quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O capitalismo não era para sempre?:: Clóvis Rossi

Filósofo Francis Fukuyama revisita o "Fim da História" e descobre que ela ainda aparenta ter um futuro

Lembra-se do "Fim da História", o livro no qual o filósofo Francis Fukuyama decretava a vitória para todo o sempre do binômio economia de mercado/democracia liberal?

Bom, exatos 20 anos depois, Fukuyama já não está tão seguro, a ponto de ter publicado no número janeiro/fevereiro da "Foreign Affairs" um artigo cujo título diz tudo a respeito da mudança de opinião: "O Futuro da História" (http://www.viet-studies.info/kinhte/FA_FutureOfHistory_Fukuyama.htm).

Cito apenas pedaço de uma frase do texto, no qual o filósofo diz que "a corrente forma de capitalismo globalizado está erodindo a base social da classe média na qual se assenta a democracia liberal".

É igualmente sintomático, aliás, que o citado número da "Foreign Affairs" contenha outros temores sobre o futuro do capitalismo/democracia. O editor da revista, Gideon Rose, por exemplo, diz que a ordem do pós-guerra reconciliara democracia e capitalismo, mas acrescenta que a tarefa agora "é devolver o sistema à forma".

Charles Kupchan, professor de Assuntos Internacionais da Georgetown University, fala de "doença democrática": "A globalização está ampliando o fosso entre o que os eleitores demandam e o que seus governos podem entregar. A menos que as democracias líderes possam restaurar sua solvência política e econômica, o próprio modelo que elas representam pode perder seu fascínio".

Não deixa de ser irônico: seria uma nova versão do "fim da história", com sinal ideológico trocado.

Vale acrescentar que a rubrica "crise do capitalismo" era o item mais lido ontem na seção de comentários do "Financial Times".

Para fechar o círculo, saiu ontem a sétima edição do relatório "Riscos Globais", elaborado pelo Fórum Econômico Mundial.

Há nele pelo menos dois elementos a reforçar as preocupações de Fukuyama. O primeiro é a constatação de que "a vulnerabilidade do mundo a choques econômicos adicionais e à sublevação social causa o risco de minar o progresso que a globalização trouxe".

Mais importante, ao menos do meu ponto de vista, é a constatação de que, "pela primeira vez em gerações, muitas pessoas não mais acreditam que seus filhos ao crescerem gozarão de um padrão de vida mais elevado do que o deles [pais]", como diz Lee Howell, responsável pelo relatório.

É uma outra forma de constatar, como Fukuyama, que "a corrente forma de capitalismo globalizado está erodindo a base social da classe média na qual se assenta a democracia liberal".

É importante notar que a "nova moléstia", como o relatório a chama, é "particularmente aguda nos países industrializados que historicamente têm sido fonte de grande confiança e ideias ousadas".

Faz sentido: nos países emergentes em geral a classe média se expande e há uma razoável expectativa dos pais de que os filhos tenham padrão de vida mais elevado.

Mas no único país que pinta, até agora, como modelo alternativo (a China), há abundantes sinais de que a nova classe média prefere o modelo ocidental. Seja como for, parece que a história ainda tem futuro, ao contrário do que se supunha faz 20 anos.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Um comentário:

Núcleo Praxis disse...

É uma pena que uma pessoa se arrisque a escrever sobre Fukuyama sem ter lido o livro... mas isso é comum na mídia. Eles acham que ninguém leu também.