quarta-feira, 20 de julho de 2011

Opinião – Fernando Henrique Cardoso: Oposição

Para recordar que cabe às oposições, como é óbvio e quase ridículo de escrever, se oporem ao governo. Mas para tal precisam afirmar posições, pois, se não falam em nome de alguma causa, alguma política e alguns valores, as vozes se perdem no burburinho das maledicências diárias sem chegar aos ouvidos do povo. Todas as vozes se confundem e não faltará quem diga – pois dizem mesmo sem ser certo – que todos, governo e oposição, são farinhas do mesmo saco, no fundo “políticos”. E o que se pode esperar dos políticos, pensa o povo, senão a busca de vantagens pessoais, quando não clientelismo e corrupção?
Diante do autoritarismo era mais fácil fincar estacas em um terreno político e alvejar o outro lado. Na situação presente, as dificuldades são maiores. Isso graças à convergência entre dois processos não totalmente independentes: o “triunfo do capitalismo” entre nós (sob sua forma global, diga-se) e a adesão progressiva – no começo envergonhada e por fim mais deslavada – do petismo lulista à nova ordem e a suas ideologias. Se a estes processos somarmos o efeito dissolvente que o carisma de Lula produziu nas instituições, as oposições têm de se situar politicamente em um quadro complexo. Complexidade crescente a partir dos primeiros passos do governo Dilma que, com estilo até agora contrastante com o do antecessor, pode envolver parte das classes médias.
Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex- presidente da Repúplica. O Papel da oposição. Revista Interesse Nacional  n 13 junho de 2011

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO


FOLHA DE S. PAULO


O ESTADO DE S. PAULO


VALOR ECONÔMICO


ESTADO DE MINAS


CORREIO BRAZILIENSE


ZERO HORA (RS)


