ano, com a expectativa de retomada mais forte das principais economias, a Associação Mundial de Aço previa que o setor no mundo retornaria ao nível pré-crise, de 2007, em 2012. Com o agravamento da crise na Europa, essa previsão ficará adiada por mais dois ou três anos - disse Marco Polo Mello Lopes, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil.

Apesar disso, o melhor saldo comercial brasileiro foi o do terceiro trimestre, segundo a AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil). O país teve um superávit de US$10 bilhões de julho a setembro.

Levando-se em conta que o país conseguiu manter baixa a taxa de desemprego, a conclusão é que o país teve um bom desempenho. O mundo não ajudou nada.

Pelo contrário. O terremoto do Japão afetou cadeias produtivas importantes, a revolta na África elevou o preço do petróleo, alavancou a incerteza e derrubou a economia americana no início da recuperação. Mas nada foi mais devastador do que a crise da Europa que se arrasta de forma crônica por vários meses produzindo uma sucessão de eventos inesperados.

A crise ainda não está encerrada e o ano ainda promete. A esperança que se tem em relação à Europa é que a situação está tão grave que não pode piorar mais. Na beira do abismo, os grandes países da região vão agir para salvar a moeda do colapso.

Mesmo se agirem, não vão salvar o crescimento europeu de 2012. A região deve continuar em recessão, mas se o mundo puder vislumbrar uma saída o clima pode melhorar.

Se isso acontecer, o Brasil pode ter no ano que vem um desempenho que é o retrato invertido do que houve este ano. Se em 2011 o país começou crescendo fortemente e foi perdendo ritmo, no ano que vem pode fazer o caminho oposto: começar fraco e ir ganhando força ao longo do ano.

FONTE: O GLOBO

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