sábado, 3 de dezembro de 2011

OPINIÃO DO DIA – Sandro Vaia : Controle da mídia

"O PT continua brincando de gato e rato no velho tema do controle social da mídia. A brincadeira muda de nome conforme a estação. O nome atual do folguedo é Marco Regulatório das Comunicações. Duas semanas atrás, o partido promoveu uma conferência nacional para debater o tema e convidou até mesmo especialistas em países-de-um-jornal -só para dar palpites. O especialista, inclusive, disse que entre um prato de comida e a liberdade é justo escolher um prato de comida. Não entrou, porém, em maiores detalhes sobre o que fazer no caso em que nenhuma das duas opções esteja disponível."

Sandro Vaia, jornalista. O jogo do gato e do rato. Blog do Noblat, 2 de dezembro de 2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Valério preso por fazendas fantasmas do mensalão
Pacote mira crescimento de 4,5% ano que vem
Falta de teto em Cumbica
Dilma diz que não é adolescente nem romântica

FOLHA DE S. PAULO
Desde 2001, só 1 multa por poluição de óleo foi paga
Dilma diz que a partir de 2ª define situação de Lupi
Obra desaba em Cumbica a 18 dias da inauguração
Sob efeito da crise, produção industrial volta a cair no Brasil
Uberlândia (MG) vira modelo de acessibilidade no Brasil

O ESTADO DE S. PAULO
Dilma diz que será 'objetiva' sobre Lupi
Reunião poupa Cuba e Venezuela
Teto cai e adia inauguração em Cumbica

CORREIO BRAZILIENSE
Servidor inativo vai ganhar gratificação
Do mensalão à grilagem
Fim do amor, Lupi
Sistema de cotas formou 1.024 alunos

ESTADO DE MINAS
Insegurança nos fóruns
Aviação: Esforço em terra para evitar caos aéreo
Cortes no MEC: Tesoura até na PUC

ZERO HORA (RS)
Aeronáutica permitirá mais aviões por rota para prevenir caos
Lupi na mira: A Xerife da Ética que reprovou ministro

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
A lei seca no caminho da praia
Insistência em segurar Lupi expõe governo Dilma

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www.politicademocratica.com.br/editoriais.html

Dilma diz que não é adolescente nem romântica

Dilma diz que resolverá caso Lupi na 2ª feira

"Não sou adolescente nem romântica", disse ela ao responder se tirará ministro que pediu desculpas dizendo "Eu te amo"

DILMA com Cristina Kirchner: "A gente tem de respeitar as pessoas, mas eu faço análises muito objetivas"

Chico de Gois*, Cristiane Jungblut

CARACAS e BRASÍLIA. Alvo de uma ação popular protocolada ontem pelo deputado federal Francisco Francischini (PSDB-PR) na 5ª Vara Cível da 4ª Região da Justiça Federal, no Paraná, em que é acusada de "omissão no dever de exonerar" o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, a presidente Dilma Rousseff reiterou ontem, em Caracas, sua disposição de resolver essa questão só na próxima segunda-feira, após sua volta ao Brasil. Mas sinalizou que, desta vez, Lupi terá de apresentar mais do que uma declaração de amor para permanecer no cargo.

Antes de participar da cúpula da Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos, Dilma reagiu com bom humor ao ser indagada se levaria em conta a declaração de amor que recebeu de Lupi ao analisar a recomendação de demissão do ministro feita pela Comissão de Ética Pública da Presidência.

- Eu tenho 63 anos de idade. Uma filha com 34 anos, um neto com 1 ano e 2 meses. Eu não sou propriamente uma adolescente, eu diria também (que não sou) uma romântica. Acho que a vida ensina a gente. Acho que a gente tem de respeitar as pessoas, mas eu faço análises muito objetivas - afirmou Dilma, sorrindo, e acrescentando: - Qualquer situação referente ao Brasil vocês podem ter certeza que resolvo a partir de segunda-feira.

Diante da insistência dos jornalistas para que prosseguisse com a entrevista, Dilma mais uma vez reagiu com bom humor. Especialmente ao ouvir o pedido para mais encontros bilaterais com a mídia.

- Bilateral com vocês? Eu tenho, assim, um amor perdido por vocês. Daqueles de a gente piscar feito margaridinha. Eu queria acrescentar: essas declarações de amor que não vêm de vocês é que fazem falta para mim - afirmou.

Dilma deve decidir pela demissão de Lupi antes mesmo de receber os esclarecimentos da Comissão de Ética. No Planalto, a convicção é que o ministro não dará esclarecimentos convincentes e que as novas suspeitas que surgem contra ele servirão de pretexto para a decisão da presidente.

Inconformado com a demora da presidente em atender a recomendação da Comissão de Ética, o deputado Francischini ingressou ontem na Justiça com ações contra Dilma e Lupi. O tucano pediu o enquadramento da presidente na lei de improbidade administrativa.

- Para que foi criada a Comissão de Ética, então? Não era para lhe dar respaldo (à Presidência)? Não sei mais o que está segurando a presidente e, diante disso, só pode ter uma medida radical: a Justiça - justificou o deputado.

Na ação contra o ministro, Francischini pede a devolução dos recursos que Lupi teria obtido indevidamente ao acumular dois cargos públicos - na Câmara de Vereadores do Rio e na Câmara dos Deputados.

O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), defendeu a postura de Dilma no caso:

- Temos que respeitar a Comissão de Ética Pública. Mas a presidente está corretíssima ao pedir mais explicações. Ela não pode tomar uma decisão dessas só olhando uma folha de papel.

* Enviado especial

FONTE: O GLOBO

Lupi na mira: A Xerife da Ética que reprovou ministro

Relatora da recomendação de demissão, jurista baiana é descrita como sensível e dura.

A mulher que emparedou Lupi

Fábio Schaffner

Leitora de Mario Quintana, Marília Muricy Machado Pinto assina o relatório que recomenda a demissão do ministro do Trabalho

BRASÍLIA - Ela tomou a decisão que a presidente Dilma Rousseff posterga há um mês. Ao recomendar a demissão do ministro Carlos Lupi, a jurista baiana Marília Muricy Machado Pinto praticamente selou o destino do pedetista.

Integrante do Comissão de Ética Pública desde 2009, Marília foi a autora do relatório sobre as denúncias que pesam contra o titular do Trabalho. No texto, Marília disse que Lupi teve inquestionáveis e graves falhas à frente do ministério. Surpreendida com o teor da decisão do comitê, Dilma pediu acesso ao relatório, mas adiantou a assessores que até segunda-feira irá decidir sobre uma eventual exoneração.

Doutora em Filosofia do Direito, Marília é advogada formada pela Universidade Federal da Bahia, onde hoje é professora. Aos 66 anos e com mandato na comissão até julho, ela foi a responsável pela mais audaciosa decisão do comitê desde sua criação, em 1999. Jamais o colegiado havia sugerido a demissão de um ministro por suspeita de irregularidades. Este ano, o órgão se limitou a aplicar censura ética aos ex-ministros Erenice Guerra e Antonio Palocci.

Ex-conselheira da OAB nacional e da seccional baiana da entidade, Marília obteve prestígio no meio jurídico por erguer bandeiras ligadas aos direitos humanos. A atuação destacada a catapultou para o primeiro escalão do governo Jaques Wagner, no qual comandou a Secretaria de Justiça de 2007 a 2009. No cargo, reformou a administração penitenciária estadual e concebeu uma legislação que criou penas alternativas.

– Marília sempre teve uma influência muito grande dentro da OAB por conta de sua visão social – lembra o ex-presidente da entidade Cezar Britto.

Casada com um advogado, Marília é apontada por amigos como uma mulher determinada e segura. Fã de Chico Buarque e Mario Quintana, a ponto de citar poemas do gaúcho em redes sociais, é carinhosa e sensível com os amigos. No texto que sugeriu a demissão de Lupi, contudo, foi incisiva ao apontar a afronta do ministro à hierarquia, quando ele afirmou que só sairia do governo "abatido à bala". "Atitude em que se misturam aparente indiferença quanto à gravidade das acusações e certa dose de arrogância frente às possíveis consequências de seus atos", pontuou Marília.