JORNAL DO COMMERCIO

Dilma amplia faxina e varre mais seis nos Transportes

Depois de afastar sete pessoas do Ministério dos Transportes por denúncias de corrupção, incluindo o ex-ministro Alfredo Nascimento, a presidente Dilma Rousseff demitiu mais seis ontem, todas ligadas ao PR. O partido reagiu cobrando também a demissão de um petista, o diretor de Infraestrutura Rodoviária do Dnit, Hideraldo Caron. Um técnico dos Transportes explicou que as demissões de ontem - três servidores dos Transportes e outros três ligados ao Dnit - quebram a "espinha dorsal" de dois grupos que estavam à frente do órgão. Luiz Antonio Pagot, o diretor-geral afastado que será demitido do Dnit quando voltar de férias, se disse "constrangido e indignado" com a crise. A oposição tenta convocar o atual ministro, Paulo Sérgio Passos, para se explicar no Congresso ainda durante o recesso
Faxina nos Transportes continua
Dilma exonera mais seis funcionários ligados ao PR; novas demissões ainda virão
Roberto Maltchik
Apresidente Dilma Rousseff desarticulou a rede que conectava o Partido da República (PR) ao comando das decisões sobre a execução de obras no Ministério dos Transportes e no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Foram exonerados ontem seis entre os principais operadores do ex-ministro Alfredo Nascimento, presidente do PR, e do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), secretário-geral da legenda. Apenas um foi exonerado a pedido. Desde o início da crise no setor, deflagrada por denúncias de corrupção, cobrança de propina e inchaço no orçamento de obras públicas, 13 pessoas já caíram ou estão afastadas de suas funções. E o Dnit continua acéfalo, sem um diretor-geral substituto, funcionando com apenas quatro dos sete diretores.
A cúpula do PR já aguardava o novo desdobramento da "faxina" que Dilma resolveu fazer no setor, responsável pelas mais importantes obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O efeito nas relações do governo com o partido só será medido depois que forem efetivadas outras demissões já acertadas, especialmente a do diretor de Infraestrutura Rodoviária, o petista gaúcho Hideraldo Caron. A demissão do petista seria uma forma de evitar uma radicalização do PR.
O petista convive com a presidente desde a época em que era diretor do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) no Rio Grande do Sul, durante o governo Olívio Dutra (1999-2002). Suas contas, à frente do Daer, foram rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Cronograma do PAC é afetado
Ontem, Caron participou, com o ministro Paulo Sérgio Passos, de reunião técnica para preparar o próximo balanço do PAC.
A onda de demissões no Dnit e no Ministério dos Transportes começa a afetar o cronograma do governo em relação ao PAC. Com o alto escalão do Dnit desfalcado, o ministro Paulo Sérgio Passos passou a tarde ontem em reunião para tratar das obras do setor no próximo balanço do PAC - a data ainda não foi confirmada justamente por causa do impasse na área.
Ontem, líderes do PR não escondiam o descontentamento com as novas demissões. O PR não foi consultado previamente e muito menos chamado para fazer novas indicações. O tom do partido foi de cautela em relação às decisões do novo ministro, ainda que com recados discretos.
- Só queremos que haja um balança igual para todos. E que os servidores afastados tenham o direito de defesa. Não estamos fazendo nenhuma indicação. As decisões foram tomadas pelo ministro Paulo Sérgio Passos. Mas não tenho um julgamento do trabalho dele até o momento - afirmou o líder do PR, deputado Lincoln Portela (MG).
Na nova leva de demitidos, cujas exonerações foram publicadas no Diário Oficial da União de ontem, está o coordenador-geral de Operações Rodoviárias do Dnit, Luiz Cláudio dos Santos Varejão, ligado a Caron. O próprio Caron deverá ser afastado. Sua saída é exigida pelo PR.
A limpeza nos escalões inferiores do setor começou depois de consultas da presidente Dilma, segunda-feira, a Paulo Sérgio Passos e ao controlador-geral da União, Jorge Hage, e teve como objetivo romper a linha de comando construída pelo PR ao longo dos dois governos Lula.
Um técnico dos Transportes explicou que as demissões quebram a "espinha dorsal" de dois grupos que até agora estiveram à frente do Dnit. Na lista aparecem três servidores dos Transportes e outros três ligados ao Dnit.
O ex-secretário de Fomento para Ações de Transportes da pasta Darcy Humberto Michiles não só é filiado ao PR como é líder do partido no Amazonas, tendo sido tesoureiro de campanhas do ex-ministro Alfredo Nascimento (PR). Ele foi demitido a pedido. Por meio de Michiles, Nascimento controlava a atuação do ex-coordenador-geral de Administração Geral do Dnit Mauro Sérgio Fatureto - este era responsável pela contratação de terceirizados, compras administrativas e obras físicas na sede e nas superintendências do órgão.
Já Varejão, o coordenador-geral de Operações Rodoviárias, integrava outro grupo, ligado ao deputado Sandro Mabel (PR-GO) e a Valdemar. Era subordinado a Hideraldo Caron e controlava milionários contratos para a aquisição de balanças, radares e sinalização rodoviária.
Também foi demitido José Osmar Monte Rocha, assessor temporário do Ministério dos Transportes. Sua demissão ocorreu no mesmo dia em que o jornal "O Estado de S. Paulo" publicou reportagem na qual aponta que Rocha deu atestado para que o Dnit contratasse empresa supostamente de fachada por R$18,9 milhões.
No ministério, o subsecretário de Assuntos Administrativos da Secretaria-Executiva, Estevam Pedrosa, também demitido ontem, foi indicado por Nascimento. Também caiu Maria das Graças de Almeida, que trabalhava no Fundo Nacional de Infraestrutura de Transportes e era subordinada ao ex-secretário Darcy Humberto Michiles.
De acordo com a assessoria da pasta, as demissões fazem parte dos ajustes anunciados pelo ministro Paulo Sérgio Passos quando tomou posse na semana passada.
Colaboraram: Cristiane Jungblut e Gerson Camarotti
FONTE: O GLOBO

