quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

PT leva disputa paulista ao Planalto e Lula atua como cabo eleitoral de Haddad

Ex-presidente foi a Brasília, ainda em tratamento contra câncer, para prestigiar cerimônia de despedida do ministro da Educação, que será o candidato à Prefeitura de São Paulo

Tânia Monteiro, Rafael Moraes Moura e Vera Rosa

BRASÍLIA - Para não deixar dúvidas da disposição do PT de eleger Fernando Haddad e derrotar o PSDB na corrida pela Prefeitura de São Paulo, o Palácio do Planalto transformou uma cerimônia de troca de ministros normalmente burocrática numa avant-première da campanha eleitoral, antecipando o papel dos protagonistas da disputa: a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Convidado por Dilma para a solenidade de despedida de Haddad do Ministério da Educação, o ex-presidente saiu de uma sessão de radioterapia para combater um câncer na laringe e desembarcou ontem em Brasília. Foi recebido aos gritos de "olê, olê, olê, olá, Lula, Lula" e, mesmo sem discursar, mostrou que dará o tom da disputa.

A presença de Lula na cerimônia evidenciou a disposição do Planalto e do PT de usar o principal cabo eleitoral do partido na campanha pela sucessão do prefeito Gilberto Kassab (PSD), para a qual o comando petista quer dar contornos nacionais. Embora a substituição de Haddad seja a oitava mudança ocorrida no primeiro escalão do governo Dilma, foi a única que contou com a presença do ex-presidente.

Sentada ao lado de Lula, Dilma chamou Haddad de "grande ministro", defendeu o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) das críticas dos adversários e elogiou a capacidade de gestão do pré-candidato do PT, que nunca disputou uma eleição.

"Nenhum de nós é soberbo de achar que um projeto que se faz nasce perfeito. Precisa do teste da realidade, da tentativa e erro", disse a presidente, numa referência ao Enem. "Agora, (...) para um processo que abrange milhões de pessoas, é inevitável que, nos primeiros tempos, haja alguns desvios. E os desvios nós temos a humildade de reconhecer e de corrigir. Quem não é capaz de fazer isso, não faz uma boa gestão e quero reconhecer que o Fernando é capaz de fazer isso."

Emocionado, Haddad negou que a concorrida e longa cerimônia tenha servido como palanque para sua campanha. "O presidente Lula é muito querido e o momento ainda não é esse. É uma honra ele ter prestigiado a posse dos novos ministros", comentou ele, tentando descaracterizar a estratégia montada pelo Planalto.

Marta. O pré-candidato do PT minimizou a ausência da senadora Marta Suplicy (PT-SP) na cerimônia. Marta foi pressionada por Lula e Dilma a desistir da candidatura em favor de Haddad e não esconde ter ficado frustrada. "É uma ilusão imaginar que a Marta estará ausente da campanha. Quem a conhece sabe que, no devido momento, ela vai mergulhar de cabeça. É uma pessoa que sabe da importância do nosso projeto de reconquistar a Prefeitura, inclusive para resgatar bandeiras caras à sua administração", disse Haddad.

Ao contrário de Marta, o PMDB prestigiou o petista. Estavam lá o vice-presidente Michel Temer e o presidente do Senado, José Sarney. O PMDB lançou o deputado Gabriel Chalita como candidato à Prefeitura. Lula, porém, tenta convencer o partido a pôr Chalita de vice na chapa do PT.

O sucessor de Haddad na Educação, Aloizio Mercadante, também o elogiou. "Não vejo como seu nome não possa estar entre os grandes ministros da Educação da história do Brasil", insistiu. Apesar do tratamento vip, Dilma trocou, mais uma vez, o nome do petista e o chamou de Paulo Haddad.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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