*Colaborou Fabiano Costa

FONTE: ZERO HORA (RS)

Relatora cobra respeito ao 'jogo democrático'

Breno Costa

BRASÍLIA - Autora do relatório de seis páginas que concluiu que o ministro Carlos Lupi deve ser exonerado, a professora da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia Marília Muricy, cobra da presidente Dilma respeito às "regras do jogo democrático".

A recomendação pela exoneração de Lupi foi decidida unanimemente pela Comissão de Ética da Presidência da República, anteontem.

Folha - A sra. produziu um relatório duro a respeito da conduta do ministro e, no entanto, a presidente, pelo menos ainda, não seguiu a decisão da comissão.

Marília Muricy - Eu não chamaria meu relatório de duro, eu o chamaria de preciso e rigorosamente fundamentado na legislação ética.

O relatório é baseado em matérias de jornal e revistas. Isso não afeta a precisão dele?

Absolutamente não. É preciso que a sociedade compreenda que os juízos éticos são diferentes das razões jurídicas. Não se trata de nenhum tribunal de exceção.

A sra. considera que o seu relatório foi precipitado?

Não. O que aconteceu é que o ministro Lupi apresentou, em sua defesa, alegações vazias de qualquer elemento comprobatório. Não requereu em nenhum momento produção de provas e não apresentou testemunhas.

O que diferencia esse caso de processos mais demorados, como os de Antonio Palocci e Erenice Guerra?

Nos casos anteriores, houve requerimento de apresentação de provas. Isso foi solicitado pelos investigados.

Como relatora, a sra. não achou que seria interessante pedir dados complementares aos órgãos de controle?

Não, porque nós não estamos aplicando ao ministro nenhuma sanção de exoneração. Nós só sugerimos.

E o que a sra. espera que a presidente faça?

Eu espero que ela aja como sempre agiu, observando as regras do jogo democrático.

FOLHA DE S. PAULO

Notícia da prisão estraga festa de petistas em Minas

Luciana Nunes Leal

BELO HORIZONTE - Por essa o PT não esperava. Depois de uma animada festa de boas-vindas aos integrantes do diretório nacional oferecida pela direção regional do partido, na noite de quinta-feira, a manhã de ontem começou com a incômoda notícia da prisão do empresário Marcos Valério justamente em Belo Horizonte, onde os dirigentes se reuniram.

Durante todo o dia o comentário dos poucos petistas que tocaram no assunto era de que o partido não tem nenhuma relação com Marcos Valério, apontado pelo Ministério Público Federal como operador do mensalão, e que a prisão não tinha nenhum efeito sobre o encontro do diretório. Um dirigente petista, no entanto, reconheceu o desconforto: "É um fantasma lambendo as nossas orelhas".

Embora tenha apresentado Marcos Valério aos petistas, o ex-deputado Virgílio Guimarães disse não ter tido contato recente com o empresário. "Eu apresentei o publicitário. Se depois alguém fez ou não fez do Marcos Valério um operador, já não é comigo. Até porque nessa época ele, por alguma razão, se afastou de mim. Não me arrependo de nada. Nossas famílias continuam amigas, não tenho razão nenhuma para romper com Marcos Valério", disse Virgílio.

Mensalão. Três réus do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF) estavam na reunião do diretório: o deputado José Mentor (SP), o ex-deputado e hoje assessor do Ministério da Defesa José Genoino e o ex-ministro José Dirceu. Genoino não quis comentar a prisão de Marcos Valério. Mentor e Dirceu não falaram com a imprensa.

A senadora Marta Suplicy disse sequer ter sido informada do episódio, quando saiu da reunião, no meio da tarde. O secretário de Comunicação do partido, deputado André Vargas (PR), comentou a coincidência da prisão de Marcos Valério justamente no dia da reunião do diretório nacional na capital mineira. "Coincidência nem feliz nem infeliz. Isso não nos diz respeito".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Nome de FHC faz partido vetar texto de diretriz para 2012

BELO HORIZONTE - O comando nacional do PT encerrou ontem seu encontro em Belo Horizonte sem aprovar uma única linha do texto idealizado como a diretriz partidária para os primeiros meses de 2012.

O motivo foi uma menção ao nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na introdução do texto, apresentado pelo presidente do PT, Rui Falcão.

O documento dizia que FHC "diagnosticou uma parte visível da crise mundial do sistema capitalista e, ao mesmo tempo, jogou ao mar a nau sem rumo em que se converteu o principal partido de oposição".

Para alguns petistas, é inconcebível começar um texto sobre o futuro da sigla com uma alusão a um líder da oposição. Sem consenso, o documento será reescrito.

Sobre a inclusão do nome de FHC, Falcão disse que o texto não estava pronto e reclamou dos petistas que teimavam em apresentá-lo mesmo assim.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

PT dividido sobre resoluções com crítica a FH

Sigla encerra reunião do Diretório Nacional sem lançar documento, que na versão original chamava PSDB de "nau sem rumo"

Tatiana Farah

BELO HORIZONTE. Sem consenso, o PT encerrou ontem sua reunião do Diretório Nacional sem lançar o tradicional documento com resoluções do partido. O texto, que fala da conjuntura nacional e da crise internacional, deverá ser reeditado e aprovado só no próximo encontro da Executiva, no dia 12, em São Paulo. O destaque dado ao PSDB, a quem chamou de "nau sem rumo" no documento preliminar, foi um dos motivos de polêmica. Um grupo queria que o documento tivesse início com críticas ao ex-presidente Fernando Henrique, mas outros queriam que começasse com a análise da conjuntura econômica.

O vazamento do texto preliminar irritou o presidente do PT, deputado Rui Falcão (SP), que ontem reclamou com os dirigentes. No documento preliminar, o PT abria sua análise de conjuntura, logo no primeiro parágrafo, citando Fernando Henrique, com sua declaração feita durante uma palestra na Argentina de que o futuro tucano é uma incógnita.

"Ao reconhecer com sinceridade proverbial que é mais fácil falar do futuro do euro do que do PSDB, o guru dos tucanos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, diagnosticou uma parte visível da crise mundial do sistema capitalista e, ao mesmo tempo, jogou ao mar a nau sem rumo em que se converteu o principal partido conservador de oposição", dizia o texto petista.

Fontes ouvidas pelo GLOBO informaram que o destaque dado à declaração foi contestado por alguns dirigentes, e que o texto final seria refeito também com outras mudanças, que tratam da análise sobre as medidas econômicas brasileiras, em contraposição ao que foi adotado na Europa. Os petistas querem deixar claro que apoiam as decisões tomadas pelo governo na área, como a diminuição da taxa de juros e as medidas de estímulo ao consumo e à produção.

Outro ponto que deverá constar no documento ainda a ser finalizado é a crítica à política e à economia internacionais, notadamente a europeia. O PT deve dizer que a origem da crise está na desregulação do sistema financeiro, e que isso foi agravado porque os governos europeus mantiveram a "política neoliberal".

Pontuada nos discursos, a crise com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), não deverá estar nas resoluções do partido. O documento deve voltar a falar em "novo marco regulatório" da mídia, mas, desta vez, na linha que os petistas têm adotado recentemente, de defender a medida para regular o ingresso das teles no setor.

Realizado na cidade onde o PT tem seu maior dilema para 2012, o encontro do Diretório Nacional tratou do mapa das eleições municipais. O partido já traçou um esboço da disputa em 118 cidades (entre capitais e municípios com mais de 150 mil eleitores) e quer adiantar a política de alianças, definindo os quadros até 15 de janeiro. A medida afeta diretamente Belo Horizonte, onde o vice-prefeito petista, Roberto Carvalho, está rompido com o prefeito Márcio Lacerda (PSB) e quer lançar candidatura própria.