Obras do PAC na Rocinha desaceleram

Mais de três anos depois, a construção de dois planos inclinados, de um mercado popular e de uma creche, além da reurbanização do Largo dos Boiadeiros, parou no meio do caminho
Obras do PAC na Rocinha ladeira abaixo
Construção de planos inclinados, creches e mercado está parada
Rogério Daflon e Ruben Berta
Do asfalto, a passarela com as curvas de Oscar Niemeyer e o Centro Esportivo, na Autoestrada Lagoa-Barra, podem dar a impressão de que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Rocinha já é um projeto consolidado. Mais de três anos depois do início dos trabalhos, porém, as obras pararam. A construção de dois planos inclinados e de um mercado popular, a finalização de uma creche e a reurbanização do Largo dos Boiadeiros ficaram pelo meio do caminho. A Secretaria estadual de Obras informou que aguarda uma verba de R$51 milhões do governo federal para a conclusão. Fora do PAC, outro projeto importante para a comunidade também está emperrado: o Parque Ecológico, que inclui a instalação de ecolimites para coibir o crescimento irregular.
Até agora, verbas de R$219,3 milhões
De acordo com a Secretaria estadual de Obras, dificuldades encontradas na abertura da Rua 4 - viela de 60cm de largura transformada num novo caminho, de até 12 metros de largura - foram o imprevisto que causou o pedido de mais verbas. Ali, segundo o órgão, ficou constatado que eram necessárias obras adicionais, principalmente de contenção, para evitar que as casas remanescentes pudessem levar risco aos moradores da parte baixa, em caso de chuvas fortes. Até agora, já foram gastos no PAC da Rocinha R$219,3 milhões, sendo R$120,3 milhões da União e o restante dos cofres do estado.
Os planos inclinados, projetos semelhantes ao implantado no Morro Dona Marta, são uma das grandes decepções para os moradores da Rocinha. Um ligaria o acesso principal à Rua 1. O outro, a Rua 2 à Rua do Valão. Do primeiro, até agora há apenas o esqueleto. O segundo projeto foi abortado: a Secretaria de Obras informou que está desenvolvendo a construção de um teleférico.
- O clima aqui é de decepção. E, no caso das famílias que estão na área do plano inclinado que ligaria a Rua do Valão à Rua 2, o sentimento é de apreensão. Mais de 200 moradores foram notificados porque teriam de sair dali. Eles estão preocupados diante da incerteza - reclamou José Martins de Oliveira, morador da comunidade.
No mês passado, o estado publicou, em Diário Oficial, a suspensão temporária da contagem do tempo de contrato com a empresa Midas Engenharia para a execução do Parque Ecológico, por indisponibilidade de verbas. Ainda faltam cerca de 30% de obras a serem feitas. O plano inclinado da Rua 2, que foi abortado, incluía o parque em seu roteiro.
Outra questão que preocupa na Rocinha e ainda parece longe de solução é o saneamento, que limitou-se à Rua 4 nas intervenções do PAC. Arquiteto que projetou o Centro Esportivo, Luiz Carlos Toledo ressalta que a comunidade ainda está carente de obras:
- Se eu pudesse escolher uma obra na Rocinha, ficaria com o saneamento básico. Falta completar a rede de esgoto e água na comunidade. O mau cheiro proporcionado pelo esgoto, é forte, por exemplo, no Centro Esportivo. As águas pluviais também precisam ser equacionadas. Há talvegues (cursos d"água) na Rocinha que precisam de canaletas, para dar segurança às casas próximas quando chove forte. A questão do lixo também precisa ser equacionada.
Além do Centro Esportivo e da passarela, já ficaram prontos uma UPA; a reurbanização da Rua 4 e da área conhecida como Valão; 144 unidades habitacionais; e um Centro de Convivência - que ainda espera por equipamentos para ser inaugurado.
De acordo com o IBGE, a Região Administrativa da Rocinha foi a segunda em aumento percentual de população no Rio entre os Censos de 2000 e 2010 (23,11%). Os números oficiais informam que a favela passou de 56.338 para 69.356 habitantes.
FONTE: O GLOBO

