sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Ensaio geral :: Marina Silva

Termina amanhã o FST (Fórum Social Temático) em Porto Alegre, cidade aberta às melhores influências globais. Debatendo "Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental", antecipa a Cúpula dos Povos, que será o grande encontro da sociedade civil na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho.

Nos debates, é possível identificar uma forte preocupação, provocada especialmente pelo texto-base da Rio+20, divulgado pela ONU neste mês.

O texto sinaliza o caminho das discussões que envolverão os governos mundiais. Há um entendimento de que ele é insuficiente. Genérico, não faz uma crítica ao modelo de desenvolvimento atual e dos padrões de produção e consumo.

Tímido nos estímulos à participação social, não avança na questão da governança global, ou seja, não recupera a urgência do problema, tão anunciado pela comunidade científica. Não avalia o que ficou ou indica aonde devemos chegar.

Tudo parece apontar para aquele conhecido roteiro: decepção e paralisia dos governos, enquanto a crise socioambiental só se agrava -foi assim na COP 15, 16, 17...

É um erro pensar que, no contexto de crise financeira, não é possível investir seriamente em sustentabilidade. Também é falsa a ideia de a sustentabilidade só poder ser pensada se antes houver o combate à pobreza.

Essas ilusões, que denotam uma falta de visão estratégica, são comparáveis, como foi dito, à velha falácia de "deixar o bolo crescer para depois dividi-lo", usada para justificar a enorme desigualdade social brasileira.

O Brasil pode romper com esse falso dilema e ajudar o mundo a superá-lo. Como anfitriões da Rio+20, temos a oportunidade de atuar decisivamente e propor um compromisso efetivo dos governos com a sustentabilidade. Mas primeiro, precisamos que esse ideal seja prioridade aqui. O grande teste é o destino que terá o Código Florestal.

A Rio+20 oferece condições para que o protagonismo que o Brasil tanto tem buscado possa se dar neste momento-chave de crise econômica e ambiental globais. É hora de puxar os emergentes do G-20 para essa pauta. A paralisia econômica dos países desenvolvidos não pode impedir a busca das soluções sustentáveis que o planeta necessita.

O que pode incentivar uma conduta mais incisiva do Brasil e demais países é, como sempre, a participação popular, em grande parte capitaneada por movimentos sociais e articulada com organizações compromissadas com o desenvolvimento sustentável.

A Cúpula dos Povos deve representar essa voz autônoma, para além dos interesses imediatos das grandes corporações, dos partidos sequestrados pelo pragmatismo do poder pelo poder e dos governos míopes. Para além dos palácios, é a hora das ruas e praças.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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