terça-feira, 13 de março de 2012

2012, o ano que ainda não começou:: Raymundo Costa

A recusa do nome do engenheiro Bernardo Figueiredo para a direção geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) encerra outras lições para o governo Dilma que apenas uma rebelião do PMDB. Em primeiro lugar, há digitais dos outros partidos da maioria nominal governista no Senado nos 36 votos contrários à indicação. Depois, as razões alegadas por cada sigla são as mesmas desde a votação do Código Florestal na Câmara, no primeiro semestre do ano passado, quando o Palácio do Planalto sofreu sua primeira derrota legislativa, no mandato da atual presidente. O governo parece não ter virado a página do calendário e continuar no ano da graça de 2011.

Dilma começou a demitir ministros em junho, com a saída de Antonio Palocci da Casa Civil. A rotina é a mesma em 2012, quando dois ministros já perderam a cabeça e um novo titular para o Ministério dos Transportes pode ser anunciado nesta semana. Trocas rotineiras de ministro, indica a prática, causam paralisação administrativa. Como nas trocas de 2011, as mudanças deste ano também provocaram ressentimentos. Para citar só um exemplo, o vice Michel Temer, presidente licenciado do PMDB, só foi informado da nomeação do senador Marcelo Crivella para o Ministério da Pesca junto com os demais mortais - outros dirigentes partidários foram avisados antes dele.

O PT assimilou a nomeação de Crivella, importante para seus interesses eleitorais, sobretudo em São Paulo, mas não gostou do modo como Luis Sérgio foi parar no olho da rua (ele antes já havia sido defenestrado do Ministério das Relações Institucionais, onde atualmente se encontra a ex-ministra da Pesca Ideli Salvatti). No total, Dilma já trocou 12 ministros e não conseguiu acalmar o ânimo da base aliada. Uma boa medida da insatisfação é que até o presidente do Senado, José Sarney, tem reclamado do governo, nas reuniões do PMDB de que participa, o que é raro - Sarney, em geral, age sem fazer barulho.

A recusa do nome de Bernardo Figueiredo é o aspecto mais grave da crise porque o PMDB - e outros aliados - tomaram o cuidado de emprestar à rebelião o caráter de "efeito bumerangue" - o economista tem problemas com o Tribunal de Contas da União (TCU), o Ministério Público Federal (MPF) e seu entusiasmo com o projeto de construção do trem-bala ligando o Rio de Janeiro a São Paulo nem sempre é bem compreendido.

Em compensação, Dilma parece não ter hesitado ao decidir manter o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), quando foram lançadas suspeitas sobre as consultorias que ele prestou entre 2009 e 2010, período em que deixou a Prefeitura de Belo Horizonte para concorrer - e perder - a eleição para o Senado, integrou o comitê eleitoral de Dilma e depois virou ministro, com a vitória da amiga de juventude.

A maior parte dos 12 ministros demitidos por Dilma deixou o governo sob a suspeita de desvio de conduta. A presidente sempre proclamou que não tinha compromisso com o malfeito. Bernardo Figueiredo foi escolhido a dedo para enviar o recado de que a regra deve ser a mesma para todos, mesmo não tendo alguma condenação na Justiça comum. Os supostos privilégios eleitorais dados ao PT e a falta de pagamento de emendas parlamentares, duas das causas mais citadas, foram o pretexto.

Como se diz no PT, a maionese desandou e até agora o governo não acertou o ponto. A substituição do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), anunciada ontem, é uma tentativa. Mas certamente não será o senador Eduardo Braga (PMDB-AM), nomeado para o seu lugar, quem vai acertar a coordenação política do governo e da base aliada no Congresso.

Se já estivesse o cargo, dificilmente Braga teria impedido o assessor internacional da presidente, Marco Aurélio Garcia, de dar declarações desastradas sobre taxa de juros, às vésperas da reunião do Copom. Ou evitar que o ministro Alexandre Padilha divulgasse uma pesquisa com duras críticas à administração da saúde no Rio de Janeiro, sem antes ter uma conversa com o prefeito Eduardo Paes. Resultado: Paes esbravejou, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) foi designado para botar panos quentes na crise, o que ele efetivamente fez mas deixando Padilha a descoberto, para a irritação do PT.

Não bastassem os problemas com os aliados, o PT de São Paulo rachou por conta da mal sucedida operação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para integrar o PSD do prefeito Gilberto Kassab à chapa do ex-ministro da Educação Fernando Haddad, em São Paulo. Uma parte do PT concordou com Lula na tese de que a máquina da prefeitura seria capaz de assegurar, de saída, 20% dos votos ao candidato. O grupo contrário agora diz ter avisado que Kassab não merecia confiança. Os lulistas, que o PT demorou e permitiu a entrada do tucano José Serra na disputa. E agora ganha corpo a tese de o PT ficar com a presidência de uma das duas Casa do Congresso, em 2013.

Problemas da articulação política também estão na origem da paralisação de projetos remanescentes de 2011. Este é o caso da Lei Geral da Copa e - onde tudo começou - o Código Florestal. Ou seja, a relação com a base aliada está no mesmo pé de quando Antonio Palocci deixou a Casa Civil. Outros problemas que pareciam estar resolvidos voltaram com força à agenda, caso das manifestações de setores militares contrário à Comissão da Verdade. A presidente vem protelando sua instalação, segundo se informa, por ainda não ter certeza sobre os nomes a indicar. Uma vez nomeados, os integrantes da comissão não poderão ser demitidos.

O atraso na indicação dos integrantes da comissão causa tensão não somente entre os militares, mas também no Ministério Público Federal e entre os familiares dos desaparecidos políticos. É possível que a presidente deixe a instalação para depois do 31 de março, aniversário do golpe militar de 1964. Poderia parecer provocação, num momento em que o governo procura isolar

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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