Falcão reuniu-se ontem de manhã com Lacerda. Os dirigentes petistas querem reeditar a coligação de 2008, que teve o apoio informal do PSDB, mas agora ampliando com o PMDB. Lacerda admitiu que há possibilidade de diálogo com os peemedebistas, mas disse que não abrirá mão do apoio formal do PSDB. Segundo o prefeito, os tucanos foram convidados diretamente pelo presidente do partido, o governador Eduardo Campos (PE).

Vice-prefeito irredutível sobre candidatura própria

Diferentemente do que ocorreu no encontro do diretório no Rio, onde se fechou a aliança em torno do prefeito Eduardo Paes (PMDB), o PT deixou Belo Horizonte com mais problemas do que soluções. Embora sem o apoio das lideranças nacionais, o vice-prefeito Carvalho se mostra irredutível na decisão de uma candidatura própria. Por sua vez, os apoiadores da coligação, que têm se mantido em silêncio, foram criticados pelos dirigentes nacionais e estão sendo pressionados a apresentar a proposta de aliança com o PSB até o mês que vem.

FONTE: O GLOBO

PSDB pretende ampliar base sindical para eleições de 2014

Partido quer passar de 400 a 5 mil sindicalistas filiados para núcleo servir de "interlocutor" com os trabalhadores

Angela Lacerda

RECIFE - Com apenas 400 dos 330 mil sindicalistas brasileiros filiados ao partido, o PSDB tem um plano ambicioso: chegar a 5 mil filiados até março. A meta é lançar sindicalistas como candidatos a deputado federal e estadual em todos os 27 Estados do País em 2014.

"Queremos trabalhadores disputando as eleições, e não somente fazendo campanha para os caciques", afirma o vice-presidente da Força Sindical, Melquíades Araújo. "Acordamos em tempo: ou organizamos os trabalhadores ou daqui a pouco vai ficar só o PT", completa o presidente em exercício do Núcleo Sindical do PSDB, Antonio de Sousa Ramalho, o Ramalho da Construção.

Suplente de deputado federal por São Paulo, Ramalho defende que, sem a participação do trabalhador na base, o PSDB não ganha a eleição presidencial. "A elite intelectual do partido tem dificuldade de se comunicar, de chegar ao povo. O núcleo sindical será interlocutor para levar as propostas do partido."

O núcleo sindical nacional tucano realizou ontem, no Recife, seu primeiro encontro, com a participação de representantes de 19 Estados - nem todos ainda filiados ao partido. São Paulo e Minas são os com maior estrutura. Dali sairão, já em 2012, sindicalistas tucanos candidatos a prefeito: dois em São Paulo e quatro em Minas.

Não há interesse em conquistar centrais sindicais, segundo o partido. O que importa é conquistar filiados, trabalhadores que divulguem as ideias e projetos do PSDB. Para isso, o Instituto Teotônio Vilela (ITV) vai montar cursos preparatórios com pré-candidatos a vereador em todas as regiões do País. Pesquisas tucanas revelam, segundo Ramalho, que só 40% dos trabalhadores creditam a estabilidade econômica ao PSDB. "E outros 40% a vinculam a Lula."

Melquíades tem uma visão mais rigorosa da situação. Para ele, o PSDB foi formado de cima para baixo e não se empenhou em chegar à massa. Agora, a meta é ter maior participação sindical. "Quem não entender isso tem que sair da sigla."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PSB se desvincula do PT e já sonha com o Planalto

Em 12º Congresso, sigla debate estratégia de 2012, quando disputará em 1.500 cidades; Eduardo Campos é aclamado como "presidente"

João Domingos

BRASÍLIA - Aos gritos de "Brasil, pra frente, Eduardo presidente", por parte de militantes partidários, o PSB abriu ontem o seu 12.º Congresso do partido, em Brasília, mostrando que já inicia uma ofensiva para se desvincular do PT nas eleições presidenciais de 2014 e até ter uma candidatura própria. Ou, se repetir a aliança, ter cacife suficiente para tomar o posto de vice, hoje com o PMDB.

Para tanto, o objetivo do PSB é crescer nas eleições municipais do ano que vem. Eduardo Campos disse que o partido participará do pleito em 4 mil municípios, com cabeça de chapa em cerca de 1,5 mil. Nas contas do partido, será possível eleger perto de 500 prefeitos. Hoje, o PSB tem 302. O partido faz as contas. Quando Luiz Inácio Lula da Silva venceu a eleição em 2002, o PT fez 292 prefeitos.

"Nosso partido foi o que mais cresceu em 2008, em 2010 e será também o que mais crescerá em 2012", proclamou Campos, para delírio da plateia que tomou o Auditório Petrônio Portella, no Senado. De acordo com informações de bastidores do PSB, para crescer o partido decidiu abrir o leque de alianças no ano que vem. Fará parcerias com os aliados tradicionais, como PT, PC do B e PDT, além do recém-criado PSD e do PSDB.

Embora já tenha sido procurado por integrantes da direção do partido que o consultaram sobre a possibilidade de se candidatar a presidente em 2014, Campos preferiu dizer que, por enquanto, prefere esperar o resultado das eleições do ano que vem.

Ele se sente em dívida com o ex-presidente Lula, que o nomeou ministro da Ciência e Tecnologia logo depois que a Justiça o inocentou do processo de fraude em precatórios, durante o governo do avô, Miguel Arraes, no final dos anos 90. Lula o ajudou a se eleger governador de Pernambuco em 2006.

Nos bastidores, o governador tem dito que se sente numa encruzilhada. De um lado, deve fidelidade a Lula e, por extensão, a Dilma Rousseff. Por outro, vê-se fortalecido por um partido que está crescendo e por incentivos para que se prepare para uma candidatura no futuro, talvez não em 2014, mas em 2018, vindas do próprio Lula.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

'Revolta' no Senado leva governo a temer traição do PMDB em votações

Por meio de José Sarney, partido cobra mais atenção do Planalto

Andréia Sadi, Márcio Falcão e Catia Seabra

BRASÍLIA - Com aval de líderes do partido, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), enviou nos últimos dias um "recado" à presidente Dilma: seu partido, o PMDB, está insatisfeito e quer mais interlocução com o Planalto.

Atritos com os peemedebistas, maior aliado do governo no Congresso, são motivo especial de preocupação para o Executivo agora devido à votação da DRU (Desvinculação das Receitas da União), que libera o gasto de 20% das receitas federais.

O aviso se deu em uma operação comandada por Sarney, que tumultuou a sessão do Senado na última quarta. Quebrando acordo, ele colocou em votação o projeto que regulamenta a chamada emenda 29, que pode aumentar substantivamente os gastos em saúde pública.

A ação pegou de surpresa e irritou Dilma.

No Planalto, também foi interpretada como um sinal de que o PMDB estaria disposto a criar dificuldades para votação da DRU, que tem de ser aprovada até o final do ano para poder se aplicada.

Congressistas afirmam que "a rebelião sarneyzista" tem como pano de fundo reforçar o espaço do partido às vésperas da reforma ministerial.

Em 2011, a sigla esteve envolvida em escândalos e teve que trocar dois ministros por suspeitas de corrupção, além de perder outro por desentendimento com Dilma.

Por sugestão do vice-presidente, Michel Temer, Dilma fez durante o ano uma rodada de almoços no Palácio do Alvorada para se aproximar dos aliados no Senado.

Mas o gesto foi pontual. No dia a dia, a presidente delegou a tarefa política a Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral).

Segundo relatos, Sarney reclama de Dilma e a compara ao ex-presidente Lula, que o recebia "de 15 em 15 dias".

Os peemedebistas tentaram minimizar o desconforto. "Não há nenhuma insatisfação", disse Sarney.

Sarney disparou telefonemas para tentar explicar o episódio de quarta. Disse que foi um mal-entendido e que teria lido o projeto na expectativa de que o líder do PT, Humberto Costa (PE), dissesse que não havia acordo para votar a proposta.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Sob efeito da crise, produção industrial volta a cair no Brasil

A produção da indústria brasileira caiu 0,6% em outubro sobre o mês anterior, segundo o IBGE. Foi a terceira queda seguida e a maior para o mês desde 2009.

O resultado mostra que a economia sente reflexos da crise europeia. O contágio se dá pela retração da exportação e pela piora da confiança do consumidor.