'República de Mogi' se mexe

Amigos de Valdemar da Costa Neto oriundos de seu reduto eleitoral, Mogi das Cruzes, tentam preservar o poder do padrinho.
Valdemar montou "República de Mogi" nos Transportes
Secretário-geral do PR instalou no ministério amigos de longa data da cidade paulista que é seu principal reduto eleitoral
Leandro Colon / BRASÍLIA e Fernando Gallo / SÃO PAULO
O deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) montou uma "República de Mogi das Cruzes" na área de Transportes do governo federal. A cidade paulista, de pouco mais de 350 mil habitantes, é o reduto eleitoral de Valdemar. Secretário-geral do PR, ele pôs no ministério amigos de longa data de Mogi. É conhecida no ministério como a "turma do Valdemar". Nela, existe até o "casal Valdemar". É o apelido dado por funcionários ao casal Eduardo Lopes e Ana Fátima Feliciano Lopes, lotados na pasta desde 2008.
Diante da crise instalada na pasta, Eduardo Lopes pediu ontem para sair. Segundo o Ministério dos Transportes, a demissão deve ser publicada hoje no Diário Oficial. A estratégia é tentar preservar a mulher para manter a influência de Valdemar no governo. Assim, Ana Fátima continuaria como uma "olheira" do deputado nos Transportes. Isso porque Valdemar já perdeu na semana passada Frederico Augusto Dias, o Fred, seu representante da "República de Mogi" no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Fred havia sido infiltrado no órgão por meio de uma empresa terceirizada. Tinha até gabinete.
O outro mogiano da lista de confiança de Valdemar é Nilo Moriconi Garcia, ouvidor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), agência reguladora do setor de transportes rodoviários no Brasil. Filiado ao PR, Garcia, que é amigo de infância de Valdemar e próximo de Eduardo Lopes, também é membro do conselho de Administração da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias, empresa vinculada ao Ministério dos Transportes.
Currículo. Eduardo Lopes foi candidato a prefeito em Mogi em 1992, mas não conseguiu se eleger. Seu pai, Jacob Lopes, foi um dos únicos dois deputados estaduais de São Paulo a terem o mandato cassado na Assembleia Legislativa. Em 1986, o Legislativo paulista cassou Jacob por envolvimento em um escândalo conhecido como "Mogigate", no qual foi acusado por um empresário de uma empresa de ônibus da cidade de pedir propina para intermediar negócios com a Secretaria de Estado dos Negócios Metropolitanos. Já Ana Fátima foi instalada por Valdemar na Secretaria de Política Nacional de Transportes em 2008, área estratégica do ministério.
O "terceirizado" Frederico Dias foi duas vezes candidato a vereador em Mogi e uma a vice-prefeito, esta última em 2004. Perdeu nas três. Na cidade, também presidiu o União Futebol Clube, mais conhecido clube de futebol local, mas sofreu um impeachment por não conseguir explicar uma parceria econômica feita por sua gestão.
Nilo Moriconi Garcia é de uma família tradicional de Mogi e tem um irmão que é delegado na cidade. Ele presidiu audiências públicas do governo federal feitas em diversas cidades por ocasião do planejamento do trem-bala. No ano passado foi autorizado pelo diretor-geral da ANTT, Bernardo Figueiredo, a viajar para Pequim, na China, a fim de participar do 7.º Congresso Mundial de Alta Velocidade Ferroviária.
Além deles, Valdemar colocou ainda nos Transportes a advogada Luciana Alves de Araújo, funcionária de uma empresa terceirizada. Era padrinho político também de José Osmar Monte Rocha, demitido ontem do ministério após o Estado revelar seu envolvimento na contratação de uma empresa de fachada pelo Dnit no valor de R$ 18,9 milhões.
República amazonense. Se Valdemar montou a "República de Mogi", o ex-ministro Alfredo Nascimento escalou a sua "República do Amazonas" dentro do ministério. Alguns ainda continuam trabalhando lá. É o caso, por exemplo, da advogada Érica Vieira Motta, nomeada no começo de junho.
Amiga de longa data de Nascimento, ela cuida da liquidação do orçamento do Grupo Executivo, órgão criado pelo ministério para cuidar do passivo do antigo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER). Ela substituiu Livia Queiroz Amorim, também apadrinhada de Nascimento.
Dois demitidos ontem, em meio ao escândalo de corrupção no Ministério dos Transportes, foram levados do Amazonas para Brasília pelo ex-ministro. O assessor Estevam Pedrosa, que atuava na subsecretaria de assuntos administrativos, e Darcy Michiles, filiado ao PR no Estado, ex-secretário de Fomento para Ações do Ministério dos Transportes.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Lula teme que Dilma se isole da base governista

Ex-presidente diz a aliados que pode haver retaliação contra demissões
Integrantes da corrente majoritária do PT dizem que rito sumário coloca em risco as alianças que sustentam o governo
Catia Seabra e Natuza Nery
BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou a interlocutores sua preocupação com o estilo de Dilma Rousseff na condução da crise dos Transportes.

Nas conversas, Lula disse ter medo de que o rito sumário nas demissões e o temperamento de Dilma imponham riscos à governabilidade, levando-a ao isolamento.

O ex-presidente tem avaliado que, graças à aliança de 15 partidos, Dilma ainda possui capital político para tomar medidas drásticas, como a exoneração em massa de dirigentes nos Transportes.

Sua apreensão está na hipótese de desperdiçar esse ativo agora: ele teme que o troco aconteça num momento de fragilidade do governo.

