sexta-feira, 30 de março de 2012

À beira do abismo :: Roberto Freire

É uma temeridade, em tempos de crise, acreditarmos nas previsões sobre o desempenho econômico realizadas pelas instituições que tratam do assunto, entre elas, o nosso Ministério da Fazenda.

Por outro lado, é relevante termos presente os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o crescimento da economia mundial para 2011-2012, estimado em cerca de 4%. Isto é, se os responsáveis pela política econômica mantiverem seus compromissos com a estabilidade financeira mundial.
Este resultado, contudo, será desigual. Os países desenvolvidos terão pequena recuperação do nível de atividade econômica.

Seu crescimento estimado de 0,75% a.a, no primeiro semestre de 2011, subiu para 1,5% a.a., em 2012. Os países emergentes terão crescimento mais robusto, exceto o Brasil. Restrições de capacidade, aperto nas políticas fiscal e monetária e desaceleração da demanda externa fazem com que o crescimento médio se reduza de 7% a.a, no primeiro semestre de 2011, para 6%a.a, em 2012.

Segundo o FMI, quatro tipos de ameaças afetam a economia mundial: a primeira delas é a crise bancária e de endividamento nos países avançados; a segunda se refere às políticas fracas para lidar com o legado da crise das economias avançadas; a terceira está relacionada às vulnerabilidades nas economias dos países emergentes; e, por fim, a volatilidade dos preços das commodities e tensões geopolíticas.

No que diz respeito às economias emergentes, essas estão sujeitas ao risco de sobreaquecimento de suas economias que pode aumentar sua fragilidade financeira. O ritmo de expansão do crédito e o crescimento dos preços dos ativos têm permanecido elevados em vários países em desenvolvimento, como Brasil, Colômbia, Hong Kong, Índia, Indonésia, Peru e Turquia. Há ainda a possibilidade de bolha de ativos nos países emergentes, alimentada pela expansão do crédito bancário. Se a bolha estourar devido ao aumento da aversão ao risco dos investidores internacionais, poderemos ter um movimento de parada súbita de capitais externos para essas economias, seguido de queda acentuada nos preços dos ativos e crescente fragilidade do setor bancário.

Na China, o ritmo de expansão do crédito, embora ainda esteja alto, começa a diminuir gradativamente.

No caso específico do Brasil, o que temos observado é um processo consistente de queda da participação da indústria de transformação no PIB. Essa "desindustrialização" tem efeitos negativos sobre o dinamismo da economia no longo prazo - uma vez que a indústria é a principal difusora do progresso tecnológico para a economia como um todo.

A continuidade desse processo na economia brasileira deverá, portanto, reduzir seu dinamismo no médio e longo prazos.

Desde o segundo semestre de 2010, o PIB do país tem apresentado uma desaceleração bastante pronunciada, o que já reflete os efeitos do referido processo. Mas, ao que parece, o governo Dilma não consegue se livrar dos remendos localizados, como a prorrogação do IPI, desoneração da folha de pagamento e incidência da previdência no faturamento, conforme a reclamação dos setores envolvidos, como a melhor resposta aos perigos que enfrenta nossa indústria.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente do PPS

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

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