Queda da indústria reforça pessimismo na economia

Produção perde fôlego com crise externa e cai pelo terceiro mês seguido

Piora do cenário fez governo antecipar medidas de estímulo, mas analistas preveem que efeito será modesto

Pedro Soares, Valdo Cruz

RIO – BRASÍLIA - A produção da indústria voltou a diminuir em outubro, reforçando os sinais de que a crise internacional fez a economia brasileira perder dinamismo neste fim de ano.

A indústria começou a perder fôlego em agosto, como reflexo da crise na Europa e nos EUA, que prejudica as exportações brasileiras, e das medidas tomadas pelo governo no início do ano para conter a inflação.

Embora o Banco Central agora esteja baixando os juros e o governo tenha tomado medidas para estimular a economia, a falta de ânimo de empresários e consumidores para investir e gastar continua afetando a indústria.

Segundo o IBGE, a produção industrial caiu 0,6% em outubro. Foi a maior retração registrada no mês de outubro desde 2009, quando o país sofreu uma recessão por causa da crise global.

A produção da indústria atingiu um pico em março deste ano, está em queda desde agosto e hoje se encontra num nível 4,7% abaixo daquele patamar. Dos 27 setores pesquisados pelo IBGE, 20 registraram queda.

"A deterioração da confiança de empresários e consumidores rebateu no consumo e nos investimentos", disse o economista André Macedo, do IBGE.

Economistas de bancos e consultorias reviram suas projeções e agora prevêem que a indústria terá expansão de 0,5% ou menos neste ano.

Isso deve contribuir para que a economia brasileira tenha um desempenho fraco nos últimos meses do ano, diz o economista Aurélio Bicalho, do Itaú-Unibanco.

O pessimismo diante da deterioração do cenário externo levou a presidente Dilma Rousseff antecipar nesta semana um pacote com medidas de estímulo ao consumo que estavam em estudo no governo.

Ela decidiu anunciar as medidas após ser informada por sua equipe, na última segunda-feira, de que o país pode crescer 3,2% no seu primeiro ano de mandato, bem abaixo do previsto no início do governo.

Até então, a última previsão repassada ao Palácio do Planalto apontava um crescimento de 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2011, num momento em que o mercado já trabalhava com algo mais próximo de 3%.

A mudança nas previsões do governo é pequena, mas fez Dilma concluir que era preciso agir rapidamente para garantir que o final do ano não seja tão ruim e dar impulso à economia no primeiro trimestre do próximo ano.

Ao avaliar os novos dados, o maior receio dos assessores presidenciais é que eles apontavam o risco de o crescimento ficar abaixo de 3% neste ano e entrar 2012 num ritmo muito fraco.

Daí a decisão de adotar medidas com impacto imediato no mercado consumidor, com redução de impostos de produtos da linha branca, num movimento combinado com empresários do varejo.

A partir do final do primeiro semestre, o governo aposta que a economia ganhará um ritmo mais acelerado por conta dos cortes de juros promovidos pelo Banco Central desde agosto.

A maioria dos economistas acha que o efeito das medidas anunciadas nesta semana será limitado. Sérgio Vale, da consultoria MB Associados, diz que elas são "paliativas", mas devem evitar "uma recessão mais profunda" em 2012.

A equipe da presidente tem falado num crescimento de 5% em 2012 com as medidas adotadas anteontem, o aumento real do salário mínimo em janeiro e a redução das taxas de juros, mas os analistas acham essa taxa impossível de ser atingida diante do cenário de desaceleração da economia mundial.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Pacote mira crescimento de 4,5% ano que vem

As medidas do pacote do governo de incentivo à economia, incluindo corte de impostos para estimular o consumo, o crédito e os investimentos, foram desenhadas para garantir crescimento de 4,5% em 2012. Fabricantes de eletrodomésticos esperam vender até 25% mais no início do ano.

Pacote mira PIB de 4,5%

Mas Dilma não admite que o país cresça menos que 5% no ano que vem

Martha Beck

As medidas de incentivo à economia - que incluíram a desoneração de consumo, crédito e investimentos anunciadas anteontem pelo governo - foram desenhadas para garantir que o crescimento de 2012 fique em, pelo menos, 4,5%. Segundo técnicos do governo, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem já estaria assegurado em 4% graças à queda das taxas de juros, do reajuste de 14% no salário mínimo, do aumento dos limites do Supersimples e do programa Brasil Maior de apoio à indústria. Juntos, representam injeção de mais de R$40 bilhões na economia em 2012.

Mas a presidente Dilma Rousseff não quer ouvir falar em um patamar inferior a 5% para 2012. Para ela, essa é a fórmula que vai blindar o Brasil contra a crise global. Por isso, os técnicos continuam trabalhando em novos estímulos. A equipe econômica quer que o investimento público volte a crescer e para isso vai manter a meta de superávit primário neutra (ou seja, sem economia adicional para pagamento de juros), em 3% do PIB. Em 2011, além de fazer um corte de R$50 bilhões no Orçamento, a equipe aumentou a meta fiscal em R$10 bilhões para conter gastos e não pressionar a inflação.

Pelas projeções da Fundação Getulio Vargas (FGV), o investimento público e privado vai se recuperar. A reação, no entanto, está distante do crescimento de 21,8% registrado em 2010. De acordo com a FGV, os investimentos devem crescer 6,7% no próximo ano, ante 4,9% em 2011. Com isso, o volume de recursos desembolsados por empresas e governo em novos projetos deve passar de R$733,1 bilhões este ano, para R$807,8 bilhões em 2012. Já a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) e a indústria de calçados esperam alta de 10%.

Se depender de consumidores como a funcionária pública Wilma Moutinho, o consumo maior deve sustentar o investimento e os planos do governo. Wilma correu para uma loja de eletrodomésticos no dia seguinte ao anúncio do corte de impostos. Em busca de uma geladeira, procurava saber se o "desconto" dado pelo governo já estava embutido no preço à vista. Se conseguir economizar na compra, Wilma vai mudar o estofado de seu sofá.

- Quando vi a notícia na televisão me animei. O que você economiza de um lado acaba podendo gastar em outra prestação - disse ela, que pretende gastar até R$1 mil.

Mas economistas afirmam que cumprir a missão dada por Dilma não será fácil. Segundo o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal, incentivos como a redução do IPI para geladeiras, fogões, máquinas de lavar e tanquinhos não terá o mesmo efeito que em 2009. Há dois anos havia forte demanda da nova classe média por bens duráveis e, por isso, as vendas desses artigos subiram 22%:

- Quem comprou geladeira em 2009 não vai sair comprando outra agora só porque o IPI baixou.

O economista manteve sua projeção para o crescimento de 2012 em 3,5%, mas disse que, diante das medidas, pode rever para cima o número. Leal também espera pouco impacto na inflação. Ele estima que o IPCA feche 2012 em 5,2%. O economista do BES Investimento Flávio Serrano também não mudou sua projeção para o crescimento em função do pacote. Ela permanece entre 4% e 4,5%.

- Já havíamos calculado nossa projeção imaginando que o governo iria tomar alguma medida - disse Serrano, que manteve projeção para o IPCA entre 5,4% e 5,5% em 2012.

Fabricantes preveem venda 25% maior

Por causa do pacote, fabricantes de eletrodomésticos estão reforçando o ritmo da produção já este ano e definindo estratégias para atender ao aumento de vendas. A indústria espera alta de 10% a 25% nas vendas frente ao início do ano. A Whirlpool, dona de Consul e Brastemp e líder em vendas, é uma que vai reforçar a produção.

- Tínhamos programado investimentos fortes para 2012, e vamos pisar no acelerador - disse o vice-presidente de Relações Institucionais da Whirlpool, Armando Valle Júnior.

A Electrolux, segunda no ranking, prevê aumento de 25% da demanda por eletrodomésticos nos quatro meses de IPI reduzido. O grupo Mabe (GE, Continental e Dako) também espera vender mais. A preocupação é como acomodar a produção quando os incentivos acabarem após março.