Para descartar mal-estar com a ideia de que Dilma esteja tendo problemas com seu legado, Lula faz questão de repetir que o novo ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, comandava a pasta no fim de sua gestão.

Petistas afirmam que Lula apoia o rigor de Dilma, mas discorda dos métodos, sobretudo do tratamento dado ao PR. Após as denúncias, a sigla foi excluída do processo de sucessão na pasta que comanda há quase nove anos.

"Ela criou um rito [de demissão]. Em caso de suspeita, vai ter que valer para todos, até mesmo para o PT", afirma o líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG).

A inquietação de Lula se estende ao PT: "Aplaudimos o rigor dela", disse o líder do partido na Câmara, Paulo Teixeira (SP). "A administração desse processo tem que ser feita, na minha opinião, com diálogo com o PR, tendo em vista a necessidade da governabilidade e a relação com os partidos", disse.

Integrantes da corrente majoritária do partido (Construindo um Novo Brasil, de Lula) reclamam que a fórmula de Dilma contraria o princípio da ala de costurar um amplo arco de alianças. A crítica é feita veladamente por várias tendências.
A mensagem é de alerta: Dilma diz que privilegiará técnicos no governo, então afasta-se da classe política.
PERSONALIDADE

Na opinião de petistas, a personalidade de Dilma contribuiu para esse distanciamento. Dizem que ela se aborrecia tanto quando ventilavam pela mídia nomes cotados para o ministério que sacramentou o convite a Paulo Passos num rompante.

Colaboradores constantemente se queixam dos arroubos de Dilma a ponto de temê-la. No PT, diz-se que Dilma é pouco aberta a críticas. Também confia em poucos.

Segundo a Folha apurou, Dilma ouve poucos aliados antes de tomar decisões.
O grupo de ministros do Planalto -Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil)- adotou um procedimento atípico até aqui: ensaiar um discurso comum para tentar convencer.
Frases
Ela [Dilma] criou um rito [de demissão]. Em caso de suspeita, vai ter que valer para todos, até mesmo para o PT
LINCOLN PORTELA
líder do PR
"A administração desse processo tem que ser feita com diálogo com o PR"
PAULO TEIXEIRA
líder do PT
FONTE: FOLHA DE S. PAULO

PSDB tentará levar ministro ao Congresso

Para levar o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, ao Congresso durante o recesso, o PSDB articula uma manobra.
O líder do partido na Câmara, Duarte Nogueira (SP), protocolou o pedido de convocação ontem, e o vice-presidente da comissão representativa do Congresso, Eduardo Gomes (PSDB-TO), estuda emitir hoje um despacho convocando o colegiado caso o presidente do Senado e da comissão, José Sarney (PMDB-AP), não tome uma posição. O senador está no Maranhão e sua assessoria não informou qual será a sua posição sobre o caso.
– Confirmada a ausência do presidente Sarney, a comissão não pode ficar ausente. Questionarei à assessoria qual o procedimento, mas o fato é que não podemos deixar o requerimento sem resposta – disse Gomes.
A resolução que trata da comissão representativa diz que cabe ao presidente a convocação do colegiado, mas técnicos da Casa entendem que na ausência deste o vice-presidente pode chamar os colegas a Brasília. A comissão representativa é formada por oito senadores e 17 deputados titulares e tem igual número de suplentes. O governo tem ampla maioria entre seus membros.
FONTE: ZERO HORA (RS)

Tucanos criam “gabinete sombra”

O PSDB prepara, para o próximo semestre, a criação de um "gabinete sombra" para fiscalizar as ações do governo Dilma Rousseff em diversas áreas.

A ideia é municiar técnicos de todos os setores para que a oposição não fique refém dos fatos, principalmente das denúncias que envolvem os ministérios.
DEM e PPS serão convidados para participarem da ação.
FONTE: ZERO HORA (RS)

Suplicy irrita Lula por pedir prévias

Para irritação do ex-presidente Lula, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) decidiu pedir a realização de prévias no PT paulistano para a escolha do candidato do partido à prefeitura de São Paulo em 2012.
O pleito foi levado ao presidente do PT municipal, vereador Antonio Donato, na segunda-feira. Suplicy é pré-candidato, mas Lula prefere o ministro da Educação, Fernando Haddad.
FONTE: ZERO HORA (RS)

PE: Oposições sem temer o “fator Lula”

