segunda-feira, 26 de março de 2012

Dilma espera que crise esfrie enquanto viaja

Se aliados partirem para enfrentamento, Planalto já cogita vetos ao Código Florestal

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff embarcou ontem à noite para viagem de cinco dias à Índia na expectativa de que os ânimos se acalmem no Congresso, mesmo com o recado expresso de que não cederá às pressões. Diante do impasse com a base governista, o Planalto admite vetos a artigos do Código Florestal, caso seja derrotado, numa sinalização clara de que a presidente não está disposta a ceder na votação da Lei Geral da Copa - aliados rebelados condicionam a aprovação desta lei à votação do código.

Com a forte pressão para votar e modificar o texto do Código Florestal aprovado no Senado, vetos pontuais seriam para evitar descaracterização do acordo original entre governo, ruralistas e ambientalistas. O veto evitaria a anistia aos desmatadores - um constrangimento para Dilma na Rio + 20, em junho.

Essa estratégia foi discutida entre Dilma e articuladores políticos do governo na sexta-feira. Para ela, o desgaste de não votar a Lei Geral da Copa seria do Congresso e não do Planalto. Esse seria também o tom da conversa de Dilma com o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS).

Para Dilma, dificilmente os deputados teriam coragem de contrariar o torcedor, comprometendo a Copa. Em caso extremo, Dilma estaria disposta a editar medida provisória liberando bebidas alcoólicas na Copa.

- Não acredito que os deputados ficarão contra a Copa do Mundo no Brasil. É preciso ter responsabilidade. Caso contrário, eles serão cobrados - advertiu o líder do governo, deputado Arlindo Chináglia (PT-SP).

O tom ameno da entrevista da presidente à revista "Veja" - na qual considerou que não há crise e que são naturais as discordâncias - favorece a estratégia governista de tentar esvaziar a rebelião de setores da base.

Os líderes governistas e os operadores políticos do Planalto reconhecem que Marco Maia não terá condições de segurar por muito tempo a pressão dos ruralistas para pôr o Código Florestal em votação. Como Dilma tem sinalizado que não vai aceitar ameaças, o veto já é visto como um "Plano B" para que Dilma não fique refém do Congresso.

- A presidente Dilma não vai aceitar que a Copa do Mundo seja usada numa chantagem explícita para votar o Código Florestal. A base aliada e os ruralistas querem usar a Copa para emparedar o Brasil. Querem testar o limite da presidente nessa negociação. Vai chegar o momento em que ela vai reagir publicamente e nominar tudo o que está acontecendo - disse um auxiliar da presidente ao GLOBO.

Com a viagem da presidente, a estratégia governista é tentar resolver logo a principal pendência no Senado - a aprovação do Fundo de Previdência Complementar do Servidor Público (Funpresp). E, a partir daí, concentrar o enfrentamento na Câmara. O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), foi orientado a tentar votar o Funpresp nesta quarta-feira.

FONTE: O GLOBO

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