Já Carrefour e o Grupo Pão de Açúcar, que tem as marcas Casas Bahia e Ponto Frio, garantem que o IPI menor está sendo repassado ao consumidor.

Colaboraram: Ronaldo D"Ercole, Paulo Justus e Mariana Durão

FONTE: O GLOBO

Alimentos fazem inflação da Fipe subir a 0,6% em novembro

Despesas pessoais, transportes e saúde também aumentam

A inflação calculada pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do município de São Paulo acelerou para 0,6% em novembro, contra uma alta de 0,39% em outubro, informou ontem a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). O número veio exatamente conforme as previsões de analistas consultados pela agência de notícias Reuters.

Das sete categorias de despesas que compõem o índice, apenas o item Habitação registrou desaceleração na comparação a outubro. Os preços no setor recuaram de 0,66% para 0,41% em novembro.

A maior contribuição positiva para a leitura do índice veio do grupo Alimentação, que avançou 0,74% no mês passado, contra 0,53% em outubro. Logo atrás, o item Despesas Pessoais saltou 1,31%, frente a 0,8% no mês anterior. E a categoria Transportes saiu de uma deflação de 0,12% em outubro, para uma inflação de 0,24% no mês passado.

O grupo Saúde avançou de 0,3% para 0,46% na mesma comparação. Já no item Vestuário, a variação de preços saiu de uma deflação de 0,72% registrada em outubro para uma alta de 1,36% em novembro.

Por fim, o grupo Educação manteve uma relativa estabilidade, com a menor contribuição para a inflação do IPC. Em outubro, os preços dessa categoria tiveram uma deflação de 0,02%. Em novembro, a variação foi de 0,04%.

FONTE: O GLOBO

Inflação excluirá 50 produtos e serviços

Atualização do principal índice de preços do país vai retirar do cálculo itens como chope, bacalhau e chuchu

Cesta passará a ter 365 itens, que incluirão novidades como salmão, carne de carneiro e celular com internet

Mariana Carneiro

SÃO PAULO - Os preços de 50 produtos e serviços deixarão de compor a inflação oficial ou serão diluídos em famílias mais numerosas a partir de 2012.

O IBGE está atualizando seu principal índice de preços, o IPCA, usado pelo governo como referência para definir a meta de inflação.

Os preços da fava e da máquina de costura não são mais relevantes nas despesas das famílias brasileiras e, por isso, deixarão o índice. Sairão também produtos como bacalhau, chuchu e chope.

O índice tem hoje 384 itens que resumem o consumo médio do brasileiro. A cesta é feita de acordo com a importância de cada produto no orçamento das famílias. Os que representam mais gastos, têm peso maior no índice.

A partir de janeiro, o IPCA passará a ter 365 itens. No lugar dos que sairão, entrarão novidades como o salmão e o celular com internet.

Outros perderam força isoladamente e serão reagrupados, como o balé, incorporado às atividades físicas.

Em 2006, o IBGE estabeleceu um mínimo de importância para um produto entrar no IPCA. Naquele ano, mais de 100 itens foram cortados.

"Nos esforçávamos para coletar preços de itens que não tinham importância na vida das pessoas", lembra a coordenadora de índices de preço do IBGE, Eulina Nunes, 32 anos dedicados ao cálculo da inflação.

A mudança dos pesos dos componentes do IPCA provocou redução de até 0,50 ponto percentual na inflação esperada para ano que vem, segundo cálculos de analistas do mercado financeiro. Isso porque ganharam peso itens que, neste momento, estão com preços em queda, como eletrônicos. E perderam os que estavam em alta, como empregada doméstica.

"É uma coincidência positiva que ajuda o Banco Central", avalia o economista Thiago Curado, da consultoria Tendências.

Mas a revisão ainda não acabou. Até janeiro, o IBGE vai mexer no peso de componentes do IPCA. Itens que subiram muito de preço nos últimos três anos poderão engordar novamente no índice, como passagens aéreas e educação, que nos últimos 12 meses subiram 59% e 8%, respectivamente.

Está fechada, contudo, a lista dos itens que compõem o índice. Novas revisões, portanto, poderão até mudar os rumos das expectativas de inflação, mas não o destino do chope e do chuchu.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Monica Salmaso e Pau Brasil

Dilma fenômeno :: Hélio Schwartsman

A presidente Dilma Rousseff é um fenômeno. Já perdeu cinco ministros por suspeitas de irregularidades -e está com o sexto e o sétimo postados na linha de tiro- e ainda assim consegue passar a ideia de que promove uma faxina na administração, como se não fosse dela a caneta que os nomeou.

Pode-se dizer, em favor da presidente, que não foi ela quem inventou o loteamento de cargos e o fisiologismo, que desde sempre deram o tom da política brasileira. O fato de não ser a criadora dessas instituições, porém, não a isenta de responsabilidade pela sua manutenção. Se há alguém que tem condições de pelo menos tentar reduzir essas práticas, é a presidente da República.

Não há, porém, sinais de que pretenda fazê-lo. O Ministério do Esporte, que celebrizou a expressão "porteira fechada", não saiu das mãos do PC do B. Carlos Lupi é mantido no cargo apesar das surpresas quase diárias com que nos brinda.

O próprio alcance da reforma ministerial parece diminuir a cada dia. Algum tempo atrás, ainda se falava em reduzir pastas e racionalizar a estrutura. Agora, há quem diga que algumas secretarias poderão ser promovidas a ministérios.

O fato é que a máquina do governo, com seus 23,5 mil postos de livre nomeação, facilita apadrinhamentos, corrupção e tráfico de influência.

A lista de cargos a preencher em alguns ministérios é tão grande que representa um desafio até à biologia. O antropólogo Robin Dunbar estimou em 150 o número máximo de pessoas com as quais um ser humano consegue estabelecer relações estáveis, isto é, mantendo uma contabilidade social que permita distinguir os colaboradores confiáveis dos espertalhões e trapaceiros.

É claro que mexer nesse vespeiro seria complicado, mas é uma pena que Dilma tenha se resignado com a "realpolitik" sem nem mesmo uma tentativa de aprimorar as instituições republicanas do país.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Pragmatismo :: Fernando Rodrigues

Depois de algum tempo observando a olho nu a política na capital da República, acho que será pequeno o dano de imagem para a presidente Dilma Rousseff por causa do imbróglio envolvendo o curioso e encrencado ministro do Trabalho, Carlos Lupi.

A economia vai embananar em 2012, mas agora o efeito no bolso dos consumidores é pouco sentido. O fim de ano amolece as percepções. É raro haver gente interessada em "mais um ministro acusado de corrupção". Nas TVs, disse-me um "talking

head" ilustre, a audiência dos noticiários despenca quando entra um assunto "de Brasília". Na balança do imaginário popular, Dilma ainda é a presidente durona que está tentando se livrar do entulho podre da política (sic).
É óbvio que essa imagem propalada não tem relação integral com a realidade. Foi apenas a que grudou na petista. Para sorte dela.

O fato de Dilma ter desdenhado da Comissão de Ética Pública ao não demitir Carlos Lupi só é grave para quem tem interesse em acompanhar os fatos diários da política.

Nesse contexto, a decisão de empurrar a demissão com a barriga o quanto for possível é apenas pragmatismo em estado puro. Dilma calcula a relação custo-benefício.

Se demitisse Lupi logo após a recomendação da Comissão de Ética, ganharia mais um ponto no quesito "eu não tolero malfeitos". Um ganho pequeno. Ela está superavitária nessa área. Já o custo seria alto. Ficaria para sempre refém de uma instância de escalão inferior (a comissão). Teria de passar algumas semanas consolando o PDT, partido do atual ministro do Trabalho. E perderia margem de manobra na minirreforma ministerial de 2012.

Lupi, é claro, é um zumbi na Esplanada. Pode acabar saindo até semana que vem. Não importa mais o desfecho. De relevante, fica a adoção "con gusto" do pragmatismo político por Dilma Rousseff.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

No vermelho:: Míriam Leitão

Quem olha para as contas do governo chega a pelo menos três conclusões: os gastos continuam crescendo, a uma taxa acima do PIB; os investimentos, que já são baixos, caíram; a arrecadação disparou em todos os impostos. O novo governo registrou até outubro déficit nominal de 2,36% do PIB contando o que paga de juros para rolar a própria dívida, com R$79 bi no vermelho.