Franco Benites
No mesmo dia em que o prefeito João da Costa foi à Rádio JC/CBN defender sua gestão, integrantes da oposição se reuniram na sede do Democratas para lançar oficialmente a “Mesa da Unidade”. O projeto abrange DEM, PSDB, PMDB, PPS e PMN e visa destronar o PT da administração municipal, onde está há 11 anos.
Com um discurso afinado, os oposicionistas destacaram que o momento é ideal para retomar o poder devido à “fadiga de material” do governo petista. Nem mesmo a intromissão do ex-presidente Lula na eleição de 2012 assusta a oposição. “Com João Paulo e João da Costa, a população já viveu o conto do padrinho político e deu no que deu”, disse o deputado federal Mendonça Filho (DEM).
Para o deputado federal Raul Henry (PMDB), a contribuição do ex-presidente na disputa municipal será nula. “Eleição tem dois discursos, o da continuidade e o da mudança. E o recifense quer mudança, por isso o cenário é favorável à oposição”, falou.
A vereadora Priscila Krause (DEM) seguiu na mesma linha. “Lula pode ser messiânico nacionalmente, mas o debate local é outro. A população quer saber do lixo que está na porta de casa e dos buracos da cidade”.
Deputado estadual pelo PV, mas prestes a entrar no PSDB e tido como prefeiturável, Daniel Coelho insistiu no discurso. “Independente de Lula, o sentimento do recifense é de mudança. Não é ele que vai resolver os problemas da cidade”, disse.
Eleito como porta-voz do grupo, Raul Jungmann (PPS) reforçou a tese de que a cidade deseja uma nova administração. “O prefeito é igual ao Mano Menezes, ou seja, não acerta uma. A situação do Recife está dramática com engarrafamentos até no final de semana, barreiras caindo e gente morrendo”.
A Mesa da Unidade irá atuar a partir da fiscalização das ações da prefeitura e promoverá debates com a participação da sociedade a partir de agosto. A presidência do grupo será rotativa para que todos os partidos possam ser prestigiados. “Propomos uma unidade política mesmo que em 2012 haja pluaridade de candidaturas”, informou Jungmann. Ele negou semelhança do projeto com a extinta União por Pernambuco. “A União é página virada. O contexto agora é outro”, disse.
FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Difícil equilíbrio:: Merval Pereira



