sábado, 25 de fevereiro de 2012

Serra: A um passo da disputa

Serra deve enfrentar prévias e discute com Alckmin desfecho sobre eleição em SP

Silvia Amorim

Uma reunião entre o ex-governador José Serra e o governador Geraldo Alckmim, anteontem à noite, para discutir o desfecho para o impasse da candidatura do PSDB à prefeitura de São Paulo foi considerado por lideranças do partido como o primeiro passo do tucano rumo à oficialização da entrada dele na disputa. Embora Serra não tenha comunicado a sua decisão, grupos que articulam a entrada dele nas eleições municipais já cogitavam ontem a participação do ex-governador nas prévias do partido. Uma saída jurídica para isso está sendo estudada pela direção do PSDB há alguns dias, pois o prazo de inscrição no processo já terminou.

Serra e Alckmin ficaram de conversar mais uma vez no fim de semana. As prévias tucanas estão marcadas para o próximo dia 4. Quatro pré-candidatos estão inscritos, sendo três secretários do governo Alckmin - Andrea Matarazzo, Bruno Covas e José Aníbal - e o deputado federal Ricardo Trípoli.

Duas possibilidades estão sendo analisadas por aliados do ex-governador e de Alckmin para a entrada do tucano na disputa. A primeira é a manutenção da data da prévia e a deflagração de uma operação política de emergência para conquistar, ao longo da próxima semana, os votos que Serra precisaria para vencer os demais participantes. A segunda é o adiamento, em duas semanas, da disputa interna, permitindo, assim, um tempo maior para as costuras políticas.

"Serra é candidato. Não tem mais jeito"

Para alguns líderes do PSDB, a candidatura de Serra já é um fato consumado.

- O Serra é candidato. Não tem mais jeito - sentenciou ontem um tucano envolvido nas negociações.

Ontem, o partido divulgou as cédulas a serem usadas na votação. Caso Serra entre na disputa, o PSDB precisará rever a organização da eleição interna, como reprogramar as urnas e reimprimir novas cédulas.

Cenário que ganhava força no início do mês, a aclamação do ex-governador como candidato único por meio de um cancelamento das prévias já era considerada ontem o menos provável, devido ao desgaste político que representaria para o partido, para Alckmin e para o próprio Serra. Nesta semana, manifestações de militantes a favor das prévias confirmaram as suspeitas da cúpula do partido de que reverter o processo de mobilização iniciado ainda no ano passado seria um tiro no pé. A avaliação é de que, neste caso, haveria um risco de falta de engajamento da base do partido numa eventual campanha de Serra.

Mesmo a eventual entrada tardia de Serra na disputa interna não é uma questão pacífica no PSDB. O pré-candidato José Aníbal é um dos resistentes a uma remarcação das prévias:

- Não sou iôiô. Sou candidato a prefeito e vou participar das prévias marcadas para o dia 4. Se o Serra quiser participar, ele que converse com o partido e participe das prévias. Mas elas têm que acontecer agora. Todo o partido foi mobilizado para que as prévias aconteçam no dia 4. Eu fiz 100 reuniões com militantes e não posso agora dizer para esses militantes que esqueçam tudo o que conversamos.

José Aníbal afirmou que está participando das prévias por orientação de Alckmin e que ele não o procurou para dizer que as regras do jogo tinham mudado:

- O partido não tem dono. Se Serra quiser ser o candidato, tem que participar das prévias. Já desisti para ele ser o candidato a prefeito em 2004, mas, desta vez, não vou fazer isso. Eu me sinto preparado para ser candidato a prefeito.

Trípoli também reagiu, alegando desconhecer qualquer negociação para o adiamento das prévias:

- O governador Alckmin disse que o Serra teria que conversar com os pré-candidatos se quisesse ser candidato. Comigo ele não veio conversar até hoje. Então, tudo está mantido.

Um dia após a conversa com Serra, Alckmin repetiu ontem à imprensa o discurso de que as prévias estão mantidas para o dia 4 e que não há, por enquanto, "fato novo" que justifique uma análise do partido:

- As prévias estão mantidas, e se tiver algum fato novo, discute-se.

Os articuladores da entrada de Serra também não descartam uma disputa, na prévia, entre o ex-governador e somente dois dos pré-candidatos (Trípoli e Aníbal). Eles acreditam ser possível convencer Andrea Matarazzo, que é amigo de Serra, e Bruno Covas a apoiarem o ex-governador.

A hipótese de deixar para discutir a entrada de Serra após a realização das prévias tem sido vista com reservas no PSDB. Para viabilizar esse plano, seria estratégico eleger um pré-candidato considerado menos resistente a um acordo para ceder depois a vaga ao ex-governador. Mas o próprio Serra já teria avisado que, se for candidato, disputará as prévias.

A pressão para que Serra aceite disputar a eleição começou ainda em janeiro, a pedido de Alckmin. Mas foi a aproximação do PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, com o PT do pré-candidato Fernando Haddad que fez Serra repensar a decisão de não se lançar na disputa municipal. O PSD é um partido estratégico para as ambições nacionais do ex-governador.

Nas últimas semanas, o tucano tem procurado assessores para avaliar as suas chances na eleição. Serra não enfrentará uma situação confortável no pleito. Ele tem a maior rejeição entre os adversários e ainda terá que vencer a força do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal cabo eleitoral de Haddad.

O PSDB desconhece o real tamanho do colégio eleitoral tucano na capital. Na teoria, cerca de 20 mil filiados estão aptos a votar nas prévias, mas a previsão é de que entre 5 mil e 7 mil pessoas compareçam às urnas.

FONTE: O GLOBO

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