Ao contrário do que tem sido repetido frequentemente pelas autoridades, o governo não reduziu os gastos; o ajuste como sempre é feito pelo aumento de arrecadação. As despesas, de janeiro a outubro, cresceram 3% em termos reais - descontada a inflação - em relação ao turbinado ano de 2010. Sem descontar a inflação, a alta é de 9,9%. As contas são do economista Felipe Salto, da Tendências Consultoria, que desconsiderou dos gastos de 2010 a contabilidade criativa feita pelo governo durante a capitalização da Petrobras.

- A palavra corte é errada, o que o governo fez foi desacelerar o crescimento das despesas - explicou.

Nas palavras certas, o governo deixou de gastar parte do aumento da arrecadação, que disparou 13,1% de janeiro a outubro, saiu de R$715 bilhões para R$809 bi. Para encarar os números é preciso fôlego de leão, porque todos os impostos passaram a arrecadar muito mais: CSLL (24,1%); Outros Tributos (20,5%); Imposto de Importação (17,6%); Imposto de Renda (15,7%); Cide (15,1%); IPI (14%); IOF (13,1%); PIS/Pasep (9,1%); Cofins (7,9%); Receitas Previdenciárias (9,4%).

Engana-se quem pensa que o dinheiro extra no caixa do governo virou investimentos. Eles caíram 3,7% nos 10 primeiros meses do ano, de ínfimos R$36,1 bilhões para R$34,7 bi. E a maior parte desse dinheiro foi destinado a investimentos atrasados, chamados de restos a pagar. Por outro lado, os gastos com pessoal e encargos sociais subiram 9,3%, de R$132 bilhões para R$145 bi.

O economista Rogério Werneck, da PUC-Rio, em artigo publicado neste jornal, calculou que chegaremos ao final do ano com aumento da carga tributária de 1,5 ponto percentual. Em 2010, ela fechou em 35,13% do PIB, de acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário. Isso quer dizer que quatro meses de salário dos trabalhadores foram parar nos cofres dos governos.

O economista-chefe para América Latina do banco francês BNP Paribas, Marcelo Carvalho, afirmou que o governo vai cumprir com folga o resultado primário este ano, mas apenas porque a arrecadação subiu e houve corte nos investimentos. O caminho que vem elevando a carga tributária há 15 anos no Brasil. Carvalho alerta que o nível atual de gastos é insustentável no médio prazo, principalmente por causa da Previdência Social.

- O quadro fiscal não é difícil no curto prazo, mas há inúmeros desafios de médio e longo prazos, a qualidade do gasto, a carga tributária alta e crescente. Diria que é um quadro insustentável no médio e longo prazos, a questão da Previdência é gravíssima no longo prazo e isso inspira muitos cuidados - disse.

Embora as receitas do INSS tenham subido 16,5% de janeiro a setembro, ainda assim as contas fecharam no vermelho em R$34,9 bilhões. Já o déficit da previdência pública, sem contar estados e municípios, chegou a R$41,5 bilhões. Enquanto a previdência pública gastou R$57 bilhões para uma arrecadação de R$15,5 bi; o INSS pagou R$205 bilhões com receitas de R$170,1 bilhões. A sociedade financiou um rombo de R$76,4 bilhões em nove meses.

A Tendências Consultoria acha que será difícil cumprir o superávit primário no ano que vem. Os gastos vão subir com a correção do salário mínimo, que terá impacto sobre os gastos da Previdência, Assistência Social e seguro-desemprego, e os incentivos fiscais de R$27 bilhões dados à indústria. O crescimento da receita deve desacelerar.

O déficit nominal, que inclui o que o governo gastou com juros, está em 2,36% do PIB, ou R$79 bilhões. O ideal seria o governo buscar o equilíbrio das contas, ou seja, o déficit nominal zero, para que os juros possam ser reduzidos mais fortemente sem risco para a inflação.

O grande erro que não se deve cometer é achar que as contas públicas brasileiras vão bem na comparação com outros países. Relativamente, parecemos bem, mas o governo fecha todo ano no vermelho.

FONTE: O GLOBO

Disciplina e fé:: Merval Pereira

Há pelo menos uma coisa em comum na vitória dos partidos islâmicos no Egito, na Tunísia e no Marrocos, os países que fizeram eleições no rastro da Primavera Árabe: prevaleceu a disciplina dessas organizações políticas, em detrimento do voluntarismo dos partidos oposicionistas e dos movimentos da sociedade civil.

Há também algumas nuances fundamentais que separam, por exemplo, o Marrocos dos outros países, embora esteja, como a Tunísia, na região do Magreb, considerada berço de um islamismo mais moderado.

O embaixador do Brasil Frederico Duque Estrada Meyer ressalta que a vitória do partido islâmico no Marrocos não foi novidade, pois já havia sido vitorioso em 2007.

Para ele, o resultado não tem nada a ver com o que ocorre nos outros países. A chamada "primavera árabe" teria em comum, na visão do diplomata, apenas a falta de legitimidade dos sucessores dos ditadores e a internet.

O movimento de 20 de fevereiro no Marrocos, lembra Duque Estrada, pedia mais empregos e partia de jovens de classe média e alta, que foram os grandes derrotados desta eleição: pregaram o boicote eleitoral e quase metade da população votou - mais do que em 2007, quando 37% foram às urnas.

Na Tunísia e no Egito, o comparecimento ficou perto de 80%.

O embaixador relembra que mesmo os jovens não pediam mais liberdade ou direitos para as mulheres - que já têm todos, exceto de herança -, ou a destituição do rei.

Apesar dos anos de chumbo, diz ele, desde a independência o país adotou o pluripartidarismo, enquanto Portugal e Espanha viviam sob Salazar e Franco.

A Comissão da Verdade já foi implementada lá e encerrou seus trabalhos, que foram transmitidos pela TV, com depoimentos de torturados inclusive.

Tanto na Tunísia quanto no Egito, destacaram-se as organizações partidárias islâmicas como as mais preparadas para angariar votos junto aos eleitores.

Nos dois países, os partidos que venceram as eleições, Liberdade e Justiça, no Egito, e Nahdha, na Tunísia, utilizaram-se de modernos métodos tecnológicos para orientar os eleitores, como iPad indicando o local das votações ou explicando o mecanismo de votação, e obtiveram bons resultados.

Embora tenha recebido apenas 23% dos votos, o Nahdha lidera a coalizão majoritária na Constituinte, e tem sido objeto de muitas críticas por parte dos partidos oposicionistas e da sociedade civil de maneira geral.

Oficialmente, anuncia-se como favorável a um governo laico, como o partido islamita que dá suporte ao governo turco de Recep Erdogan, mas é acusado de apoiar propostas radicais nos trabalhos constitucionais.

Agora mesmo várias universidades entraram em greve contra a interferência de religiosos que querem separar mulheres e homens.

Embora o Nahdha diga oficialmente que nada tem a ver com essa proposta, os estudantes acusam o partido de estar por trás desses movimentos.

A professora de Literatura e Civilização francesas Hela Ouardi, da Universidade de Tunis, fez uma palestra ontem, na reunião da Academia da Latinidade, que marcou bem o papel dos intelectuais no momento de transição que o país vive.

Depois de fazer uma análise do islamismo, do ponto de vista histórico e religioso, ela se disse convencida de que o Islã não é incompatível com a democracia. O que não é compatível, afirmou, é o clericalismo, que quer se impor aos muçulmanos embora no Islã ninguém seja habilitado a representar o mediador entre homem e Deus, e ninguém seja autorizado a dizer qual é o Islã verdadeiro.