A presidente Dilma está tendo sucesso aparente na limpeza ética que decidiu empreender no Ministério dos Transportes, mesmo que tenha optado circunstancialmente pela manutenção do Partido da República no comando de seu feudo político. Com os seis funcionários demitidos ontem, já são 13 as demissões, a começar pelo próprio ministro Alfredo Nascimento, o que indica que, até o momento, a presidente tem conseguido emparedar o PR para enquadrá-lo dentro de seus critérios funcionais.
Se realmente atingir o objetivo de implantar no Ministério dos Transportes uma gestão eficiente e ética, sem retirar o PR do comando, terá acontecido um milagre que pode redimir o conceito de "presidencialismo de coalizão", tão desmoralizado no atual momento a ponto de se transformar em um empecilho à democracia brasileira.
Infelizmente, não acredito que seja possível essa redenção de um partido que tem em seu DNA a prática política sem parâmetros éticos, e acredito mesmo que, por maior que seja a faxina, ela não corresponderá a uma mudança de atitudes do PR, pois para isso o partido teria que se transformar em um agente de políticas públicas que beneficiem o cidadão, em vez de ser o que é hoje, um agente político que beneficia grupos encastelados no poder central, sem nenhum tipo de preocupação com políticas realmente públicas.
Até o nome do partido - Partido da República - foi escolhido a dedo, para, sob a proteção de uma denominação que indica a preocupação com a proteção de valores da cidadania, poder atuar cinicamente em benefício de seus apaniguados.
É possível que as demissões arrefeçam momentaneamente o apetite predatório dos dirigentes do PR, mas nada indica que eles se contentem da noite para o dia com um papel "republicano" de atuação.
E nem que outros escândalos não surgirão, dentro do Ministério dos Transportes ou em outros ministérios administrados pela mesma cobiça dos que formam a coalizão governista, sem outra liga que não seja o interesse nas benesses que possam usufruir estando no poder central.
Mas não resta dúvida de que a presidente Dilma, com a demonstração de que está empenhada em encarar a questão da corrupção em áreas de seu governo, vem ganhando a simpatia de setores que não são atrelados ao lulismo, o que poderá ampliar sua área de aprovação se conseguir, ao mesmo tempo, manter o apoio da ampla base partidária que lhe dá sustentação no Congresso.
E aí é que está o problema da presidente Dilma: essa equação não fecha. Como é possível combater a corrupção dentro de sua base de apoio sem perder esse mesmo apoio?
Como manter o PT como seu partido de sustentação se também o partido se considera maltratado pela presidente e teve indicações suas demitidas no mesmo bolo anticorrupção que está atingindo especialmente o PR?
Nunca é bom esquecer que a relação da presidente Dilma com o PT não é a de uma filiada histórica, mas a de uma novata que teve o destino alterado por um bafejo da sorte, e que não exerce nenhum tipo de liderança partidária.
Ao contrário, os líderes petistas consideram que este governo é deles mais que o de Lula, pois o partido é maior do que Dilma, e menor do que seu grande líder.
Como manter uma postura diametralmente oposta à de Lula se ele continua sendo o grande líder político do grupo que está no poder, e a própria presidente Dilma não se constrange em pedir-lhe conselhos, ou não se incomoda de vê-lo atuar como se fosse a verdadeira fonte originária do poder que ela exerceria por delegação?
Há quem considere que está sendo montado um grande quebra-cabeça eleitoral, onde Lula garantiria os votos dos beneficiários dos programas assistencialistas e dos movimentos sociais, enquanto Dilma posaria de uma presidente mais ligada em questões morais que falam de perto a uma classe média que já é a maioria no eleitorado brasileiro, com seus valores éticos sendo afrontados pela corrupção que se alastra pelo governo.
A mudança de tom, especialmente no início do governo, em relação aos direitos humanos nas relações com outros países, teve a intenção de marcar uma nova posição, mais próxima do sentimento médio brasileiro.
Mesmo que essa posição não tenha progredido muito depois da rejeição ao apedrejamento de mulheres pelo Irã, ficou uma marca que pode ser retomada a qualquer momento.
Da mesma forma que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recomendou ao PSDB e à oposição em geral que procurassem se aproximar da classe média e dos que se utilizam dos novos meios tecnológicos para interagir nas redes sociais, também os governistas teriam chegado à conclusão de que teriam que enviar sinais para esse mesmo grupo, que na última eleição engrossou a votação oposicionista.
O Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, agora dirigido pelo ex-senador Tasso Jereissati, está planejando seminários em diversos pontos do país para renovar o ideário do partido e aproximá-lo do eleitorado de tendência oposicionista, especialmente a classe média emergente.
Também o governo, através do ministério de assuntos estratégicos, está em busca desse mesmo público e já anuncia seminários para identificar quais as ações necessárias para garantir ao governo o apoio desse segmento da sociedade que parece, mais do que nunca, decisivo eleitoralmente.
Mais uma vez, seja um movimento combinado ou espontâneo, vai ser difícil à presidente manter-se equilibrada entre essas duas vertentes da política.
Vai chegar um momento em que ela terá que optar.
FONTE: O GLOBO