Forçando uma visão metafórica para desconstruir o que vê como uma tentativa de impor o controle religioso sobre o Estado, Hela Ouardi disse que os muçulmanos na Tunísia sabem disso, e, se eles votaram naqueles que eles acreditam fazer parte do "partido de Deus", não é porque desejam ser governados por um clérigo em uma embalagem civil, mas porque pensam que finalmente a autoridade de Deus só pode se encarnar na autoridade do povo.

A professora tunisiana diz que a insurreição popular na Tunísia foi uma reação à privatização do Estado por uma família, uma oligarquia.

Portanto, afirmar que a soberania pertence a Deus significa que pertence a todo mundo, e não a um grupo de indivíduos.

Nesse contexto, Hela Ouardi diz que o fato de os tunisianos terem votado maciçamente nos membros do "partido de Deus" não foi pelo seu valor intrínseco, nem pelo valor de seus representantes - a quem ela nega até mesmo a legitimidade revolucionária -, mas porque estavam convencidos de que os que chegaram ao poder em nome de Deus trabalharão pelo bem comum, o que lhes dá a sensação de que não serão excluídos das ações do Estado.

O que os tunisianos procuram não é uma autoridade que lhes transcenda, diz a professora Ouardi. Ela acusou o partido islâmico Nahdha de ter tentado um golpe de Estado constitucional recentemente para confiscar a soberania popular em nome de um partido religioso.

Essas tentativas, advertiu, serão logo compreendidas como uma nova privatização do poder, "e estaremos diante de um desvio do processo histórico deslanchado na Tunísia depois de janeiro de 2011, quando o povo afirmou em alto e bom som que era a única fonte de poder".

"Toda tentativa de usurpar esse poder, mesmo em nome de Deus, será rejeitada pelo povo tunisiano", advertiu a professora.

Ela classificou a vitória do Nahdha como "o canto do cisne" do islamismo na Tunísia, embora admita haver "um risco bem real" de instauração de um regime totalitário, que o partido anuncia em seus documentos desde a fundação e não renegou.

FONTE: O GLOBO

Crescimento é solução para a dívida, diz FMI:: Rolf Kuntz

Para Lagarde, Brasil tem condições de enfrentar a crise, mas deve acompanhar a atuação dos bancos

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, voltou a advertir para o risco de uma década perdida na zona do euro, se não houver uma solução rápida e abrangente para a crise dos países endividados. Qualquer solução deve ir além dos programas de ajuste das contas públicas.

"Sem crescimento, será impossível cuidar do problema das dívidas", disse Lagarde numa entrevista em São Paulo, ontem, ao canal GloboNews.

Sua avaliação das condições brasileiras foi bem mais otimista. Embora nenhum país seja imune à crise, o Brasil tem boas condições para enfrentá-la, graças à combinação das políticas fiscal e monetária, à solidez do sistema financeiro e ao colchão de reservas, hoje em torno de US$ 350 bilhões e bem acima do valor disponível em 2008. Mas será conveniente, aconselhou, acompanhar a atuação dos bancos para ver "se não ficam sentados em cima da liquidez".

A "solução rápida" para a crise da zona do euro terá de vir na reunião de líderes em 9 de dezembro. Só depois da entrevista, numa rápida conversa com um professor convidado para assistir à gravação, ela manifestou preocupação com a conferência de cúpula, ocasião escolhida para apresentar as propostas coordenadas pela chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy.

Lagarde mostrou algum otimismo, no entanto, ao mencionar a decisão dos dois dirigentes de apoiar uma ação mais ampla do Banco Central Europeu (BCE). Mencionou também como novidade positiva a ação combinada de seis dos maiores BCs do mundo rico para dar sustentação ao sistema financeiro.

Qualquer solução para a crise europeia terá de incluir respostas à crise das dívidas soberanas, esforços de consolidação fiscal e reformas estruturais, mas nenhuma funcionará sem maior expansão econômica, disse a diretora do FMI. Ela justificou seu ponto de vista com o exemplo da Itália. O país tem dívida soberana equivalente a 120% do PIB e tem pago juros muito altos - até acima de 7%. Sem crescimento, será impossível fechar a conta.

É preciso, continuou, distinguir problemas de solvência, como o da Grécia, e de liquidez, como os da Itália. Se as dificuldades de liquidez não forem atacadas com urgência, poderão transformar-se em problemas de solvência, e isso seria desastroso.

Embora apontando a necessidade de soluções mais prontas, Lagarde reconheceu, no entanto, as dificuldades políticas de adotar respostas em cada um dos 17 países da zona do euro, todos democráticos, e de promover, depois, acordos entre todos.

Lagarde não comentou as condições impostas pelo governo brasileiro para ajudar no fortalecimento de caixa do FMI. Mas lembrou a disposição de cooperar manifestada na reunião do Grupo dos 20, em Cannes, por líderes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e de outros países, como a Austrália.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Matando o euro:: Paul Krugman

A austeridade e a obsessão do BCE com a inflação tornam impossível escapar da armadilha da dívida

Pode o euro ser salvo? Não faz muito tempo, disseram que o pior resultado possível seria um calote da Grécia. Agora, um desastre muito maior que isso parece altamente provável.

Embora os líderes da Europa insistam em que o problema são os gastos excessivos nos países devedores, o problema real está nos gastos insuficientes na Europa como um todo. E os esforços dos líderes, exigindo austeridade cada vez maior, vêm tendo um papel importante em agravar a situação.

Nos anos que antecederam a crise de 2008, a Europa, assim como a América, teve bancos descontrolados e acúmulo acelerado de dívida. Na Europa, porém, boa parte dos empréstimos foi feita entre países, com recursos da Alemanha fluindo para o sul. Eles eram vistos como de baixo risco: afinal, os destinatários operavam com o euro.

A maior parte desses empréstimos foi para o setor privado, não para governos. Só a Grécia acumulou grandes deficits nos anos bons.

Então a bolha estourou. Os gastos privados nos países devedores caíram fortemente. E a pergunta que os líderes deveriam ter feito era como impedir que aqueles cortes nos gastos provocassem desaceleração econômica em toda a Europa.

Ao invés disso, porém, eles reagiram ao aumento inevitável dos deficits, movido pela recessão, exigindo que todos os governos -não só os dos países devedores- reduzissem gastos e elevassem impostos. Os avisos de que isso aprofundaria a recessão foram rejeitados.

Espere -há mais. Durante os anos de dinheiro fácil, os salários e preços no sul da Europa subiram substancialmente mais que os do norte. Essa divergência precisa ser revertida, ou com queda nos preços no Sul ou com elevação no Norte.

E isso faz diferença: se o sul for forçado a abrir caminho para a competitividade à custa de deflação, pagará alto preço em termos de emprego e agravará seus problemas de dívida. A chance de êxito seria bem maior se o desnível fosse corrigido com elevação dos preços no Norte.

Mas, para isso, os responsáveis políticos teriam de aceitar inflação temporariamente mais alta na zona do euro como um todo. E eles já deixaram claro que não aceitarão.

Os mercados já perderam a confiança no euro como um todo. Não é difícil entender. A combinação de austeridade para todos e um banco central morbidamente obcecado com a inflação torna essencialmente impossível os países endividados escaparem de sua armadilha de dívida; logo, ela é uma receita de calotes sobre dívidas, corridas a bancos e colapso generalizado.

Na América, assim como na Europa, a economia está sendo puxada para baixo por devedores inadimplentes. Também aqui precisamos de políticas fiscais e monetárias expansivas, que sustentem a economia enquanto esses devedores lutam para recuperar sua saúde financeira. No entanto, aqui também o discurso público é dominado por obcecados por deficit e inflação.

Portanto, na próxima vez em que você ouvir alguém afirmar que, se os EUA não reduzirem os gastos, vamos nos converter numa Grécia, sua resposta deve ser que, se de fato reduzirmos gastos enquanto a economia está em depressão, vamos nos converter numa Europa. Na realidade, já estamos a meio caminho.

Tradução de Clara Allain

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Lá Vem o Patto!::Urbano Patto

Uma nova etapa está sendo vivida na antiga discussão sobre o problema da regionalização do planejamento e da administração pública no Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira. Saímos da perspectiva teórica e distante de uma possível criação de uma Região Metropliptana, Microrregião ou Aglomerado Urbano para discutir as formas objetivas e concretas da instalação da Região Metropolitana, cujo projeto de lei foi apresentado pelo Governo do Estado, tramita na Assembléia Legislativa e deverá ser aprovado ainda este ano.

Como de praxe, tem gente que analisa tais acontecimentos sob a ótica da imponderabilidade e da superficialidade, e geralmente essas pessoas são aquelas que “acreditam” ou “desacreditam” que a iniciativa poderia dar certo, como se fosse um caso de Coelhinho da Páscoa ou de Papai Noel. Também é dessa turma que costuma sair as queixas e derrotismos de que, em sendo coisas estatais, não passam de cabides de emprego, sem decorrências práticas na vida das pessoas. Da mesma forma, com sinal contrário, há aqueles que enxergam a implantação da Região Metropolitana como solução mágica para os males do desequilíbrio do desenvolvimento.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. A grande riqueza do momento, na medida que agora se trata de algo que se tornará realidade em curto prazo, é debater e influir nos mecanismos objetivos da criação nova Região Metropolitana.

No meu ponto de vista, a razão de ser inicial e a linha mestra da estruturação da Região Metropolitana e de sua linha de intervenção deve ser a diminuição do desequilíbrio interno do desenvolvimento entre os municípios da região e da região como um todo com outras regiões, de São Paulo, do Brasil e do mundo.

Hoje, pelos mecanismos de repartição dos tributos em geral, principalmente dos fundos de participação, as cidades que crescem e aumentam a arrecadação, tendem a crescer ainda mais sua participação. Os principais critérios de repartição levam quem tem maior arrecadação, maior valor adicionado e maior população ganham mais e os pequenos e pobres que pouco arrecadam ficam cada vez mais pobres.

A Região Metropolitana, deverá claramente direcionar seu investimentos, financeiros - e todos os outros – para se contrapore a esse mecanismo perverso, enquanto uma reforma tributária não venha a minorar esse circulo vicioso.

A utilização do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, IDH-M, como indicador da efetividade de resultado das ações pode ser um mecanismo. Poder-se-á estabelecer metas de redução da diferença entre os IDH-M dos municípios da região e do IDH médio da região comparando com a média do estado e de outras regiões. O Conselho de Desnvolvimento poderá definir democraticamente os indíces a serem perseguidos e avaliar periodicamente a eficácia de suas ações através deles, inclusive para a permanência ou demissão dos dirigentes e operadores da Região Metropolitana.

Urbano Patto, Arquiteto Urbanista e Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, membro do Conselho Fiscal do Partido Popular Socialista -PPS- do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com.

FHC desabafa em livro e na web

Prestes a ingressar nas redes sociais, o ex-presidente divulga depoimento inédito em que faz uma autocrítica dos anos no poder

Juliana Braga

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso volta aos holofotes, poucos meses após a celebração de seus 80 anos, em duas frentes. Ele anuncia a edição de um livro em que, em vez de teorias sociológicas ou discursos de seu período com a faixa presidencial, exibe reflexões bastante pessoais. Ele se prepara ainda para entrar no mundo das redes sociais, tarefa comandada por Xico Graziano, responsável pelo programa de governo da campanha de José Serra à Presidência em 2010.

O livro intitulado A Soma e o Resto: Um olhar sobre a vida aos 80 anos reúne artigos publicados pelo ex-presidente e a transcrição de mais de 10 horas de depoimentos concedidos a Miguel Darcy, assessor internacional de FHC no instituto que leva seu nome desde 2003. A ideia inicial era passar a limpo as reflexões esporádicas do ex-presidente com relação às mudanças sofridas pelo Brasil em sua história recente. "Mas, à medida que íamos trabalhando, foram surgindo memórias sobre suas influências, sua família, temas sobre os quais ele fala muito pouco", descreve Miguel. O próprio Fernando Henrique admite essa mudança de postura, na apresentação do livro. Diz que, a essa altura da vida, tem o direito "de ter a ousadia" de se "mostrar sem muita maquiagem", e que os depoimentos foram feitos em "tom de desabafo".

Nessas confissões, o ex-presidente critica a postura de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e até sua atuação à frente do Palácio do Planalto. Segundo ele, o partido dos Trabalhadores mudou ao longo dos anos, e acabou se esquecendo de que nasceu do povo. "O PT acredita que o partido toma conta do Estado e que o Estado muda a sociedade. No passado, o PT não acreditava nisso. Ele nasceu da sociedade, mas se esqueceu disso", aponta.

FHC lamenta que seu governo tenha sido classificado como "herança maldita" por Lula e agradece à presidente Dilma Rousseff a mudança no tratamento, quando completou 80 anos. "O poder presidencial é tão grande que, quando a Dilma me mandou uma carta de felicitações, e nos termos em que a escreveu, esse gesto abriu as comportas para que outros, inclusive vários ministros, se sentissem mais à vontade para dizer o que eles acham, libertando-se da ideia maligna da herança maldita", avalia.

Sobre seu governo, o ex-presidente se arrepende da forma como conduziu a reforma da previdência. "Acho que forcei demais (...) e isso me custou muito caro. Não precisava ousar tanto. Assustamos muita gente, quando o que queríamos era mudar o sistema previdenciário", analisa. O volume será lançado pela Editora Civilização Brasileira na próxima semana, em duas ocasiões: dia 7, no Rio de Janeiro, e dia 9, em São Paulo.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Pela democracia 2.0

Nem o PSDB foi poupado de críticas. FHC defende que o partido precisa se renovar e entrar no mundo virtual. "Essa revolução não chegou às estruturas partidárias. Chegará um dia? Não sei. O descompasso é grande entre a velocidade das mudanças na sociedade e a esclerose das estruturas políticas", diz. Ele afirma que vem propondo que o PSDB crie diretórios virtuais, portais de debate sobre temas de interesse das pessoas, mas sem sucesso. "Tenho falado sozinho."

Enquanto as mudanças não chegam ao partido, Fernando Henrique prepara a sua entrada nas redes sociais. Ainda sem data definida, a inserção está sendo planejada por Xico Graziano. "Ele tem sido um entusiasta dessa ideia de levar essa discussão para as redes sociais. Vem nessa linha de democracia 2.0, discutir temas nacionais com a juventude, ou com quem queira, mas nessa nova linguagem", aponta Graziano. Segundo ele, trata-se de uma estratégia para valorizar a política, fortalecendo a comunicação direta com a sociedade, sem a necessidade da intermediação de partidos.

Como ensaio, FHC já lançou um portal chamado Observador Político, com fóruns on-line sobre temas como drogas, educação e meio ambiente. O site já possui perfis no Twitter e Facebook.

Sempre em evidência

Em 2011, Fernando Henrique Cardoso apareceu na imprensa algumas vezes, dando pitaco sobre os mais variados assuntos. Criticou a discussão em torno da partilha do pré-sal, afirmou que Lula deformou seus programas sociais e chegou a opinar publicamente sobre a ocupação dos morros cariocas. O que mais chamou a atenção, entretanto, foi a aproximação com a presidente Dilma Rousseff e a defesa da regulamentação das drogas no país.

Em agosto, participou de um encontro em que Dilma se reuniu com os quatro governadores da Região Sudeste para a assinatura de parceria no Programa Brasil sem Miséria. A presidente agradeceu nominalmente a presença do ex-presidente tucano. Em setembro, Fernando Henrique elogiou, em texto publicado em seu blog, a atuação da presidente no combate à corrupção.

No mês seguinte, Dilma o recebeu no Palácio da Alvorada, com o grupo The Elders, que reúne líderes mundiais em prol dos direitos humanos.

No primeiro semestre, FHC se dedicou à divulgação do documentário Quebrando o tabu, no qual propõe uma reflexão sobre a regulamentação do uso de drogas. Ele foi âncora do filme, que entrevista autoridades e especialistas em diversos países para avaliar o que deu certo e o que deu errado.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Espetáculo da vida: João Cabral de Melo Neto

"...E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:

vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,

ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,

vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;

mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;

mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;

mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."