A paga da praga:: Dora Kramer

O PT está com medo de que o julgamento do mensalão, se ocorrer mesmo em 2012, prejudique o desempenho do partido nas eleições municipais e, por extensão, atinja os candidatos nas eleições de 2014 para presidente, governadores, senadores e deputados.
Não é um temor infundado, embora seja totalmente injustificado.
Certamente não poderá haver melhor cenário para a oposição. Ao longo de semanas e até durante um mês ou mais, o Supremo Tribunal vai revisitar episódios que por pouco não fizeram o então presidente Lula renunciar à reeleição e resultaram na denúncia do Ministério Público contra a "organização criminosa" montada pela cúpula do PT em conluio com o lobista Marcos Valério de Souza.
Não vai ser agradável a olhos e ouvidos petistas ver e ouvir de novo o desfile de acusações por corrupção (ativa e passiva), peculato, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, entre outros.
Para o PT sem dúvida por ser eleitoralmente mortal. Ou não.
Levando-se em conta a letargia que motivou o correspondente do El País no Brasil, Juan Arias, a escrever artigo perguntando sobre as razões pelas quais o brasileiro marcha em prol da liberdade dos costumes, mas não se abala em sair de casa para protestar contra a corrupção, tudo é possível.
Mas o mais provável é que ocorra o que o secretário de comunicação do PT, André Vargas, considera um risco extremo. Diz ele, achando "muito estranha essa coincidência" de datas : "O julgamento às vésperas da eleição dará a entender ao eleitor que o PT está sendo julgado".
Óbvio que estará. Poderia até não estar se tivesse havido rigor na punição àqueles que levaram o partido ao crime.
Aceitando José Dirceu na Executiva do partido, reincorporando Delúbio Soares e absolvendo os demais mensaleiros, o PT aceitou pagar para ver o preço. Não pode agora se fazer de desavisado. É enfrentar o rojão e assumir a paga da praga que o partido se auto-rogou.
De fato e ficção. Alguém está faltando com a verdade no PMDB quando se trata da relação do partido com o governo. Em público, José Sarney, Michel Temer e Henrique Eduardo Alves, respectivamente presidente do Senado, vice-presidente da República e líder do PMDB na Câmara, elogiam a capacidade da presidente de fazer amigos, influenciar pessoas e gerenciar crises na base aliada.
No particular, o sentimento é muito diferente. Todos se queixam do tratamento de segunda dados aos ministros. Nelson Jobim e Moreira Franco, por causa do "esvaziamento" de suas pastas.
Pedro Novais por ser ignorado pela presidente, que assiste calada à disseminação de versões sobre sua iminente saída; Edison Lobão pelo monitoramento estreito no setor de Minas e Energia, onde Dilma exerce controle direto. Garibaldi Alves por ter sido orientado a não discutir reforma da Previdência.
Quanto a Michel Temer, a insatisfação decorre do papel secundário que Dilma lhe reserva ao não fazer dele um parceiro de fato no compartilhamento das decisões de governo.
Diante desse quadro e pela observação dos episódios que representaram dificuldades para o governo nestes seis meses, a avaliação real não é a de que Dilma sabe administrar crises, ao contrário: seu método (ou falta de) favorece a acumulação de passivos. O resultado é a contratação desde já de crises que podem explodir no futuro.
Caudatária. Não resta dúvida de que a intervenção da presidente no ministério dos Transportes significa um avanço em relação à rotina de impunidade do governo anterior.
Algo, contudo, segue fora do lugar. Não pelo fato de a atual presidente ter sido nos últimos anos aquela que tudo sabia e tudo controlava no governo.
Muito mais pela sistemática da presidente de só agir quando informada pelos jornais a respeito do que se passa em seu governo.
Ou estão falhando os controles internos para detectar os malfeitos ou Dilma só se sensibiliza com eles quando são levados ao conhecimento do público.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Marcha da insensatez :: Fernando Rodrigues

Duas notícias mostram o Brasil na contramão das boas práticas gerenciais. Dilma Rousseff pretende mesmo criar a 39ª cadeira de ministro. No Congresso, em breve, chegarão mais 16 deputados federais e 6 senadores por causa da divisão do Estado do Pará.

Não há consenso entre gurus corporativos sobre o número ideal de diretores em uma grande empresa ou governo. Mas prevalece o senso comum: muitos cargos de chefia provocam o colapso gerencial de qualquer organismo.

Com a criação da pasta da Micro e Pequena Empresa, a 39ª, Dilma terá de fazer suas reuniões ministeriais durante vários dias seguidos se quiser dialogar com todos os seus principais assessores.

Na hipótese de cada um dos 39 ministros dar seu recado inicial à presidente em meros 5 minutos, a reunião ministerial gastará 3 horas e 15 minutos. Esse tempo será cumprido no caso de ninguém estourar sua fala e Dilma se contentar só em ouvir e não interromper o interlocutor nem fazer questionamentos.

No Congresso, a situação ainda é mais dramática. A Constituição estabelece um piso (8) e um teto (70) para o número de deputados federais de cada Estado. O crescimento do eleitorado e a criação de novas unidades da Federação produzirão, num futuro próximo, uma Câmara com 600 ou mais vagas.

Hoje já é quase inviável praticar política de alto nível com os atuais 513 deputados representando os 191 milhões de brasileiros. Só como comparação, nos EUA (307 milhões de habitantes) a Câmara dos Representantes tem apenas 435 deputados com direito a voto.

Em Brasília, esses argumentos são ignorados. Está em curso uma marcha da insensatez. Logo chegam o 39º ministro e mais congressistas. Embora nem tudo seja obra de Dilma Rousseff, esse será um legado de sua passagem pelo poder. A presidente tem meios para frear o inchaço da máquina pública, mas não demonstra apetite pelo tema.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO